A minha tarefa neste estudo é falar da vida de um dos três heróis da fé, cujos nomes estão catalogados dentro do período “Antediluviano”, são eles: “Abel”, “Enoque” e “Noé”. Assim sendo, neste simples e humilde estudo falarei sobre o primeiro personagem “Antediluviano” descrito na galeria dos heróis da fé, a saber: “Abel”. O personagem Abel é um exemplo para todos nós. Todos devemos seguir o exemplo de entrega e adoração deste santo homem de Deus. Ele foi o primeiro a entrar na presença de Deus após a morte. O primeiro a ser justificado. O primeiro a adorar e ofertar corretamente. O primeiro a morrer. O primeiro a esperar pela ressurreição do último dia. O primeiro a tornar-se um herói da fé. O primeiro a ser considerado pelo autor da Epistola aos Hebreus como “um homem do qual o mundo não era digno...” (Hb 11.38), e isso por causa de sua fé e de seu amor ao Senhor, demonstrados naquela simples oferta, que lhe custou a vida.
I – ALGUMAS INFORMAÇÕES SOBRE ESSE HEROI DA FÉ
1.1 - Quem foi Abel?
A primeira vez que o nome “Abel” aparece na Bíblia Sagrada é em (Gn 4.2) e a última vez é em (Hb 12.24). Ele surge nas Sagradas Escrituras como sendo o segundo filho do primeiro casal “Adão” e “Eva” conforme nos mostra o texto de Gn 4.2: “Voltou a engravidar e desta vez lhe nasceu Abel, irmão de Caim. Abel tornou-se pastor de ovelhas e Caim cultivava a terra”. O texto de (Gn 4.4) destaca a vida espiritual de Abel, o qual entrou para a história como sendo o primeiro homem temente a Deus e piedoso da Bíblia. Ele foi o primeiro pastor (Gn 4.2) mencionado nas Sagradas Escrituras e o primeiro homem a ser assassinado na história universal (Gn 4.8). Mas também pelo exercício de sua fé, ele foi o primeiro homem a ser declarado justo diante de Deus (Mt 23.35; Hb 11.4).
1.2 – O Significado do seu nome (Gn 4.2)
O nome “Abel” é um nome masculino de origem hebraica. Surge do hebraico “Hebhel”, que quer dizer literalmente “névoa, vapor”. Por extensão, alguns autores atribuem o significado de “respiração”, “sopro”, “vaidade”, “frágil ou efêmero”, prefigurando assim que sua vida seria curta ou passageira, como acreditam muitos teólogos e estudiosos da Bíblia. Por outro lado, outros grupos de teólogos e estudiosos da Bíblia acreditam que a razão pela qual o segundo filho do primeiro casal “Adão” e “Eva” tenha recebido esse nome, deve-se ao fato de que o seu nascimento não foi tão importante como fora o nascimento de Caim. Para justificar seus pontos de vista citam (Gn 4.1) onde o texto afirma: “E conheceu Adão a Eva, sua mulher e ela concebeu, e teve a Caim, e disse: Alcancei do Senhor um varão”. Assim que o primeiro filho de Adão e Eva nasceu, eles lhe puseram o nome de “Caim” que significa “adquirido” (do hebraico “quana”), mas a forma exata “qayin” pode ter o sentido original de uma “lança”, ou seja, algo que fere como firmeza. Em (Gn 3.15), Deus havia feito uma promessa ao casal que da semente da mulher nasceria um “varão” e este “feriria” a cabeça da serpente. Em outras palavras, este varão seria o Redentor de toda a humanidade. Para esses estudiosos, quando Eva deu à luz ao seu primeiro filho, ela lembrou-se da promessa que Deus lhe fizera no Éden, passando assim a acredita piamente que Caim fosse o varão prometido que salvaria a humanidade cujo o mesmo havia sido adquirido e concebido com o “auxílio de Deus”. Segundo esses estudiosos, quando “Abel” nasceu ele já não tinha tanta importância assim para o primeiro casal, visto que já possuíam Caim, por isso recebera esse nome cujo significado é nada mais ou nada menos que “respiração, “sopro”, “efêmero”, “vaidade” e “passageiro”, sem muito sentido ou importância.
1.3 – Sua Fé (Hb 11.4)
Tendo nos fornecido uma poderosa definição e um relato mais geral sobre a fé nos três primeiros versículos do capítulo 11 da Epístola ao Hebreus, o escritor agora resolve nos apresentar alguns exemplos ilustres da fé no Antigo Testamento. E o primeiro exemplo de fé registrado é o do personagem Abel. Observa-se que não aprouve ao Espírito de Deus dizer ou revelar coisa alguma acerca da fé dos nossos primeiros pais “Adão” e “Eva”, entretanto isso não significa dizer que após a queda e a expulsão deles do jardim do Éden eles tenham se perdido. Acredito que Deus lhes deu a oportunidade de arrependimento e fé na Semente prometida de (Gn 3.15). Tanto “Abel” como “Caim” ainda como crianças receberam de seus pais a mesma educação e sem sombra de dúvida foram instruídos acerca da promessa da redenção. Deus pela sua infinita misericórdia instruiu o primeiro casal acerca de como eles deveriam proceder nos cultos e sacrifícios que apontavam para a promessa da redenção de (Gn 3.15), eles por sua vez repassaram esses ensinos, ou seja, os mistérios e a importância do sacrifício para seus filhos. Diferentemente de seu irmão Caim, Abel teve fé (Hb 11.4) e com sua visão espiritual, reconheceu na promessa de (Gn 3.15) a vinda de um Redentor, que, pelo Seu sofrimento e pela Sua morte, faria uma expiação ilimitada pelo pecado de toda a humanidade, inclusive o dele (Abel).
II – O QUE ELE FEZ PELA FÉ?
2.1 – Ofereceu a Deus um Sacrifício mais Excelente (Hb 11.4)
Depois da queda do primeiro casal Adão e Eva, Deus abriu um novo caminho para que tanto eles como seus descendentes pudessem trilhar em adoração religiosa. Após a queda Deus precisou ser adorado por meio de sacrifícios, uma forma de adoração que trazia consigo uma confissão de pecados e uma profissão de fé. Uma vez já instruídos pelos seus pais ou quem sabe até mesmo pelo próprio Deus, os dois irmãos Caim e Abel voluntariamente em um certo tempo, resolveram oferecer um sacrifico a Deus, ou seja, decidiram que era o momento de trazerem uma oferta do esforço do seu trabalho para Deus (Gn 4.3,4). De acordo com (Gn 4.2), Abel era pastor de ovelhas e seu irmão Caim era lavrador. Sendo lavrador ou cultivador da terra, Caim trouxe dos frutos da terra uma oferta ao Senhor (Gn 4.3). Por sua vez Abel como pastor, ofereceu as primícias e a gordura do seu rebanho (Gn 4.4). Mas o texto de (Gn 4.4,5) diz que o Senhor “atentou” para “Abel” e sua “oferta”, porém não se agradou de “Caim’ e nem tão pouco da sua “oferta”. Não haverá espaço aqui para detalharmos com precisão sobre o que levou Deus a rejeitar a Caim e a sua oferta, ao passo que se agradou de Abel e do seu sacrifício. Mas porque Deus aceitou a Abel e sua oferta e rejeitou a Caim e a sua oferta? Resumidamente exponho a opinião de alguns estudiosos da Bíblia acerca desse assunto:
• Alguns creem que a qualidade do sacrifício de Abel era superior;
• Outros acreditam que a quantidade da oferta de Abel era maior;
• E, outros ainda defendem a ideia de que foi porque Abel ofereceu um sacrifício de sangue e Caim ofereceu um sacrifício de grãos.
Percebam que todas essas argumentações acima fogem da razão principal. Apesar da qualidade da oferta ser extremamente importante, em nenhum lugar na Bíblia encontramos na íntegra um texto que apoie em sua totalidade essas informações. O texto de (Hb 11.4) apenas nos diz que: “Pela fé, Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim”. O Sacrifício de “Abel” foi “maior” [melhor, mais excelente] do que o de “Caim”, porque o sacrifício de Abel era uma expressão de adoração que envolvia toda sua vida de fé. Ele apresentou toda sua vida a Deus, não manteve reserva. Isso representou uma total devoção ao Senhor, não simplesmente uma cerimônia religiosa e superficial. Pela fé adentrou a mais profunda realidade espiritual do sacrifício ao Deus invisível. Diferentemente de seu irmão Abel, é bem provável que Caim só refletiu superficialmente na sua oferta e a apresentou por mera formalidade, por isso Deus não aprovou esse tipo de adoração formal. Caim talvez tenha esquecido de que Deus atenta primeiramente para ofertante e depois para a sua oferta (Gn 4.3-5), Ele checa primeiramente o coração do ofertante e suas intenções (1 Sm 16.7; Jr 17.9). Deus olhou para Abel e viu que havia bondade e sinceridade em seu coração, viu também a dimensão de sua fé e que suas obras eram boas. Também analisou o coração de Caim, viu que era mau, suas obras e intenções eram malignas (1 Jo 3.12).
III – RESULTADOS OBTIDOS POR ELE ATRAVÉS DA FÉ
3.1 – Deus se agradou de Abel e de sua oferta (Gn 4.4)
“Ora, o SENHOR aceitou com alegria a Abel e sua oferta” (Gn 4.4b). Abel ofereceu a Deus o que ele tinha de melhor. Na verdade Abel apresentou ao Senhor um sacrifício de expiação. Ele ofereceu as “primícias” e a “gordura” do seu rebanho (Gn. 4.4a), reconhecendo ser ele mesmo um pecador que merecia morrer, e somente esperava misericórdia por meio do grande sacrifício que seria ofertado pelo Messias na cruz. Antes de olhar para sua oferta, Deus olhou para ele. Apesar da qualidade da oferta ser importante, naquele momento para Deus valia mais a atitude do coração do ofertante do que mesmo a sua oferta. O próprio Abel e a sua oferta conseguiram “atrair” de forma aceitável e positiva a “atenção” e a “aprovação” de Deus.
3.2 – Obteve testemunho de que ele era justo (Hb 11.4)
É muito bom quando ouvimos ou ficamos sabendo que alguém deu um bom testemunho acerca da nossa pessoa, do nosso caráter, das nossas ações e atitudes, não é? Mas imaginem só, quando esse testemunho é dado pelo próprio Deus. Não é algo extraordinário? Pois é, pela fé Abel obteve o testemunho de que era justo, e não foi um testemunho de qualquer pessoa, mas do próprio Deus (Hb. 11.4). Sabemos que tanto “Caim” como seu irmão “Abel” eram pecadores. O pecado de Adão e Eva no jardim do Éden havia deixado a raça humana totalmente depravada. Mas pela infinita misericórdia de Deus, diferente de Caim, Abel reconheceu que era um pecador digno de morte. Por fé, ele oferece a Deus um sacrifício excelente, crendo em sua redenção futura promovida pelo grande sacrifício de Cristo na cruz. Abel demonstrou íntima relação entre a retidão e a fé em (Hb 10.38). Sua adoração agradou a Deus, porque vivia e agia pela fé, por causa disto o próprio Deus e o seu filho Jesus Cristo deram testemunho de que ele era um homem justo (Mt 23.35; Hb 11.4).
3.3 – Depois de morto, seu testemunho ainda fala (Hb 11.4)
Mesmo não sendo encontrada nem mesmo sequer uma única palavra proferida por Abel nas Escrituras Sagradas, o escritor da Epistola aos Hebreus faz questão de dizer que mesmo depois de morto, o “testemunho dele ainda fala” (Hb 11.4). Seu sangue, que “clamava a Deus desde a terra”, não foi esquecido (Gn 4.10). Abel morreu como o primeiro mártir profético da história (Lc 11.50,51), seu testemunho duradouro passou por sucessivas gerações e continua a falar da vida de fé que agrada a Deus como um homem fiel que adora a Deus de todo o seu coração
CONCLUSÃO:
Porque você acha que “Abel” entrou para a galeria dos heróis da fé conforme nos informa o capítulo 11 da Epistola aos Hebreus? Particularmente, eu acredito que foi porque ele ofereceu a Deus o seu melhor, fazendo isso por fé, não por vista (2 Co 5.7), não esperando receber nada em troca, até porque o que ele recebeu em troca de sua oferta e louvor foi a sua morte (Gn 4.8). E, uma última pergunta para nossa reflexão é: como a história de Abel aponta para a história de Jesus? Sem dúvida, “Jesus” agiu como “Abel” entregando sua vida por amor a Deus. Sim, por amor a Deus antes de tudo. Como fruto de seu amor por Deus, ele nos amou também (Jo 15.13). Jesus também foi morto por aqueles que com ele convivia, por seus irmãos de nacionalidade. Estes, não apenas o rejeitaram, como também o mataram (1 Ts 2.15).
Quando eu olho para Jesus, O vejo nos convidando a negarmos as nossas próprias vidas. Ele está nos convidando a oferece-la como uma oferta em louvor e gratidão a Deus. Não somente a nossa vida, mas tudo o que temos. Em (Rm 12.1,2) está escrito: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”. Em (Lc 9.23) está escrito: “E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a se mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me”. Em (Hb 13.15) o texto nos diz: “Portanto, ofereçamos sempre, por ele, a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam seu nome”. Assim como “Abel”, ofereça o melhor que você tem para Deus. Pela fé, dê o seu melhor para Ele.
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MELO, Joel Leitão de. Sombras Tipos e Mistérios da Bíblia. Rio de Janeiro: Editora CPAD, 1989.
Por Nivaldo Gomes.
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