sábado, 11 de maio de 2019

A INEGÁVEL IRRACIONALIDADE DO CALVINISMO

Por Dave Hunt
Tais fragrantes contradições são inatas dentro do calvinismo e tem causado divisões até mesmo entre os calvinistas, que não podem todos concordar entre si mesmos. Considere a controvérsia em 1945 sobre a aptidão para a ordenação de Gordon H. Clark. “Cornelius Van Til levou os professores do seminário a uma denúncia contra o entendimento de Clark da Confissão de Fé”.[2] Clark foi acusado de “racionalismo” pela sua relutância em declarar (como os chamados calvinistas “moderados” fazem) que a salvação foi oferecida sinceramente por Deus para aqueles por quem Cristo, segundo o calvinismo, não morreu e por quem Deus, desde a eternidade passada predestinou para o tormento eterno. Clark considerou isso ser uma contradição direta que Deus poderia procurar a salvação daqueles que “Ele tem determinado desde a eternidade, não salvar”.
Clark foi acusado pelos chamados calvinistas “moderados” de ser um “hyper-calvinista” – mas tais títulos são enganosos. Ambos, Clark e seus oponentes “moderados” criam exatamente no mesmo – que Deus predestinou alguns para o céu e outros para o inferno. Clark estava simplesmente sendo honesto em admitir que não seria racional dizer que Deus “ama” aqueles que Ele salvaria mas não quer. O calvinismo “moderado” é assim, culpado de uma inegável contradição, ainda John MacArthur empregou um livro inteiro tentando dar suporte a essa contradição.[3] Como nós veremos, os “moderados” escondem a irracionalidade deles por trás da ideia que Deus é “livre” para amar pessoas diferentes com tipos diferentes de amor – esquecendo que qualquer tipo de amor genuíno é amoroso e que não é amoroso condenar aqueles que poderiam ser salvos.
Uma controvérsia similar que se originou entre os professores no Calvin Seminary, “flagelou a Igreja Cristã Reformada durante a década de 1920...[e em 1924] encerrou com um êxodo de calvinistas da Igreja Cristã Reformada sob a liderança de Herman Hoeksema, e a formação de uma nova igreja, a Igreja Reformada Protestante”.[4] Van Til, em desacordo com a Confissão de Fé de Westminster, argumentou que Clark estava fazendo “as regras da lógica sobre as Escrituras...”. Van Til insistiu que as Escrituras contem paradoxos irreconciliáveis que “tem a necessidade de parecer contraditório”.[5]
Se esse é o caso, então a Escritura é irracional e não pode ser defendida racionalmente; ainda Deus se dispõe a raciocinar com o homem (Isaias 1.18). Pedro nos diz que nós devemos estar sempre preparados para dar uma resposta a todos os que pedirem a razão da nossa fé (I Pedro 3.15) e Paulo “raciocinou” com os judeus (Atos 18.4,19).
Na tentativa de escapar da irracionalidade de culpar o não eleito por falhar em fazer o que eles não podem fazer, alguns calvinistas insistem que o homem é capaz, mas simplesmente não está disposto a voltar-se a Cristo. Essa é uma visão minoritária que contradiz a Depravação Total e está parcialmente correta. O problema com os pecadores está na falta de vontade. Para uma pessoa ser relutante, no entanto, ele deve ter uma vontade e, assim, por um ato dessa vontade tornar-se disposto – um fato que os calvinistas negam. Além disso, Calvino e seus seguidores declararam em linguagem clara que o homem é incapaz de crer no evangelho e voltar-se para Cristo, ou procurar Deus ou o bem: “Ele é livre para se voltar para Cristo mas não é capaz”.[6] Inabilidade é certamente a visão majoritária.
Não há nenhum verso na Bíblia, no entanto, que apresenta a ideia radical do calvinismo que o pecador é incapaz de crer no verdadeiro evangelho que oferece a ele perdão e salvação, e ainda ele é condenado por Deus por falhar em crer. De fato, como nós veremos, a Bíblia declara o contrário. “todos os homens em todos os lugares” (Atos 17.30) são chamados repetidamente para se arrepender e crer em Cristo. Nunca se derivaria da Escritura a ideia que os não regenerados são incapazes de crer. Dave Breese, altamente respeitado e um brilhante autor e expositor da Escritura, declarou que “não pode ser mostrado que ‘depravação total’ é, de fato, uma verdade da Escritura”.[7]
Ainda, Talbot e Crampton escrevem, “a Bíblia salienta a inabilidade total do homem caído para responder as coisas de Deus...Isso é o que o calvinista se refere como ‘depravação total’”.[8] Palmer chama essa doutrina de “a mais central questão entre o Arminiano e o Calvinista, o que Martinho Lutero até mesmo disse que eram as dobradiças sobre as quais toda a Reforma voltou”.[9]
Consequentemente, o calvinista insiste que a regeneração deve preceder a fé – e assim ela deve preceder a salvação, que é somente por fé: “uma vez que ele [o pecador] é nascido de novo, ele pode pela primeira vez se voltar para Jesus...pedindo para Jesus o salvar” (ênfase adicionada).[10] Que doutrina estranha e não bíblica é essa, que o pecador deve nascer de novo antes que ele possa crer no evangelho! Não é por meio de crer no evangelho que nós somos nascidos de novo (I Pedro 1.23-25)? R.C. Sproul declara, “O ponto cardeal da teologia Reformada é a máxima, ‘regeneração precede a fé’”.[11]
Em nenhum lugar da Escritura, no entanto, há a sugestão que o homem deve ser regenerado antes que ele possa ser salvo pela fé em Cristo. De fato, muitas Escrituras declaram o oposto, por exemplo, “...que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus” (2 Timóteo 3:15), e “Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus” (Gálatas 3:26). A fé sempre precede a salvação/regeneração. Não há nenhuma passagem da Bíblia que afirma claramente a doutrina que a regeneração vem primeiro e a fé segue – nenhuma. Nós trataremos com essa doutrina chave com mais profundidade posteriormente.
Spurgeon, embora um calvinista, disse, “Um homem que é regenerado é salvo”.[12] John MacArthur também iguala ser salvo com ser regenerado.[13] Calvino declarou corretamente, “Cada homem do começo de sua fé, torna-se um cristão...”[14]. Mas, se o eleito deve ser regenerado antes que eles tenham fé, a regeneração deles ainda deixa eles não cristãos, desde que o homem é salvo pela fé e assim se torna um cristão (João 6.47; 11.25; 20.31; Atos 16.31; Romanos 1.16; 10.9; I Coríntios 1.21; Hebreus 10.39, etc.). Que “regeneração” é essa que não salva? Spurgeon não aceitou essa parte do calvinismo e, portanto disse que isso era “ridículo” pregar Cristo ao regenerado.[15] Claro. Contradizendo o ensino que a “regeneração precede a fé” tão popular entre os calvinistas de hoje, Calvino intitulou um capítulo chamado “Regeneração pela fé”.[16]
Apesar disso, vendo depravação como inabilidade, que necessita de regeneração antes da salvação, é o alicerce da maioria do calvinismo de hoje. Engelsma reconhece, “Negue essa doutrina e todo o calvinismo é demolido”.[17] Para ser justo, nós devemos, diz Engelsma, “deixe o calvinismo falar por si mesmo”.[18] Isso é o motivo de nós citarmos tantos calvinistas.
Uma vez que a Depravação Total requer regeneração antes da fé ou salvação, muitos calvinistas assumem que a regeneração toma lugar – e provavelmente acontece – na infância. Assim, Hoeksema raciocina que, “Regeneração pode tomar lugar na menor das crianças...na esfera do convênio de Deus, Ele geralmente regenera seus filhos eleitos na infância”.[19] Então, os filhos dos calvinistas se comportam de uma maneira diferentemente santificada de outras crianças? Dificilmente.
Temos ai mais uma declaração que a regeneração deixa uma pessoa ainda não salva, de tal maneira como a salvação é pela fé, e crianças nem podem entender e nem crer no evangelho, que é uma requisição clara para a salvação. Nós pedimos aos calvinistas, com toda sinceridade, onde esta doutrina estranha é declarada na Bíblia? Nenhum deles respondeu a essa questão.
Tradução Walson Sales
Fonte:
HUNT, Dave. What Love Is This? Calvinism’s Misrepresentation of God. Third Edition. Oregon: The Berean Call, 2006 (pp. 114-116).
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Notas do trecho:
[2] Garret P. Johnson, “The Myth of Common Grace”, The Trinity Review, March/April 1987, 1.
[3] John MacArthur, Jr., The Love of God (Dallas, TX: Word Publishing, 1996).
[4] Johnson, “Myth.”
[5] Cornelius Van Til, Common Grace and the Gospel (Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1973), 165-166; citado em Johnson, “Myth”.
[6] Frank B. Beck, The Five Points of Calvinism (Lithgow, Austrália: Covenanter Press, 2nd Australian ed., 1986), 9.
[7] Dave Breese, “The Five Points of Calvinism” (Self Published paper, n.d.).
[8] Kenneth G. Talbot e W. Gary Crampton, Calvinism, Hyper-Calvinism and Arminianism (Edmonton, AB: Still Waters Revival Books, 1990), 20.
[9] Edwin H. Palmer, The Five Points of Calvinism (Grand Rapids, MI: Baker Books, enlarged ed., 20th prtg. 1999), 19; citando Martinho Lutero, The Bondage of the Will, trans. J.I. Packer and O.R Johnston (Grad Rapids, MI: Fleming H. Revell, 1957), 319.
[10] Ibid., 19.
[11] R.C. Sproul, Chosen by God (Carol Stream, IL: Tyndale House Publishers, inc., 1986), 10.
[12] C. H. Spurgeon, “The Warrant of Faith” (Passadena, TX: Pilgrim Publications, 1978), 3.
[13] John MacArthur, audiotape, “The Love of God, part 05, Romans 9” (Grace to you, 90-81, 1995).
[14] John Calvin, Institutes of the Christian Religion, trans. Henry Beveridge (Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing Company, 1998 ed.), II: xvii, 1.
[15] Spurgeon, “The Warrant of Faith”, 3.
[16] Calvin, Institutes, III: iii.
[17] David J. Engelsma, “The Death of Confessional Calvinism in Scottish Presbyterianism”, The Standard Bearer, December 1, 1992, 103.
[18] David J. Engelsma, A Defense os Calvinism as the Gospel (The Evangelism Committee, Protestant Reformed Church, n. d.), 18.
[19] Homer Hoeksema, Reformed Dogmatics (Grandville, MI: Reformed Free Publishing Association, 1966), 464.
*Livro publicado no Brasil pela Editora Reflexão.*

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