Por Kirk R. MacGregor
Inquestionavelmente a maior virada
(e indiscutivelmente o momento
decisivo) na extensa história da reflexão teológica e filosófica sobre como
reconciliar a onisciência divina e a liberdade humana é o conceito inovador de
Molina, o conhecimento médio (scientia
media). Em resumo, conhecimento médio é o conhecimento pré-volitivo de Deus
de todas as verdades contrafatuais. Isso significa que é o tipo de conhecimento
que Deus possui logicamente ou explanatoriamente antes de seu desejo de criar o
mundo ou de tomar qualquer decisão sobre que tipo de mundo ele criaria, se
fosse criar algum. Neste conhecimento, Deus apreendeu o valor de verdade de
todas as contrafatuais ou das proposições condicionais no modo subjuntivo. As contrafatuais tomam a
seguinte forma: se algo fosse o caso
(quando de fato pode ser ou não ser o caso), então algo mais seria o caso. Para ilustrar, as
proposições “Se eu fosse dirigir uma Lamborghini amarela na interestadual, eu
seria parado pela polícia por excesso de velocidade,” “Se a Suprema Corte
tivesse declarado Al Gore vencedor das eleições presidenciais de 2000, os
Estados Unidos não teriam invadido o Afeganistão e o Iraque,” e “Se existisse
um vácuo quântico, ele produziria uma partícula virtual no tempo tal e tal,”
são todas contrafatuais. E de acordo com o conhecimento médio, Deus conhece
quais dessas proposições são verdadeiras e quais são falsas antes de decidir
criar este mundo ou qualquer mundo. É importante notar, pelos três exemplos,
que muitas contrafatuais envolvem agentes com livre arbítrio libertário ou
eventos completamente aleatórios ou por acaso. Assim, inclusos no conhecimento
médio de Deus está a consciência de Deus do que todos os indivíduos
possíveis com liberdade libertária
fariam livremente em qualquer conjunto de circunstâncias em que eles se
encontrarem, e também como seria os desfechos de todos os eventos completamente
aleatórios e por acaso em qualquer conjunto de circunstâncias possíveis.
William Lane Craig observa corretamente que a doutrina do conhecimento médio,
se precisa, “é uma das ideias teológicas mais frutíferas já concebidas.”[1] Por
isso, entre outras coisas, explicaria o conhecimento de Deus do futuro e tornaria
possível para Deus conhecer verdadeiramente as proposições contingentes
futuras. Molina delineou a doutrina do conhecimento médio e suas implicações
lógicas para a providência divina e predestinação em sua magnum opus de 1588, a
Concordia (cujo título completo é Liberi Arbitrii cum Gratiae Donis, Divina
Praescientia, Providentia, Praedestinatione et Reprobatione Concordia, cuja
tradução é A Compatibilidade da Livre
Escolha com os Dons da Graça, Presciência Divina, Providência, Predestinação e
Reprovação).[2]
Este capítulo traça os passos do
desenvolvimento de Molina da doutrina do conhecimento médio. Primeiro discute
como Molina encontrou na Bíblia o conhecimento contrafatual de Deus. Então
prossegue para revelar que o argumento de Molina, a fim de harmonizar o
conhecimento contrafatual de Deus com os textos bíblicos que ensinam a livre
escolha humana, este conhecimento deve situar-se logicamente anterior ao
decreto de Deus concernente a que mundo criar, se fosse criar algum. E mostra
finalmente como Molina expôs seu esquema de conhecimento natural, médio e
livre, hoje chamado de Molinismo.
Evidência
Bíblica para o Conhecimento Contrafatual de Deus
Molina acreditava que a Bíblia
estava repleta de textos cuja exegese literal exigia que Deus possui conhecimento
contrafatual. Um relato citado com frequência por Molina retrata Davi
perguntando a Yahweh por meio do Éfode, um dispositivo de comunicação, o Urim e
o Tumim (pedras com cores diferentes com conotação respectiva de uma resposta
afirmativa ou negativa) das quais uma dessas pedras seria tirada.[3]
Sabendo,
pois, Davi, que Saul maquinava este mal contra ele, disse a Abiatar, sacerdote:
Traze aqui o éfode. E disse Davi: Ó Senhor, Deus de Israel, teu servo tem
ouvido que Saul procura vir a Queila, para destruir a cidade por causa de mim.
Entregar-me-ão os cidadãos de Queila na sua mão? Descerá Saul, como o teu servo
tem ouvido? Ah! Senhor Deus de Israel! Faze-o saber ao teu servo. E disse o
Senhor: Descerá. Disse mais Davi: Entregar-me-ão os cidadãos de Queila, a mim e
aos meus homens, nas mãos de Saul? E disse o Senhor: Entregarão. Então Davi se
levantou com os seus homens, uns seiscentos, e saíram de Queila, e foram-se
aonde puderam; e sendo anunciado a Saul, que Davi escapara de Queila, cessou de
sair contra ele. (1 Samuel 23:9-13).
Neste texto, Davi pergunta se Saul
atacaria Queila, onde Davi estava posicionado, e se os cidadãos da cidade
entregariam Davi a Saul. Nas duas vezes o éfode apontou o Urim, dando uma
resposta afirmativa, levando Davi a fugir da cidade, contudo, tais predições
não ocorreram de fato. Logo em 1573, Molina reconheceu que o conhecimento
mediado aqui não constituiu predições do futuro (Presciência), pois Saul na
verdade, nunca foi a Queila e os cidadãos de Queila nunca entregaram Davi a
Saul. Desde que Deus é infalível, nós não podemos interpretar as respostas
dadas como erros da parte de Deus, como seria se a informação que Davi recebeu
compreendesse um exemplo de presciência. Nem a informação foi uma descrição de
mera possibilidade, como Davi já sabia que Saul poderia vir a Queila e que os cidadãos de Queila poderiam entregá-lo a Saul. Então, ao
invés de ser presciência ou conhecimento de possibilidades, segue-se que Deus
estava comunicando a Davi o conhecimento contrafatual. Deus estava deixando
Davi saber que se ele permanecesse em
Queila, Saul viria para pegá-lo, e que
se Saul viesse para pegar Davi, o povo da cidade entregaria Davi a Saul. Por isso que as respostas dadas divinamente
estavam corretas apesar de não terem acontecido, e elas revelaram o que teria
acontecido sob diferentes circunstâncias das circunstâncias que se seguiram ao
fato.[4]
Em seu comentário sobre a Summa Teológica de Aquino, Molina
destacou outras profecias que também convergem ao conhecimento contrafatual,
diferente das declarações categóricas simples de presciência.[5] Dessas,
Jeremias 38: 17-18 é representativa:
Então
Jeremias disse a Zedequias: Assim diz o SENHOR, Deus dos Exércitos, Deus de
Israel: Se voluntariamente saíres aos príncipes do rei de babilônia, então
viverá a tua alma, e esta cidade não se queimará a fogo, e viverás tu e a tua
casa. Mas, se não saíres aos príncipes do rei de babilônia, então será entregue
esta cidade na mão dos caldeus, e queimá-la-ão a fogo, e tu não escaparás da
mão deles. (Jeremias 38:17,18).
Consequentemente, descobrimos que
Deus, como um ser onisciente, sabia das respostas livres dos Babilônios a
qualquer que fosse o curso de ação que Zedequias escolhesse livremente. Como
evidenciado pelo exílio Babilônico, Zedequias recusou se submeter e subsequentemente
foi morto por Nabucodonossor. No entanto, Deus também conhecia a verdade
contrafatual que se Zedequias tivesse se submetido aos oficiais de
Nabucodonossor, Zedequias e a cidade de Jerusalém, que de fato, foi arrasada,
teriam sido poupados.[6]
Molina encontrou afirmações
contrafatuais nos lábios de Jesus também. Talvez o exemplo mais completo e
amplo teologicamente é a denuncia de Jesus contra Corazim, Betsaida e
Cafarnaum:
Então
começou ele a lançar em rosto às cidades onde se operou a maior parte dos seus
prodígios e não se haverem arrependido, dizendo: Ai de ti, Corazim! ai de ti,
Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom fossem feitos os prodígios que em vós
se fizeram, há muito que se teriam arrependido, com saco e com cinza. Por isso
eu vos digo que haverá menos rigor para Tiro e Sidom, no dia do juízo, do que
para vós. E tu, Cafarnaum, que te ergues até ao céu, serás abatida até ao
inferno; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se
operaram, teria ela permanecido até hoje. Eu vos digo, porém, que haverá menos
rigor para os de Sodoma, no dia do juízo, do que para ti. (Mateus 11:20-24; cf. Lc 10: 13-15).[7]
Aqui Jesus articulou seu
conhecimento dizendo que se ele tivesse operado milagres em locais diferentes
no espaço-tempo, dos locais onde ele na realidade operara, então, certos grupos
de indivíduos que não se arrependeram e foram condenados, teriam se arrependido
e sido salvos. Esta afirmação toca de forma significativa na predestinação
divina, que exploraremos no capítulo 5. Assim, Deus estava consciente de que
ele poderia ter criado mundos diferentes, especificamente um mundo onde Jesus
teria operado seus milagres nas cidades gentias de Tiro e Sidom e um mundo em
que a encarnação de Jesus ocorreria por volta do século 19 antes de Cristo e
ele operaria seus milagres em Sodoma. Nestes mundos, alguns dos mesmos
indivíduos que são reprovados em nosso mundo, teriam sido eleitos. A despeito
desse fato, Deus escolheu criar o mundo atual. Como Molina explicou, “Deus sabe
que teria havido arrependimento em pano de saco e cinza entre os habitantes de
Tiro, Sidom sobre a hipótese de que as maravilhas que foram operadas em Corazim
e Betsaida teriam funcionado em Tiro e Sidom...mas tendo em vista que esta
hipótese não veio a ocorrer de fato, não foi atualizada, este arrependimento
nunca aconteceu e nunca existirá na realidade – e era ainda um futuro
contingente dependente da livre escolha dos seres humanos.”[8] Para Molina, a
extraordinária declaração de Mateus 11: 20-24 não apenas provou que Cristo
possuía conhecimento contrafatual, mas também revelou que os cidadãos
reprovados de Tiro, Sidom e Sodoma possuiam a habilidade de se apropriarem da
salvação. Molina portanto identificou esta afirmação como uma refutação direta
da posição de Lutero e Calvino de que falta no reprovado a liberdade para
receber a salvação.[9]
Molina também defendeu que Jesus
afirmou ter conhecimento contrafatual concernente a salvação das pessoas em
João 15: 22-24:
Se
eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado, mas agora não têm
desculpa do seu pecado. Aquele que me odeia, odeia também a meu Pai. Se eu
entre eles não fizesse tais obras, quais nenhum outro tem feito, não teriam
pecado; mas agora, viram-nas e me odiaram a mim e a meu Pai. (João 15:22-24).[10]
Em uma fascinante inversão ao texto
de Mateus, Jesus revelou que o líderes religiosos Judaicos (o “eles” na
afirmação de Jesus) seriam inocentes dos atos pecaminosos se Jesus não tivesse
falado a eles e se Jesus não tivesse operado milagres entre eles que atestam
sua divindade. Mas devido a auto revelação de Jesus por suas palavras e ações
como divino e humano, os líderes religiosos o odiaram bem como a seu Pai, se
colocando, portanto, sob a ira de Deus. Molina também acreditava que quando
Jesus foi interrogado por Pilatos, Jesus divulgou conhecimento contrafatual
concernente ao que o seus seguidores teriam feito se seu programa messiânico
fosse político em caráter: “Respondeu
Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo,
pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos Judeus; mas agora
o meu reino não é daqui.” (João 18:36).[11]
Logo, Jesus sabia a verdade contrafatual que se seu reino fosse o reino
político e militar esperado que procurava libertar Israel de Roma, seus
discíspulos usariam a violência para impedir sua captura. Além disso, Molina
percebeu que Deus possui conhecimento contrafatual em Paulo, que descreveu o
que teria acontecido se os líderes Judaicos e Pilatos tivessem entendido a
sabedoria divina do messiado de Jesus: “A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque,
se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória.” (1 Coríntios 2:8).[12]
Temos aqui uma afirmação divinamente inspirada dizendo que se os governantes
dos dias de Jesus tivessem entendido a sabedoria de Deus, eles não teriam
arquitetado a crucificação de Jesus. Molina argumentou que as afirmações de
Jesus e Paulo mostradas acima, como a profecia dada a Davi por meio do Éfode,
não são redutíveis à presciência nem a uma possibilidade de conhecimento. Pois
se estas afirmações tivessem sido declarações de presciência, elas seriam
enganos auto contraditórios da parte de Deus, que não pode errar, desde que a
cláusula consequente “então, logo” dessas afirmações não aconteceram. Por outro
lado, estas afirmações não podem estar atestando meras possibilidades, desde
que elas afirmam o que teria acontecido,
não o que poderia acontecer, sob
certas condições diferentes daquelas que de fato se materializaram. Portanto,
Molina declarou que era indisputável que o Deus da Bíblia possuía conhecimento
contrafatual.[13]
“Quando”
Deus Obteve Seu Conhecimento Contrafatual?
A questão disputada entre Molina e
seus interlocutores era sobre o momento, na ordem lógica dos decretos, em que
Deus possuiu seu conhecimento contrafatual. Para entender esta questão, devemos
primeiro colocá-la no contexto inicial da teologia moderna. Teólogos modernos
do início do período, como Molina, Lutero e Calvino compartilhavam uma visão
comum sobre a estrutura lógica básica da onisciência divina. Esta estrutura foi
proposta primeiro por Tomás de Aquino (um fato que Molina tinha consciência,
mas Lutero e Calvino não) que serviu de intermédio a Molina, Lutero e Calvino
como um ponto do currículo teológico Católico.[14] Não surpreendentemente, o
diagrama lógico Tomista da onisciência divina foi defendido vigorosamente pelos
Dominicanos após o Concílio de Trento. Em cada lado lógico do decreto de Deus
para criar o mundo atual, Aquino colocou um momento dentro do ato de
conhecimento eterno de Deus. Logicamente anterior ao decreto criativo divino,
Aquino afirmou que Deus apreendeu sua scientia
simplicis inteligentiae (conhecimento da inteligência simples), pela qual
Deus conhece perfeitamente a si mesmo, bem como todas as possibilidades
lógicas. Tal conhecimento exaustivo equipa Deus com uma variedade de mundos
possíveis (ou seja, conjuntos logicamente consistentes de circunstâncias
possíveis), dos quais ele escolhe atualizar [efetivar] um mundo em seu decreto
criativo. Logicamente posterior ao decreto divino criativo, Aquino sustentou
que Deus distingue sua scientia visionis (conhecimento
visionário), pelo qual ele conhece todas as verdades do tempo passado, presente
e futuro no mundo que ele criou livremente.[15] Aquino enfatizou que sua
sequencia lógica de momentos não implica, de forma nenhuma, qualquer prioridade
temporal ou sucessão na onisciência de Deus, como um ser onisciente não pode
conhecer mais ou menos em um ponto no tempo do que em outro, mas deve possuir
conhecimento completo em cada ponto no tempo. No entanto, Aquino insistiu
igualmente que sua progressão não é nenhuma invenção da imaginação, mas que existe
do mesmo modo que a progressão entre várias premissas em um silogismo. Assim
como as premissas antecedentes são explanatoriamente anteriores a conclusão, de
modo que a conclusão segue como um resultado das condições postuladas pelas
premissas antecedentes, assim o conhecimento da inteligência simples fornece o
fundamento necessário para o decreto criativo divino, que em retorno fornece
conjuntamente o fundamento necessário para o conhecimento visionário.[16] A
ideia de que o conhecimento de Deus de todos os mundos possíveis antecedeu seu
decreto criativo e que a presciência exaustiva de Deus sobre o mundo atual
seguiu seu decreto criativo era, portanto, uma ação comum a Molina, Lutero e
Calvino.
No entanto, estava ausente da ordem
de Aquino dos eventos da cognição divina, o conhecimento de Deus de todas as
verdades contrafatuais, porque Aquino acreditava que a apreensão de Deus era um
movimento paralelo a, e simultâneo com a apreensão divina do conhecimento
visionário. Em outras palavras, Aquino propôs que Deus atribuiu livremente
valor de verdade a todas as afirmações contrafatuais como parte do decreto
criativo divino.[17] Assim, o conhecimento divino de todos os fatos da história
(conhecimento visionário), quanto o conhecimento divino de todas as contrafatuais
seguem imediatamente da consciência combinada de Deus de seu decreto criativo e
de seu poder majestoso de fazer este decreto ocorrer.[18] Enquanto Aquino
asseverou que sua visão das contrafatuais, de forma nenhuma, mina a liberdade
humana genuína, Lutero, Calvino e Molina perceberam juntos que a dependência
das contrafatuais do decreto de Deus, erradicava o tipo libertário de
liberdade, pois é Deus quem determina o que todas as criaturas fariam em todo
conjunto de circunstâncias em que eles se encontrassem. Consequentemente,
Lutero, Calvino e Molina, seja explícita ou implicitamente, viram que a
liberdade libertária se torna impossível ao colocar o conhecimento contrafatual
de Deus logicamente posterior ao decreto criativo divino, produzindo assim a seguinte
ordem lógica: (1) O conhecimento de Deus de todos os mundos possíveis
(conhecimento da inteligência simples); (2) o decreto criativo divino; e (3) o
conhecimento de Deus das verdades do presente, passado e futuro sobre o mundo
atual (conhecimento visionário), junto com o conhecimento contrafatual de Deus.
A diferença entre Lutero e Calvino de um lado e Molina de outro é se eles
endossaram a colocação do conhecimento contrafatual após o decreto criativo
divino ou alteraram a ordem.
Ao endossar esta colocação das
contrafatuais após o decreto criativo divino, Lutero e Calvino negaram a
habilidade humana de escolher o contrário nas circunstâncias que as criaturas
se encontram, pelo menos em seus relacionamentos com Deus, e seguiram o caminho
do grande teólogo da patrística, Agostinho, ao reduzir a liberdade das
criaturas a uma mera espontaneidade de escolha e voluntariedade da vontade.[19]
Pelo fato do Deus onipotente ordenar todas as coisas que ocorrerão nas
circunstâncias futuras e que ocorreriam sob todas as outras circunstâncias,
Lutero enfatizou que o que quer que Deus conheça antecipadamente, ocorrerá
necessariamente: “É então, fundamentalmente necessário e saudável para os
Cristãos saberem que Deus não conhece de antemão nada contingentemente, mas o que
ele vê de antemão, ele propõe e faz todas as coisas de acordo com sua vontade
imutável, eterna e infalível. Esta pancada atinge o edifício do
‘livre-arbítrio’ e o abala completamente...Desde que sua vontade não é
impedida, o que é feito, não pode deixar de ser feito onde, quando, como e por
quem ele vê de antemão e deseja.”[20] Para Lutero, então, Deus não conhece os
futuros contingentes porque não há futuros contingentes a serem conhecidos.
Desde que Deus escolhe o conteúdo de sua presciência (tanto o futuro quanto o
conhecimento contrafatual) e Deus tem todo o poder de fazer com que sua
presciência aconteça, os seres humanos não tem livre escolha nem a capacidade
de escolher entre alternativas. Como Lutero resumiu: “Logo a presciência e a
onipotência de Deus são diametralmente opostos ao nosso ‘livre arbítrio.’”[21]
Para Lutero, a única liberdade humana permitida pelo relacionamento
divino-humano é de natureza compatibilista, a saber, que a vontade escolhe
voluntariamente e sem coerção externa, embora o que quer que a vontade escolha,
escolhe necessariamente. Consequemente, Lutero não se absteve de declarar que
Judas traiu Jesus necessariamente.[22]
Calvino aderiu precisamente a mesma
linha de pensamento que Lutero, afirmando que a livre escolha humana é
descartada pela vontade toda abrangente de Deus, tanto da presciência quanto do
conhecimento contrafatual. Em sua definição de providência, Calvino declarou
que nada pode acontecer a menos que Deus tenha decretado por sua vontade e
feito acontecer por seu poder.
Portanto, que os leitores apreendam
de início que não se chama providência aquela através da qual Deus observa
passivamente do céu as coisas que se passam no mundo; ao contrário, é aquela
pela qual, como que a suster o leme, governa a todos os eventos. Portanto, ela
se estende, por assim dizer, tanto às mãos, quanto aos olhos. Ora, quando
Abraão dizia ao filho: “Deus proverá” (Gn 22.8), nem com isso ele queria apenas
afirmar que Deus era presciente de um evento futuro, mas também queria lançar
sobre a vontade daquele que costuma dar solução às coisas perplexivas e
confusas o cuidado de um fato que lhe era desconhecido. Do quê se segue que a
providência está situada no ato. E os que admitem uma mera presciência sem
qualquer propósito, nada fazem senão divagar em néscios devaneios. ...
constituímos a Deus árbitro e moderador, o qual, por sua sabedoria, decretou
desde a extrema eternidade o que haveria de fazer, e agora, por seu poder,
executa o que decretou. Daí, afirmamos que não só o céu e a terra, e as
criaturas inanimadas, são de tal modo governados por sua providência, mas até
os desígnios e intenções dos homens, são por ela retilineamente conduzidos à
meta destinada. Pois dirás: Porventura nada acontece por acaso? Nada ocorre
contingentemente? Respondo... sorte e acaso são termos dos pagãos de cujo
significado não devem ocupar-se as mentes dos piedosos. Afinal de contas, se
todo bom êxito é bênção de Deus, toda calamidade e adversidade são sua
maldição, já não se deixa nenhum lugar à sorte ou ao acaso nas coisas humanas.
... Em suma, Agostinho ensina reiteradamente que, se algo é deixado à sorte, o
mundo revolve ao léu. ... Razão pela qual até exclui a contingência que depende
do arbítrio dos homens,...[nota do tradutor: trecho retirado do texto em português,
Institutas, versão clássica, Vol. I,
pp. 202, 207, 208].[23]
Claramente, para Calvino, soberania
é sinônimo de controle completo, de tal modo que Deus não pode ser soberano, a
não ser por sua determinação de cada evento no campo físico e espiritual.[24]
Em contraste a Lutero e Calvino,
Molina colocou o conhecimento contrafatual de Deus logicamente anterior ao
decreto criativo divino. Como vimos no capítulo 2, Molina insistiu que uma
exegese literal de mais de 20 passagens bíblicas, tais como Genesis 4: 6-7;
Deuteronômio 30: 11-19; e Ezequiel 18: 30-32, demandam que os seres humanos pós
queda possuem liberdade libertária, embora não intrisicamente, mas por virtude
da graça preveniente.[25] Para isentar as verdades contrafatuais do decreto
criativo divino, Molina abriu espaço para a liberdade libertária humana e para
todos os outros exemplos de contigência genuína. Assim como verdades
logicamente necessárias como 1+1 = 2 são logicamente anteriores e então
independentes do decreto criativo divino, logo, para Molina, todas as verdades
contrafatuais – incluindo o que cada criatura possível, dotada de liberdade
libertária, escolheria fazer em qualquer conjunto de circuntâncias em que elas
se encontrarem, bem como os eventos ao acaso, completamente aleatórios
terminariam em qualquer conjunto de circunstâncias possíveis – estão
logicamente antes e logo são independentes do decreto criativo divino.[26]
Consequentemente o conhecimento contrafatual, Molina afirma,
Está, de fato em Deus, antes de
qualquer ato livre de Sua vontade, e que este é o conhecimento de todos os efeitos em geral, não somente
(i) daqueles efeitos que, de fato, passarão a existir por causa das faculdades
de escolhas que Ele decidiu criar dentro da ordem de coisas e circunstâncias
que Ele escolheu estabelecer, mas também (ii) daqueles efeitos que teriam
existido (se por causa dessas mesmas faculdades de escolha ou por causas das
muitas outras infinitas que Ele poderia ter criado) se quaquer dessas
circunstâncias tivessem sido alteradas dentro da ordem de coisas que Ele
escolhe estabelecer ou se qualquer outra ordem de coisas tivesse existido
dentre a infinidade da infinidade de ordens de coisas que Ele poderia ter
criado.[27]
Devido ao fato de que o conhecimento
contrafatual é, segundo Molina, independente da vontade de Deus, este
conhecimento fica fora, logicamente, do escopo da onipotência de Deus. Da mesma
forma como o conhecimento de Deus de verdades necessárias repousam além de sua
onipotência e são simplesmente dadas (Deus não pode fazer 1+1 ser igual a 2 e
não poderia fazer 1+1 ser igual a 3), então, o conhecimento de Deus do que
seria as escolhas livres ou as ações aleatórias das essências individuais, caso
materializados em várias circunstâncias, repousam além de sua onipotência e são
simplesmente dadas.[28] Isso não é porque há algo imperfeito na onipotência de
Deus, mas apenas a onipotência constitui a habilidade de fazer tudo o que é
logicamente possível e não a habilidade para fazer o que é logicamente
impossível. E é logicamente impossível determinar
que uma criatura com liberdade libertária faça algo livremente, de modo que ele não possa agir contrário ou determinar que um processo contingentemente estocástico (ou seja,
completamente aleatório), ocorra de certa forma tal que não poderia ocorrer o
contrário.[29]
Para resumir, Molina concordou com
Lutero e Calvino que ao colocar o conhecimento contrafatual de Deus após seu
decreto criativo eliminaria a liberdade libertária, uma consequência que Lutero
e Calvino aceitaram. Mas pelo fato de Molina julgar que esta consequência era
contrária a infalibilidade da Escritura, Molina colocou o conhecimento
contrafatual de Deus antes do decreto criativo divino, tornando assim
logicamente impossível para Deus controlar. Agora certamente, Molina insistiu,
Deus poderia facilmente impedir uma criatura dotada de liberdade libertária de
fazer algo livremente ao não criar esssa criatura ou colocar essa criatura em
circunstâncias diferentes onde ela escolheria fazer outra coisa livremente. Contra qualquer forma de determinismo,
as circunstâncias não faz as coisas acontecerem ou causa as ações e portanto
não fazem nada para ditar as decisões. Mas há simplesmente fatos contingentes
que em várias circunstâncias as criaturas fariam várias coisas livremente (isto
é, indeterminísticamente).[30] E Deus, como um ser onisciente, conhece esses
fatos. Além disso, Deus pode facilmente impossibilitar um processo estocástico
de gerar aleatoriamente um efeito ao não criar este processo estocástico ou
colocar este processo estocástico em uma circunstância diferente. Perceba
novamente que as circunstâncias não fazem nada para produzir, muito menos
garantir os efeitos; existem simplesmente fatos conhecidos por Deus que em
várias circunstâncias, os processos estocásticos se comportariam aleatoriamente
de variadas formas. Não obstante, é logicamente impossível para Deus alterar o
fato contingente de que se uma criatura dotada de liberdade libertária fosse
colocada em um certo conjunto de circunstâncias, logo ele escolheria realizar
livremente uma ação particular, embora ele pudesse ter escolhido fazer o
contrário naquelas circunstâncias. E é logicamente impossível para Deus alterar
o fato contingente de que se um processo estocástico fosse colocado em um certo
conjunto de circunstâncias, então este processo geraria aleatoriamente um
comportamente particular, embora que este processo poderia ter gerado um
comportamento diferente naquelas circunstâncias.[31]
Ao colocar a aquisição do
conhecimento contrafatual de Deus logicamanente anterior ao decreto criativo
divino, Molina então encaixou o conhecimento contrafatual dentro de uma
estrutura básica de onisciência herdade de Aquino. Lembramos que esta estrutura
consistia, em sequencia, do conhecimento de Deus da inteligência simples, do
decreto criativo divino, e do conhecimento visionário de Deus.
Consequentemente, Molina precisava colocar o conhecimento contrafatual ou
logicamente antes, simultâneo ou após o conhecimento de Deus da inteligência
simples. Desde que o que aconteceria em
circunstâncias particulares (conhecimento contrafatual) é logicamente
subsequente ao que poderia acontecer
em circunstâncias particulares (conhecimento da inteligência simples), Molina
colocou o conhecimento contrafatual após o conhecimento de Deus da inteligência
simples, posicionando assim o conhecimento contrafatual entre o conhecimento de
Deus da inteligência simples e o decreto criativo divino. Assim, enquanto na
visão de Aquino existiam dois momentos do conhecimento divino, um em cada lado
do decreto criativo divino, na visão de Molina haviam três momentos do
conhecimento divino, dois antes do decreto criativo e outro depois.[32]
A
Estrutura Tripla do Conhecimento Divino em Molina
Estamos agora em uma posição de
entender a estrutura tripla revolucionária de Molina sobre a onisciência junto
com suas implicações teológicas. Molina começou renomeando o conhecimento da
inteligência simples e o conhecimento visionário para refletir melhor seus
papéis na cognição divina, nomeando o primeiro scientia naturalis (conhecimento natural) e o segundo scientia libera (conhecimento livre).
Pelo fato da apreensão de Deus do conhecimento contrafatual vir logicamente
entre estes dois momentos, Molina o nomeou scientia
media de Deus (conhecimento médio).[33]
No conhecimento natural, o primeiro
momento lógico na estrutura de Molina, Deus conhece todas as possibilidades,
incluindo todas as verdades necessárias (e.g., as leis da lógica), todos os
possíveis indivíduos e mundos que ele pode criar, bem como tudo o que cada
possível indivíduo poderia fazer
livremente em qualquer conjunto de circunstâncias em que esse indivíduo se
encontrar e tudo o que cada possível processo estocástico poderia fazer
aleatoriamente em qualquer conjunto de circunstâncias onde ele existir. Molina
insistiu que Deus não determina seu conhecimento natural ao desejar que certas
possibilidades sejam verdadeiras, visto que este primeiro momento lógico
precede qualquer decisão ou decreto da vontade divina. Antes, Deus conhece seu
conhecimento natural, como sugere a nomenclatura de Molina, como indispensável
para sua própria natureza, de tal forma que Deus não poderia ter falta desse
conhecimento e ainda ser Deus.[34]
No conhecimento médio, o segundo
momento lógico na estrutura de Molina, Deus conhece todas as verdades
contrafatuais, incluindo o que cada indivíduo possível faria livremente em qualquer conjunto de circunstâncias em que
esse(a) indivíduo se encontrar e o que cada processo estocástico possível faria aleatoriamente em qualquer
conjunto de circunstâncias onde ele existisse.[35] Para ilustrar a distinção
entre os primeiros dois momentos da onisciência divina, Deus sabia em seu conhecimento
natural que Pedro, se colocado no pátio do Sinédrio, poderia afirmar ou negar a
Cristo livremente, mas Deus discerniu em seu conhecimento médio que Pedro
negaria livremente a Jesus sob estas circunstâncias. Como indicado previamente,
não é que as circunstâncias o compeliram a negar Jesus – para Molina, todos os
conjuntos de circunstâncias são necessariamente em caráter preservadoras da
liberdade – mas sim que Deus sabia que caminho Pedro escolheria livremente.[36]
Tendo em vista o conhecimento médio não repousar dentro do escopo da vontade e
onipotência de Deus, Deus não pode controlar o que ele conhece via conhecimento
médio, mais do que ele pode controlar o que ele conhece por meio de seu
conhecimento natural. Nas palavras de Molina, “Todos os estados de coisas
contingentes são, eu repito, representados a Deus naturalmente, antes de qualquer ato ou determinação livre da
vontade divina; e elas são representadas não apenas como sendo possíveis, mas também como sendo futuro – não futuro absolutamente, mas futuro
sob a condição e na hipótese de que Deus deve decidir criar este ou aquele
estado de coisas e causas com estas ou aquelas circunstâncias.”[37] Isso
significa que o conhecimento médio permite que haja futuros contingentes
genuínos, não apenas coisas que pareçam contingentes a nós, humanos, mas são,
de fato, determinadas por Deus. Além disso, o conhecimento médio também permite
Deus conhecer os futuros contingentes, uma afirmação que é negada hoje pelos
teístas abertos. Molina sustentou que o conhecimento médio de Deus, como seu
conhecimento natural, é essencial para a natureza de Deus. Para que Deus seja
Deus, o ser onisciente, ele deve conhecer todas as verdades contrafatuais
logicamente anterior a seu decreto criativo. Mas, diferente do conhecimento
natural, o conteúdo do conhecimento médio não é essencial para Deus. Já que as
criaturas dotadas de liberdade libertária poderiam escolher de maneira
diferente e os processos estocásticos poderiam se comportar de maneira
diferente, o conhecimento médio de Deus seria diferente se eles se comportassem
diferente.[38]
Como grande parte do conhecimento
médio de Deus é contingente sobre o que várias essências libertárias
individuais [pessoas dotadas de liberdade libertária] e essências individuais
estocásticas [eventos aleatórios], caso instanciadas [atualizadas], fariam em
várias circunstâncias, segue-se que Deus discerne incontáveis mundos em seu
conhecimento natural - mundos logicamente possíveis em e de si mesmos - que são
impossíveis para Deus criar porque em nenhum dos mundos possíveis que Deus
gostaria de atualizar, as essências individuais cooperariam livremente ou
aleatoriamente. Observe que o que essas essências fariam em várias
circunstâncias compreendem propriedades contingentes dessas essências, e não
partes das próprias essências. Portanto, não há "fatalismo da
essência" acontecendo aqui, como a essência não determina o que se faria
livremente em várias circunstâncias; nem, como vimos, as circunstâncias
determinam o que se faria livremente.[39] Por exemplo, há mundos logicamente
possíveis onde Pedro livremente afirma Jesus, foge do pátio, ou faz algumas
outras coisas do que negar a Jesus exatamente nas mesmas circunstâncias em que
Pedro na verdade negou a Jesus, junto com um mundo logicamente possível onde
Pedro nega Jesus nessas circunstâncias. Mas à luz da verdade contrafatual que
se Pedro estivesse nessas circunstâncias, então ele negaria livremente a Jesus,
nenhum dos mundos logicamente possíveis em nossa lista, é possível Deus criar,
exceto este último. Agora isso não significa que Deus não poderia impedir Pedro
de negar a Jesus, pois ele poderia facilmente fazer isso colocando Pedro em
circunstâncias diferentes ou não criando Pedro. Mas Deus não pode controlar o
fato de que, se ele fosse instanciar a essência individual de Pedro nas
circunstâncias acima mencionadas, então Pedro livremente negaria Jesus. Isto
não se dá porque a essência de Pedro fez com que ele negasse Jesus nessas
circunstâncias, uma vez que "negar a Jesus em tais circunstâncias"
não faz parte da essência de Pedro. Nem as circunstâncias determinam a negação
de Pedro. Mas ainda resta um fato contingente da questão de que se a essência
de Pedro fosse instanciada [atualizada] nessas circunstâncias, então Pedro
negaria a Jesus indeterministicamente.[40] Assim, o conhecimento médio de Deus
serve para reduzir a gama de mundos logicamente possíveis em si e de si mesmos,
para aqueles logicamente possíveis para ele criar, devido a liberdade
libertária e a aleatoriedade genuína. Para evitar confusão, os filósofos da
religião contemporâneos designam os primeiros como mundos possíveis e os
segundos como mundos viáveis [plausíveis].[41] Não apenas o conhecimento médio,
Molina proclamou, permite a liberdade humana e os processos estocásticos, mas
também fornece a Deus um meio de escolher o mundo viável para criar. Pois
sabendo o que as essências individuais instanciadas fariam sob quaisquer
circunstâncias, Deus pode escolher um mundo viável onde seus propósitos últimos
sejam alcançados através de decisões livres de criaturas e processos
aleatórios. Ao fazer uma “deliberação absolutamente completa e ilimitada” sobre
qual mundo factível criar, Deus escolhe um desses mundos para ser real em seu
decreto criativo.[42]
No conhecimento livre, o terceiro
momento lógico da estrutura de Molina, Deus conhece plenamente o mundo real
[atual], incluindo sua presciência de tudo o que acontecerá nele. Isso inclui
não apenas as circunstâncias que Deus causará diretamente e as decisões que
tomará, mas também as decisões livres que os humanos tomarão, as ações
aleatórias dos processos estocásticos e as circunstâncias contingentes que
resultarão dessas decisões e ações. Chamado de “conhecimento livre” porque este
conhecimento é baseado na decisão livre de Deus de qual mundo viável criar,
Deus tem o controle sobre quais afirmações são verdadeiras e falsas no
conhecimento livre.[43] Portanto, Molina poderia concordar verbalmente com
Lutero que Deus “determina” sua presciência pela força de sua vontade no
sentido de que Deus escolhe qual será sua presciência, embora não no sentido
pretendido por Lutero de que Deus provoca [causa] diretamente todo o conteúdo
da presciência que ocorrer.[44] Ao escolher criar outro mundo, Deus teria feito
com que sua presciência fosse diferente, pois declarações verdadeiras no mundo
atual seriam falsas e afirmações falsas no mundo atual seriam verdadeiras. Por
exemplo, se Deus tivesse criado um mundo onde Pedro nunca tivesse existido,
então todas as afirmações verdadeiras sobre as coisas que ele realmente fez
seriam falsas. Além disso, se Deus tivesse decidido não criar mundo nenhum,
então Deus nem mesmo teria conhecimento livre.[45] Portanto, nem o conteúdo nem
mesmo a existência do conhecimento livre é necessário para Deus, pois Deus
poderia não ter tal conhecimento e ainda ser Deus.[46]
Podemos agora ilustrar a estrutura
de onisciência de Molina com a seguinte enumeração de seus momentos lógicos:
1. Conhecimento natural: o
conhecimento de Deus de todas as verdades possíveis e, portanto, de todos os
mundos possíveis (ou seja, conjuntos logicamente consistentes de circunstâncias
possíveis).
2. Conhecimento Médio: o
conhecimento de Deus de todas as verdades contrafatuais e, portanto, de todos
os mundos viáveis (isto é, conjuntos logicamente consistentes de circunstâncias
compatíveis com as decisões decorrentes da liberdade libertária e as ações
decorrentes da aleatoriedade natural).
→ Decreto criativo divino
3. Conhecimento livre: o
conhecimento de Deus de todas as verdades atuais (passado, presente e futuro)
no mundo que ele escolheu criar.[47]
Observe que o conhecimento médio
desempenha o papel crucial de fundamentar a presciência de Deus, que parece
carecer de qualquer base se Deus não tivesse conhecimento médio. Pois se alguém
adota a visão do senso comum do tempo em que o tornar-se temporal é real - onde
apenas o momento presente existe enquanto o passado é o que existiu e o futuro
ainda não existe, mas é uma esfera de possibilidade não-atualizada - então
separado do conhecimento médio, Deus não pode conhecer o futuro, pois eventos
futuros não estão realmente presentes para Deus olhar para frente e ver.[48]
Mas se Deus tem conhecimento médio, então ele sabe o que toda criatura possível
faria sob quaisquer circunstâncias e, portanto, em cada mundo viável. Quando
Deus, em seu decreto criativo, seleciona um desses mundos viáveis/factíveis
para ser o mundo real, então seu conhecimento médio do que aconteceria se ele
criasse esse mundo é transformado em pré-conhecimento do que acontecerá neste
mundo. Então, Deus conhece de antemão, completamente sem referência a qualquer
coisa fora de si mesmo, o que o futuro será. Assim, como Craig bem coloca,
"Devido o conhecimento médio e o decreto divino, a presciência segue
automaticamente como resultado".[49]
Nesta conjuntura, a questão poderia
ser colocada sobre como Deus poderia ter conhecimento médio, uma vez que as
verdades contrafatuais não estão presentes para que Deus olhe para frente e
veja, e a maioria delas nunca estará realmente presente. Aqui deve ser
enfatizado que a doutrina do conhecimento médio de Molina traz consigo um
modelo conceitualista de cognição divina, em vez de um modelo perceptualista de
cognição divina. No modelo perceptualista, Deus obtém seu conhecimento olhando
e vendo o que existe. Este modelo é tacitamente afirmado quando as pessoas
falam de Deus prevendo o futuro ou possuindo previsão de eventos no futuro. No
entanto, Molina insistiu que Deus não obtém seu conhecimento por algo que se
assemelhe à percepção. Em vez disso, o conhecimento de Deus é autocontido e
deve ser interpretado na analogia do conhecimento de uma mente de idéias
inatas. Assim, Molina declarou a respeito do conhecimento médio que "Deus
não adquire conhecimento das coisas,
mas conhece e compreende tudo o que sabe em Sua própria essência".[50]
Assim, o conhecimento de Deus é discernido completamente dentro do intelecto de
Deus e não por qualquer coisa fora dele.[51] Como o ser onisciente, Deus possui
essencialmente o atributo de conhecer todas as verdades; existem verdades
contrafactuais; portanto, Deus conhece todas as verdades contrafactuais. Craig
mostrou que se pode empregar esse fato sobre a onisciência para construir um
argumento filosófico que, se bem sucedido, prova que Deus tem conhecimento
médio. O argumento, em forma modificada, é construído da seguinte maneira:
1. Se existem verdades
contrafactuais sobre as ações das criaturas dotadas de liberdade libertária
(conhecidas como “contrafactuais da liberdade das criaturas”) e verdades
contrafactuais sobre processos estocásticos (que podemos chamar de
“contrafactuais de aleatoriedade natural”), então o Deus onisciente conhece
essas verdades.
2. Existem verdades contrafatuais
sobre as ações de criaturas dotadas de liberdade libertária e processos
estocásticos.
3. Se Deus conhece verdades
contrafatuais sobre as ações de criaturas dotadas de liberdade libertária e
processos estocásticos, então Deus as conhece logicamente antes do decreto
criativo divino ou apenas logicamente posterior ao decreto criativo divino.
4. Verdades contrafatuais sobre as
ações de criaturas dotadas de liberdade libertária e processos estocásticos não
podem ser conhecidas apenas logicamente posteriores ao decreto criativo divino.
5. Portanto, Deus conhece verdades
contrafatuais sobre as ações de criaturas dotadas de liberdade libertária e
processos estocásticos (de 1 e 2).
6. Portanto, Deus conhece verdades
contrafatuais sobre as ações de criaturas dotadas de liberdade libertária e
processos estocásticos, seja logicamente antes do decreto criativo divino ou
apenas logicamente posterior ao decreto criativo divino (de 3 e 5).
7. Portanto, Deus conhece verdades
contrafatuais sobre as ações de criaturas dotadas de liberdade libertária e
processos estocásticos logicamente antes do decreto criativo divino (de 4 e 6),
que é a soma e a substância do conhecimento médio.[52]
Embora Molina não tenha formulado
explicitamente esse argumento, ele endossou implicitamente todas as suas
premissas. Eu agora direi brevemente algo em defesa das premissas de 1 a 4, das
quais o resto do argumento segue dedutivamente.
A premissa 1 segue necessariamente
da definição de onisciência, ou seja, conhecer todas as verdades e não
acreditar em falsidades. Como disse Molina, “Deus tem dentro de si os meios
pelos quais Ele conhece todas as coisas plena e perfeitamente”.[53] Assim, se
existem verdades contrafatuais sobre criaturas dotadas de liberdade libertária
e processos estocásticos, então o Deus onisciente deve conhecê-las.
A premissa 2 é intuitivamente óbvia,
como declarações da forma “se a criatura dotada de liberdade libertária L estivesse nas circunstâncias C, então L faria livremente a ação A”
e “se o processo estocástico S
estivesse nas circunstâncias C, então
S geraria aleatoriamente a ação A” são ou verdadeiras ou falsas, mesmo
que não saibamos qual, pela lei da bivalência. (Aqui as circunstâncias C são completamente bem definidas e
incluem toda a história do mundo possível relevante até o momento da ação.)[54]
A lei da bivalência é o princípio lógico que afirma que toda proposição tem
precisamente um valor de verdade, seja verdadeira ou falsa. Agora claramente
algumas das declarações acima são verdadeiras, já que L tem que fazer algo em C (mesmo se L escolher permanecer exatamente como L era antes) e S tem que
fazer algo em C (mesmo que S permaneça
aleatoriamente em estado estático). Que L
ou S está em C significa que nenhuma não-ação é logicamente possível. Portanto,
existem de fato verdades contrafatuais sobre as ações de criaturas dotadas de
liberdade libertária e processos estocásticos.
A premissa 3 simplesmente declara
possibilidades logicamente exaustivas, a saber, que se Deus conhece
contrafatuais de criaturas dotadas de liberdade libertária e da aleatoriedade
natural, então Deus as conhece logicamente antes ou somente depois de seu
decreto criativo. Não se pode dizer que Deus conheça contrafatuais das
criaturas dotadas de liberdade libertária e das aleatoriedades naturais apenas
em simultâneo com o seu decreto criativo, porque o decreto criativo não é em si
um momento do conhecimento divino. Assim, ou o conhecimento de Deus das
contrafatuais origina-se logicamente antes ou depois do decreto criativo
divino.[55]
A premissa 4 é verdadeira porque,
como vimos, se contrafatuais de liberdade das criaturas e aleatoriedade natural
fossem conhecidas apenas seguindo o decreto criativo divino, então foi Deus
quem determinou o que cada criatura faria e como cada processo estocástico se
comportaria em cada conjunto de circunstâncias. (Lembre-se de que esse era um
ponto de unanimidade entre os principais reformadores de cada confissão do
século XVI.) Nesse caso, teríamos a autocontradição de contrafatuais de liberdade das criaturas sendo determinadas por Deus, de modo que eles
não seriam mais livres de uma maneira libertária![56] Por definição, as
contrafatuais da liberdade das criaturas não podem ser “de liberdade das
criaturas” se Deus as determinar. Daí, Craig corretamente observa que “se Deus
conhece as verdades contrafatuais sobre nós apenas após o seu decreto, então
realmente não há contrafatuais de liberdade das criaturas.”[57] Além disso,
teríamos a autocontradição das contrafatuais de aleatoriedade natural sendo determinadas
por Deus, de tal forma que elas não seriam mais aleatórias de maneira
estocástica. Por definição, contrafatuais de aleatoriedade natural não podem
ser “aleatórios naturais” se Deus as determinar.
Devido a verdade das premissas 1 a
4, segue-se que, logicamente, antes do decreto criativo divino, Deus conhece
todas as verdadeiras contrafatuais de liberdade das criaturas e da
aleatoriedade natural, o que significa que Deus tem conhecimento médio. Esse
argumento da onisciência vai refutar a única objeção mais comum ao conhecimento
médio na literatura filosófica e teológica contemporânea, a saber, a objeção de
fundamentação. A objeção de base sustenta que não há base ou fundamento sobre o
qual Deus possa ter conhecimento médio.[58] Mas esse argumento mostra que o
fundamento do conhecimento médio é a onisciência de Deus, da qual o
conhecimento médio segue dedutivamente. O Deus onisciente conhece que todas as
verdades; as contrafatuais de liberdade das criaturas e a aleatoriedade natural
são verdadeiras logicamente antes do decreto criativo de Deus; portanto, Deus
conhece as contrafatuais de liberdade das criaturas e a aleatoriedade natural
logicamente antes de seu decreto criativo. Assim, para Molina, “a profundidade
e perfeição do conhecimento divino” inclui o conhecimento inato de todas as
verdades, e Deus simplesmente discerne as contrafatuais de liberdade das
criaturas e da aleatoriedade natural como parte de sua onisciência.[59]
Nesse ponto, os contemporâneos de
Molina estavam aptos a questionar os meios precisos pelos quais Deus discerne
seu conhecimento médio. Embora o argumento acima, se bem sucedido, mostra que
Deus tem conhecimento médio, mesmo que nunca possamos conhecer ou entender os
meios pelos quais ele o possui, Molina propôs uma resposta: supercompreensão, a
saber, “uma compreensão absolutamente
profunda e absolutamente preeminente”.[60] Para entender essa resposta,
devemos primeiro observar que, no modelo conceitualista da cognição divina de
Molina, Deus conhece todas as verdades que são independentes de sua vontade e
onipotência (ou seja, as verdades que ele apreende em seu conhecimento natural
e médio) simplesmente por virtude de sua natureza. Esse conhecimento inato
engloba a supercompreensão, que Molina constrói como a capacidade intelectual
ilimitada de Deus de perceber infinitamente, dentro de sua própria mente, a
essência individual (ou padrão) de todas as coisas possíveis que ele poderia
criar. Lembre-se do capítulo 2 que, para Molina, essas essências individuais
não existem independentemente de Deus nem fora de Deus, mas apenas como
projetos dentro da mente de Deus. Em outras palavras, essas essências
individuais são apenas o produto da imaginação de Deus - padrões mentais ou
projetos para coisas que ele conhece em sua infinita criatividade e talento
artístico que ele poderia criar, se quisesse.
Daí vemos imediatamente que Deus não
obtém nenhum conhecimento das criaturas que poderiam ou seriam criadas a partir
desses padrões ou projetos.[61] Em vez disso, Molina insistiu que o
conhecimento de Deus vem unicamente das essências individuais (os padrões ou projetos)
em si, que só existem como os pensamentos da própria mente de Deus. Em resumo,
“Deus não obtém Seu conhecimento das coisas, mas conhece todas as coisas em Si mesmo e de Si mesmo”.[62] Assim,
para Molina, todo o conhecimento de Deus é autocontido, uma doutrina que se
reduz à aseidade - a absoluta auto-existência, auto-suficiência, independência
e autonomia - de Deus.[63] Uma vez que cada essência individual é o produto da
imaginação divina, e Deus compreende perfeitamente sua própria imaginação, segue
para Molina que Deus pode infinitamente perceber cada essência. Esta percepção
infinita inclui saber o que cada essência, se instanciada, faria (livremente no
caso das essências libertárias, aleatoriamente no caso das essências
estocásticas, e deterministicamente no caso de outras essências) em qualquer
conjunto possível de circunstâncias em que ela existiu.[64] Como Molina
declarou no caso das essências libertárias:
Em
Si mesmo [Deus] compreende todas as coisas
que existem eminentemente Nele e,
portanto, a livre escolha de qualquer criatura que Ele é capaz de criar através
de Sua onipotência. Portanto, antes de qualquer livre determinação de Sua
vontade, em virtude da profundidade do Seu. . . conhecimento, pelo qual Ele
infinitamente sobrepuja cada uma das coisas que Ele contém eminentemente em Si mesmo, Ele discerne o que a livre
escolha de qualquer criatura faria por sua própria liberdade inata, devido a
hipótese de que Ele deveria criá-la nesta ou naquela ordem de coisas, com estas
ou aquelas circunstâncias ou ajudas - mesmo que a criatura pudesse, se
quisesse, abster-se de agir ou fazer o contrário, e mesmo que fosse fazer
assim, como é capaz de fazer livremente, Deus preveria esse próprio ato e não aquele que Ele de fato
prevê que seria realizado por essa criatura.[65]
Então, logicamente antes de sua
escolha de criar qualquer coisa, o Designer conhece todos os seus designs ou
padrões não-atualizados de possíveis indivíduos (dos quais uma pequena minoria
seria atualizada) tão perfeitamente bem para saber como cada um (se possuindo
liberdade libertária) se comportaria livremente em qualquer estado de coisas se
ele procedeu a criá-lo.
Aqui nós detectamos uma refutação
adicional da objeção de fundamento, como podemos dizer que Molina fundamentou o
conhecimento médio na capacidade cognitiva de Deus para compreender
perfeitamente sua própria aptidão criativa e poder. Como Molina declarou a
respeito de Deus, “Assim, o que era em si mesmo incerto [contrafatuais de
liberdade das criaturas] Ele sabia com certeza, uma certeza que se originou não
do objeto, mas da perspicácia e perfeição absoluta de seu intelecto.”[66] De
fato, Molina declarou que,
seria um insulto à profundidade e
perfeição do conhecimento divino - e, na verdade, ímpio e nada compatível com
uma compreensão tão grande da livre escolha de cada criatura - afirmar que Deus
é ignorante do que eu teria feito pela minha liberdade de escolha (i) se Ele
tivesse me criado em alguma outra ordem de coisas, ou (ii) se, nesta mesma
ordem de coisas em que Ele me criou, Ele decidiu conferir-me mais ou menos
ajudas do que de fato decidiu me dar, ou (iii) se Ele tivesse me concedido uma
vida mais longa ou me entregado a tentações mais sérias. Assim, segue-se que,
mesmo antes de criar qualquer coisa por Seu livre-arbítrio, Ele conhecia todos
os futuros contingentes com certeza . . . não
absolutamente falando, mas sim na
hipótese de que Ele mesmo deveria decidir criar essa ou aquela ordem das
coisas com essas ou aquelas circunstâncias. . . . Portanto, Deus não precisa da
existência dessas coisas em Sua eternidade para conhecê-las com certeza.[67]
Aqui devemos destacar a clara
distinção que Molina fez entre certeza e necessidade. Para Molina, a certeza é
um atributo das pessoas e não tem relação com a verdade ou falsidade das
proposições. Isso é evidente pelo fato de que uma pessoa pode estar
absolutamente certa de que alguma proposição é verdadeira e acaba sendo falsa.
Então, dizer que Deus conhece algo com certeza é apenas afirmar que Deus tem
certeza de que alguma proposição é verdadeira. Não é para colocar qualquer tipo
de restrição no valor de verdade da proposição. Por contraste, necessidade é
uma restrição lógica realizada por algumas proposições que as proíbe de
possivelmente serem falsas.[68] Para ilustrar, um teorema matemático pode ser
necessariamente verdadeiro, o que significa que é logicamente impossível que o
teorema seja falso.[69]
Molina foi rápido em enfatizar que
Deus conhece o conteúdo de seu conhecimento médio com certeza e não com
necessidade.[70] Em outras palavras, Deus tem certeza de que seu conhecimento
médio é verdadeiro, mesmo sabendo que seu conhecimento médio poderia ter sido
diferente do que de fato é. Muito do que Deus conhece através de seu
conhecimento médio é contingente, não necessariamente, verdadeiro, de tal forma
que não há nada para compelir ou torná-lo logicamente verdadeiro. O fato de que
Deus conhece seu conhecimento médio com certeza de modo algum determina que as
contrafatuais de liberdade das criaturas sejam verdadeiras, mais do que o nosso
conhecimento das contrafatuais de liberdade das criaturas sobre outras pessoas
determina que essas contrafatuais sejam verdadeiras. Por exemplo, sei com
certeza que, se eu oferecesse à minha esposa um copo de [refrigerante] Dr.
Pepper e um copo de Pepsi, ela escolheria o copo de Dr Pepper. Mas a certeza do
meu conhecimento desta contrafatual não determina que seja verdade; a
contrafatual é tão contingente quanto se eu não tivesse nenhum conhecimento
sobre nada disso. Obviamente, meu conhecimento não a obriga a escolher o copo
de Dr. Pepper se eu a colocasse na posição de ter que fazer a escolha entre as
duas bebidas. Exatamente da mesma maneira, Molina declarou que a certeza do
conhecimento médio de Deus não torna verdadeiras as contrafatuais de liberdade
das criaturas, e o conhecimento médio de Deus não obriga as criaturas livres a
escolher de maneiras específicas se Deus colocasse as criaturas na posição de
ter que fazer várias escolhas.
Em vista desse insight, Molina foi
capaz de oferecer um relato da presciência divina que não leva ao fatalismo.
Pois quando Deus converte seu conhecimento médio de certas proposições em
presciência, ao decidir criar as circunstâncias assumidas por essas
proposições, essa presciência não compele as criaturas livres ou processos
estocásticos para que as coisas que ele conhece com certeza, aconteçam; eles
ainda poderiam fazer o contrário. Nas palavras de Molina, “é uma presciência
que não impõe nenhuma necessidade. .
. sobre coisas futuras, mas as deixa incertas em si mesmas e em relação às suas
causas, como seriam se não houvesse tal presciência.”[71] Resumindo, Molina
insistiu que o conhecimento não é causalmente determinativo. Ou seja, o
conhecimento de Deus do que uma pessoa faria em algum conjunto de circunstâncias
não exerce nenhum poder causal sobre a pessoa agir como Deus conhece, assim
como o conhecimento humano do que outros humanos fariam não exerce nenhum poder
causal sobre suas escolhas.
RESUMO
DO DESENVOLVIMENTO DO CONHECIMENTO MÉDIO
A doutrina do conhecimento médio de
Molina foi formulada através da conjunção da infalibilidade bíblica e
inferência lógica. Um firme defensor da infalibilidade bíblica, Molina
acreditava que a exegese literal (hoje diríamos histórico-gramatical) de várias
passagens exigia que os humanos tivessem liberdade libertária e que Deus
possuísse conhecimento contrafatual. A questão para Molina era como essas
verdades poderiam ser harmonizadas umas com as outras. Para responder a essa
questão, Molina recorreu à inferência lógica. Logicamente, Deus deve ter
primeiro apreendido seu conhecimento contrafatual antes ou depois de seu
decreto criativo. Mas como Molina (assim como Lutero e Calvino) viram, se Deus
apreendeu seu conhecimento contrafatual após seu decreto criativo, isso obliteraria
a liberdade humana libertária, bem como seria Deus quem teria determinado o que
cada pessoa faria em qualquer conjunto de circunstâncias possíveis. Já que os
humanos, de acordo com as Escrituras, têm liberdade libertária, segue por reductio ad absurdum (isto é, prova por
contradição) que Deus apreendeu seu conhecimento contrafatual antes de seu
decreto criativo. Daí o conhecimento contrafatual de Deus do que as essências
individuais fariam em qualquer conjunto de circunstâncias, logicamente, situa-se
entre, ou no meio, do que as essências individuais poderiam fazer em qualquer conjunto de circunstâncias (conhecimento
natural) e o que aquelas essências individuais que Deus escolheu atualizar farão nas circunstâncias que compõem o
mundo real (conhecimento livre). (O que as criaturas fariam em possíveis circunstâncias é logicamente dependente do que
elas poderiam fazer nessas
circunstâncias, e o que as criaturas farão
nas circunstâncias reais é logicamente dependente do que elas fariam se certas circunstâncias
possíveis fossem feitas de fato.) Portanto, Molina chamou o conhecimento
contrafatual de Deus de conhecimento médio.
Molina afirmou que o conhecimento
médio de Deus estava fundamentado em sua onisciência e apreendido por meio de
sua supercompreensão. Porque o conhecimento, divino ou humano, do que alguma
outra criatura livre faria de modo algum causa a criatura a fazer, Molina
sustentava que o conhecimento médio (e o conhecimento livre) tornava o
fatalismo impossível. Com base no seu modelo não fatalista ou indeterminista
das escolhas humanas e dos processos aleatórios, Molina apresentou um relato
provocativo da providência divina, cujos detalhes vamos desmembrar no próximo
capítulo.
_____________________________
Fonte:
MacGregor, Kirk R. Luis de Molina: The Life and Theology
of The Founder of Middle Knowledge. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2015, pp.
79-105.
Tradução Walson Sales.
[Nota do tradutor: este texto foi
traduzido com a intenção primária de enriquecer o debate teológico no Brasil e
de buscar editoras que se interessem em adquirir os direitos autorais da obra
em tela para publicá-la no Brasil em sua totalidade].
______________________________
Notas
de rodapé:
1. William Lane Craig, The
Only Wise God: The Compatibility of Divine Foreknowledge and Human Freedom
(Grand Rapids: Baker, 1987), 127. [Livro publicado no Brasil em 2016 pela
Editora Sal Cultural com o título: O Único Deus Sábio].
2. Apenas o livro 4 (De Praescientia Dei) dos sete volumes da
Concórdia foi traduzido para o inglês. Esta tradução foi feita muito habilmente
por Alfred J. Freddoso com o título On
Divine Foreknowledge (Ithaca, NY: Cornell University Press, 1988).
3. Ludovici Molina, Commentaria
in primam divi Thomae partem (Venice, 1602), 14.13.14; idem, Foreknowledge, 4.14.13.49.9;
4.14.13.53.10.
4. Molina, Foreknowledge,
4.14.13.49.9.
5. Molina, Commentaria,
14.13.16, 38.
6. Kirk R. MacGregor, A
Molinist-Anabaptist Systematic Theology (Lanham, MD: University Press of
America, 2007), 43.
7. Molina, Commentaria,
14.13.14; idem, Liberi Arbitrii cum
Gratiae Donis, Divina Praescientia, Providentia, Praedestinatione et
Reprobatione Concordia, ed. Johannes Rabeneck (Madrid: Sumptibus Societatis
Editorialis “Sapientia,” 1953), 1.14.13.9; 7.23.4/5.1.4.13; 7.23.4/5.1.11.41.
8. Molina, Foreknowledge,
4.14.13.49.9.
9. Friedrich Stegmüller, ed. e trad., Geschichte des Molinismus: Neue Molinaschriften 1, Beiträge zur
Geschichte der Philosophie und Theologie des Mittelalters 32 (Münster:
Aschendorffschen, 1935), 430, 440, 481; cf. Molina, Concordia, 1.14.13.1.20, onde ele acusou que "Calvino persiste
no erro de Lutero (Calvinus in errore persistit Lutheri).”
10. Molina, Concordia,
1.14.13.7.4; 1.14.13.23.1.3.
11. Molina, Commentaria,
22.1.
12. Ibid., 14.13.19.5.
13. Molina, Foreknowledge,
4.14.13.52.8. Além dos textos citados por Molina, William Lane Craig aponta
vários outros exemplos de conhecimento contrafatual nas Escrituras: “De fato,
quando interpretamos certas profecias como advertências contrafatuais, em vez
de declarações categóricas de presciência simples, podemos explicar como é que
em Israel o teste de um verdadeiro profeta é o cumprimento de suas predições
(Deuteronômio 18:22) e ainda algumas predições dadas por verdadeiros profetas
não acontecem de fato porque o povo advertido respondeu de maneira apropriada
(Is 38: 1 - 5; Amós 7: 1-6; Jonas 3: 1-10). Em tais casos, a profecia de Deus
era um conhecimento contrafatual do que aconteceria sob as circunstâncias prevalecentes;
mas esses indivíduos responderam em orações de intercessão ou arrependimento,
então Deus não executaria o que havia sido ameaçado. Encontramos também o
conhecimento contrafatual exibido por Cristo. Por exemplo, ele diz a Pedro:
" Mas, para que os não
escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir, e
abrindo-lhe a boca, encontrarás um estáter; toma-o, e dá-o por mim e por ti”. (Mateus 17:27).
Essa passagem é mais naturalmente entendida como uma expressão do conhecimento
de Jesus de que, se Pedro cumprisse as instruções de Jesus, encontraria as
coisas como o Senhor predisse. Mais uma vez, Jesus ordena aos discípulos, após
uma noite fútil de pesca, "E ele lhes disse: Lançai a rede para o lado direito do barco, e
achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam tirar, pela multidão dos
peixes.” (João 21:6). A
captura milagrosa que se seguiu mostra que Jesus sabia exatamente o que
aconteceria se os discípulos obedecessem ao seu comando. Às vezes, Jesus faz
declarações contrafatuais. . . . "Ai daquele homem por quem o Filho do
homem é traído! Bom seria para este homem se não houvera nascido.” (Mateus 26:24)
(William Lane Craig, “The Middle-Knowledge View,” em James K. Beilby e Paul R.
Eddy, Divine Foreknowledge: Four Views
[Downers Grove, IL: InterVarsity, 2001], 124).
14. Reinhold Seeberg, Text-Book
of the History of Doctrine, 4 vols., trans. Charles E. Kay (Grand Rapids:
Baker, 1956), 2:185.
15. Thomas Aquinas, Summa
contra Gentiles, 1.66.4; idem, Summa
Theologiae, trans. Fathers of the English Dominican Province (New York:
Benziger Brothers, 1947), 1.14.5 – 8.
16. Harm J. M. J. Goris, Free
Creatures of an Eternal God: Thomas Aquinas on God’s Infallible Foreknowledge
and Irresistible Will, Thomas Instituut te Utrecht 4 (Leuven: Peeters,
1996), 274.
17. Aquinas, Summa
Theologiae, 1.14.13.
18. MacGregor, Molinist-Anabaptist
Systematic Theology, 19.
19. Ibid., 15.
20. Martin Luther, The
Bondage of the Will, trans. James I. Packer and O. R. Johnston (Grand
Rapids: Revell, 1957), 80 – 81.
21. Ibid., 217.
22. Ibid., 213.
23. John Calvin, Institutes
of the Christian Religion, ed. John T. McNeill, trans. Ford Lewis Battles
(Philadelphia: Westminster, 1960), 1.16.4, 8.
24. Neste ponto, Calvino afirmou "Que nada no mundo é
realizado sem a determinação [de Deus]" (Institutas, 1.16.6).
25. Aqui Molina (Concordia,
1.14.13.23.33) declarou-se em total concordância com a posição do proeminente
reformador Cisterciense medieval Bernardo de Clairvaux: “Bernardo afirma essa
mesma liberdade de escolha em seu tratado On
Grace and Free Will. Observe o local onde ele disse, entre outras coisas
[11.33]: O Criador dotou sua criatura racional com essa prerrogativa de sua
dignidade, que mesmo ele próprio sendo independente e controlador de sua
própria vontade e, portanto, não sendo bom por qualquer necessidade, a criatura
também foi feita controlador da sua própria vontade, a fim de que ele se
tornasse mau apenas por sua vontade e, portanto, corretamente condenado, ou
permanecesse bom por sua vontade e, com razão, fosse salvo. Não que a sua
vontade sozinha pudesse ser capaz de alcançar a salvação, mas ele nunca teria a
oportunidade de obter a salvação sem o seu consentimento. Ninguém é salvo a
contragosto (Eandem arbitrii libertatem affirmat Bernardus in tractatu De
Gratia et Libero Arbitrio. Quo loco inter alia ait: Hac dignitatis praerogativa
rationalem singulariter creaturam conditor insignivit ut quemadmodum ipse sui
iuris erat ita illa quoque suo quodammodo iuris in hac parte existeret,
quatenus non nisi sua voluntate aut mala fierit et iuste damnaretur aut bona
maneret et merito salvaretur. Non quod ei propria possit sufficere ad salutem
voluntas, sed quod eam nullatenus sine sua voluntate consequerentur. Nemo
quippe salvatur invitus).” Daí a recepção positiva de Bernardo no século XVI,
que se demonstrou se estender a Lutero (Franz Posset, Pater Bernhardus: Martin Luther and Bernard of Clairvaux
[Kalamazoo, MI: Cistercian Publications, 1999]), Calvin (Dennis E. Tamburello, Union with Christ: John Calvin and the
Mysticism of St. Bernard [Louisville: Westminster John Knox, 1994]), e
Balthasar Hubmaier (Kirk R. MacGregor, A
Central European Synthesis of Radical and Magisterial Reform: The Sacramental
Theology of Balthasar Hubmaier [Lanham, MD: University Press of America,
2006], 37 – 89), extendida a Molina também.
26. Craig, “Middle-Knowledge View,” 122.
27. Molina, Foreknowledge,
4.14.13.53.11; ênfase no original.
28. Ibid., 4.14.15.49.8, 11.
29. Ibid., 4.14.15.47.9. Molina não usou o termo moderno Estocástico, mas afirmou claramente o
conceito que o termo significa.
30. Portanto, não há nenhum laço lógico ou causal entre as
circunstâncias e o que as criaturas fariam livremente nelas. Dito de outro
modo, Molina sustentou que existem fatos contingentes da seguinte espécie: para
qualquer conjunto de circunstâncias C
(onde C inclui toda a história do
mundo até o momento da decisão), há alguma ação A tal que se um agente dotado de liberdade libertária L estivesse em C, L faria
indeterministicamente A. Isto é
verdade mesmo que C não tenha causado
L fazer A ou feito L fazer A, e L
poderia ter feito algo completamente diferente do que A em C.
31. Molina, Foreknowledge,
4.14.15.49.13.
32. Ibid., 4.14.15.52.19; 4.14.15.53.2.22.
33. Ibid., 4.14.15.52.9.
34. Ibid., 4.14.15.53.3.2.
35. Ibid., 4.14.15.52.10. Em seu conhecimento médio, Deus
não apreende verdades contrafatuais sobre o que ele mesmo faria em qualquer
conjunto de circunstâncias, pois isso impediria que Deus pudesse fazer
quaisquer escolhas livres sobre o que ele faria posteriormente. Todas as
decisões subseqüentes de Deus seriam determinadas por seu próprio conhecimento
médio anterior de si mesmo! Em outras palavras, Deus tendo conhecimento médio
de si mesmo destruiria seu próprio livre-arbítrio, o que é impossível. Portanto,
Molina afirmou que “assim como os seres humanos e os anjos não sabem, antes da
determinação de suas próprias vontades, para que lado eles vão se virar. . . da
mesma forma Deus também não sabe, antes de determinar a sua própria vontade,
para que lado se voltará” (4.14.15.52.11). Voltaremos a este tópico no capítulo
6.
36. Molina, Foreknowledge,
4.14.15.51.1, 17, 19.
37. Ibid., 4.14.15.50.15; ênfase no original.
38. Craig, Only Wise
God, 131. É por isso que Molina explicou: “Portanto, deve-se dizer (i) que
o conhecimento médio tem, em parte, o
caráter do conhecimento natural, já
que era anterior ao ato livre da vontade divina e porque Deus não tinha o poder
de conhecer nenhuma outra coisa, e (ii) que tem em parte o caráter de
conhecimento livre, já que o fato de
que é conhecimento de uma parte e não da outra deriva do fato de que a livre
escolha, na hipótese de que ela deveria ser criada em uma ou outra ordem de
coisas, faria uma coisa em vez da outra, mesmo que indiferentemente fosse capaz
de fazer qualquer uma delas” (Foreknowledge,
4.14.15.52.10; ênfase no original).
39. Consequentemente, Molina negaria qualquer caracterização
de uma essência como um conjunto "bloqueado" de composição psicológica,
escolhas, desejos e idéias, fixados antes de nosso nascimento e predeterminando
nossas ações. Em vez disso, uma essência é simplesmente o "whatness" [o que algo simplesmente
é] ou quiddity [essência] de alguma
coisa, e para cada humano, essa quiddity
inclui a liberdade libertária.
40. Molina, Foreknowledge,
4.14.15.52.30; Craig, “Middle-Knowledge View,” 123.
41. Thomas P. Flint, “The Problem of Divine Freedom,” American Philosophical Quarterly 20, no.
3 (1983): 257.
42. Molina, Foreknowledge,
4.14.15.52.13.
43. Ibid., 4.14.15.52.9.
44. Ibid., 4.14.15.53.3.
45. Ibid., 4.14.15.53.4.3. Isso está correto, avisou Molina,
apenas se discutirmos estados positivos de coisas; se a avaliação for estendida
a estados negativos de coisas, afirmaremos que Deus possui um conhecimento
livre composto inteiramente de proposições negativas (por exemplo, "Não
haverá mundo real", "Pedro nunca existirá" e coisas
semelhantes).
46. MacGregor, Molinist-Anabaptist
Systematic Theology, 38.
47. Craig, Only Wise
God, 131; idem, “Middle-Knowledge View,” 123.
48. Essa visão do senso comum do tempo é também conhecida
como teoria do tempo “com tempo” ou Teoria-A do tempo. No entanto, alguém
poderia fundamentar a presciência divina se abandonasse essa visão em favor de
uma teoria do tempo “sem tempo”, também conhecida como Teoria-B do tempo. (Os
rótulos “Teoria-A” e “Teoria-B” foram introduzidos por John ME McTaggart em The Nature of Existence, ed. C.D. Broad
[Cambridge: Cambridge University Press, 1927], 5:33.) De acordo com a Teoria-B,
tornar-se temporal é uma ilusão da consciência humana, e todos os eventos na
linha do tempo (passado, presente e futuro) são igualmente existentes. Então,
para as pessoas em 1945, esse momento é agora e estamos no futuro, mas para as
pessoas em 2180, esse momento é agora e estamos no passado. O universo é um
bloco espaço-temporal de quatro dimensões que existe de forma estanque, e não
há momento presente privilegiado que sozinho realmente exista. Na Teoria-B, é
fácil basear o pré-conhecimento postulando que Deus reside fora do universo
espaço-temporal quadridimensional em um “agora eterno” e olha para o universo,
percebendo todos os momentos na linha do tempo como igualmente presentes. No
entanto, eu concordo com Craig ao defender a Teoria-A e ao sustentar que a
Teoria-B enfrenta dificuldades insuperáveis. Para uma análise completa dessas
duas teorias do tempo, veja William Lane Craig, The Tensed Theory of Time: A Critical Examination, Synthese Library
293 (Dordrecht: Kluwer Academic, 2000); e idem, The Tenseless Theory of Time: A Critical Examination, Synthese
Library 294 (Dordrecht: Kluwer Academic, 2000).
49. Craig, “Middle-Knowledge View,” 133.
50. Molina, Foreknowledge,
4.14.15.52.19; ênfase no original.
51. Craig, Divine
Foreknowledge and Human Freedom, 240; Craig, “Middle-Knowledge View,” 133.
52. Craig, “Middle-Knowledge View,” 136 – 37.
53. Molina, Foreknowledge,
4.14.15.49.12.
54. Que tais afirmações são verdadeiras ou falsas é
pressuposto em Molina, Foreknowledge,
4.14.15.49.11.
55. Craig, “Middle-Knowledge View,” 143.
56. Refutando a posição do teólogo do século XIII John Duns
Scotus de que “a livre determinação da vontade divina é toda a explicação e
base para o fato de que Deus sabe com certeza quais coisas são contingentemente
futuras, absolutamente e de uma forma não qualificada”, insistiu
Molina que esta posição era tanto autocontraditória e perigosa para o caráter
onibenevolente de Deus ensinado pela fé Cristã: “Eu considero ser
suficientemente óbvio que esta posição de Scotus é mais que perigosa do ponto
de vista da fé. Por isso destrói a liberdade de escolha que. . . nós demonstramos
a partir da Sagrada Escritura e da própria experiência, e faz de Deus a causa
pela qual o nosso livre arbítrio é voltado para e determinado àqueles atos
pecaminosos pelos quais nós O ofendemos e violamos a Sua lei ” (Foreknowledge, 4.14.15.50.7; ênfase no
original).
57. Craig, “Middle-Knowledge View,” 143.
58. Para uma apresentação bem conhecida da objeção de
fundamento, veja Robert M. Adams, “Middle Knowledge and the Problem of Evil,” American Philosophical Quarterly 14
(1977): 109 – 17; William Hasker, God,
Time, and Knowledge (Ithaca, NY: Cornell University Press, 1989), 29 – 52;
David Paul Hunt, “Middle Knowledge: The ‘Foreknowledge Defense,’ ” International Journal for Philosophy of
Religion 28, no. 1 (1990): 1 – 24; Timothy O’Connor, “The Impossibility of
Middle Knowledge,” Philosophical Studies 66, no. 2 (1992): 139 – 66.
59. Molina, Foreknowledge,
4.14.15.49.11.
60. Ibid., 4.14.15.52.11; ênfase no original.
61. Esta é uma questão sobre a qual muitos detratores do
conhecimento médio, especialmente da tradição reformada, interpretam mal
Molina. Como foi observado na introdução, esse equívoco deriva da suposição
equivocada de que a doutrina do conhecimento médio de Arminius era a mesma de
Molina. Enquanto Arminius declarou explicitamente (Jacob Arminius, Public Disputations, em The Writings of Arminius, 3 vols.,
trans. James Nichols e W. R. Bagnall [Grand Rapids: Baker, 1956], 1:449; Private Disputations, em idem, 2:39) que
Deus obtém seu conhecimento médio das criaturas, Molina rejeitou veementemente
essa noção como solapando a asseidade e a perfeição de Deus (Foreknowledge, 4.14.15.52.19). Por isso,
Molina concordaria com seus detratores reformados contemporâneos de que
qualquer teoria da onisciência divina que predicasse o conhecimento de Deus de
contrafatuais da liberdade das criaturas sobre as criaturas é irremediavelmente
defeituosa.
62. Molina, Foreknowledge,
4.14.15.49.12; ênfase no original.
63. Esse é um ponto enfatizado por Craig: “Uma segunda noção
no relato de Molina sobre o conhecimento de Deus sobre futuros contingentes que
merece comentários é sua afirmação de que Deus conhece futuros contingentes em
Si mesmo. Molina deseja insistir tão fortemente quanto Aquino que Deus não
adquire Seu conhecimento de fontes externas. Ele afirma: ‘. . . Deus não
adquire conhecimento das coisas, mas
conhece e compreende tudo o que sabe em sua própria essência e na determinação
de sua própria vontade. . . '[Concordia,
4.14.15.52.19]. Em Sua essência Ele conhece o conteúdo de Seu conhecimento
natural e médio, enquanto a determinação de Sua vontade criativa fornece a base
de Seu conhecimento livre ”(William Lane Craig, The Problem of Divine Foreknowledge and Future Contingents from
Aristotle to Suarez, Studies in Intellectual History 7 [Leiden: Brill,
1988], 178).
64. No caso das essências libertárias e estocásticas, o que
essas essências fariam em qualquer conjunto de circunstâncias não faz parte
dessas essências, mas sim constituem propriedades contingentes dessas
essências, ou seja, propriedades que poderiam ter sido diferentes com a
essência permanecendo inalterada.
65. Molina, Foreknowledge,
4.14.15.49.11; ênfase adicionada, exceto na última cláusula, onde a ênfase é
encontrada no original.
66. Ibid., 4.14.15.52.33; ênfase adicionada.
67. Ibid., 4.14.15.49.11; ênfase no original.
68. Ibid., 4.14.15.52.4 – 6, 34 – 37.
69. Craig, “Middle-Knowledge View,” 127.
70. Molina, Foreknowledge,
4.14.15.52.35.
71. Ibid., 4.14.15.52.36; ênfase no original.
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