[A jornada de um erudito muçulmano para fora do Islã – parte 1]
Por Mark A. Gabriel
Concluí meu bacharelado em 1984 e em 1985 comecei meu serviço obrigatório no exército egípcio. Quando eu estava alistado para servir no período obrigatório, já na minha unidade, havia um major que ficou especialmente feliz em me ver. Ele era o subcomandante e era quem vinha conduzindo as orações cinco vezes por dia na base porque não havia ninguém mais qualificado para tal. Eu era qualificado para conduzir as orações porque estava na faculdade, e ele jogou essa responsabilidade sobre mim com muita alegria.
Então eu comecei a conduzir as orações e a pregar ás sextas-feiras. No entanto, a primeira vez que ele me ouviu pregar, ele ficou preocupado com minha teologia. Eu estava pregando um islã de cooperação e gentileza. Mas o pai deste major era membro da Irmandade Muçulmana (um grande grupo radical fundado no Egito), e ele acreditava no chamado a Jihad.
Ele ficou surpreso que eu, um profundo estudioso do islã, não concordasse com ele. Começamos a debater, e durante o rumo de nossas discussões, ele me trouxe um manuscrito para ler que apoia seu ponto de vista. Era uma cópia de um livreto intitulado “The Abandoned Duty” (O Dever Abandonado), escrito por Abdul Salam Faraj. Este livro era ilegal oficialmente, mas cópias dele eram passadas de mãos em mãos em todo o país.
“Veja”, o major do exército me disse, “Faraj era um engenheiro, não um erudito islâmico, mas até mesmo ele podia entender o significado de Jihad”.
Eu peguei o livro e o li no privado. Tive que ser cuidadoso, pois se a polícia me pegasse, eles tomariam o livro e me interrogariam. Porque eu era conhecido como um moderado, e poderia dizer a eles que estava lendo para pesquisa, e ficaria bem. Mas se eu fosse forçado a dizer que recebi o livro de um superior do exército, o major estaria em problemas porque ele tinha uma conexão já conhecida com a Irmandade Muçulmana (por meio do seu pai), e que ele estava distribuindo material ilegal nos escalões inferiores. Mubarak o jogaria na prisão, e ninguém saberia o que poderia acontecer com ele lá.
Ninguém me pegou com o livro. Depois de lê-lo, eu o devolvi ao major e nós continuamos o debate. O autor (Faraj) era um produto de um avivamento do fundamentalismo islâmico que varreu diferentes escolas e universidades por todo o país. Ele tinha apenas vinte e sete anos quando escreveu o livro, onde conclamou apaixonadamente e persuasivamente a população jovem de sua geração a cumprir o dever abandonado da Jihad e lutar contra o governo secular do Egito. Ele também citou muitos eruditos islâmicos para embasar suas ideias, especialmente o altamente respeitado erudito medieval Ibn Taymiyya. Faraj foi executado pelo governo egípcio por sua participação no assassinato do Presidente Anwar Sadat três anos antes, então neste momento ele era um mártir e herói. Não havia nada que eu pudesse fazer para mudar a mente do major.
Apenas alguns meses depois, em Março de 1986, meu tempo obrigatório no exército terminou. Eu voltei à Universidade Al-Azhar para começar meus estudos no meu mestrado. Eu nunca imaginei que algum dia eu escreveria um livro sobre a mentalidade de radicais islâmicos e que veria novamente as palavras de Faraj.
Fonte:
GABRIEL, Mark. A. Journey into the mind of na Islamic Terrorist: Why they hate us and how we can change their minds. Lake Mary, Florida: Frontline, 2006, pp. 8-9
Tradução Walson Sales.
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