Nota do tradutor: O interessante nesse debate com o ateu é que o Curley é um ex-cristão calvinista que abandonou o cristianismo por causa de sua visão de Deus em conformidade com as doutrinas exclusivas do calvinismo da Dupla Predestinação. Nessa primeira resposta o Dr. Craig faz a distinção entre ser Cristão e ser calvinista, tendo em vista que o Curley afirmou que “o calvinismo é o cristianismo”, algo comum entre os calvinistas. Essa resposta do Dr. Craig foi arrasadora.
William Lane Craig – Primeira Refutação
1. Eu quero agradecer ao Dr. Curley por suas observações muito pessoais e sensíveis. Nessa fala eu espero mostrar, no entanto, que a maioria de suas observações são destinadas a um alvo falso, em um conceito de Deus que eu como um Cristão, rejeito. O que o Dr. Curley oferece é realmente sete objeções mortais ao Deus calvinista, não ao Deus Cristão. Somente igualando o calvinismo com o Cristianismo que suas objeções têm alguma força. E eu nego exatamente essa equação. Eu não sou um calvinista.
2. Agora, para aqueles que não são familiarizados com essa terminologia, deixe me explicar. O calvinismo é um tipo de teologia decorrente do reformador protestante Francês João Calvino. Essa teologia mantém que todas as pessoas estão escravizadas ao pecado, mas que Deus em sua graça, escolheu soberanamente salvar somente alguns deles e deixar o resto para ser condenados. Aqueles que Ele predestinou à salvação, Ele trás irresistivelmente e os dá uma fé justificante. Assim, a salvação ou condenação de alguém não é o resultado do livre arbítrio humano, mas de uma escolha soberana de Deus.
3. Agora, o calvinismo é a teologia da Igreja Anglicana ou Episcopal, em que o Dr. Curley foi criado. Mas a maioria das denominações cristãs não defende o calvinismo. É simplesmente paroquial pensar que todas essas outras denominações não são, portanto, verdadeiros cristãos. Estão Católicos, Metodistas, Batistas e Ortodoxas Orientais, todos sobre o terreno escorregadio da heresia, como o Dr. Curley alega? Eu acho que seria um dogmatismo de uma mente bastante estreita.
4. Minhas próprias visões teológicas são amplamente Wesleyanas, nomeadas após João Wesley, o fundador do Metodismo. Eu creio no livre arbítrio humano e que onde nós passarmos a eternidade é, ultimamente, o resultado de nossas escolhas. Então, deixe-me considerar especificamente as objeções teológicas do Dr. Curley.
5. 1. Predestinação. O Dr. Curley apresenta o seguinte argumento:
1. Predestinação é incompatível com o amor e a justiça de Deus.
2. Predestinação é ensinada na Bíblia.
3. Portanto, o Deus da Bíblia não existe.
6. Agora, eu concordo com a sua primeira premissa, mas eu nego a segunda, que predestinação como ele a define, é ensinada na Bíblia. Ao contrário, eu acho que a Bíblia ensina que é a vontade de Deus que todas as pessoas sejam salvas. II Pedro 3.9 declara, “não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se”. E I Timóteo 2.4 diz, “Deus, nosso salvador deseja que todas as pessoas sejam salvas e cheguem ao pleno conhecimento da Verdade”. Então, a vontade de Deus é que todos sejam salvos e o único obstáculo à sua vontade de se tornar realidade é a liberdade humana.
7. Mas e as passagens bíblicas sobre a predestinação? Eu sugiro que elas sejam entendidas corporativamente. Deus predestinou um grupo, um povo, para a glorificação e salvação. Mas quem é membro do grupo? Aqueles que respondem livremente a oferta de perdão de Deus em Cristo Jesus e colocam a confiança nele. E, assim, eu acho que o Dr. Curley está simplesmente equivocado que um fiel, crente na Bíblia tem que crer em uma predestinação individual arbitrária.
8. 2: O Argumento do Inferno. O Dr. Curley apresenta o seguinte argumento:
1. Pecados menores não merecem punição eterna.
2. A Bíblia ensina que Deus punirá eternamente pecados menores.
3. Portanto, o Deus da Bíblia não existe.
9. Agora, nesse argumento eu acho que as duas premissas são falsas. Mas o tempo só me permite tratar com a segunda. Com respeito à segunda premissa, está longe de ser óbvio que a Bíblia ensina a punição eterna por pecados menores. Antes, o que nos separa de Deus para sempre é o pecado de rejeitar livremente a Deus, fora de nossas vidas. Esse é um pecado de gravidade e proporção infinita, desde que é a decisão livre das criaturas de rejeitar o próprio Deus. É certo que o calvinismo do Dr. Curley não tem espaço para esse tipo de pecado. Mas, na visão bíblica, nem é tanto Deus, mas as próprias criaturas quem determinam seus destinos eternos.
10. 3: Pecado Original. O Dr. Curley dá o seguinte argumento:
1. Crianças são condenadas por causa do pecado original.
2. A Bíblia ensina o pecado original.
3. Portanto, o Deus da Bíblia não existe.
11. Eu contesto a primeira premissa. De fato, eu desafio o Dr. Curley a ler pra mim uma simples passagem da Escritura que ensina que as crianças são condenadas por causa do pecado original. A Bíblia não ensina tal coisa. Ao contrário, Jesus tomou crianças pequenas em seus braços e as abençoou dizendo “Deixem as crianças vir a mim...porque das tais é o reino dos céus” (Mc 10.14).
12. Os argumentos 4 e 5 são agrupados: Justificação por Fé e Exclusivismo. Aqui o argumento do Dr. Curley parece assim:
1. A Bíblia ensina que Deus dá a fé que justifica aqueles que Ele escolher arbitrariamente e exclui outros.
2. É injusto fazer isso.
3. Portanto, o Deus da Bíblia não existe.
13. Eu acho que a primeira premissa é falsa. Em nenhum lugar do Novo Testamento ensina que a fé justificativa é outorgada arbitrariamente por Deus. Mais, justificação por fé é a maravilhosa doutrina que o perdão e salvação é um presente livre que você não pode fazer nada para merecer. Essa é uma doutrina maravilhosa, pois nos deixa fora do espaço de tentar ganhar o favor de Deus e tentar merecer a salvação. Tudo o que nós temos que fazer é colocar a confiança nele livremente. Portanto, Deus não exclui ninguém. Jesus disse, “Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (João 7.37). Mas algumas pessoas excluem a Deus livremente de suas vidas.
14. Então, em resumo às cinco objeções teológicas eu quero dizer: Dr. Curley, e eu quero dizer isso sinceramente, eu tenho boas novas pra você. (A palavra “evangelho” significa “boas novas”). Você não tem que ser um calvinista para ser um cristão! (Risos).
Então, deixe-me retornar às objeções filosóficas restantes.
15. 6. O Problema do Mal. Aqui, o argumento do Dr. Curley parece ser alguma coisa como isso:
1. Deus existe.
2. Se Deus é Todo-Poderoso, Ele pode criar o mundo que Ele quiser.
3. Se Deus é Todo-Benevolente, Ele criaria um mundo sem mal.
4. Portanto, o mal não deveria existir.
Mas, o mal existe. Então segue, portanto, que Deus não existe.
16. Agora, o problema com esse argumento é que o Dr. Curley não mostrou que nenhuma das duas premissas cruciais são necessariamente verdadeiras. Tome a premissa (2), que um Deus Todo-Poderoso pode criar o mundo que Ele quiser. Se Deus deseja criar criaturas livres, então, é logicamente impossível para Ele fazê-los fazer o que Ele quer livremente. Então, o Dr. Curley teria que mostrar que existe um mundo de criaturas livres que Deus poderia criar, que tem tanto bem como esse mundo, mas que tem menos mal. Mas como ele provaria tal coisa? É pura especulação.
17. E sobre a premissa (3), que um Deus Todo-Amoroso preferiria um mundo sem mal. Agora, essa premissa pode ser verdade se o propósito de Deus foi criar um meio ambiente confortável para seus animais de estimação humanos. Mas na visão Cristã, nós não somos animais de estimação de Deus. E o propósito da vida não é felicidade, como tal, mas o conhecimento de Deus e sua salvação que trará ultimamente a verdadeira felicidade. Mas muito mal que ocorre nessa vida é totalmente inútil com respeito a produzir felicidade humana. Mas eles podem não ser sem sentido com respeito a produzir um profundo conhecimento de Deus. O Dr. Curley teria que provar que existe outro mundo que Deus teria criado com muito conhecimento de Deus e de sua salvação, mas com menos mal. Mas como alguém poderia provar tal coisa? Novamente, é pura especulação. E, portanto, o problema do mal, eu penso, é simplesmente inconclusivo e não invalida o teísmo Cristão.
18. Finalmente, 7: O Problema da Moralidade. Aqui o argumento segue assim:
1. Se a moralidade do comando divino é verdadeira, então, Deus é responsável por comandar quase nada.
2. Esta é destrutiva ou a moralidade como normalmente pensamos dela.
3. Portanto, os comandos divinos a moralidade não são verdadeiros.
19. Agora, diante disso, até mesmo se as premissas desse argumento forem verdadeiras, o argumento é infundado, porque ele é inválido. A conclusão não segue das premissas. Os comandos divinos a moralidade ainda seriam verdadeiros, até mesmo se os comandos têm conseqüências letais que o Dr. Curley atribui a Ele.
20. Mas as premissas são verdadeiras de fato? Bem, eu penso que não. Primeiro, não é o caso que Deus é responsável por comandar todas as coisas. Os comandos de Deus necessariamente fluem de sua própria natureza e caráter, que é essencialmente amor, santo, compaixão, justo, e assim por diante. E assim, seus comandos não são arbitrários, mas refletem a própria moralidade perfeita de Deus.
21. Segundo, a moralidade dos comandos divinos não é destrutiva da moralidade precisamente porque os comandos de Deus são estáveis e firmes. O caso de Abraão e Isaque é a exceção que prova a regra. Eu acho que nós podemos seguramente guiar as nossas vidas pelos Dez Mandamentos e a Regra de Ouro sem nos preocupar que Deus nos mandará fazer alguma coisa contrária. E relembre a alternativa: se não existe nenhum Deus, então tudo é relativo, e nós temos perdido completamente nosso escopo moral. Como Dostoevsky disse corretamente, “Todas as coisas são permitidas”.
22. Então, enquanto o Dr. Curley tem nos dado, eu penso, talvez boas razões para achar que o calvinismo não é verdade, ele não nos deu boas razões para pensar que o teísmo Cristão não é verdadeiro. Ao contrário, eu acho que nós já vimos cinco boas razões, ainda não refutadas, para pensar que o Criador e Designer do universo existe, que é o lócus dos valores absolutos e que se revelou decisivamente em Jesus Cristo. E, portanto, eu penso que o teísmo Cristão é uma cosmovisão mais plausível.
Tradução Walson Sales e Samuel Coutinho.
Texto publicado anteriormente no site deusamouomundo.
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