quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

O Conceito de Conhecimento Médio segundo Luis de Molina


Por Kirk R. MacGregor

Inquestionavelmente a maior virada (e indiscutivelmente o momento decisivo) na extensa história da reflexão teológica e filosófica sobre como reconciliar a onisciência divina e a liberdade humana é o conceito inovador de Molina, o conhecimento médio (scientia media). Em resumo, conhecimento médio é o conhecimento pré-volitivo de Deus de todas as verdades contrafatuais. Isso significa que é o tipo de conhecimento que Deus possui logicamente ou explanatoriamente antes de seu desejo de criar o mundo ou de tomar qualquer decisão sobre que tipo de mundo ele criaria, se fosse criar algum. Neste conhecimento, Deus apreendeu o valor de verdade de todas as contrafatuais ou das proposições condicionais  no modo subjuntivo. As contrafatuais tomam a seguinte forma: se algo fosse o caso (quando de fato pode ser ou não ser o caso), então algo mais seria o caso. Para ilustrar, as proposições “Se eu fosse dirigir uma Lamborghini amarela na interestadual, eu seria parado pela polícia por excesso de velocidade,” “Se a Suprema Corte tivesse declarado Al Gore vencedor das eleições presidenciais de 2000, os Estados Unidos não teriam invadido o Afeganistão e o Iraque,” e “Se existisse um vácuo quântico, ele produziria uma partícula virtual no tempo tal e tal,” são todas contrafatuais. E de acordo com o conhecimento médio, Deus conhece quais dessas proposições são verdadeiras e quais são falsas antes de decidir criar este mundo ou qualquer mundo. É importante notar, pelos três exemplos, que muitas contrafatuais envolvem agentes com livre arbítrio libertário ou eventos completamente aleatórios ou por acaso. Assim, inclusos no conhecimento médio de Deus está a consciência de Deus do que todos os indivíduos possíveis  com liberdade libertária fariam livremente em qualquer conjunto de circunstâncias em que eles se encontrarem, e também como seria os desfechos de todos os eventos completamente aleatórios e por acaso em qualquer conjunto de circunstâncias possíveis. William Lane Craig observa corretamente que a doutrina do conhecimento médio, se precisa, “é uma das ideias teológicas mais frutíferas já concebidas.”[1] Por isso, entre outras coisas, explicaria o conhecimento de Deus do futuro e tornaria possível para Deus conhecer verdadeiramente as proposições contingentes futuras. Molina delineou a doutrina do conhecimento médio e suas implicações lógicas para a providência divina e predestinação em sua magnum opus de 1588, a Concordia (cujo título completo é Liberi Arbitrii cum Gratiae Donis, Divina Praescientia, Providentia, Praedestinatione et Reprobatione Concordia, cuja tradução é A Compatibilidade da Livre Escolha com os Dons da Graça, Presciência Divina, Providência, Predestinação e Reprovação).[2]
Este capítulo traça os passos do desenvolvimento de Molina da doutrina do conhecimento médio. Primeiro discute como Molina encontrou na Bíblia o conhecimento contrafatual de Deus. Então prossegue para revelar que o argumento de Molina, a fim de harmonizar o conhecimento contrafatual de Deus com os textos bíblicos que ensinam a livre escolha humana, este conhecimento deve situar-se logicamente anterior ao decreto de Deus concernente a que mundo criar, se fosse criar algum. E mostra finalmente como Molina expôs seu esquema de conhecimento natural, médio e livre, hoje chamado de Molinismo.

Evidência Bíblica para o Conhecimento Contrafatual de Deus

Molina acreditava que a Bíblia estava repleta de textos cuja exegese literal exigia que Deus possui conhecimento contrafatual. Um relato citado com frequência por Molina retrata Davi perguntando a Yahweh por meio do Éfode, um dispositivo de comunicação, o Urim e o Tumim (pedras com cores diferentes com conotação respectiva de uma resposta afirmativa ou negativa) das quais uma dessas pedras seria tirada.[3]

Sabendo, pois, Davi, que Saul maquinava este mal contra ele, disse a Abiatar, sacerdote: Traze aqui o éfode. E disse Davi: Ó Senhor, Deus de Israel, teu servo tem ouvido que Saul procura vir a Queila, para destruir a cidade por causa de mim. Entregar-me-ão os cidadãos de Queila na sua mão? Descerá Saul, como o teu servo tem ouvido? Ah! Senhor Deus de Israel! Faze-o saber ao teu servo. E disse o Senhor: Descerá. Disse mais Davi: Entregar-me-ão os cidadãos de Queila, a mim e aos meus homens, nas mãos de Saul? E disse o Senhor: Entregarão. Então Davi se levantou com os seus homens, uns seiscentos, e saíram de Queila, e foram-se aonde puderam; e sendo anunciado a Saul, que Davi escapara de Queila, cessou de sair contra ele. (1 Samuel 23:9-13).

Neste texto, Davi pergunta se Saul atacaria Queila, onde Davi estava posicionado, e se os cidadãos da cidade entregariam Davi a Saul. Nas duas vezes o éfode apontou o Urim, dando uma resposta afirmativa, levando Davi a fugir da cidade, contudo, tais predições não ocorreram de fato. Logo em 1573, Molina reconheceu que o conhecimento mediado aqui não constituiu predições do futuro (Presciência), pois Saul na verdade, nunca foi a Queila e os cidadãos de Queila nunca entregaram Davi a Saul. Desde que Deus é infalível, nós não podemos interpretar as respostas dadas como erros da parte de Deus, como seria se a informação que Davi recebeu compreendesse um exemplo de presciência. Nem a informação foi uma descrição de mera possibilidade, como Davi já sabia que Saul poderia vir a Queila e que os cidadãos de Queila poderiam entregá-lo a Saul. Então, ao invés de ser presciência ou conhecimento de possibilidades, segue-se que Deus estava comunicando a Davi o conhecimento contrafatual. Deus estava deixando Davi saber que se ele permanecesse em Queila, Saul viria para pegá-lo, e que se Saul viesse para pegar Davi, o povo da cidade entregaria Davi a Saul. Por isso que as respostas dadas divinamente estavam corretas apesar de não terem acontecido, e elas revelaram o que teria acontecido sob diferentes circunstâncias das circunstâncias que se seguiram ao fato.[4]
Em seu comentário sobre a Summa Teológica de Aquino, Molina destacou outras profecias que também convergem ao conhecimento contrafatual, diferente das declarações categóricas simples de presciência.[5] Dessas, Jeremias 38: 17-18 é representativa:

Então Jeremias disse a Zedequias: Assim diz o SENHOR, Deus dos Exércitos, Deus de Israel: Se voluntariamente saíres aos príncipes do rei de babilônia, então viverá a tua alma, e esta cidade não se queimará a fogo, e viverás tu e a tua casa. Mas, se não saíres aos príncipes do rei de babilônia, então será entregue esta cidade na mão dos caldeus, e queimá-la-ão a fogo, e tu não escaparás da mão deles. (Jeremias 38:17,18).

Consequentemente, descobrimos que Deus, como um ser onisciente, sabia das respostas livres dos Babilônios a qualquer que fosse o curso de ação que Zedequias escolhesse livremente. Como evidenciado pelo exílio Babilônico, Zedequias recusou se submeter e subsequentemente foi morto por Nabucodonossor. No entanto, Deus também conhecia a verdade contrafatual que se Zedequias tivesse se submetido aos oficiais de Nabucodonossor, Zedequias e a cidade de Jerusalém, que de fato, foi arrasada, teriam sido poupados.[6]
Molina encontrou afirmações contrafatuais nos lábios de Jesus também. Talvez o exemplo mais completo e amplo teologicamente é a denuncia de Jesus contra Corazim, Betsaida e Cafarnaum:

Então começou ele a lançar em rosto às cidades onde se operou a maior parte dos seus prodígios e não se haverem arrependido, dizendo: Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se teriam arrependido, com saco e com cinza. Por isso eu vos digo que haverá menos rigor para Tiro e Sidom, no dia do juízo, do que para vós. E tu, Cafarnaum, que te ergues até ao céu, serás abatida até ao inferno; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje. Eu vos digo, porém, que haverá menos rigor para os de Sodoma, no dia do juízo, do que para ti. (Mateus 11:20-24; cf. Lc 10: 13-15).[7]

Aqui Jesus articulou seu conhecimento dizendo que se ele tivesse operado milagres em locais diferentes no espaço-tempo, dos locais onde ele na realidade operara, então, certos grupos de indivíduos que não se arrependeram e foram condenados, teriam se arrependido e sido salvos. Esta afirmação toca de forma significativa na predestinação divina, que exploraremos no capítulo 5. Assim, Deus estava consciente de que ele poderia ter criado mundos diferentes, especificamente um mundo onde Jesus teria operado seus milagres nas cidades gentias de Tiro e Sidom e um mundo em que a encarnação de Jesus ocorreria por volta do século 19 antes de Cristo e ele operaria seus milagres em Sodoma. Nestes mundos, alguns dos mesmos indivíduos que são reprovados em nosso mundo, teriam sido eleitos. A despeito desse fato, Deus escolheu criar o mundo atual. Como Molina explicou, “Deus sabe que teria havido arrependimento em pano de saco e cinza entre os habitantes de Tiro, Sidom sobre a hipótese de que as maravilhas que foram operadas em Corazim e Betsaida teriam funcionado em Tiro e Sidom...mas tendo em vista que esta hipótese não veio a ocorrer de fato, não foi atualizada, este arrependimento nunca aconteceu e nunca existirá na realidade – e era ainda um futuro contingente dependente da livre escolha dos seres humanos.”[8] Para Molina, a extraordinária declaração de Mateus 11: 20-24 não apenas provou que Cristo possuía conhecimento contrafatual, mas também revelou que os cidadãos reprovados de Tiro, Sidom e Sodoma possuiam a habilidade de se apropriarem da salvação. Molina portanto identificou esta afirmação como uma refutação direta da posição de Lutero e Calvino de que falta no reprovado a liberdade para receber a salvação.[9]
Molina também defendeu que Jesus afirmou ter conhecimento contrafatual concernente a salvação das pessoas em João 15: 22-24:

Se eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado, mas agora não têm desculpa do seu pecado. Aquele que me odeia, odeia também a meu Pai. Se eu entre eles não fizesse tais obras, quais nenhum outro tem feito, não teriam pecado; mas agora, viram-nas e me odiaram a mim e a meu Pai. (João 15:22-24).[10]

Em uma fascinante inversão ao texto de Mateus, Jesus revelou que o líderes religiosos Judaicos (o “eles” na afirmação de Jesus) seriam inocentes dos atos pecaminosos se Jesus não tivesse falado a eles e se Jesus não tivesse operado milagres entre eles que atestam sua divindade. Mas devido a auto revelação de Jesus por suas palavras e ações como divino e humano, os líderes religiosos o odiaram bem como a seu Pai, se colocando, portanto, sob a ira de Deus. Molina também acreditava que quando Jesus foi interrogado por Pilatos, Jesus divulgou conhecimento contrafatual concernente ao que o seus seguidores teriam feito se seu programa messiânico fosse político em caráter: “Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos Judeus; mas agora o meu reino não é daqui.” (João 18:36).[11] Logo, Jesus sabia a verdade contrafatual que se seu reino fosse o reino político e militar esperado que procurava libertar Israel de Roma, seus discíspulos usariam a violência para impedir sua captura. Além disso, Molina percebeu que Deus possui conhecimento contrafatual em Paulo, que descreveu o que teria acontecido se os líderes Judaicos e Pilatos tivessem entendido a sabedoria divina do messiado de Jesus: “A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória.” (1 Coríntios 2:8).[12] Temos aqui uma afirmação divinamente inspirada dizendo que se os governantes dos dias de Jesus tivessem entendido a sabedoria de Deus, eles não teriam arquitetado a crucificação de Jesus. Molina argumentou que as afirmações de Jesus e Paulo mostradas acima, como a profecia dada a Davi por meio do Éfode, não são redutíveis à presciência nem a uma possibilidade de conhecimento. Pois se estas afirmações tivessem sido declarações de presciência, elas seriam enganos auto contraditórios da parte de Deus, que não pode errar, desde que a cláusula consequente “então, logo” dessas afirmações não aconteceram. Por outro lado, estas afirmações não podem estar atestando meras possibilidades, desde que elas afirmam o que teria acontecido, não o que poderia acontecer, sob certas condições diferentes daquelas que de fato se materializaram. Portanto, Molina declarou que era indisputável que o Deus da Bíblia possuía conhecimento contrafatual.[13]

“Quando” Deus Obteve Seu Conhecimento Contrafatual?

A questão disputada entre Molina e seus interlocutores era sobre o momento, na ordem lógica dos decretos, em que Deus possuiu seu conhecimento contrafatual. Para entender esta questão, devemos primeiro colocá-la no contexto inicial da teologia moderna. Teólogos modernos do início do período, como Molina, Lutero e Calvino compartilhavam uma visão comum sobre a estrutura lógica básica da onisciência divina. Esta estrutura foi proposta primeiro por Tomás de Aquino (um fato que Molina tinha consciência, mas Lutero e Calvino não) que serviu de intermédio a Molina, Lutero e Calvino como um ponto do currículo teológico Católico.[14] Não surpreendentemente, o diagrama lógico Tomista da onisciência divina foi defendido vigorosamente pelos Dominicanos após o Concílio de Trento. Em cada lado lógico do decreto de Deus para criar o mundo atual, Aquino colocou um momento dentro do ato de conhecimento eterno de Deus. Logicamente anterior ao decreto criativo divino, Aquino afirmou que Deus apreendeu sua scientia simplicis inteligentiae (conhecimento da inteligência simples), pela qual Deus conhece perfeitamente a si mesmo, bem como todas as possibilidades lógicas. Tal conhecimento exaustivo equipa Deus com uma variedade de mundos possíveis (ou seja, conjuntos logicamente consistentes de circunstâncias possíveis), dos quais ele escolhe atualizar [efetivar] um mundo em seu decreto criativo. Logicamente posterior ao decreto divino criativo, Aquino sustentou que Deus distingue sua scientia visionis (conhecimento visionário), pelo qual ele conhece todas as verdades do tempo passado, presente e futuro no mundo que ele criou livremente.[15] Aquino enfatizou que sua sequencia lógica de momentos não implica, de forma nenhuma, qualquer prioridade temporal ou sucessão na onisciência de Deus, como um ser onisciente não pode conhecer mais ou menos em um ponto no tempo do que em outro, mas deve possuir conhecimento completo em cada ponto no tempo. No entanto, Aquino insistiu igualmente que sua progressão não é nenhuma invenção da imaginação, mas que existe do mesmo modo que a progressão entre várias premissas em um silogismo. Assim como as premissas antecedentes são explanatoriamente anteriores a conclusão, de modo que a conclusão segue como um resultado das condições postuladas pelas premissas antecedentes, assim o conhecimento da inteligência simples fornece o fundamento necessário para o decreto criativo divino, que em retorno fornece conjuntamente o fundamento necessário para o conhecimento visionário.[16] A ideia de que o conhecimento de Deus de todos os mundos possíveis antecedeu seu decreto criativo e que a presciência exaustiva de Deus sobre o mundo atual seguiu seu decreto criativo era, portanto, uma ação comum a Molina, Lutero e Calvino.
No entanto, estava ausente da ordem de Aquino dos eventos da cognição divina, o conhecimento de Deus de todas as verdades contrafatuais, porque Aquino acreditava que a apreensão de Deus era um movimento paralelo a, e simultâneo com a apreensão divina do conhecimento visionário. Em outras palavras, Aquino propôs que Deus atribuiu livremente valor de verdade a todas as afirmações contrafatuais como parte do decreto criativo divino.[17] Assim, o conhecimento divino de todos os fatos da história (conhecimento visionário), quanto o conhecimento divino de todas as contrafatuais seguem imediatamente da consciência combinada de Deus de seu decreto criativo e de seu poder majestoso de fazer este decreto ocorrer.[18] Enquanto Aquino asseverou que sua visão das contrafatuais, de forma nenhuma, mina a liberdade humana genuína, Lutero, Calvino e Molina perceberam juntos que a dependência das contrafatuais do decreto de Deus, erradicava o tipo libertário de liberdade, pois é Deus quem determina o que todas as criaturas fariam em todo conjunto de circunstâncias em que eles se encontrassem. Consequentemente, Lutero, Calvino e Molina, seja explícita ou implicitamente, viram que a liberdade libertária se torna impossível ao colocar o conhecimento contrafatual de Deus logicamente posterior ao decreto criativo divino, produzindo assim a seguinte ordem lógica: (1) O conhecimento de Deus de todos os mundos possíveis (conhecimento da inteligência simples); (2) o decreto criativo divino; e (3) o conhecimento de Deus das verdades do presente, passado e futuro sobre o mundo atual (conhecimento visionário), junto com o conhecimento contrafatual de Deus. A diferença entre Lutero e Calvino de um lado e Molina de outro é se eles endossaram a colocação do conhecimento contrafatual após o decreto criativo divino ou alteraram a ordem.
Ao endossar esta colocação das contrafatuais após o decreto criativo divino, Lutero e Calvino negaram a habilidade humana de escolher o contrário nas circunstâncias que as criaturas se encontram, pelo menos em seus relacionamentos com Deus, e seguiram o caminho do grande teólogo da patrística, Agostinho, ao reduzir a liberdade das criaturas a uma mera espontaneidade de escolha e voluntariedade da vontade.[19] Pelo fato do Deus onipotente ordenar todas as coisas que ocorrerão nas circunstâncias futuras e que ocorreriam sob todas as outras circunstâncias, Lutero enfatizou que o que quer que Deus conheça antecipadamente, ocorrerá necessariamente: “É então, fundamentalmente necessário e saudável para os Cristãos saberem que Deus não conhece de antemão nada contingentemente, mas o que ele vê de antemão, ele propõe e faz todas as coisas de acordo com sua vontade imutável, eterna e infalível. Esta pancada atinge o edifício do ‘livre-arbítrio’ e o abala completamente...Desde que sua vontade não é impedida, o que é feito, não pode deixar de ser feito onde, quando, como e por quem ele vê de antemão e deseja.”[20] Para Lutero, então, Deus não conhece os futuros contingentes porque não há futuros contingentes a serem conhecidos. Desde que Deus escolhe o conteúdo de sua presciência (tanto o futuro quanto o conhecimento contrafatual) e Deus tem todo o poder de fazer com que sua presciência aconteça, os seres humanos não tem livre escolha nem a capacidade de escolher entre alternativas. Como Lutero resumiu: “Logo a presciência e a onipotência de Deus são diametralmente opostos ao nosso ‘livre arbítrio.’”[21] Para Lutero, a única liberdade humana permitida pelo relacionamento divino-humano é de natureza compatibilista, a saber, que a vontade escolhe voluntariamente e sem coerção externa, embora o que quer que a vontade escolha, escolhe necessariamente. Consequemente, Lutero não se absteve de declarar que Judas traiu Jesus necessariamente.[22]
Calvino aderiu precisamente a mesma linha de pensamento que Lutero, afirmando que a livre escolha humana é descartada pela vontade toda abrangente de Deus, tanto da presciência quanto do conhecimento contrafatual. Em sua definição de providência, Calvino declarou que nada pode acontecer a menos que Deus tenha decretado por sua vontade e feito acontecer por seu poder.

Portanto, que os leitores apreendam de início que não se chama providência aquela através da qual Deus observa passivamente do céu as coisas que se passam no mundo; ao contrário, é aquela pela qual, como que a suster o leme, governa a todos os eventos. Portanto, ela se estende, por assim dizer, tanto às mãos, quanto aos olhos. Ora, quando Abraão dizia ao filho: “Deus proverá” (Gn 22.8), nem com isso ele queria apenas afirmar que Deus era presciente de um evento futuro, mas também queria lançar sobre a vontade daquele que costuma dar solução às coisas perplexivas e confusas o cuidado de um fato que lhe era desconhecido. Do quê se segue que a providência está situada no ato. E os que admitem uma mera presciência sem qualquer propósito, nada fazem senão divagar em néscios devaneios. ... constituímos a Deus árbitro e moderador, o qual, por sua sabedoria, decretou desde a extrema eternidade o que haveria de fazer, e agora, por seu poder, executa o que decretou. Daí, afirmamos que não só o céu e a terra, e as criaturas inanimadas, são de tal modo governados por sua providência, mas até os desígnios e intenções dos homens, são por ela retilineamente conduzidos à meta destinada. Pois dirás: Porventura nada acontece por acaso? Nada ocorre contingentemente? Respondo... sorte e acaso são termos dos pagãos de cujo significado não devem ocupar-se as mentes dos piedosos. Afinal de contas, se todo bom êxito é bênção de Deus, toda calamidade e adversidade são sua maldição, já não se deixa nenhum lugar à sorte ou ao acaso nas coisas humanas. ... Em suma, Agostinho ensina reiteradamente que, se algo é deixado à sorte, o mundo revolve ao léu. ... Razão pela qual até exclui a contingência que depende do arbítrio dos homens,...[nota do tradutor: trecho retirado do texto em português, Institutas, versão clássica, Vol. I, pp. 202, 207, 208].[23]

Claramente, para Calvino, soberania é sinônimo de controle completo, de tal modo que Deus não pode ser soberano, a não ser por sua determinação de cada evento no campo físico e espiritual.[24]
Em contraste a Lutero e Calvino, Molina colocou o conhecimento contrafatual de Deus logicamente anterior ao decreto criativo divino. Como vimos no capítulo 2, Molina insistiu que uma exegese literal de mais de 20 passagens bíblicas, tais como Genesis 4: 6-7; Deuteronômio 30: 11-19; e Ezequiel 18: 30-32, demandam que os seres humanos pós queda possuem liberdade libertária, embora não intrisicamente, mas por virtude da graça preveniente.[25] Para isentar as verdades contrafatuais do decreto criativo divino, Molina abriu espaço para a liberdade libertária humana e para todos os outros exemplos de contigência genuína. Assim como verdades logicamente necessárias como 1+1 = 2 são logicamente anteriores e então independentes do decreto criativo divino, logo, para Molina, todas as verdades contrafatuais – incluindo o que cada criatura possível, dotada de liberdade libertária, escolheria fazer em qualquer conjunto de circuntâncias em que elas se encontrarem, bem como os eventos ao acaso, completamente aleatórios terminariam em qualquer conjunto de circunstâncias possíveis – estão logicamente antes e logo são independentes do decreto criativo divino.[26] Consequentemente o conhecimento contrafatual, Molina afirma,

Está, de fato em Deus, antes de qualquer ato livre de Sua vontade, e que este é o conhecimento de todos os efeitos em geral, não somente (i) daqueles efeitos que, de fato, passarão a existir por causa das faculdades de escolhas que Ele decidiu criar dentro da ordem de coisas e circunstâncias que Ele escolheu estabelecer, mas também (ii) daqueles efeitos que teriam existido (se por causa dessas mesmas faculdades de escolha ou por causas das muitas outras infinitas que Ele poderia ter criado) se quaquer dessas circunstâncias tivessem sido alteradas dentro da ordem de coisas que Ele escolhe estabelecer ou se qualquer outra ordem de coisas tivesse existido dentre a infinidade da infinidade de ordens de coisas que Ele poderia ter criado.[27]

Devido ao fato de que o conhecimento contrafatual é, segundo Molina, independente da vontade de Deus, este conhecimento fica fora, logicamente, do escopo da onipotência de Deus. Da mesma forma como o conhecimento de Deus de verdades necessárias repousam além de sua onipotência e são simplesmente dadas (Deus não pode fazer 1+1 ser igual a 2 e não poderia fazer 1+1 ser igual a 3), então, o conhecimento de Deus do que seria as escolhas livres ou as ações aleatórias das essências individuais, caso materializados em várias circunstâncias, repousam além de sua onipotência e são simplesmente dadas.[28] Isso não é porque há algo imperfeito na onipotência de Deus, mas apenas a onipotência constitui a habilidade de fazer tudo o que é logicamente possível e não a habilidade para fazer o que é logicamente impossível. E é logicamente impossível determinar que uma criatura com liberdade libertária faça algo livremente, de modo que ele não possa agir contrário ou determinar que um processo contingentemente estocástico (ou seja, completamente aleatório), ocorra de certa forma tal que não poderia ocorrer o contrário.[29]
Para resumir, Molina concordou com Lutero e Calvino que ao colocar o conhecimento contrafatual de Deus após seu decreto criativo eliminaria a liberdade libertária, uma consequência que Lutero e Calvino aceitaram. Mas pelo fato de Molina julgar que esta consequência era contrária a infalibilidade da Escritura, Molina colocou o conhecimento contrafatual de Deus antes do decreto criativo divino, tornando assim logicamente impossível para Deus controlar. Agora certamente, Molina insistiu, Deus poderia facilmente impedir uma criatura dotada de liberdade libertária de fazer algo livremente ao não criar esssa criatura ou colocar essa criatura em circunstâncias diferentes onde ela escolheria fazer outra coisa livremente. Contra qualquer forma de determinismo, as circunstâncias não faz as coisas acontecerem ou causa as ações e portanto não fazem nada para ditar as decisões. Mas há simplesmente fatos contingentes que em várias circunstâncias as criaturas fariam várias coisas livremente (isto é, indeterminísticamente).[30] E Deus, como um ser onisciente, conhece esses fatos. Além disso, Deus pode facilmente impossibilitar um processo estocástico de gerar aleatoriamente um efeito ao não criar este processo estocástico ou colocar este processo estocástico em uma circunstância diferente. Perceba novamente que as circunstâncias não fazem nada para produzir, muito menos garantir os efeitos; existem simplesmente fatos conhecidos por Deus que em várias circunstâncias, os processos estocásticos se comportariam aleatoriamente de variadas formas. Não obstante, é logicamente impossível para Deus alterar o fato contingente de que se uma criatura dotada de liberdade libertária fosse colocada em um certo conjunto de circunstâncias, logo ele escolheria realizar livremente uma ação particular, embora ele pudesse ter escolhido fazer o contrário naquelas circunstâncias. E é logicamente impossível para Deus alterar o fato contingente de que se um processo estocástico fosse colocado em um certo conjunto de circunstâncias, então este processo geraria aleatoriamente um comportamente particular, embora que este processo poderia ter gerado um comportamento diferente naquelas circunstâncias.[31]
Ao colocar a aquisição do conhecimento contrafatual de Deus logicamanente anterior ao decreto criativo divino, Molina então encaixou o conhecimento contrafatual dentro de uma estrutura básica de onisciência herdade de Aquino. Lembramos que esta estrutura consistia, em sequencia, do conhecimento de Deus da inteligência simples, do decreto criativo divino, e do conhecimento visionário de Deus. Consequentemente, Molina precisava colocar o conhecimento contrafatual ou logicamente antes, simultâneo ou após o conhecimento de Deus da inteligência simples. Desde que o que aconteceria em circunstâncias particulares (conhecimento contrafatual) é logicamente subsequente ao que poderia acontecer em circunstâncias particulares (conhecimento da inteligência simples), Molina colocou o conhecimento contrafatual após o conhecimento de Deus da inteligência simples, posicionando assim o conhecimento contrafatual entre o conhecimento de Deus da inteligência simples e o decreto criativo divino. Assim, enquanto na visão de Aquino existiam dois momentos do conhecimento divino, um em cada lado do decreto criativo divino, na visão de Molina haviam três momentos do conhecimento divino, dois antes do decreto criativo e outro depois.[32]

A Estrutura Tripla do Conhecimento Divino em Molina

Estamos agora em uma posição de entender a estrutura tripla revolucionária de Molina sobre a onisciência junto com suas implicações teológicas. Molina começou renomeando o conhecimento da inteligência simples e o conhecimento visionário para refletir melhor seus papéis na cognição divina, nomeando o primeiro scientia naturalis (conhecimento natural) e o segundo scientia libera (conhecimento livre). Pelo fato da apreensão de Deus do conhecimento contrafatual vir logicamente entre estes dois momentos, Molina o nomeou scientia media de Deus (conhecimento médio).[33]
No conhecimento natural, o primeiro momento lógico na estrutura de Molina, Deus conhece todas as possibilidades, incluindo todas as verdades necessárias (e.g., as leis da lógica), todos os possíveis indivíduos e mundos que ele pode criar, bem como tudo o que cada possível indivíduo poderia fazer livremente em qualquer conjunto de circunstâncias em que esse indivíduo se encontrar e tudo o que cada possível processo estocástico poderia fazer aleatoriamente em qualquer conjunto de circunstâncias onde ele existir. Molina insistiu que Deus não determina seu conhecimento natural ao desejar que certas possibilidades sejam verdadeiras, visto que este primeiro momento lógico precede qualquer decisão ou decreto da vontade divina. Antes, Deus conhece seu conhecimento natural, como sugere a nomenclatura de Molina, como indispensável para sua própria natureza, de tal forma que Deus não poderia ter falta desse conhecimento e ainda ser Deus.[34]
No conhecimento médio, o segundo momento lógico na estrutura de Molina, Deus conhece todas as verdades contrafatuais, incluindo o que cada indivíduo possível faria livremente em qualquer conjunto de circunstâncias em que esse(a) indivíduo se encontrar e o que cada processo estocástico possível faria aleatoriamente em qualquer conjunto de circunstâncias onde ele existisse.[35] Para ilustrar a distinção entre os primeiros dois momentos da onisciência divina, Deus sabia em seu conhecimento natural que Pedro, se colocado no pátio do Sinédrio, poderia afirmar ou negar a Cristo livremente, mas Deus discerniu em seu conhecimento médio que Pedro negaria livremente a Jesus sob estas circunstâncias. Como indicado previamente, não é que as circunstâncias o compeliram a negar Jesus – para Molina, todos os conjuntos de circunstâncias são necessariamente em caráter preservadoras da liberdade – mas sim que Deus sabia que caminho Pedro escolheria livremente.[36] Tendo em vista o conhecimento médio não repousar dentro do escopo da vontade e onipotência de Deus, Deus não pode controlar o que ele conhece via conhecimento médio, mais do que ele pode controlar o que ele conhece por meio de seu conhecimento natural. Nas palavras de Molina, “Todos os estados de coisas contingentes são, eu repito, representados a Deus naturalmente, antes de qualquer ato ou determinação livre da vontade divina; e elas são representadas não apenas como sendo possíveis, mas também como sendo futuro – não futuro absolutamente, mas futuro sob a condição e na hipótese de que Deus deve decidir criar este ou aquele estado de coisas e causas com estas ou aquelas circunstâncias.”[37] Isso significa que o conhecimento médio permite que haja futuros contingentes genuínos, não apenas coisas que pareçam contingentes a nós, humanos, mas são, de fato, determinadas por Deus. Além disso, o conhecimento médio também permite Deus conhecer os futuros contingentes, uma afirmação que é negada hoje pelos teístas abertos. Molina sustentou que o conhecimento médio de Deus, como seu conhecimento natural, é essencial para a natureza de Deus. Para que Deus seja Deus, o ser onisciente, ele deve conhecer todas as verdades contrafatuais logicamente anterior a seu decreto criativo. Mas, diferente do conhecimento natural, o conteúdo do conhecimento médio não é essencial para Deus. Já que as criaturas dotadas de liberdade libertária poderiam escolher de maneira diferente e os processos estocásticos poderiam se comportar de maneira diferente, o conhecimento médio de Deus seria diferente se eles se comportassem diferente.[38]
Como grande parte do conhecimento médio de Deus é contingente sobre o que várias essências libertárias individuais [pessoas dotadas de liberdade libertária] e essências individuais estocásticas [eventos aleatórios], caso instanciadas [atualizadas], fariam em várias circunstâncias, segue-se que Deus discerne incontáveis mundos em seu conhecimento natural - mundos logicamente possíveis em e de si mesmos - que são impossíveis para Deus criar porque em nenhum dos mundos possíveis que Deus gostaria de atualizar, as essências individuais cooperariam livremente ou aleatoriamente. Observe que o que essas essências fariam em várias circunstâncias compreendem propriedades contingentes dessas essências, e não partes das próprias essências. Portanto, não há "fatalismo da essência" acontecendo aqui, como a essência não determina o que se faria livremente em várias circunstâncias; nem, como vimos, as circunstâncias determinam o que se faria livremente.[39] Por exemplo, há mundos logicamente possíveis onde Pedro livremente afirma Jesus, foge do pátio, ou faz algumas outras coisas do que negar a Jesus exatamente nas mesmas circunstâncias em que Pedro na verdade negou a Jesus, junto com um mundo logicamente possível onde Pedro nega Jesus nessas circunstâncias. Mas à luz da verdade contrafatual que se Pedro estivesse nessas circunstâncias, então ele negaria livremente a Jesus, nenhum dos mundos logicamente possíveis em nossa lista, é possível Deus criar, exceto este último. Agora isso não significa que Deus não poderia impedir Pedro de negar a Jesus, pois ele poderia facilmente fazer isso colocando Pedro em circunstâncias diferentes ou não criando Pedro. Mas Deus não pode controlar o fato de que, se ele fosse instanciar a essência individual de Pedro nas circunstâncias acima mencionadas, então Pedro livremente negaria Jesus. Isto não se dá porque a essência de Pedro fez com que ele negasse Jesus nessas circunstâncias, uma vez que "negar a Jesus em tais circunstâncias" não faz parte da essência de Pedro. Nem as circunstâncias determinam a negação de Pedro. Mas ainda resta um fato contingente da questão de que se a essência de Pedro fosse instanciada [atualizada] nessas circunstâncias, então Pedro negaria a Jesus indeterministicamente.[40] Assim, o conhecimento médio de Deus serve para reduzir a gama de mundos logicamente possíveis em si e de si mesmos, para aqueles logicamente possíveis para ele criar, devido a liberdade libertária e a aleatoriedade genuína. Para evitar confusão, os filósofos da religião contemporâneos designam os primeiros como mundos possíveis e os segundos como mundos viáveis [plausíveis].[41] Não apenas o conhecimento médio, Molina proclamou, permite a liberdade humana e os processos estocásticos, mas também fornece a Deus um meio de escolher o mundo viável para criar. Pois sabendo o que as essências individuais instanciadas fariam sob quaisquer circunstâncias, Deus pode escolher um mundo viável onde seus propósitos últimos sejam alcançados através de decisões livres de criaturas e processos aleatórios. Ao fazer uma “deliberação absolutamente completa e ilimitada” sobre qual mundo factível criar, Deus escolhe um desses mundos para ser real em seu decreto criativo.[42]
No conhecimento livre, o terceiro momento lógico da estrutura de Molina, Deus conhece plenamente o mundo real [atual], incluindo sua presciência de tudo o que acontecerá nele. Isso inclui não apenas as circunstâncias que Deus causará diretamente e as decisões que tomará, mas também as decisões livres que os humanos tomarão, as ações aleatórias dos processos estocásticos e as circunstâncias contingentes que resultarão dessas decisões e ações. Chamado de “conhecimento livre” porque este conhecimento é baseado na decisão livre de Deus de qual mundo viável criar, Deus tem o controle sobre quais afirmações são verdadeiras e falsas no conhecimento livre.[43] Portanto, Molina poderia concordar verbalmente com Lutero que Deus “determina” sua presciência pela força de sua vontade no sentido de que Deus escolhe qual será sua presciência, embora não no sentido pretendido por Lutero de que Deus provoca [causa] diretamente todo o conteúdo da presciência que ocorrer.[44] Ao escolher criar outro mundo, Deus teria feito com que sua presciência fosse diferente, pois declarações verdadeiras no mundo atual seriam falsas e afirmações falsas no mundo atual seriam verdadeiras. Por exemplo, se Deus tivesse criado um mundo onde Pedro nunca tivesse existido, então todas as afirmações verdadeiras sobre as coisas que ele realmente fez seriam falsas. Além disso, se Deus tivesse decidido não criar mundo nenhum, então Deus nem mesmo teria conhecimento livre.[45] Portanto, nem o conteúdo nem mesmo a existência do conhecimento livre é necessário para Deus, pois Deus poderia não ter tal conhecimento e ainda ser Deus.[46]
Podemos agora ilustrar a estrutura de onisciência de Molina com a seguinte enumeração de seus momentos lógicos:

1. Conhecimento natural: o conhecimento de Deus de todas as verdades possíveis e, portanto, de todos os mundos possíveis (ou seja, conjuntos logicamente consistentes de circunstâncias possíveis).
2. Conhecimento Médio: o conhecimento de Deus de todas as verdades contrafatuais e, portanto, de todos os mundos viáveis (isto é, conjuntos logicamente consistentes de circunstâncias compatíveis com as decisões decorrentes da liberdade libertária e as ações decorrentes da aleatoriedade natural).
→ Decreto criativo divino
3. Conhecimento livre: o conhecimento de Deus de todas as verdades atuais (passado, presente e futuro) no mundo que ele escolheu criar.[47]

Observe que o conhecimento médio desempenha o papel crucial de fundamentar a presciência de Deus, que parece carecer de qualquer base se Deus não tivesse conhecimento médio. Pois se alguém adota a visão do senso comum do tempo em que o tornar-se temporal é real - onde apenas o momento presente existe enquanto o passado é o que existiu e o futuro ainda não existe, mas é uma esfera de possibilidade não-atualizada - então separado do conhecimento médio, Deus não pode conhecer o futuro, pois eventos futuros não estão realmente presentes para Deus olhar para frente e ver.[48] Mas se Deus tem conhecimento médio, então ele sabe o que toda criatura possível faria sob quaisquer circunstâncias e, portanto, em cada mundo viável. Quando Deus, em seu decreto criativo, seleciona um desses mundos viáveis/factíveis para ser o mundo real, então seu conhecimento médio do que aconteceria se ele criasse esse mundo é transformado em pré-conhecimento do que acontecerá neste mundo. Então, Deus conhece de antemão, completamente sem referência a qualquer coisa fora de si mesmo, o que o futuro será. Assim, como Craig bem coloca, "Devido o conhecimento médio e o decreto divino, a presciência segue automaticamente como resultado".[49]
Nesta conjuntura, a questão poderia ser colocada sobre como Deus poderia ter conhecimento médio, uma vez que as verdades contrafatuais não estão presentes para que Deus olhe para frente e veja, e a maioria delas nunca estará realmente presente. Aqui deve ser enfatizado que a doutrina do conhecimento médio de Molina traz consigo um modelo conceitualista de cognição divina, em vez de um modelo perceptualista de cognição divina. No modelo perceptualista, Deus obtém seu conhecimento olhando e vendo o que existe. Este modelo é tacitamente afirmado quando as pessoas falam de Deus prevendo o futuro ou possuindo previsão de eventos no futuro. No entanto, Molina insistiu que Deus não obtém seu conhecimento por algo que se assemelhe à percepção. Em vez disso, o conhecimento de Deus é autocontido e deve ser interpretado na analogia do conhecimento de uma mente de idéias inatas. Assim, Molina declarou a respeito do conhecimento médio que "Deus não adquire conhecimento das coisas, mas conhece e compreende tudo o que sabe em Sua própria essência".[50] Assim, o conhecimento de Deus é discernido completamente dentro do intelecto de Deus e não por qualquer coisa fora dele.[51] Como o ser onisciente, Deus possui essencialmente o atributo de conhecer todas as verdades; existem verdades contrafactuais; portanto, Deus conhece todas as verdades contrafactuais. Craig mostrou que se pode empregar esse fato sobre a onisciência para construir um argumento filosófico que, se bem sucedido, prova que Deus tem conhecimento médio. O argumento, em forma modificada, é construído da seguinte maneira:

1. Se existem verdades contrafactuais sobre as ações das criaturas dotadas de liberdade libertária (conhecidas como “contrafactuais da liberdade das criaturas”) e verdades contrafactuais sobre processos estocásticos (que podemos chamar de “contrafactuais de aleatoriedade natural”), então o Deus onisciente conhece essas verdades.
2. Existem verdades contrafatuais sobre as ações de criaturas dotadas de liberdade libertária e processos estocásticos.
3. Se Deus conhece verdades contrafatuais sobre as ações de criaturas dotadas de liberdade libertária e processos estocásticos, então Deus as conhece logicamente antes do decreto criativo divino ou apenas logicamente posterior ao decreto criativo divino.
4. Verdades contrafatuais sobre as ações de criaturas dotadas de liberdade libertária e processos estocásticos não podem ser conhecidas apenas logicamente posteriores ao decreto criativo divino.
5. Portanto, Deus conhece verdades contrafatuais sobre as ações de criaturas dotadas de liberdade libertária e processos estocásticos (de 1 e 2).
6. Portanto, Deus conhece verdades contrafatuais sobre as ações de criaturas dotadas de liberdade libertária e processos estocásticos, seja logicamente antes do decreto criativo divino ou apenas logicamente posterior ao decreto criativo divino (de 3 e 5).
7. Portanto, Deus conhece verdades contrafatuais sobre as ações de criaturas dotadas de liberdade libertária e processos estocásticos logicamente antes do decreto criativo divino (de 4 e 6), que é a soma e a substância do conhecimento médio.[52]
Embora Molina não tenha formulado explicitamente esse argumento, ele endossou implicitamente todas as suas premissas. Eu agora direi brevemente algo em defesa das premissas de 1 a 4, das quais o resto do argumento segue dedutivamente.
A premissa 1 segue necessariamente da definição de onisciência, ou seja, conhecer todas as verdades e não acreditar em falsidades. Como disse Molina, “Deus tem dentro de si os meios pelos quais Ele conhece todas as coisas plena e perfeitamente”.[53] Assim, se existem verdades contrafatuais sobre criaturas dotadas de liberdade libertária e processos estocásticos, então o Deus onisciente deve conhecê-las.
A premissa 2 é intuitivamente óbvia, como declarações da forma “se a criatura dotada de liberdade libertária L estivesse nas circunstâncias C, então L faria livremente a ação A” e “se o processo estocástico S estivesse nas circunstâncias C, então S geraria aleatoriamente a ação A” são ou verdadeiras ou falsas, mesmo que não saibamos qual, pela lei da bivalência. (Aqui as circunstâncias C são completamente bem definidas e incluem toda a história do mundo possível relevante até o momento da ação.)[54] A lei da bivalência é o princípio lógico que afirma que toda proposição tem precisamente um valor de verdade, seja verdadeira ou falsa. Agora claramente algumas das declarações acima são verdadeiras, já que L tem que fazer algo em C (mesmo se L escolher permanecer exatamente como L era antes) e S tem que fazer algo em C (mesmo que S permaneça aleatoriamente em estado estático). Que L ou S está em C significa que nenhuma não-ação é logicamente possível. Portanto, existem de fato verdades contrafatuais sobre as ações de criaturas dotadas de liberdade libertária e processos estocásticos.
A premissa 3 simplesmente declara possibilidades logicamente exaustivas, a saber, que se Deus conhece contrafatuais de criaturas dotadas de liberdade libertária e da aleatoriedade natural, então Deus as conhece logicamente antes ou somente depois de seu decreto criativo. Não se pode dizer que Deus conheça contrafatuais das criaturas dotadas de liberdade libertária e das aleatoriedades naturais apenas em simultâneo com o seu decreto criativo, porque o decreto criativo não é em si um momento do conhecimento divino. Assim, ou o conhecimento de Deus das contrafatuais origina-se logicamente antes ou depois do decreto criativo divino.[55]
A premissa 4 é verdadeira porque, como vimos, se contrafatuais de liberdade das criaturas e aleatoriedade natural fossem conhecidas apenas seguindo o decreto criativo divino, então foi Deus quem determinou o que cada criatura faria e como cada processo estocástico se comportaria em cada conjunto de circunstâncias. (Lembre-se de que esse era um ponto de unanimidade entre os principais reformadores de cada confissão do século XVI.) Nesse caso, teríamos a autocontradição de contrafatuais de liberdade das criaturas sendo determinadas por Deus, de modo que eles não seriam mais livres de uma maneira libertária![56] Por definição, as contrafatuais da liberdade das criaturas não podem ser “de liberdade das criaturas” se Deus as determinar. Daí, Craig corretamente observa que “se Deus conhece as verdades contrafatuais sobre nós apenas após o seu decreto, então realmente não há contrafatuais de liberdade das criaturas.”[57] Além disso, teríamos a autocontradição das contrafatuais de aleatoriedade natural sendo determinadas por Deus, de tal forma que elas não seriam mais aleatórias de maneira estocástica. Por definição, contrafatuais de aleatoriedade natural não podem ser “aleatórios naturais” se Deus as determinar.
Devido a verdade das premissas 1 a 4, segue-se que, logicamente, antes do decreto criativo divino, Deus conhece todas as verdadeiras contrafatuais de liberdade das criaturas e da aleatoriedade natural, o que significa que Deus tem conhecimento médio. Esse argumento da onisciência vai refutar a única objeção mais comum ao conhecimento médio na literatura filosófica e teológica contemporânea, a saber, a objeção de fundamentação. A objeção de base sustenta que não há base ou fundamento sobre o qual Deus possa ter conhecimento médio.[58] Mas esse argumento mostra que o fundamento do conhecimento médio é a onisciência de Deus, da qual o conhecimento médio segue dedutivamente. O Deus onisciente conhece que todas as verdades; as contrafatuais de liberdade das criaturas e a aleatoriedade natural são verdadeiras logicamente antes do decreto criativo de Deus; portanto, Deus conhece as contrafatuais de liberdade das criaturas e a aleatoriedade natural logicamente antes de seu decreto criativo. Assim, para Molina, “a profundidade e perfeição do conhecimento divino” inclui o conhecimento inato de todas as verdades, e Deus simplesmente discerne as contrafatuais de liberdade das criaturas e da aleatoriedade natural como parte de sua onisciência.[59]
Nesse ponto, os contemporâneos de Molina estavam aptos a questionar os meios precisos pelos quais Deus discerne seu conhecimento médio. Embora o argumento acima, se bem sucedido, mostra que Deus tem conhecimento médio, mesmo que nunca possamos conhecer ou entender os meios pelos quais ele o possui, Molina propôs uma resposta: supercompreensão, a saber, “uma compreensão absolutamente profunda e absolutamente preeminente”.[60] Para entender essa resposta, devemos primeiro observar que, no modelo conceitualista da cognição divina de Molina, Deus conhece todas as verdades que são independentes de sua vontade e onipotência (ou seja, as verdades que ele apreende em seu conhecimento natural e médio) simplesmente por virtude de sua natureza. Esse conhecimento inato engloba a supercompreensão, que Molina constrói como a capacidade intelectual ilimitada de Deus de perceber infinitamente, dentro de sua própria mente, a essência individual (ou padrão) de todas as coisas possíveis que ele poderia criar. Lembre-se do capítulo 2 que, para Molina, essas essências individuais não existem independentemente de Deus nem fora de Deus, mas apenas como projetos dentro da mente de Deus. Em outras palavras, essas essências individuais são apenas o produto da imaginação de Deus - padrões mentais ou projetos para coisas que ele conhece em sua infinita criatividade e talento artístico que ele poderia criar, se quisesse.
Daí vemos imediatamente que Deus não obtém nenhum conhecimento das criaturas que poderiam ou seriam criadas a partir desses padrões ou projetos.[61] Em vez disso, Molina insistiu que o conhecimento de Deus vem unicamente das essências individuais (os padrões ou projetos) em si, que só existem como os pensamentos da própria mente de Deus. Em resumo, “Deus não obtém Seu conhecimento das coisas, mas conhece todas as coisas em Si mesmo e de Si mesmo”.[62] Assim, para Molina, todo o conhecimento de Deus é autocontido, uma doutrina que se reduz à aseidade - a absoluta auto-existência, auto-suficiência, independência e autonomia - de Deus.[63] Uma vez que cada essência individual é o produto da imaginação divina, e Deus compreende perfeitamente sua própria imaginação, segue para Molina que Deus pode infinitamente perceber cada essência. Esta percepção infinita inclui saber o que cada essência, se instanciada, faria (livremente no caso das essências libertárias, aleatoriamente no caso das essências estocásticas, e deterministicamente no caso de outras essências) em qualquer conjunto possível de circunstâncias em que ela existiu.[64] Como Molina declarou no caso das essências libertárias:

Em Si mesmo [Deus] compreende todas as coisas que existem eminentemente Nele e, portanto, a livre escolha de qualquer criatura que Ele é capaz de criar através de Sua onipotência. Portanto, antes de qualquer livre determinação de Sua vontade, em virtude da profundidade do Seu. . . conhecimento, pelo qual Ele infinitamente sobrepuja cada uma das coisas que Ele contém eminentemente em Si mesmo, Ele discerne o que a livre escolha de qualquer criatura faria por sua própria liberdade inata, devido a hipótese de que Ele deveria criá-la nesta ou naquela ordem de coisas, com estas ou aquelas circunstâncias ou ajudas - mesmo que a criatura pudesse, se quisesse, abster-se de agir ou fazer o contrário, e mesmo que fosse fazer assim, como é capaz de fazer livremente, Deus preveria esse próprio ato e não aquele que Ele de fato prevê que seria realizado por essa criatura.[65]

Então, logicamente antes de sua escolha de criar qualquer coisa, o Designer conhece todos os seus designs ou padrões não-atualizados de possíveis indivíduos (dos quais uma pequena minoria seria atualizada) tão perfeitamente bem para saber como cada um (se possuindo liberdade libertária) se comportaria livremente em qualquer estado de coisas se ele procedeu a criá-lo.
Aqui nós detectamos uma refutação adicional da objeção de fundamento, como podemos dizer que Molina fundamentou o conhecimento médio na capacidade cognitiva de Deus para compreender perfeitamente sua própria aptidão criativa e poder. Como Molina declarou a respeito de Deus, “Assim, o que era em si mesmo incerto [contrafatuais de liberdade das criaturas] Ele sabia com certeza, uma certeza que se originou não do objeto, mas da perspicácia e perfeição absoluta de seu intelecto.”[66] De fato, Molina declarou que,

seria um insulto à profundidade e perfeição do conhecimento divino - e, na verdade, ímpio e nada compatível com uma compreensão tão grande da livre escolha de cada criatura - afirmar que Deus é ignorante do que eu teria feito pela minha liberdade de escolha (i) se Ele tivesse me criado em alguma outra ordem de coisas, ou (ii) se, nesta mesma ordem de coisas em que Ele me criou, Ele decidiu conferir-me mais ou menos ajudas do que de fato decidiu me dar, ou (iii) se Ele tivesse me concedido uma vida mais longa ou me entregado a tentações mais sérias. Assim, segue-se que, mesmo antes de criar qualquer coisa por Seu livre-arbítrio, Ele conhecia todos os futuros contingentes com certeza . . . não absolutamente falando, mas sim na hipótese de que Ele mesmo deveria decidir criar essa ou aquela ordem das coisas com essas ou aquelas circunstâncias. . . . Portanto, Deus não precisa da existência dessas coisas em Sua eternidade para conhecê-las com certeza.[67]

Aqui devemos destacar a clara distinção que Molina fez entre certeza e necessidade. Para Molina, a certeza é um atributo das pessoas e não tem relação com a verdade ou falsidade das proposições. Isso é evidente pelo fato de que uma pessoa pode estar absolutamente certa de que alguma proposição é verdadeira e acaba sendo falsa. Então, dizer que Deus conhece algo com certeza é apenas afirmar que Deus tem certeza de que alguma proposição é verdadeira. Não é para colocar qualquer tipo de restrição no valor de verdade da proposição. Por contraste, necessidade é uma restrição lógica realizada por algumas proposições que as proíbe de possivelmente serem falsas.[68] Para ilustrar, um teorema matemático pode ser necessariamente verdadeiro, o que significa que é logicamente impossível que o teorema seja falso.[69]
Molina foi rápido em enfatizar que Deus conhece o conteúdo de seu conhecimento médio com certeza e não com necessidade.[70] Em outras palavras, Deus tem certeza de que seu conhecimento médio é verdadeiro, mesmo sabendo que seu conhecimento médio poderia ter sido diferente do que de fato é. Muito do que Deus conhece através de seu conhecimento médio é contingente, não necessariamente, verdadeiro, de tal forma que não há nada para compelir ou torná-lo logicamente verdadeiro. O fato de que Deus conhece seu conhecimento médio com certeza de modo algum determina que as contrafatuais de liberdade das criaturas sejam verdadeiras, mais do que o nosso conhecimento das contrafatuais de liberdade das criaturas sobre outras pessoas determina que essas contrafatuais sejam verdadeiras. Por exemplo, sei com certeza que, se eu oferecesse à minha esposa um copo de [refrigerante] Dr. Pepper e um copo de Pepsi, ela escolheria o copo de Dr Pepper. Mas a certeza do meu conhecimento desta contrafatual não determina que seja verdade; a contrafatual é tão contingente quanto se eu não tivesse nenhum conhecimento sobre nada disso. Obviamente, meu conhecimento não a obriga a escolher o copo de Dr. Pepper se eu a colocasse na posição de ter que fazer a escolha entre as duas bebidas. Exatamente da mesma maneira, Molina declarou que a certeza do conhecimento médio de Deus não torna verdadeiras as contrafatuais de liberdade das criaturas, e o conhecimento médio de Deus não obriga as criaturas livres a escolher de maneiras específicas se Deus colocasse as criaturas na posição de ter que fazer várias escolhas.
Em vista desse insight, Molina foi capaz de oferecer um relato da presciência divina que não leva ao fatalismo. Pois quando Deus converte seu conhecimento médio de certas proposições em presciência, ao decidir criar as circunstâncias assumidas por essas proposições, essa presciência não compele as criaturas livres ou processos estocásticos para que as coisas que ele conhece com certeza, aconteçam; eles ainda poderiam fazer o contrário. Nas palavras de Molina, “é uma presciência que não impõe nenhuma necessidade. . . sobre coisas futuras, mas as deixa incertas em si mesmas e em relação às suas causas, como seriam se não houvesse tal presciência.”[71] Resumindo, Molina insistiu que o conhecimento não é causalmente determinativo. Ou seja, o conhecimento de Deus do que uma pessoa faria em algum conjunto de circunstâncias não exerce nenhum poder causal sobre a pessoa agir como Deus conhece, assim como o conhecimento humano do que outros humanos fariam não exerce nenhum poder causal sobre suas escolhas.

RESUMO DO DESENVOLVIMENTO DO CONHECIMENTO MÉDIO

A doutrina do conhecimento médio de Molina foi formulada através da conjunção da infalibilidade bíblica e inferência lógica. Um firme defensor da infalibilidade bíblica, Molina acreditava que a exegese literal (hoje diríamos histórico-gramatical) de várias passagens exigia que os humanos tivessem liberdade libertária e que Deus possuísse conhecimento contrafatual. A questão para Molina era como essas verdades poderiam ser harmonizadas umas com as outras. Para responder a essa questão, Molina recorreu à inferência lógica. Logicamente, Deus deve ter primeiro apreendido seu conhecimento contrafatual antes ou depois de seu decreto criativo. Mas como Molina (assim como Lutero e Calvino) viram, se Deus apreendeu seu conhecimento contrafatual após seu decreto criativo, isso obliteraria a liberdade humana libertária, bem como seria Deus quem teria determinado o que cada pessoa faria em qualquer conjunto de circunstâncias possíveis. Já que os humanos, de acordo com as Escrituras, têm liberdade libertária, segue por reductio ad absurdum (isto é, prova por contradição) que Deus apreendeu seu conhecimento contrafatual antes de seu decreto criativo. Daí o conhecimento contrafatual de Deus do que as essências individuais fariam em qualquer conjunto de circunstâncias, logicamente, situa-se entre, ou no meio, do que as essências individuais poderiam fazer em qualquer conjunto de circunstâncias (conhecimento natural) e o que aquelas essências individuais que Deus escolheu atualizar farão nas circunstâncias que compõem o mundo real (conhecimento livre). (O que as criaturas fariam em possíveis circunstâncias é logicamente dependente do que elas poderiam fazer nessas circunstâncias, e o que as criaturas farão nas circunstâncias reais é logicamente dependente do que elas fariam se certas circunstâncias possíveis fossem feitas de fato.) Portanto, Molina chamou o conhecimento contrafatual de Deus de conhecimento médio.
Molina afirmou que o conhecimento médio de Deus estava fundamentado em sua onisciência e apreendido por meio de sua supercompreensão. Porque o conhecimento, divino ou humano, do que alguma outra criatura livre faria de modo algum causa a criatura a fazer, Molina sustentava que o conhecimento médio (e o conhecimento livre) tornava o fatalismo impossível. Com base no seu modelo não fatalista ou indeterminista das escolhas humanas e dos processos aleatórios, Molina apresentou um relato provocativo da providência divina, cujos detalhes vamos desmembrar no próximo capítulo.

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Fonte:
MacGregor, Kirk R. Luis de Molina: The Life and Theology of The Founder of Middle Knowledge. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2015, pp. 79-105.
Tradução Walson Sales.
[Nota do tradutor: este texto foi traduzido com a intenção primária de enriquecer o debate teológico no Brasil e de buscar editoras que se interessem em adquirir os direitos autorais da obra em tela para publicá-la no Brasil em sua totalidade].

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Notas de rodapé:
1. William Lane Craig, The Only Wise God: The Compatibility of Divine Foreknowledge and Human Freedom (Grand Rapids: Baker, 1987), 127. [Livro publicado no Brasil em 2016 pela Editora Sal Cultural com o título: O Único Deus Sábio].
2. Apenas o livro 4 (De Praescientia Dei) dos sete volumes da Concórdia foi traduzido para o inglês. Esta tradução foi feita muito habilmente por Alfred J. Freddoso com o título On Divine Foreknowledge (Ithaca, NY: Cornell University Press, 1988).
3. Ludovici Molina, Commentaria in primam divi Thomae partem (Venice, 1602), 14.13.14; idem, Foreknowledge, 4.14.13.49.9; 4.14.13.53.10.
4. Molina, Foreknowledge, 4.14.13.49.9.
5. Molina, Commentaria, 14.13.16, 38.
6. Kirk R. MacGregor, A Molinist-Anabaptist Systematic Theology (Lanham, MD: University Press of America, 2007), 43.
7. Molina, Commentaria, 14.13.14; idem, Liberi Arbitrii cum Gratiae Donis, Divina Praescientia, Providentia, Praedestinatione et Reprobatione Concordia, ed. Johannes Rabeneck (Madrid: Sumptibus Societatis Editorialis “Sapientia,” 1953), 1.14.13.9; 7.23.4/5.1.4.13; 7.23.4/5.1.11.41.
8. Molina, Foreknowledge, 4.14.13.49.9.
9. Friedrich Stegmüller, ed. e trad., Geschichte des Molinismus: Neue Molinaschriften 1, Beiträge zur Geschichte der Philosophie und Theologie des Mittelalters 32 (Münster: Aschendorffschen, 1935), 430, 440, 481; cf. Molina, Concordia, 1.14.13.1.20, onde ele acusou que "Calvino persiste no erro de Lutero (Calvinus in errore persistit Lutheri).”
10. Molina, Concordia, 1.14.13.7.4; 1.14.13.23.1.3.
11. Molina, Commentaria, 22.1.
12. Ibid., 14.13.19.5.
13. Molina, Foreknowledge, 4.14.13.52.8. Além dos textos citados por Molina, William Lane Craig aponta vários outros exemplos de conhecimento contrafatual nas Escrituras: “De fato, quando interpretamos certas profecias como advertências contrafatuais, em vez de declarações categóricas de presciência simples, podemos explicar como é que em Israel o teste de um verdadeiro profeta é o cumprimento de suas predições (Deuteronômio 18:22) e ainda algumas predições dadas por verdadeiros profetas não acontecem de fato porque o povo advertido respondeu de maneira apropriada (Is 38: 1 - 5; Amós 7: 1-6; Jonas 3: 1-10). Em tais casos, a profecia de Deus era um conhecimento contrafatual do que aconteceria sob as circunstâncias prevalecentes; mas esses indivíduos responderam em orações de intercessão ou arrependimento, então Deus não executaria o que havia sido ameaçado. Encontramos também o conhecimento contrafatual exibido por Cristo. Por exemplo, ele diz a Pedro: " Mas, para que os não escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir, e abrindo-lhe a boca, encontrarás um estáter; toma-o, e dá-o por mim e por ti”. (Mateus 17:27). Essa passagem é mais naturalmente entendida como uma expressão do conhecimento de Jesus de que, se Pedro cumprisse as instruções de Jesus, encontraria as coisas como o Senhor predisse. Mais uma vez, Jesus ordena aos discípulos, após uma noite fútil de pesca, "E ele lhes disse: Lançai a rede para o lado direito do barco, e achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam tirar, pela multidão dos peixes.” (João 21:6). A captura milagrosa que se seguiu mostra que Jesus sabia exatamente o que aconteceria se os discípulos obedecessem ao seu comando. Às vezes, Jesus faz declarações contrafatuais. . . . "Ai daquele homem por quem o Filho do homem é traído! Bom seria para este homem se não houvera nascido.” (Mateus 26:24) (William Lane Craig, “The Middle-Knowledge View,” em James K. Beilby e Paul R. Eddy, Divine Foreknowledge: Four Views [Downers Grove, IL: InterVarsity, 2001], 124).
14. Reinhold Seeberg, Text-Book of the History of Doctrine, 4 vols., trans. Charles E. Kay (Grand Rapids: Baker, 1956), 2:185.
15. Thomas Aquinas, Summa contra Gentiles, 1.66.4; idem, Summa Theologiae, trans. Fathers of the English Dominican Province (New York: Benziger Brothers, 1947), 1.14.5 – 8.
16. Harm J. M. J. Goris, Free Creatures of an Eternal God: Thomas Aquinas on God’s Infallible Foreknowledge and Irresistible Will, Thomas Instituut te Utrecht 4 (Leuven: Peeters, 1996), 274.
17. Aquinas, Summa Theologiae, 1.14.13.
18. MacGregor, Molinist-Anabaptist Systematic Theology, 19.
19. Ibid., 15.
20. Martin Luther, The Bondage of the Will, trans. James I. Packer and O. R. Johnston (Grand Rapids: Revell, 1957), 80 – 81.
21. Ibid., 217.
22. Ibid., 213.
23. John Calvin, Institutes of the Christian Religion, ed. John T. McNeill, trans. Ford Lewis Battles (Philadelphia: Westminster, 1960), 1.16.4, 8.
24. Neste ponto, Calvino afirmou "Que nada no mundo é realizado sem a determinação [de Deus]" (Institutas, 1.16.6).
25. Aqui Molina (Concordia, 1.14.13.23.33) declarou-se em total concordância com a posição do proeminente reformador Cisterciense medieval Bernardo de Clairvaux: “Bernardo afirma essa mesma liberdade de escolha em seu tratado On Grace and Free Will. Observe o local onde ele disse, entre outras coisas [11.33]: O Criador dotou sua criatura racional com essa prerrogativa de sua dignidade, que mesmo ele próprio sendo independente e controlador de sua própria vontade e, portanto, não sendo bom por qualquer necessidade, a criatura também foi feita controlador da sua própria vontade, a fim de que ele se tornasse mau apenas por sua vontade e, portanto, corretamente condenado, ou permanecesse bom por sua vontade e, com razão, fosse salvo. Não que a sua vontade sozinha pudesse ser capaz de alcançar a salvação, mas ele nunca teria a oportunidade de obter a salvação sem o seu consentimento. Ninguém é salvo a contragosto (Eandem arbitrii libertatem affirmat Bernardus in tractatu De Gratia et Libero Arbitrio. Quo loco inter alia ait: Hac dignitatis praerogativa rationalem singulariter creaturam conditor insignivit ut quemadmodum ipse sui iuris erat ita illa quoque suo quodammodo iuris in hac parte existeret, quatenus non nisi sua voluntate aut mala fierit et iuste damnaretur aut bona maneret et merito salvaretur. Non quod ei propria possit sufficere ad salutem voluntas, sed quod eam nullatenus sine sua voluntate consequerentur. Nemo quippe salvatur invitus).” Daí a recepção positiva de Bernardo no século XVI, que se demonstrou se estender a Lutero (Franz Posset, Pater Bernhardus: Martin Luther and Bernard of Clairvaux [Kalamazoo, MI: Cistercian Publications, 1999]), Calvin (Dennis E. Tamburello, Union with Christ: John Calvin and the Mysticism of St. Bernard [Louisville: Westminster John Knox, 1994]), e Balthasar Hubmaier (Kirk R. MacGregor, A Central European Synthesis of Radical and Magisterial Reform: The Sacramental Theology of Balthasar Hubmaier [Lanham, MD: University Press of America, 2006], 37 – 89), extendida a Molina também.
26. Craig, “Middle-Knowledge View,” 122.
27. Molina, Foreknowledge, 4.14.13.53.11; ênfase no original.
28. Ibid., 4.14.15.49.8, 11.
29. Ibid., 4.14.15.47.9. Molina não usou o termo moderno Estocástico, mas afirmou claramente o conceito que o termo significa.
30. Portanto, não há nenhum laço lógico ou causal entre as circunstâncias e o que as criaturas fariam livremente nelas. Dito de outro modo, Molina sustentou que existem fatos contingentes da seguinte espécie: para qualquer conjunto de circunstâncias C (onde C inclui toda a história do mundo até o momento da decisão), há alguma ação A tal que se um agente dotado de liberdade libertária L estivesse em C, L faria indeterministicamente A. Isto é verdade mesmo que C não tenha causado L fazer A ou feito L fazer A, e L poderia ter feito algo completamente diferente do que A em C.
31. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.49.13.
32. Ibid., 4.14.15.52.19; 4.14.15.53.2.22.
33. Ibid., 4.14.15.52.9.
34. Ibid., 4.14.15.53.3.2.
35. Ibid., 4.14.15.52.10. Em seu conhecimento médio, Deus não apreende verdades contrafatuais sobre o que ele mesmo faria em qualquer conjunto de circunstâncias, pois isso impediria que Deus pudesse fazer quaisquer escolhas livres sobre o que ele faria posteriormente. Todas as decisões subseqüentes de Deus seriam determinadas por seu próprio conhecimento médio anterior de si mesmo! Em outras palavras, Deus tendo conhecimento médio de si mesmo destruiria seu próprio livre-arbítrio, o que é impossível. Portanto, Molina afirmou que “assim como os seres humanos e os anjos não sabem, antes da determinação de suas próprias vontades, para que lado eles vão se virar. . . da mesma forma Deus também não sabe, antes de determinar a sua própria vontade, para que lado se voltará” (4.14.15.52.11). Voltaremos a este tópico no capítulo 6.
36. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.51.1, 17, 19.
37. Ibid., 4.14.15.50.15; ênfase no original.
38. Craig, Only Wise God, 131. É por isso que Molina explicou: “Portanto, deve-se dizer (i) que o conhecimento médio tem, em parte, o caráter do conhecimento natural, já que era anterior ao ato livre da vontade divina e porque Deus não tinha o poder de conhecer nenhuma outra coisa, e (ii) que tem em parte o caráter de conhecimento livre, já que o fato de que é conhecimento de uma parte e não da outra deriva do fato de que a livre escolha, na hipótese de que ela deveria ser criada em uma ou outra ordem de coisas, faria uma coisa em vez da outra, mesmo que indiferentemente fosse capaz de fazer qualquer uma delas” (Foreknowledge, 4.14.15.52.10; ênfase no original).
39. Consequentemente, Molina negaria qualquer caracterização de uma essência como um conjunto "bloqueado" de composição psicológica, escolhas, desejos e idéias, fixados antes de nosso nascimento e predeterminando nossas ações. Em vez disso, uma essência é simplesmente o "whatness" [o que algo simplesmente é] ou quiddity [essência] de alguma coisa, e para cada humano, essa quiddity inclui a liberdade libertária.
40. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.52.30; Craig, “Middle-Knowledge View,” 123.
41. Thomas P. Flint, “The Problem of Divine Freedom,” American Philosophical Quarterly 20, no. 3 (1983): 257.
42. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.52.13.
43. Ibid., 4.14.15.52.9.
44. Ibid., 4.14.15.53.3.
45. Ibid., 4.14.15.53.4.3. Isso está correto, avisou Molina, apenas se discutirmos estados positivos de coisas; se a avaliação for estendida a estados negativos de coisas, afirmaremos que Deus possui um conhecimento livre composto inteiramente de proposições negativas (por exemplo, "Não haverá mundo real", "Pedro nunca existirá" e coisas semelhantes).
46. MacGregor, Molinist-Anabaptist Systematic Theology, 38.
47. Craig, Only Wise God, 131; idem, “Middle-Knowledge View,” 123.
48. Essa visão do senso comum do tempo é também conhecida como teoria do tempo “com tempo” ou Teoria-A do tempo. No entanto, alguém poderia fundamentar a presciência divina se abandonasse essa visão em favor de uma teoria do tempo “sem tempo”, também conhecida como Teoria-B do tempo. (Os rótulos “Teoria-A” e “Teoria-B” foram introduzidos por John ME McTaggart em The Nature of Existence, ed. C.D. Broad [Cambridge: Cambridge University Press, 1927], 5:33.) De acordo com a Teoria-B, tornar-se temporal é uma ilusão da consciência humana, e todos os eventos na linha do tempo (passado, presente e futuro) são igualmente existentes. Então, para as pessoas em 1945, esse momento é agora e estamos no futuro, mas para as pessoas em 2180, esse momento é agora e estamos no passado. O universo é um bloco espaço-temporal de quatro dimensões que existe de forma estanque, e não há momento presente privilegiado que sozinho realmente exista. Na Teoria-B, é fácil basear o pré-conhecimento postulando que Deus reside fora do universo espaço-temporal quadridimensional em um “agora eterno” e olha para o universo, percebendo todos os momentos na linha do tempo como igualmente presentes. No entanto, eu concordo com Craig ao defender a Teoria-A e ao sustentar que a Teoria-B enfrenta dificuldades insuperáveis. Para uma análise completa dessas duas teorias do tempo, veja William Lane Craig, The Tensed Theory of Time: A Critical Examination, Synthese Library 293 (Dordrecht: Kluwer Academic, 2000); e idem, The Tenseless Theory of Time: A Critical Examination, Synthese Library 294 (Dordrecht: Kluwer Academic, 2000).
49. Craig, “Middle-Knowledge View,” 133.
50. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.52.19; ênfase no original.
51. Craig, Divine Foreknowledge and Human Freedom, 240; Craig, “Middle-Knowledge View,” 133.
52. Craig, “Middle-Knowledge View,” 136 – 37.
53. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.49.12.
54. Que tais afirmações são verdadeiras ou falsas é pressuposto em Molina, Foreknowledge, 4.14.15.49.11.
55. Craig, “Middle-Knowledge View,” 143.
56. Refutando a posição do teólogo do século XIII John Duns Scotus de que “a livre determinação da vontade divina é toda a explicação e base para o fato de que Deus sabe com certeza quais coisas são contingentemente futuras, absolutamente e de uma forma não qualificada”, insistiu Molina que esta posição era tanto autocontraditória e perigosa para o caráter onibenevolente de Deus ensinado pela fé Cristã: “Eu considero ser suficientemente óbvio que esta posição de Scotus é mais que perigosa do ponto de vista da fé. Por isso destrói a liberdade de escolha que. . . nós demonstramos a partir da Sagrada Escritura e da própria experiência, e faz de Deus a causa pela qual o nosso livre arbítrio é voltado para e determinado àqueles atos pecaminosos pelos quais nós O ofendemos e violamos a Sua lei ” (Foreknowledge, 4.14.15.50.7; ênfase no original).
57. Craig, “Middle-Knowledge View,” 143.
58. Para uma apresentação bem conhecida da objeção de fundamento, veja Robert M. Adams, “Middle Knowledge and the Problem of Evil,” American Philosophical Quarterly 14 (1977): 109 – 17; William Hasker, God, Time, and Knowledge (Ithaca, NY: Cornell University Press, 1989), 29 – 52; David Paul Hunt, “Middle Knowledge: The ‘Foreknowledge Defense,’ ” International Journal for Philosophy of Religion 28, no. 1 (1990): 1 – 24; Timothy O’Connor, “The Impossibility of Middle Knowledge,” Philosophical Studies 66, no. 2 (1992): 139 – 66.
59. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.49.11.
60. Ibid., 4.14.15.52.11; ênfase no original.
61. Esta é uma questão sobre a qual muitos detratores do conhecimento médio, especialmente da tradição reformada, interpretam mal Molina. Como foi observado na introdução, esse equívoco deriva da suposição equivocada de que a doutrina do conhecimento médio de Arminius era a mesma de Molina. Enquanto Arminius declarou explicitamente (Jacob Arminius, Public Disputations, em The Writings of Arminius, 3 vols., trans. James Nichols e W. R. Bagnall [Grand Rapids: Baker, 1956], 1:449; Private Disputations, em idem, 2:39) que Deus obtém seu conhecimento médio das criaturas, Molina rejeitou veementemente essa noção como solapando a asseidade e a perfeição de Deus (Foreknowledge, 4.14.15.52.19). Por isso, Molina concordaria com seus detratores reformados contemporâneos de que qualquer teoria da onisciência divina que predicasse o conhecimento de Deus de contrafatuais da liberdade das criaturas sobre as criaturas é irremediavelmente defeituosa.
62. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.49.12; ênfase no original.
63. Esse é um ponto enfatizado por Craig: “Uma segunda noção no relato de Molina sobre o conhecimento de Deus sobre futuros contingentes que merece comentários é sua afirmação de que Deus conhece futuros contingentes em Si mesmo. Molina deseja insistir tão fortemente quanto Aquino que Deus não adquire Seu conhecimento de fontes externas. Ele afirma: ‘. . . Deus não adquire conhecimento das coisas, mas conhece e compreende tudo o que sabe em sua própria essência e na determinação de sua própria vontade. . . '[Concordia, 4.14.15.52.19]. Em Sua essência Ele conhece o conteúdo de Seu conhecimento natural e médio, enquanto a determinação de Sua vontade criativa fornece a base de Seu conhecimento livre ”(William Lane Craig, The Problem of Divine Foreknowledge and Future Contingents from Aristotle to Suarez, Studies in Intellectual History 7 [Leiden: Brill, 1988], 178).
64. No caso das essências libertárias e estocásticas, o que essas essências fariam em qualquer conjunto de circunstâncias não faz parte dessas essências, mas sim constituem propriedades contingentes dessas essências, ou seja, propriedades que poderiam ter sido diferentes com a essência permanecendo inalterada.
65. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.49.11; ênfase adicionada, exceto na última cláusula, onde a ênfase é encontrada no original.
66. Ibid., 4.14.15.52.33; ênfase adicionada.
67. Ibid., 4.14.15.49.11; ênfase no original.
68. Ibid., 4.14.15.52.4 – 6, 34 – 37.
69. Craig, “Middle-Knowledge View,” 127.
70. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.52.35.
71. Ibid., 4.14.15.52.36; ênfase no original.

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