sexta-feira, 10 de maio de 2019

O HOLOCAUSTO – (UM CRIME QUE JAMAIS SERÁ ESQUECIDO) – PARTE 3


Passei a semana toda lendo livros sobre “O Holocausto dos Judeus”, e como eu já havia dito em artigos anteriores, existem diversos livros bons sobre o assunto. A história que eu vou lhes apresentar agora foi extraída do livro: “Baú de Lágrimas – O Diário Secreto do Holocausto” escrito por “Nonna Bannister”. Por favor! Leia até o final.
A PEQUENA “SARAH”
“Esta história horrível, que bloqueei da minha cabeça por tantos anos, subitamente é relembrada juntamente com as outras lembranças que agora vêm à tona uma por uma.”
No dia 11 de agosto de 1942, estávamos na Polônia, e nosso trem fez uma parada para irmos ao mato vizinho. Havia outro trem, que estava indo na direção oposta, que parou nos trilhos próximos. O trem estava carregado de judeus que estavam sendo levados para um dos campos de extermínio. As pessoas estavam deploráveis; vestiam trapos e pareciam não ver comida há muito tempo. Algumas delas pareciam esqueletos humanos – estavam tão magras que tinham a aparência de morte! Os homens da SS e os soldados alemães haviam descarregado todas as pessoas do nosso trem para ir ao mato e usar o banheiro. Os soldados alemães estavam de guarda com muitos cães, que usavam para perseguir qualquer um que tentasse escapar. Esses cães haviam sido treinados para atacar e matar sob as ordens dos soldados.
Depois de os alemães terem recolocado as pessoas no nosso trem, todos estavam olhando para o trem carregado de prisioneiros judeus. Era muito triste ver as condições dessas pessoas. Nosso trem começou a se mover muito lentamente. Eu estava feliz por estar se movendo, porque o que acabara de ver me deixara muito enjoada. Os judeus não pareciam humanos, mas eram mais como esqueletos cobertos com uma pele cinza esverdeada; seus olhos pareciam ser muito grandes e ficavam olhando para nós. Mãos magras – muito magras – se esticavam na direção de nosso vagão, implorando por comida, e as pessoas estavam fazendo sons que mal chegavam a um suspiro. Havia mãos pequeninas de crianças pequenas e mãos velhas de idosos e idosas, implorando por pão ou qualquer coisa para comer. Nas laterais dos vagões, que estavam lotados como latas de sardinha com essas pessoas judias, havia estrelas judaicas pintadas com muito desleixo – dava para sentir que essas estrelas haviam sido pintadas com muito ódio e nojo.
Mamãe e eu nos aproximamos da porta aberta de nosso vagão, na esperança de tomar um pouco de ar fresco. De repente, havia uma menina correndo ao lado do nosso vagão – ninguém sabia de onde tinha aparecido. Ela tinha uma expressão de terror nos olhos e seus braços seguravam um pequeno embrulho. Seu cabelo preto estava flutuando ao vento, e ela era tão magra que dava para ver seus ossos salientes no pescoço e nos ombros. Ela arremessou o embrulho para mamãe e, antes de percebermos o que havia acontecido, mamãe ficou parada com o embrulho nas mãos – e ouvimos um bebê chorar! A moça ainda estava correndo ao lado do nosso vagão. Ela gritou “Por favor, oh, por favor, salvem meu bebê – por favor, deem a ela um nome russo!”.
Nessa hora, o trem começou a acelerar, mas ainda podíamos ver a menina parada junto aos trilhos com as mãos cobrindo seu rosto, e ela estava chorando. O resto das mulheres no nosso vagão cercou a mim e mamãe, paradas ali sem poder acreditar e em choque, observando o bebê. Tudo aconteceu tão rápido que passou um tempo até que nos déssemos conta do que acabara de acontecer.
Por horas, todo tipo de insulto foi trocado entre as mulheres. Algumas estavam do lado de mamãe e resolveram inventar uma história para contar aos alemães sobre como o bebê apareceu – “podemos dizer aos alemães que, quando voltamos ao nosso vagão, o bebê já estava aqui” – e esconder a verdadeira história de que o bebê havia sido atirado para nós por uma menina judia. Outras sugeriram que contássemos aos alemães que uma mulher polonesa havia deixado o bebê conosco e nos pediu para leva-lo até a Alemanha. Era óbvio, para todas nós, que tínhamos de esconder o fato de que o bebê era judeu. Era a única maneira de salvá-lo. Discutimos isso por horas enquanto nosso trem continuava se movendo e sabíamos que, em breve, estaríamos nos aproximando da fronteira com a Alemanha.
Algumas mulheres ficaram emocionadas por estarem participando do salvamento da vida de um bebê. Porém, outras não queriam tomar parte, porque talvez fossem expostas ao perigo. Poderíamos ser punidas pelo que estávamos tentando fazer e até ser transferidas para os trens dos judeus, que estavam indo para os campos de concentração. Não haveria escapatória se isso acontecesse e ninguém realmente sabia o que aconteceria quando os alemães encontrassem o bebê. Não havia maneira possível de alguém no nosso trem ter tido esse bebê, já que fomos minuciosamente examinadas antes de sermos embarcadas. Todas passamos por exames médicos.
As mulheres começaram a se revezar para segurar o bebê, e começamos a chamá-la de Sarah. Mas mamãe ainda insistia que a chamássemos de Taissia, que era o nome da minha irmãzinha. Ela morreu com apenas três dias de vida. Taissia era um nome russo, e o bebê poderia ter uma chance melhor de sobreviver se tivesse um nome russo do que ser chamado de Sarah.
O bebê estava chorando, e sabíamos que tínhamos que encontrar um meio de alimentá-la, mas não tinha jeito. Não tínhamos leite nem nada em que colocar líquidos. Algumas das mulheres tentaram amamentá-lo, mas era impossível. Achamos que, se conseguíssemos manter o bebê quieto até a próxima parada, uma de nós poderia levá-lo até o mato perto da estrada e deixá-lo ali com uma nota escrita em polonês, fazendo parecer que uma polonesa o havia abandonado lá. Depois, talvez algum polonês encontraria o bebê e o adotaria, ou pelo menos cuidaria dele. Todas estavam tentando pensar em uma ideia para lidar com essa situação.
Porém, havia uma jovem mulher no nosso vagão que se recusava absolutamente a concordar com qualquer coisa. Seu nome era Dunja – vinha da mesma cidade que eu e mamãe. Ela ficava dizendo que contaria a história toda aos alemães e não ajudaria de jeito nenhum a proteger ou salvar uma zydowka (uma menina judia), mesmo que fosse apenas um bebê. Ela não concordava com as nossas ideias – a única que queria salvar era ela mesma. É claro que todas estavam preocupadas com ela – principalmente mamãe, já que Dunja dirigia todas as ameaças a ela.
De repente, de um jeito inesperado, nosso trem começou a desacelerar no meio dos campos e estava parando. O bebê estava chorando, e ficamos totalmente aterrorizadas. Os soldados alemães pularam dos vagões da frente e correram pelos vagões gritando “Raus! Raus!”. Havia um caminhão repleto de soldados alemães na estrada à frente, e soubemos imediatamente que eram homens da SS. Tentei ouvir os alemães e descobrir o que estavam dizendo para saber o que estava acontecendo.
Parecia que estávamos nos aproximando das terras alemãs, e isso era uma inspeção de todos os vagões e passageiros. Os alemães queriam se certificar de que não haviam judeus sendo levados clandestinamente para fora da Polônia. Olhei para trás, vi mamãe segurando a bebê “Sarah” em seus braços e fui tomada por terror novamente. E agora? Mas não tivemos que esperar muito tempo para descobrir, pois o bebê soltou um choro e o soldado alemão que ordenou para sairmos no vagão olhou para nós incrédulo.
Antes que alguém pudesse dizer alguma coisa, Dunja gritou: 
– É um bebê judeu, a mulher judia jogou-o no nosso vagão na última parada!

Ela não conseguiu dizê-lo muito bem em alemão, mas foi o suficiente para o soldado alemão entender. Ele fez sinal para os outros soldados, que correram até nós. Mamãe abraçou o bebê com muita força e não soltava enquanto o soldado alemão tentava levá-lo. Comecei a implorar para que mamãe desse o bebê para ele antes que usasse a força. Por fim, outro soldado agarrou mamãe pelos ombros, e o soldado alemão levou o bebê.
O soldado entregou o bebê para um homem da SS, que o levou embora - segurando seu corpo com uma mão e deixando-o pendurado. Mamãe desabou a chorar e, com terror no coração, observei o homem da SS levar a criança para o caminhão. Ele levantou um dos joelhos e, com um rápido movimento, quebrou o corpo do bebê contra o seu joelho. Não ouvi mais o bebê chorar e, quando tentei me mexer, não consegui. Sentia o sangue saindo da minha cabeça e estava me sentindo tonta e enjoada. Quando me dei conta, estava na porta do vagão, vomitando violentamente. Mamãe estava ajoelhada ao meu lado e dizia sem parar:
– Mataram minha Taissia, meu querido bebê!
Percebi que ela ainda estava em choque, coloquei meus braços em volta dela e a abracei com muita força.
(BANNISTER, 2013, pp. 37-45) – Formato digital ePub.
Por Nivaldo Gomes.

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