terça-feira, 25 de junho de 2019

O Conceito de Conhecimento Médio segundo Luis de Molina


Por Kirk R. MacGregor
Continuação.....
Nesse ponto, os contemporâneos de Molina estavam aptos a questionar os meios precisos pelos quais Deus discerne seu conhecimento médio. Embora o argumento acima, se bem sucedido, mostra que Deus tem conhecimento médio, mesmo que nunca possamos conhecer ou entender os meios pelos quais ele o possui, Molina propôs uma resposta: supercompreensão, a saber, “uma compreensão absolutamente profunda e absolutamente preeminente”.[60] Para entender essa resposta, devemos primeiro observar que, no modelo conceitualista da cognição divina de Molina, Deus conhece todas as verdades que são independentes de sua vontade e onipotência (ou seja, as verdades que ele apreende em seu conhecimento natural e médio) simplesmente por virtude de sua natureza. Esse conhecimento inato engloba a supercompreensão, que Molina constrói como a capacidade intelectual ilimitada de Deus de perceber infinitamente, dentro de sua própria mente, a essência individual (ou padrão) de todas as coisas possíveis que ele poderia criar. Lembre-se do capítulo 2 que, para Molina, essas essências individuais não existem independentemente de Deus nem fora de Deus, mas apenas como projetos dentro da mente de Deus. Em outras palavras, essas essências individuais são apenas o produto da imaginação de Deus - padrões mentais ou projetos para coisas que ele conhece em sua infinita criatividade e talento artístico que ele poderia criar, se quisesse.
Daí vemos imediatamente que Deus não obtém nenhum conhecimento das criaturas que poderiam ou seriam criadas a partir desses padrões ou projetos.[61] Em vez disso, Molina insistiu que o conhecimento de Deus vem unicamente das essências individuais (os padrões ou projetos) em si, que só existem como os pensamentos da própria mente de Deus. Em resumo, “Deus não obtém Seu conhecimento das coisas, mas conhece todas as coisas em Si mesmo e de Si mesmo”.[62] Assim, para Molina, todo o conhecimento de Deus é autocontido, uma doutrina que se reduz à aseidade - a absoluta auto-existência, auto-suficiência, independência e autonomia - de Deus.[63] Uma vez que cada essência individual é o produto da imaginação divina, e Deus compreende perfeitamente sua própria imaginação, segue para Molina que Deus pode infinitamente perceber cada essência. Esta percepção infinita inclui saber o que cada essência, se instanciada, faria (livremente no caso das essências libertárias, aleatoriamente no caso das essências estocásticas, e deterministicamente no caso de outras essências) em qualquer conjunto possível de circunstâncias em que ela existiu.[64] Como Molina declarou no caso das essências libertárias:
Em Si mesmo [Deus] compreende todas as coisas que existem eminentemente Nele e, portanto, a livre escolha de qualquer criatura que Ele é capaz de criar através de Sua onipotência. Portanto, antes de qualquer livre determinação de Sua vontade, em virtude da profundidade do Seu. . . conhecimento, pelo qual Ele infinitamente sobrepuja cada uma das coisas que Ele contém eminentemente em Si mesmo, Ele discerne o que a livre escolha de qualquer criatura faria por sua própria liberdade inata, devido a hipótese de que Ele deveria criá-la nesta ou naquela ordem de coisas, com estas ou aquelas circunstâncias ou ajudas - mesmo que a criatura pudesse, se quisesse, abster-se de agir ou fazer o contrário, e mesmo que fosse fazer assim, como é capaz de fazer livremente, Deus preveria esse próprio ato e não aquele que Ele de fato prevê que seria realizado por essa criatura.[65]
Então, logicamente antes de sua escolha de criar qualquer coisa, o Designer conhece todos os seus designs ou padrões não-atualizados de possíveis indivíduos (dos quais uma pequena minoria seria atualizada) tão perfeitamente bem para saber como cada um (se possuindo liberdade libertária) se comportaria livremente em qualquer estado de coisas se ele procedeu a criá-lo.
Aqui nós detectamos uma refutação adicional da objeção de fundamento, como podemos dizer que Molina fundamentou o conhecimento médio na capacidade cognitiva de Deus para compreender perfeitamente sua própria aptidão criativa e poder. Como Molina declarou a respeito de Deus, “Assim, o que era em si mesmo incerto [contrafactuais de liberdade das criaturas] Ele sabia com certeza, uma certeza que se originou não do objeto, mas da perspicácia e perfeição absoluta de seu intelecto.”[66] De fato, Molina declarou que,
seria um insulto à profundidade e perfeição do conhecimento divino - e, na verdade, ímpio e nada compatível com uma compreensão tão grande da livre escolha de cada criatura - afirmar que Deus é ignorante do que eu teria feito pela minha liberdade de escolha (i) se Ele tivesse me criado em alguma outra ordem de coisas, ou (ii) se, nesta mesma ordem de coisas em que Ele me criou, Ele decidiu conferir-me mais ou menos ajudas do que de fato decidiu me dar, ou (iii) se Ele tivesse me concedido uma vida mais longa ou me entregado a tentações mais sérias. Assim, segue-se que, mesmo antes de criar qualquer coisa por Seu livre-arbítrio, Ele conhecia todos os futuros contingentes com certeza . . . não absolutamente falando, mas sim na hipótese de que Ele mesmo deveria decidir criar essa ou aquela ordem das coisas com essas ou aquelas circunstâncias. . . . Portanto, Deus não precisa da existência dessas coisas em Sua eternidade para conhecê-las com certeza.[67]
Aqui devemos destacar a clara distinção que Molina fez entre certeza e necessidade. Para Molina, a certeza é um atributo das pessoas e não tem relação com a verdade ou falsidade das proposições. Isso é evidente pelo fato de que uma pessoa pode estar absolutamente certa de que alguma proposição é verdadeira e acaba sendo falsa. Então, dizer que Deus conhece algo com certeza é apenas afirmar que Deus tem certeza de que alguma proposição é verdadeira. Não é para colocar qualquer tipo de restrição no valor de verdade da proposição. Por contraste, necessidade é uma restrição lógica realizada por algumas proposições que as proíbe de possivelmente serem falsas.[68] Para ilustrar, um teorema matemático pode ser necessariamente verdadeiro, o que significa que é logicamente impossível que o teorema seja falso.[69]
Molina foi rápido em enfatizar que Deus conhece o conteúdo de seu conhecimento médio com certeza e não com necessidade.[70] Em outras palavras, Deus tem certeza de que seu conhecimento médio é verdadeiro, mesmo sabendo que seu conhecimento médio poderia ter sido diferente do que de fato é. Muito do que Deus conhece através de seu conhecimento médio é contingente, não necessariamente, verdadeiro, de tal forma que não há nada para compelir ou torná-lo logicamente verdadeiro. O fato de que Deus conhece seu conhecimento médio com certeza de modo algum determina que as contrafactuais de liberdade das criaturas sejam verdadeiras, mais do que o nosso conhecimento das contrafactuais de liberdade das criaturas sobre outras pessoas determina que essas contrafactuais sejam verdadeiras. Por exemplo, sei com certeza que, se eu oferecesse à minha esposa um copo de [refrigerante] Dr. Pepper e um copo de Pepsi, ela escolheria o copo de Dr Pepper. Mas a certeza do meu conhecimento desta contrafactual não determina que seja verdade; a contrafactual é tão contingente quanto se eu não tivesse nenhum conhecimento sobre nada disso. Obviamente, meu conhecimento não a obriga a escolher o copo de Dr. Pepper se eu a colocasse na posição de ter que fazer a escolha entre as duas bebidas. Exatamente da mesma maneira, Molina declarou que a certeza do conhecimento médio de Deus não torna verdadeiras as contrafactuais de liberdade das criaturas, e o conhecimento médio de Deus não obriga as criaturas livres a escolher de maneiras específicas se Deus colocasse as criaturas na posição de ter que fazer várias escolhas.
Em vista desse insight, Molina foi capaz de oferecer um relato da presciência divina que não leva ao fatalismo. Pois quando Deus converte seu conhecimento médio de certas proposições em presciência, ao decidir criar as circunstâncias assumidas por essas proposições, essa presciência não compele as criaturas livres ou processos estocásticos para que as coisas que ele conhece com certeza, aconteçam; eles ainda poderiam fazer o contrário. Nas palavras de Molina, “é uma presciência que não impõe nenhuma necessidade. . . sobre coisas futuras, mas as deixa incertas em si mesmas e em relação às suas causas, como seriam se não houvesse tal presciência.”[71] Resumindo, Molina insistiu que o conhecimento não é causalmente determinativo. Ou seja, o conhecimento de Deus do que uma pessoa faria em algum conjunto de circunstâncias não exerce nenhum poder causal sobre a pessoa agir como Deus conhece, assim como o conhecimento humano do que outros humanos fariam não exerce nenhum poder causal sobre suas escolhas.
RESUMO DO DESENVOLVIMENTO DO CONHECIMENTO MÉDIO
A doutrina do conhecimento médio de Molina foi formulada através da conjunção da infalibilidade bíblica e inferência lógica. Um firme defensor da infalibilidade bíblica, Molina acreditava que a exegese literal (hoje diríamos histórico-gramatical) de várias passagens exigia que os humanos tivessem liberdade libertária e que Deus possuísse conhecimento contrafactual. A questão para Molina era como essas verdades poderiam ser harmonizadas umas com as outras. Para responder a essa questão, Molina recorreu à inferência lógica. Logicamente, Deus deve ter primeiro apreendido seu conhecimento contrafactual antes ou depois de seu decreto criativo. Mas como Molina (assim como Lutero e Calvino) viram, se Deus apreendeu seu conhecimento contrafactual após seu decreto criativo, isso obliteraria a liberdade humana libertária, bem como seria Deus quem teria determinado o que cada pessoa faria em qualquer conjunto de circunstâncias possíveis. Já que os humanos, de acordo com as Escrituras, têm liberdade libertária, segue por reductio ad absurdum (isto é, prova por contradição) que Deus apreendeu seu conhecimento contrafactual antes de seu decreto criativo. Daí o conhecimento contrafactual de Deus do que as essências individuais fariam em qualquer conjunto de circunstâncias, logicamente, situa-se entre, ou no meio, do que as essências individuais poderiam fazer em qualquer conjunto de circunstâncias (conhecimento natural) e o que aquelas essências individuais que Deus escolheu atualizar farão nas circunstâncias que compõem o mundo real (conhecimento livre). (O que as criaturas fariam em possíveis circunstâncias é logicamente dependente do que elas poderiam fazer nessas circunstâncias, e o que as criaturas farão nas circunstâncias reais é logicamente dependente do que elas fariam se certas circunstâncias possíveis fossem feitas de fato.) Portanto, Molina chamou o conhecimento contrafactual de Deus de conhecimento médio.
Molina afirmou que o conhecimento médio de Deus estava fundamentado em sua onisciência e apreendido por meio de sua supercompreensão. Porque o conhecimento, divino ou humano, do que alguma outra criatura livre faria de modo algum causa a criatura a fazer, Molina sustentava que o conhecimento médio (e o conhecimento livre) tornava o fatalismo impossível. Com base no seu modelo não fatalista ou indeterminista das escolhas humanas e dos processos aleatórios, Molina apresentou um relato provocativo da providência divina, cujos detalhes vamos desmembrar no próximo capítulo.
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Fonte:
MacGregor, Kirk R. Luis de Molina: The Life and Theology of The Founder of Middle Knowledge. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2015, pp. 79-105.
Tradução Walson Sales.
[Nota do tradutor: este texto foi traduzido com a intenção primária de enriquecer o debate teológico no Brasil e de buscar editoras que se interessem em adquirir os direitos autorais da obra em tela para publicá-la no Brasil em sua totalidade].
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Notas de rodapé:
1. William Lane Craig, The Only Wise God: The Compatibility of Divine Foreknowledge and Human Freedom (Grand Rapids: Baker, 1987), 127. [Livro publicado no Brasil em 2016 pela Editora Sal Cultural com o título: O Único Deus Sábio].
2. Apenas o livro 4 (De Praescientia Dei) dos sete volumes da Concórdia foi traduzido para o inglês. Esta tradução foi feita muito habilmente por Alfred J. Freddoso com o título On Divine Foreknowledge (Ithaca, NY: Cornell University Press, 1988).
3. Ludovici Molina, Commentaria in primam divi Thomae partem (Venice, 1602), 14.13.14; idem, Foreknowledge, 4.14.13.49.9; 4.14.13.53.10.
4. Molina, Foreknowledge, 4.14.13.49.9.
5. Molina, Commentaria, 14.13.16, 38.
6. Kirk R. MacGregor, A Molinist-Anabaptist Systematic Theology (Lanham, MD: University Press of America, 2007), 43.
7. Molina, Commentaria, 14.13.14; idem, Liberi Arbitrii cum Gratiae Donis, Divina Praescientia, Providentia, Praedestinatione et Reprobatione Concordia, ed. Johannes Rabeneck (Madrid: Sumptibus Societatis Editorialis “Sapientia,” 1953), 1.14.13.9; 7.23.4/5.1.4.13; 7.23.4/5.1.11.41.
8. Molina, Foreknowledge, 4.14.13.49.9.
9. Friedrich Stegmüller, ed. e trad., Geschichte des Molinismus: Neue Molinaschriften 1, Beiträge zur Geschichte der Philosophie und Theologie des Mittelalters 32 (Münster: Aschendorffschen, 1935), 430, 440, 481; cf. Molina, Concordia, 1.14.13.1.20, onde ele acusou que "Calvino persiste no erro de Lutero (Calvinus in errore persistit Lutheri).”
10. Molina, Concordia, 1.14.13.7.4; 1.14.13.23.1.3.
11. Molina, Commentaria, 22.1.
12. Ibid., 14.13.19.5.
13. Molina, Foreknowledge, 4.14.13.52.8. Além dos textos citados por Molina, William Lane Craig aponta vários outros exemplos de conhecimento contrafatual nas Escrituras: “De fato, quando interpretamos certas profecias como advertências contrafatuais, em vez de declarações categóricas de presciência simples, podemos explicar como é que em Israel o teste de um verdadeiro profeta é o cumprimento de suas predições (Deuteronômio 18:22) e ainda algumas predições dadas por verdadeiros profetas não acontecem de fato porque o povo advertido respondeu de maneira apropriada (Is 38: 1 - 5; Amós 7: 1-6; Jonas 3: 1-10). Em tais casos, a profecia de Deus era um conhecimento contrafatual do que aconteceria sob as circunstâncias prevalecentes; mas esses indivíduos responderam em orações de intercessão ou arrependimento, então Deus não executaria o que havia sido ameaçado. Encontramos também o conhecimento contrafatual exibido por Cristo. Por exemplo, ele diz a Pedro: " Mas, para que os não escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir, e abrindo-lhe a boca, encontrarás um estáter; toma-o, e dá-o por mim e por ti”. (Mateus 17:27). Essa passagem é mais naturalmente entendida como uma expressão do conhecimento de Jesus de que, se Pedro cumprisse as instruções de Jesus, encontraria as coisas como o Senhor predisse. Mais uma vez, Jesus ordena aos discípulos, após uma noite fútil de pesca, "E ele lhes disse: Lançai a rede para o lado direito do barco, e achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam tirar, pela multidão dos peixes.” (João 21:6). A captura milagrosa que se seguiu mostra que Jesus sabia exatamente o que aconteceria se os discípulos obedecessem ao seu comando. Às vezes, Jesus faz declarações contrafatuais. . . . "Ai daquele homem por quem o Filho do homem é traído! Bom seria para este homem se não houvera nascido.” (Mateus 26:24) (William Lane Craig, “The Middle-Knowledge View,” em James K. Beilby e Paul R. Eddy, Divine Foreknowledge: Four Views [Downers Grove, IL: InterVarsity, 2001], 124).
14. Reinhold Seeberg, Text-Book of the History of Doctrine, 4 vols., trans. Charles E. Kay (Grand Rapids: Baker, 1956), 2:185.
15. Thomas Aquinas, Summa contra Gentiles, 1.66.4; idem, Summa Theologiae, trans. Fathers of the English Dominican Province (New York: Benziger Brothers, 1947), 1.14.5 – 8.
16. Harm J. M. J. Goris, Free Creatures of an Eternal God: Thomas Aquinas on God’s Infallible Foreknowledge and Irresistible Will, Thomas Instituut te Utrecht 4 (Leuven: Peeters, 1996), 274.
17. Aquinas, Summa Theologiae, 1.14.13.
18. MacGregor, Molinist-Anabaptist Systematic Theology, 19.
19. Ibid., 15.
20. Martin Luther, The Bondage of the Will, trans. James I. Packer and O. R. Johnston (Grand Rapids: Revell, 1957), 80 – 81.
21. Ibid., 217.
22. Ibid., 213.
23. John Calvin, Institutes of the Christian Religion, ed. John T. McNeill, trans. Ford Lewis Battles (Philadelphia: Westminster, 1960), 1.16.4, 8.
24. Neste ponto, Calvino afirmou "Que nada no mundo é realizado sem a determinação [de Deus]" (Institutas, 1.16.6).
25. Aqui Molina (Concordia, 1.14.13.23.33) declarou-se em total concordância com a posição do proeminente reformador Cisterciense medieval Bernardo de Clairvaux: “Bernardo afirma essa mesma liberdade de escolha em seu tratado On Grace and Free Will. Observe o local onde ele disse, entre outras coisas [11.33]: O Criador dotou sua criatura racional com essa prerrogativa de sua dignidade, que mesmo ele próprio sendo independente e controlador de sua própria vontade e, portanto, não sendo bom por qualquer necessidade, a criatura também foi feita controlador da sua própria vontade, a fim de que ele se tornasse mau apenas por sua vontade e, portanto, corretamente condenado, ou permanecesse bom por sua vontade e, com razão, fosse salvo. Não que a sua vontade sozinha pudesse ser capaz de alcançar a salvação, mas ele nunca teria a oportunidade de obter a salvação sem o seu consentimento. Ninguém é salvo a contragosto (Eandem arbitrii libertatem affirmat Bernardus in tractatu De Gratia et Libero Arbitrio. Quo loco inter alia ait: Hac dignitatis praerogativa rationalem singulariter creaturam conditor insignivit ut quemadmodum ipse sui iuris erat ita illa quoque suo quodammodo iuris in hac parte existeret, quatenus non nisi sua voluntate aut mala fierit et iuste damnaretur aut bona maneret et merito salvaretur. Non quod ei propria possit sufficere ad salutem voluntas, sed quod eam nullatenus sine sua voluntate consequerentur. Nemo quippe salvatur invitus).” Daí a recepção positiva de Bernardo no século XVI, que se demonstrou se estender a Lutero (Franz Posset, Pater Bernhardus: Martin Luther and Bernard of Clairvaux [Kalamazoo, MI: Cistercian Publications, 1999]), Calvin (Dennis E. Tamburello, Union with Christ: John Calvin and the Mysticism of St. Bernard [Louisville: Westminster John Knox, 1994]), e Balthasar Hubmaier (Kirk R. MacGregor, A Central European Synthesis of Radical and Magisterial Reform: The Sacramental Theology of Balthasar Hubmaier [Lanham, MD: University Press of America, 2006], 37 – 89), extendida a Molina também.
26. Craig, “Middle-Knowledge View,” 122.
27. Molina, Foreknowledge, 4.14.13.53.11; ênfase no original.
28. Ibid., 4.14.15.49.8, 11.
29. Ibid., 4.14.15.47.9. Molina não usou o termo moderno Estocástico, mas afirmou claramente o conceito que o termo significa.
30. Portanto, não há nenhum laço lógico ou causal entre as circunstâncias e o que as criaturas fariam livremente nelas. Dito de outro modo, Molina sustentou que existem fatos contingentes da seguinte espécie: para qualquer conjunto de circunstâncias C (onde C inclui toda a história do mundo até o momento da decisão), há alguma ação A tal que se um agente dotado de liberdade libertária L estivesse em C, L faria indeterministicamente A. Isto é verdade mesmo que C não tenha causado L fazer A ou feito L fazer A, e L poderia ter feito algo completamente diferente do que A em C.
31. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.49.13.
32. Ibid., 4.14.15.52.19; 4.14.15.53.2.22.
33. Ibid., 4.14.15.52.9.
34. Ibid., 4.14.15.53.3.2.
35. Ibid., 4.14.15.52.10. Em seu conhecimento médio, Deus não apreende verdades contrafatuais sobre o que ele mesmo faria em qualquer conjunto de circunstâncias, pois isso impediria que Deus pudesse fazer quaisquer escolhas livres sobre o que ele faria posteriormente. Todas as decisões subseqüentes de Deus seriam determinadas por seu próprio conhecimento médio anterior de si mesmo! Em outras palavras, Deus tendo conhecimento médio de si mesmo destruiria seu próprio livre-arbítrio, o que é impossível. Portanto, Molina afirmou que “assim como os seres humanos e os anjos não sabem, antes da determinação de suas próprias vontades, para que lado eles vão se virar. . . da mesma forma Deus também não sabe, antes de determinar a sua própria vontade, para que lado se voltará” (4.14.15.52.11). Voltaremos a este tópico no capítulo 6.
36. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.51.1, 17, 19.
37. Ibid., 4.14.15.50.15; ênfase no original.
38. Craig, Only Wise God, 131. É por isso que Molina explicou: “Portanto, deve-se dizer (i) que o conhecimento médio tem, em parte, o caráter do conhecimento natural, já que era anterior ao ato livre da vontade divina e porque Deus não tinha o poder de conhecer nenhuma outra coisa, e (ii) que tem em parte o caráter de conhecimento livre, já que o fato de que é conhecimento de uma parte e não da outra deriva do fato de que a livre escolha, na hipótese de que ela deveria ser criada em uma ou outra ordem de coisas, faria uma coisa em vez da outra, mesmo que indiferentemente fosse capaz de fazer qualquer uma delas” (Foreknowledge, 4.14.15.52.10; ênfase no original).
39. Consequentemente, Molina negaria qualquer caracterização de uma essência como um conjunto "bloqueado" de composição psicológica, escolhas, desejos e idéias, fixados antes de nosso nascimento e predeterminando nossas ações. Em vez disso, uma essência é simplesmente o "whatness" [o que algo simplesmente é] ou quiddity [essência] de alguma coisa, e para cada humano, essa quiddity inclui a liberdade libertária.
40. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.52.30; Craig, “Middle-Knowledge View,” 123.
41. Thomas P. Flint, “The Problem of Divine Freedom,” American Philosophical Quarterly 20, no. 3 (1983): 257.
42. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.52.13.
43. Ibid., 4.14.15.52.9.
44. Ibid., 4.14.15.53.3.
45. Ibid., 4.14.15.53.4.3. Isso está correto, avisou Molina, apenas se discutirmos estados positivos de coisas; se a avaliação for estendida a estados negativos de coisas, afirmaremos que Deus possui um conhecimento livre composto inteiramente de proposições negativas (por exemplo, "Não haverá mundo real", "Pedro nunca existirá" e coisas semelhantes).
46. MacGregor, Molinist-Anabaptist Systematic Theology, 38.
47. Craig, Only Wise God, 131; idem, “Middle-Knowledge View,” 123.
48. Essa visão do senso comum do tempo é também conhecida como teoria do tempo “com tempo” ou Teoria-A do tempo. No entanto, alguém poderia fundamentar a presciência divina se abandonasse essa visão em favor de uma teoria do tempo “sem tempo”, também conhecida como Teoria-B do tempo. (Os rótulos “Teoria-A” e “Teoria-B” foram introduzidos por John ME McTaggart em The Nature of Existence, ed. C.D. Broad [Cambridge: Cambridge University Press, 1927], 5:33.) De acordo com a Teoria-B, tornar-se temporal é uma ilusão da consciência humana, e todos os eventos na linha do tempo (passado, presente e futuro) são igualmente existentes. Então, para as pessoas em 1945, esse momento é agora e estamos no futuro, mas para as pessoas em 2180, esse momento é agora e estamos no passado. O universo é um bloco espaço-temporal de quatro dimensões que existe de forma estanque, e não há momento presente privilegiado que sozinho realmente exista. Na Teoria-B, é fácil basear o pré-conhecimento postulando que Deus reside fora do universo espaço-temporal quadridimensional em um “agora eterno” e olha para o universo, percebendo todos os momentos na linha do tempo como igualmente presentes. No entanto, eu concordo com Craig ao defender a Teoria-A e ao sustentar que a Teoria-B enfrenta dificuldades insuperáveis. Para uma análise completa dessas duas teorias do tempo, veja William Lane Craig, The Tensed Theory of Time: A Critical Examination, Synthese Library 293 (Dordrecht: Kluwer Academic, 2000); e idem, The Tenseless Theory of Time: A Critical Examination, Synthese Library 294 (Dordrecht: Kluwer Academic, 2000).
49. Craig, “Middle-Knowledge View,” 133.
50. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.52.19; ênfase no original.
51. Craig, Divine Foreknowledge and Human Freedom, 240; Craig, “Middle-Knowledge View,” 133.
52. Craig, “Middle-Knowledge View,” 136 – 37.
53. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.49.12.
54. Que tais afirmações são verdadeiras ou falsas é pressuposto em Molina, Foreknowledge, 4.14.15.49.11.
55. Craig, “Middle-Knowledge View,” 143.
56. Refutando a posição do teólogo do século XIII John Duns Scotus de que “a livre determinação da vontade divina é toda a explicação e base para o fato de que Deus sabe com certeza quais coisas são contingentemente futuras, absolutamente e de uma forma não qualificada”, insistiu Molina que esta posição era tanto autocontraditória e perigosa para o caráter onibenevolente de Deus ensinado pela fé Cristã: “Eu considero ser suficientemente óbvio que esta posição de Scotus é mais que perigosa do ponto de vista da fé. Por isso destrói a liberdade de escolha que. . . nós demonstramos a partir da Sagrada Escritura e da própria experiência, e faz de Deus a causa pela qual o nosso livre arbítrio é voltado para e determinado àqueles atos pecaminosos pelos quais nós O ofendemos e violamos a Sua lei ” (Foreknowledge, 4.14.15.50.7; ênfase no original).
57. Craig, “Middle-Knowledge View,” 143.
58. Para uma apresentação bem conhecida da objeção de fundamento, veja Robert M. Adams, “Middle Knowledge and the Problem of Evil,” American Philosophical Quarterly 14 (1977): 109 – 17; William Hasker, God, Time, and Knowledge (Ithaca, NY: Cornell University Press, 1989), 29 – 52; David Paul Hunt, “Middle Knowledge: The ‘Foreknowledge Defense,’ ” International Journal for Philosophy of Religion 28, no. 1 (1990): 1 – 24; Timothy O’Connor, “The Impossibility of Middle Knowledge,” Philosophical Studies 66, no. 2 (1992): 139 – 66.
59. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.49.11.
60. Ibid., 4.14.15.52.11; ênfase no original.
61. Esta é uma questão sobre a qual muitos detratores do conhecimento médio, especialmente da tradição reformada, interpretam mal Molina. Como foi observado na introdução, esse equívoco deriva da suposição equivocada de que a doutrina do conhecimento médio de Arminius era a mesma de Molina. Enquanto Arminius declarou explicitamente (Jacob Arminius, Public Disputations, em The Writings of Arminius, 3 vols., trans. James Nichols e W. R. Bagnall [Grand Rapids: Baker, 1956], 1:449; Private Disputations, em idem, 2:39) que Deus obtém seu conhecimento médio das criaturas, Molina rejeitou veementemente essa noção como solapando a asseidade e a perfeição de Deus (Foreknowledge, 4.14.15.52.19). Por isso, Molina concordaria com seus detratores reformados contemporâneos de que qualquer teoria da onisciência divina que predicasse o conhecimento de Deus de contrafatuais da liberdade das criaturas sobre as criaturas é irremediavelmente defeituosa.
62. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.49.12; ênfase no original.
63. Esse é um ponto enfatizado por Craig: “Uma segunda noção no relato de Molina sobre o conhecimento de Deus sobre futuros contingentes que merece comentários é sua afirmação de que Deus conhece futuros contingentes em Si mesmo. Molina deseja insistir tão fortemente quanto Aquino que Deus não adquire Seu conhecimento de fontes externas. Ele afirma: ‘. . . Deus não adquire conhecimento das coisas, mas conhece e compreende tudo o que sabe em sua própria essência e na determinação de sua própria vontade. . . '[Concordia, 4.14.15.52.19]. Em Sua essência Ele conhece o conteúdo de Seu conhecimento natural e médio, enquanto a determinação de Sua vontade criativa fornece a base de Seu conhecimento livre ”(William Lane Craig, The Problem of Divine Foreknowledge and Future Contingents from Aristotle to Suarez, Studies in Intellectual History 7 [Leiden: Brill, 1988], 178).
64. No caso das essências libertárias e estocásticas, o que essas essências fariam em qualquer conjunto de circunstâncias não faz parte dessas essências, mas sim constituem propriedades contingentes dessas essências, ou seja, propriedades que poderiam ter sido diferentes com a essência permanecendo inalterada.
65. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.49.11; ênfase adicionada, exceto na última cláusula, onde a ênfase é encontrada no original.
66. Ibid., 4.14.15.52.33; ênfase adicionada.
67. Ibid., 4.14.15.49.11; ênfase no original.
68. Ibid., 4.14.15.52.4 – 6, 34 – 37.
69. Craig, “Middle-Knowledge View,” 127.
70. Molina, Foreknowledge, 4.14.15.52.35.
71. Ibid., 4.14.15.52.36; ênfase no original.

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