Por Walson Sales
A relação entre ciência e religião tem sido amplamente debatida, especialmente no contexto do secularismo moderno. Segundo a narrativa popular, promovida por alguns dos chamados "Novos Ateus" e figuras influentes do meio científico, a ciência e a fé estão em oposição direta. No livro The Return of the God Hypothesis, Stephen C. Meyer desafia essa visão, argumentando que a ciência não apenas não eliminou a necessidade de Deus, mas que muitos dos grandes avanços científicos foram impulsionados por uma cosmovisão teísta.
Um exemplo dessa visão secularizada pode ser visto na série Cosmos (2014), apresentada por Neil deGrasse Tyson. Ele sugere que a física newtoniana eliminou a necessidade de um Criador, afirmando que a explicação mecânica do movimento planetário dissolveu a antiga concepção de Deus como "o grande relojoeiro". Embora Tyson reconheça que Isaac Newton era um homem religioso, ele argumenta que a fé de Newton não teve impacto positivo em sua ciência, mas sim um efeito limitador. Mas essa interpretação histórica faz justiça ao papel da religião na ciência?
1. O Mito do Conflito entre Ciência e Religião
A visão de que a ciência e a religião estão em conflito irreconciliável é, na realidade, um mito moderno. O historiador da ciência James Hannam, em seu livro The Genesis of Science, demonstra que a própria Revolução Científica nasceu em um contexto profundamente teísta. Muitos dos pioneiros da ciência moderna, incluindo Kepler, Boyle, Faraday e Maxwell, viam sua pesquisa científica como uma forma de compreender a mente de Deus.
Newton, longe de ser um exemplo de conflito entre fé e ciência, acreditava que sua teoria gravitacional revelava uma ordem divina no universo. Sua famosa obra Principia Mathematica está permeada de referências a Deus como sustentador do cosmos. No entanto, Neil deGrasse Tyson sugere que Newton invocar Deus em certos pontos de sua obra representa um obstáculo ao progresso científico. Essa alegação ignora um ponto crucial: Newton acreditava que o próprio fato de o universo ser inteligível e ordenado era uma consequência lógica de um Criador racional.
2. O Papel do Teísmo na Ciência
Stephen C. Meyer enfatiza que a cosmovisão teísta forneceu os pressupostos fundamentais que tornaram a ciência moderna possível. Entre esses pressupostos estão:
- A crença em um universo ordenado e inteligível, pois foi criado por um Deus racional.
- A ideia de que o ser humano, feito à imagem de Deus, tem a capacidade de compreender essa ordem.
- A suposição de que as leis naturais são constantes, permitindo a formulação de teorias e previsões.
Essas premissas teológicas foram fundamentais para a metodologia científica. Como observa o filósofo da ciência Stanley Jaki, a ciência floresceu no Ocidente justamente porque os cientistas partiam do pressuposto de que o universo tinha uma estrutura ordenada, passível de investigação racional.
3. A Ciência como "Fechamento de Portas"?
Tyson argumenta que a referência a Deus por Newton "fechou portas" para o conhecimento, ao invés de abrir novos caminhos. No entanto, essa afirmação ignora o fato de que Newton continuou buscando explicações naturais mesmo quando mencionava Deus. Newton não viu Deus como uma explicação concorrente às leis da natureza, mas como Aquele que estabeleceu e sustentou tais leis.
Além disso, a história da ciência mostra que muitas grandes descobertas surgiram em contextos onde a crença em Deus coexistia com a investigação científica. Por exemplo:
- Johannes Kepler via sua astronomia como uma maneira de "pensar os pensamentos de Deus depois d'Ele".
- James Clerk Maxwell, cujas equações fundamentam o eletromagnetismo, era um cristão convicto.
- Louis Pasteur, criador da teoria germinal das doenças, afirmou que "um pouco de ciência nos afasta de Deus, mas muita ciência nos aproxima Dele".
Se a fé "fechasse portas", não teríamos visto tantos cientistas profundamente religiosos realizando descobertas revolucionárias.
4. O Reducionismo Materialista e Seus Limites
A tentativa de Tyson e de outros materialistas de excluir Deus da equação científica reflete um reducionismo filosófico, não uma necessidade metodológica da ciência. A ciência moderna prosperou precisamente porque não rejeitou hipóteses teístas a priori.
Stephen C. Meyer argumenta que a rejeição da explicação teísta não se baseia em evidências científicas, mas em um compromisso filosófico com o materialismo. A insistência em uma explicação puramente naturalista para a origem do universo, da vida e da consciência não se baseia em provas conclusivas, mas em uma recusa dogmática de considerar explicações que apontem para Deus.
Conclusão
A alegação de que a ciência libertou a humanidade da crença em Deus é historicamente questionável e filosoficamente reducionista. Stephen C. Meyer, em The Return of the God Hypothesis, demonstra que a ciência não eliminou a necessidade de um Criador, mas, ao contrário, reforçou a ideia de um universo inteligível, ordenado e dependente de um Fundamento transcendente.
A narrativa popular do conflito entre ciência e religião ignora o papel crucial que a cosmovisão teísta teve na origem da ciência moderna. Muitos dos maiores cientistas da história não viam fé e razão como forças opostas, mas como complementares. Newton, longe de ser um exemplo de um cientista limitado pela religião, é um exemplo de alguém cuja fé impulsionou sua investigação científica.
A verdadeira questão, portanto, não é se Deus é um obstáculo à ciência, mas se a ciência, quando levada às suas últimas consequências, aponta para a existência de Deus. Meyer sugere que sim, e que a "Hipótese de Deus" continua sendo a melhor explicação para a ordem e a racionalidade do universo.