A religiosidade humana é um fato incontestável, pois por mais remota que uma comunidade se situe esta religiosidade é manifestada, a religiosidade humana é algo inato e isto apenas demonstra o quanto Deus se revelou para ela. “Quando Deus criou o homem, por este mesmo fato estabeleceu uma relação natural entre Si e o homem.” (BERKOF, p.205). O Pr. Esaquias Soares ainda define que “Todo ser humano é religioso por natureza. O homem tem anseio pelas coisas de Deus e sente o desejo de busca-lo” (2011, p.126), podendo isto, ser constatado de fato através de pesquisas antropológicas “O povo Konkomba, de Gana, como exemplo dessa realidade, lista 34 nomes de divindade, sendo 11 delas oriundas de grupos vizinhos, como os povos Chakali e Nawri.” (LIGÓRIO, 2011, p.44). Outro exemplo que podemos citar é que:
A experiencia religiosa dos índios das planícies dos Estados Unidos era, tradicionalmente, muito intensa. Eles buscavam visões, a qualquer custo, chegando a cortar seus corpos ou a se dependurar por meio de cordas [...] A religião não é somente uma teologia ou um relacionamento de obediência ao Criador, mas também uma resposta emotiva, a qual é expressa com ritos, cerimônias, orações, sacrifícios e leis. (BURNS; AZEVEDO; CARMINATI, 1995, p.64).
Esta preocupação de Deus em revelar-se ao homem é constatada através desta experiencia identificada em toda humanidade, além disso a própria existência do homem é mais uma prova da revelação de Deus, ainda que alguém em sua particularidade não acredite nisto, esta revelação é estabelecida como verdade, não existe nenhum ser humano que não tenha a noção de que realmente exista um ser supremo, e que busque a Deus através de religiões e esta verdade está plantada dentro de todo ser que passou a existir à partir da vontade de Deus:
‘Portanto o que de Deus se pode conhecer’ (1.19). Indica que o conhecimento acerca de Deus é revelado na própria vida do homem, na natureza e em toda sua criação. Diz mais o texto: ‘neles se manifesta’ (1.19). É um fato inevitável no homem. Está manifesto na sua vida esse conhecimento. Confirma ainda mais o texto: ‘Porque Deus lho manifestou’ (1.19). Isto prova que o homem pode negar ou rejeitar esse conhecimento, mas não evitá-lo. (CABRAL, 1998, p. 35).
Entretanto, esta revelação dada para humanidade, não aconteceu somente através de sua Palavra ou do que chamaremos neste trabalho como a Revelação Especial, mas aconteceu muito antes, através da Revelação Geral que está também testemunhada nas páginas da Bíblia Sagrada ou naquilo que vamos chamar de Revelação Especial, ou seja, a Bíblia Sagrada testifica de que Deus buscou revelar sua existência, seu caráter e seu amor aos homens através de Suas obras: “Os céus revelam a Glória de Deus, o firmamento proclama a obra de suas mãos”. (Sl 19.1 KJA), dentre tantos outros textos que podem confirmar isto, ainda se pode observar concernente a tal revelação que:
O homem natural tem o conhecimento de Deus que vem pelas obras da criação e pela consciência, conforme o ensino em Romanos 1 e 2. Esse conhecimento de Deus é inescapável no homem. Não há como fugir dele. As marcas da presença e da existência da divindade estão indelevelmente presentes na consciência humana. O homem conhece a Deus, a si mesmo e o mundo como criação de Deus. Essa é a revelação objetiva de Deus a ele. (CAMPOS, 2017, p. 58, Vl. 01)
A Bíblia está repleta de textos que testemunham a favor desta revelação geral e afirma ainda que o próprio Deus plantou dentro do homem, observa-se mais um exemplo bíblico:
[...]pois o que é de Deus se pode conhecer é evidente entre eles, porque o próprio Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido observados claramente, podendo ser compreendidos por intermédio de tudo o que foi criado, de maneira que tais pessoas são indesculpáveis; (Rm 1.19,20)
Deus se deu a conhecer não por uma necessidade dEle mesmo, mas foi em favor da própria humanidade que Ele se revelou, pois Deus, como um ser Todo-Poderoso não tem qualquer necessidade que seja. Esta revelação aconteceu principalmente através de Seus atributos os quais ele compartilhou que, na teologia denomina-se de atributos comunicáveis, que foram distribuídos em toda Sua criação e revelou ao homem natural dando intelecto para que o homem pudesse compreender, até certo ponto, pois o conhecimento humano é limitado em tudo, enquanto Deus é um ser infinito.
O Deus criador de todas as coisas, aquele que é apresentado nas Escrituras como o que chama do nada tudo o que há à existência, aquele que se revela como o ser Tri-pessoal, único, perfeito, todo-poderoso, Senhor e governador do cosmos e de tudo que há, o Deus transcendente, aquele que habita em luz inacessível, o alpha e o ômega, o Deus vivo falou Deus quis se dar a conhecer, quis comunicar-se com o ser humano e condescendeu em falar como o homem em termos compreensíveis, verbalmente, em linguagem humana e também por meio de uma relação pessoal e pactual como a humanidade. (CAMPOS, 2017, p.10, Vl. 01)
Portanto, a revelação geral que Deus deu ao homem está dividida sob três aspectos, a saber: daquilo que chamamos de consciência humana, de natureza criada e da intervenção divina na história da humanidade. Isto ocorreu antes do conhecimento humano da revelação especial, que enquanto a revelação especial estava restrita a um único povo em determinada época, a humanidade em si, já tinha uma ideia da existência de Deus através da revelação geral e isso pode ainda ser constatado através de alguns códigos de condutas que foram formulados ao longo da história da humanidade como por exemplos o código de Hamirabi e os estatutos de Drácon, que buscaram prescrever uma série de leis e ditames que transmitiam um padrão de moralidade divina para a sociedade em suas respectivas épocas. Ao analisarmos esses códigos é inegável que o homem mantenha tenha um padrão moral que sirva como referencial de moralidade e conduta para a possibilidade de existência harmoniosa em sua consciência sem que haja a intervenção de um ser superior:
Se lermos as filosofias dos chineses, japoneses e indianos, haveremos de constatar: sob todas aquelas racionalizações, repousa a imagem de um ser que, ao criar o homem do pó da terra, insuflou-lhe na alma a noção de eternidade. O Criador, por conseguinte, jamais deixou de falar ao homem por meio de sua consciência, da natureza e do curso natural da história. (ANDRADE, 2006, p.45)
Portanto, um dos aspectos mais discutidos na história da humanidade, principalmente na filosofia foi a revelação natural de Deus se deu através da consciência humana, ou seja, daquilo que Deus mesmo plantou em todos os homens como característica de seu caráter universal e divino, ainda que alguns filósofos o tenham nomeado como o “primeiro motor”. Ainda podemos ver que esta revelação está assentada sob mais dois aspectos que discutiremos a seguir que são a revelação através da natureza como forma de manifestação do seu poder sobre todas as coisas criadas e no curso natural da história como se pode constatar através de Suas intervenções ao longo da história humana.
ANDRADE, Claudionor de. As verdades Centrais da Fé Cristã, CPAD, Rio de Janeiro, 2006, 270p.
BERKOF, Louis, Teologia Sistemática. PDF, 840p.
SOARES, Esequias. Manual de Apologética Cristã: Defendendo os Fundamentos da Autêntica Fé Bíblica. 5ª Impressão. Rio de Janeiro, CPAD, 2011, 380p.
LIGÓRIO, Ronaldo. Introdução à Antropologia Missionária. São Paulo, Vida Nova, 2011, 208p.
BURNS, Bárbara; AZEVEDO, Décio de; CARMINATI, Paulo Barbero F de. Costumes e Culturas: Uma Introdução à Antropologia Missionária. São Paulo, Vida Nova, 1995, 127p.
CABRAL. Elienai. Comentário Bíblico: Romanos, CPAD, Rio de Janeiro, 1998, 149 p.
CAMPOS, Heber Carlos de. Eu Sou: A Doutrina da Revelação Verbal de Deus. Volume 01, Fiel. São José dos Campos, São Paulo, 2017, 425p.
Por Rafael Félix.
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