terça-feira, 11 de junho de 2019

CALVINISTAS, ANTIGOS (COERENTES) e MODERADOS

Todas as variações do calvinismo enfatizam o aspecto da soberania de Deus. Porém, os antigos ou coerentes calvinistas chegaram às doutrinas calvinistas sob sua forma mais extremada, reduzindo o homem a um robô; e, para todos os efeitos práticos, fazem Deus ser a causa do mal, visto ser Ele a única causa, na teologia. Naturalmente, esses calvinistas antigos também ensinam a reprovação ativa, e assim reduzem a missão de Cristo apenas a alguns poucos, muito aquém da ampla visão do Novo Testamento. Ver I Ped. 3:18-4:6 e Efé. 1:10 no NTI, onde se descortina a visão mais ampla do intuito da missão de Cristo. Os calvinistas moderados, por sua vez, defendem a ideia da reprovação passiva, e de causas secundárias dentro de - meios divinamente determinados. Os princípios do calvinismo moderado prevalecem entre os evangélicos calvinistas, como na Teologia de New Haven (que vide). Ver também sobre a Teologia da Nova Inglaterra. (E).
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JOÃO CALVINO
Suas datas foram 1509-1564. Teólogo protestante francês, líder eclesiástico e denominacional. Nasceu na Picardia, e estudou filosofia na Universidade de Paris, entre 1523 e 1527. Também estudou em Orleães e Bourges. Era uma pessoa dotada de mente brilhante, e um estudante extremamente diligente. Teodoro Beza, seu biógrafo, informa-nos que ele era um critico severo das falhas dos seus colegas estudantes. Mas a lenda de que ele foi apelidado de Caso Acusativo, por seus colegas, por causa de seu espírito censurador, não pode ser traçada até antes de 1633, pelo que, provavelmente, foi-lhe dado posteriormente, embora reflita um fato histórico de sua vida. A despeito de sua austeridade, ele tinha um circulo de amigos fiéis, antes mesmo de sua conversão ao protestantismo, e vários deles continuaram sendo seus amigos, a despeito da separação religiosa. No começo de 1528, ele recebeu grau de mestre em teologia; mas então deu inicio ao estudo da advocacia, em Orleães. Essa não era uma idéia propriamente sua, mas de seu pai, pois Calvino nunca se sentiu atraído pela advocacia. O falecimento de seu pai, em 1531, deixou-o livre para tomar suas próprias decisões. Terminou seu curso de direito, mas dedicou-se à linguagem (grego, latim, hebraico) e à literatura. Sua primeira publicação independente foi um comentário sobre a obra de Sêneca, De Clementia, Essa obra mostra-nos que ele havia obtido considerável habilidade nos clássicos.
Em 1557, ele passou por súbita conversão, embora haja bem pouca descrição a esse respeito na literatura que chegou até nós. Em seu Comentário sobre os Salmos, diz Calvino: «Visto que eu estava mais teimosamente preso às superstições do papado do que me era possível desvencilhar-me de tão profundo lamaçal, Deus subjugou o meu coração da obstinação de minha idade para a docilidade de uma súbita conversão". Não vendo esperança de reforma em Paris, mudou-se para Basel, na Suíça, onde escreveu e
publicou suas Institutas, em 1536. Dali mudou-se teocracia. Havia uma completa mistura de Igreja e estado, e regras rígidas e ferozes governavam toda vida e pensamento. Ofensas como jogos de azar, alcoolismo e até mesmo danças ou o uso de linguagem irreverente eram severamente punidas. No começo, houve oposição a Calvino, e sua posição não era muito segura. Porém, por volta de 1555, ele já havia obtido uma vitória permanente. Houve vítimas de sua duríssima liderança. Ao humanista Sebastião Castellio, professor, foi recusada a admissão ao ministério, por causa de certo ponto de vista que expressara em seu comentário sobre Cantares de Salomão. Finalmente, Castellio deixou Genebra. Jaques Gruet foi decapitado, acusado de blasfêmia. Jerônimo Bolsec, que havia feito oposição à rígida doutrina da predestinação, de Calvino, foi banido. O renomado antitrinitariano, Miguel Serveto, foi queimado na fogueira em 1553. Calvino e Serveto se haviam correspondido, debatendo diversos pontos. Calvino dera ordens para deter Serveto, se viesse a Genebra, já sabendo que ia o matar, se pudesse. Ele preferiu morte à espada, mas o conselho que julgou a Serveto ansiava por mostrar-se ainda mais feroz que seu mestre. Castellio escreveu um tratado contra a perseguição, mas sua voz perdeu-se em meio a gritos pedindo sangue. Calvino defendia a pena de morte para os hereges. Ele era conhecido por suas explosões de ira, que ele mesmo denominava de “a fera".
Portanto, novamente temos o duo: Grandes homens, grandes vicios. A reputação de Calvino muito sofreu, e com justiça, por seu envolvimento nas execuções capitais e banimentos. Podemos dizer que ele foi um produto e uma vitima de sua época, mas o homicídio continua sendo homicídio, e o apóstolo Paulo não se sentia muito bem por haver praticado a violência, antes de sua conversão. Infelizmente, Calvino continuava a agir violentamente, mesmo depois de sua conversão.
Quando consideramos que a lei do amor é a grande prova da espiritualidade (I João 4:7), ficamos perplexos diante do fato de que judeus, cristãos ou mesmo protestantes, dedicam-se a perseguir, prejudicar ou matar ao próximo, em nome de Deus.

Oh, Deus, que carne e sangue fossem tão baratos,
Que os homens odiassem e matassem,
Que os homens silvassem e cortassem os outros,
Com línguas de vileza... por causa de ...
«Teologia».
Russell Champlin

Por outra parte, a contribuição de Calvino à erudição bíblica e à reforma religiosa é algo que não pode ser negado. Eu mesmo já li o comentário de Calvino sobre o Novo Testamento, de capa a capa, e posso testificar sobre o poder de sua expressão, sobre a utilidade e proveito de suas idéias, sobre a dedicação do seu espírito. Através de seus escritos resplandece um grande intelecto: mas, desafortunadamente, não com pouca freqüência, vemos a fera em suas disposições, sempre em busca de vitimas. Os conflitos, as contendas e o trabalho árduo cobraram um alto preço. Na casa dos quarenta, Calvino foi assaltado por uma série de dolorosas enfermidades, que solaparam a sua vitalidade. A despeito disso, ainda por certo número de anos, ele continuou trabalhando em suas Institutas, que terminaram sendo cinco vezes mais volumosas do que quando foram publicadas pela primeira vez, em 1536. Além dessa obra, temos o seu comentário sobre o Novo Testamento, uma obra clássica que tem sido traduzida para outros idiomas, sem falar em seus muitos tratados e panfletos. Calvino faleceu a 27 de maio de 1564.
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João Calvino e os exemplos inquisitoriais
A Intolerância

A vida de João Calvino nos faz meditar sobre o vexatório problema da intolerância, da perseguição e do ódio entre cristãos. Um dos mais consternadores fatos da história eclesiástica é aquele de como cristãos perseguiram e mataram a outros cristãos por motivos de «teologia». Apresento aqui três exemplos comprobatórios:
1. A Inquisição. Tenho preparado um artigo separado sobre esse assunto, (ver Inquisição), pelo que não repito aqui o material. Basta dizer que esse movimento criou, promoveu e executou quarenta mil casos de perseguição. Encarceramento, banimento e execução capital. A chamada Santa Inquisição foram quatrocentos e cinqüenta anos de terror. Em termos de torturas, Hitler não passava de um aprendiz, comparado aos padres do Santo Oficio.
2. João Calvino. Quero referir-me agora a um deplorável caso de exemplo ao contrário. Antes que eu termine esta seção. O leitor compreenderá o sentido de minha ilustração. Todos já temos ouvido falar sobre o lado bom da vida e da obra de João Calvino. Quando eu ainda estava na fase do meu treinamento teológico. Calvino era para mim um grande herói. Meu primeiro filho recebeu o nome de Calvino Tiago, em inglês. Calvin James. Parecia-me que esse era um nome difícil para meu filho viver à altura de sua fama. Porém, lamento dizer que há um lado tremendamente negativo na vida de João Calvino. As fontes informativas do que aqui digo são enciclopédias e histórias eclesiásticas (três volumes do professor Kurtz, um historiador luterano cuja obra, por muitas décadas, foi a obra padrão de história eclesiástica, usada nas universidades alemãs). Preciso informar ao leitor, desde o começo, que tenho lido o comentário de Calvino sobre o Novo Testamento de capa a capa, tendo extraído dali muitas citações úteis, enriquecendo o meu comentário (O Novo Testamento Interpretado). Há na obra de Calvino muita coisa boa. Infelizmente, também há um lado negro.
Todos conhecemos bem a história de como Serveto foi executado na fogueira, em Genebra, na Suíça, porquanto negava a doutrina da Trindade. O que o leitor talvez desconheça é que a captura dele foi planejada e executada por Calvino, com o propósito
Especifico de executá-lo. Calvino não enviou homens que apreendessem a Serveto, mas baixou uma ordem para que fosse detido, se ao menos chegasse perto de Genebra. Calvino pareceu misericordioso. Queria decapitar Serveto. Mas os discípulos dele foram
mais entusiastas. E executaram Serveto na fogueira. Triste relato, mas apenas um dentre muitos.
Kurtz revela para nós que houve muitas vítimas de Calvino. Entre os anos de 1542 e 1546 (apenas quatro anos), - embora Genebra contasse com uma população de apenas vinte mil pessoas, houve nada menos de cinqüenta e sete execuções capitais, sessenta e seis banimentos e um número incalculável de encarceramentos, tudo por motivos religiosos. Tais pessoas não eram criminosos civis. Tão somente eram indivíduos que discordavam de uma ou de outra das doutrinas ensinadas por Calvino. Ele usava textos de prova do Antigo Testamento, para encontrar autorização para as suas matanças. Convenientemente ignorava textos neotestamentários como Lucas 9:54, 56, que nos mostra qual o espírito da pessoa que se envolve em tais coisas. Assim, Jacques Gruet foi decapitado. Jerônimo Bolsec foi encarcerado e então banido. Sebastião Castellio, que era diretor do sistema escolar de Genebra, foi banido por duas razões: primeira. Ele objetava às execuções e aos encarceramentos; em segundo lugar, ele objetava à interpretação dada por Calvino sobre a história da descida de Cristo ao hades. Calvino dizia que Cristo pregara a condenação no hades, contradizendo a passagem de I Pedro 4:6. Castellio teve de se retirar de Genebra e foi ensinar grego na Bailéia. Kurtz ajuntou que esse período foi «um reinado inquisitorial de terror» (vol, 3, pág. 304). Calvino era conhecido por suas explosões de fúria, que ele chamava de sua «fera».

Fonte:
CHAMPLIN, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol I. São Paulo: Hagnos, 1991, p. 607-607.

By Walson Sales.

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