domingo, 30 de junho de 2019

O VALOR DA VIDA POR NASCER

Por Paul Copan


Uma das grandes diferenças entre as Leis do Antigo Testamento e as suas antigas contrapartes do Oriente Próximo é o valor da vida humana. Apesar disso, não é incomum ouvir que no Israel antigo a vida por nascer não era valiosa como a vida dos seres humanos já nascidos. Com efeito, certos defensores do aborto, procuraram justificação teológica para a prática do aborto na seguinte passagem:

Se homens brigaram e feriram uma mulher grávida, e ela der a luz prematuramente [ alguns defendem uma leitura alternativa: "ela tem um aborto espontâneo "], não havendo, porém, nenhum dano sério, o ofensor pagará a indenização que o marido daquela mulher exigir, conforme a determinação de juízes. Mas, se houver danos graves, a vida será vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, contusão por contusão. (Êx 21.22-25. NVI).
A questão chave é a seguinte: a palavra hebraica "yalad" deve ser traduzida como "dar a luz prematuramente" ou "ter aborto espontâneo"? Se a mãe aborta, então, o agressor só tem que pagar multa; a implicação neste caso é que o fato não é tão valioso e, portanto, não é merecedor da atenção normalmente dada a uma pessoa já nascida. Aparentemente, esta passagem do Antigo Testamento atribui pouco valor a vida por nascer. 
Vamos pular para outra passagem, o Salmo 139, que apoia fortemente o valor do nascituro:

Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre da minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são maravilhosa! Disso tenho plena certeza. Meus ossos não estavam escondidos de ti quando em secreto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu embrião; todos s dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer um deles existir. (vv. 13-16 NVI)
Mantenha este texto em mente à medida que voltar para a passagem de Êxodo 21.

Ao contrário das afirmações dos críticos, Êxodo 21 realmente dá valor a vida humana por nascer. A palavra "yalad" significa "sair" ou "dar a luz", descrevendo um parto normal (Gn 25.26 ; 38.28-30; Jó 3.11;10.18; Jr 1.5; 20.18). É sempre usada para dar a luz, e não a um aborto espontâneo. Se o texto bíblico pretendia referir-se a um aborto, a palavra comum para "abortar/aborto" (shakal/shekol) estava disponível ( por exemplo, Gn 31.38, Êx 23.26, Jó 21.10; Oseias 9.14). Não é esse o termo usado nesse contexto.
Além disso, "yalad"(dar à luz) é sempre usada para se referir a uma criança que tem forma humana reconhecível ou é capaz de sobreviver fora do ventre. A palavra hebraica "nepel" é a Palavra típica usada para uma criança nascer, e a palavra " golem" , que significa "feto" , é usada apenas uma vez no Antigo Testamento no Salmo 139.16, que observamos a pouco: Deus conhecia o salmista ainda com o " corpo informe" ou "substância ainda informe". 
Isso nos leva a outra pergunta: Quem está ferido? O bebê ou a mãe? O texto não responde. Poderia ser qualquer um, desde que o pronome feminino está ausente. A essência da passagem parece ser esta:

Se dois homens lutam e atingem uma mulher grávida e que o bebê nasce prematuramente, mas não há nenhuma lesão grave [na criança ou na mãe], logo o infrator deve ser multado por quaisquer que sejam as demandas do marido que o tribunal permita. Mas se há lesões graves [no bebê ou na mãe], então pagará vida por vida, olho por olho.
Assim sendo, estes versos implicam, na verdade, o valor intrínseco da vida da criança por nascer- que a vida do infrator pode ser eliminada se a vida do feto ou da mãe for perdida. A criança por nascer tem os mesmos direitos que um adulto (Gn 9.6). 
Os novos ateus e outros críticos muitas vezes recorrem a caricaturas ou deformações das leis do Antigo Testamento. Enquanto as Leis Mosaicas nem sempre refletem o ideal último (coisa que o próprio Antigo Testamento reconhece), estas leis e a mentalidade que elas exibem revelam um dramático aperfeiçoamento moral e uma maior sensibilidade moral do que as contrapartes do Oriente Próximo antigo.

Livro: Deus é um mostro moral? 
Entendendo Deus no contexto do Antigo Testamento ( Paul Copan)

Via Fabiana Ribeiro.

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