segunda-feira, 11 de março de 2019

Série Dificuldades Bíblicas

Qual era a idade de Acazias quando ele começou a reinar (cf. 2 Rs 8.26 com 2 Cr 22.2) e a de Joaquim quando este iniciou seu governo (2 Rs 24.8 com 2 Cr 36.9, 10)?

Por Gleason Archer

Os escribas estavam sujeitos a cometer dois erros de redação. Um dizia respeito aos nomes próprios (de modo especial os não muito conhecidos) e o outro relacionava-se aos números. Realmente, desejaríamos que o Espírito Santo restringisse todos os copistas das Escrituras ao longo dos séculos, impedindo-os de cometer erros de qualquer natureza. No entanto, uma cópia isenta de falhas exigiria um milagre, e Deus não quis que a divulgação de sua Palavra percorresse esse caminho.

Está além da capacidade de qualquer pessoa copiar página após página de qualquer livro — sagrado ou secular — sem cometer qualquer lapso. No entanto, podemos ter certeza de que o manuscrito original de cada livro da Bíblia, tendo sido inspirado diretamente por Deus, estava isento de todo erro. Também é verdade que nenhuma variação comprovada nas cópias dos manuscritos originais que chegaram até nós altera alguma doutrina da Bíblia. Nesse ponto, pelo menos, o Espírito Santo exerce sua forte influência restritiva, ao supervisionar a tarefa de transmissão do texto.

Esses dois exemplos de discrepância numérica relacionam-se com a dezena dos números mencionados. Em 2 Crônicas 22.2, Acazias teria 42; em 2 Reis 8.26, apenas 22. Felizmente, dispomos de informações adicionais no texto bíblico que nos mostram que o número correto é 22. Em 2 Reis 8.17, lemos que o pai de Acazias, Jorão, filho de Acabe, tinha 32 anos quando se tornou rei, vindo a falecer oito anos mais tarde, aos quarenta. Portanto, Acazias não poderia ter 42 à época em que seu pai morreu, aos 40!

O caso de Joaquim é semelhante. Sua idade ao ascender ao trono nos é fornecida por 2 Crônicas 36.9, 10: oito anos, embora 2 Reis 24.8 nos informe que tinha dezoito. Há informações suficientes no contexto para convencer-nos de que oito é o número errado, e dezoito, o certo. Em outras palavras, Joaquim reinou apenas três meses; no entanto, ele já era adulto e podia ser responsabilizado; "fez o que o SENHOR reprova" e por isso foi julgado.

Observe-se que em todos os casos é o número da dezena que varia. No de Acazias, temos 42 num relato e 22 no outro. No de Joaquim é oito contra dezoito. É oportuno observar que a notação numérica usada pelos colonos judeus em Elefantina, na época de Esdras e Neemias (felizmente possuímos um grande arquivo de documentos em papiro, dessa fonte), consistia de ganchos horizontais que representavam as dezenas. Assim, oito seria /III IIII, mas dezoito seria /III IIII [com um gancho horizontal em cima]. De forma semelhante, 22 seria grafado /I [com dois ganchos lateriais], mas 42 desta forma /I [com quatro ganchos laterais]. Desse modo, se o manuscrito estivesse um tanto apagado ou manchado, ou se uma ou mais notações da dezena não seria percebida pelo copista.

Talvez o mesmo haja ocorrido no caso da data da invasão de Judá por Senaqueribe, em 701 a.C. Em 2 Reis 18.13, lemos que essa incursão aconteceu no "décimo quarto" ano de Ezequias, o que implica que ele deve ter iniciado seu reinado em 715. No entanto, as outras seis referências à cronologia de Ezequias em 2 Reis esclarecem que ele foi coroado regente em 728 e tornou-se rei em 725 a.C. Visto que Senaqueribe não foi coroado rei da Assíria senão em 705 e que a invasão ocorreu no quarto ano de seu reinado, a data de 701 para essa incursão está absolutamente correta. Portanto, devemos entender que o número "décimo quarto" de 2 Reis 18.13 é uma falha na cópia do número original, "vigésimo quarto". A diferença no sistema de notação hebraico era como segue: quatorze seria /III [com um gancho em cima] e vinte e quatro /III [com dois ganchos em cima]. Uma mancha no manuscrito provavelmente confundiu o escriba que copiava Isaías 36.1, dando origem a um erro; pode ser que o copista de 2 Reis 18 tenha ficado tão impressionado com o número "décimo quarto", com o qual estava familiarizado pelo texto de Isaías, que decidiu "corrigir" o versículo 13, para harmonizá-los. Pelo menos essa é a explicação mais viável que descobri para esse enigma. (V. também o artigo sobre a invasão de Senaqueribe no décimo quarto ano de Ezequias, em 2Rs 18.13.)

Fonte:

Archer, Gleason L. Enciclopédia de Temas Bíblicos: respostas às principais dúvidas, dificuldades e “contradições” da Bíblia. Tradução Oswaldo Ramos. 2. Ed. São Paulo: Editora Vida, 2001, pp. 179, 180.

Via Walson Sales.

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