sábado, 27 de julho de 2019

A ESPERANÇA DO CRENTE

Por: Stanley M. Horton
Deus é revelado na Bíblia como o Deus da esperança que nos outorga paz e alegria à medida que confiarmos nEle (Rm 15.13). A garantia da esperança do crente é dupla: o amor de Deus que enviou Jesus para morrer em nosso lugar (Rm 5.5-10) e os atos poderosos do Espírito Santo que nos levam a "abundar em esperança pela virtude do Espírito Santo" (Rm 15.13).3 Dessa maneira, o Espírito Santo que nos batiza e nos dá a sua plenitude é "o penhor [primeira prestação] da nossa herança" (Ef 1.14). Paulo também nos mostra que a nossa esperança não é incerta; é tão segura quanto qualquer coisa que já possuímos. O único motivo por que a promessa da nossa ressurreição, do nosso corpo glorificado, do nosso reinar com Cristo, e do nosso futuro eterno é chamada "esperança" é porque ainda não os alcançamos (Rm 8.24,25).4 Essa esperança, porém, nunca nos decepcionará, nem nos envergonhará por termos confiado nela, porque ela é mantida viva e demonstrada como verdadeira pelo amor de Deus que o Espírito Santo derramou em nosso coração (Rm 5.5).5 O fato de Ele ter enviado o seu Filho para morrer por nós é a demonstração suprema desse amor, e assegura-nos que esse mesmo amor fornecerá tudo quanto é necessário para nos acompanhar até chegarmos à glória eterna (Jo 3.16; Rm 5.8-10; 8.18,19).

Paulo declara enfaticamente que, sem Cristo, as pessoas não têm esperança (Ef2.12); isto é: não têm o tipo de esperança a que a Bíblia se refere. Muitas outras religiões têm um conceito cíclico da História, como se tudo se repetisse, não oferecendo nenhum alvo futuro. O Hinduísmo busca cessar qualquer desejo pela vida a fim de sair da roda do nascimento, da morte e da reencarnação. Alguns gregos e romanos buscavam no passado leis que governassem aquilo que consideravam ser a repetição eterna da História, e os resultados eram usualmente pessimistas.
Quando, portanto, as pessoas se interessavam pelo futuro, na maioria dos casos tratava-se do futuro imediato, que procuravam influenciar ou evitar mediante a astrologia, a quiromancia e várias práticas do ocultismo ou da adoração pagã. Muitos daqueles que se voltam contra a Bíblia hoje, abraçam vãs esperanças no progresso evolucionário ou nos sonhos comunistas. 6

A Bíblia rejeita, como falsas, todas essas expectativas, pois vazias, sem sentido, degradantes, vilificantes. Os crentes têm uma melhor esperança, em e através de Cristo, que é pessoalmente a nossa esperança (Cl 1.27; 1 Tm 1.1). A Bíblia apresenta um conceito da História que é basicamente linear, que espera no presente e num futuro glorioso. A Epístola aos Hebreus conclama os que "pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta" a ficarmos grandemente encorajados: "retenhamos firmes a confissão da nossa esperança, porque fiel é o que prometeu" (Hb 6.18; 10.23).
Conforme diz Paul Minear, essa esperança não é nenhuma "possibilidade vaga do futuro".7 Desde o princípio, Deus tinha em mente as últimas coisas. E verdade que a Bíblia centraliza a sua atenção na primeira vinda de Cristo, que levou a efeito a salvação, e fez com que o futuro irrompesse no presente de forma promissora. Mas a Segunda Vinda de Cristo, que introduzirá a consumação do plano de Deus e da glória da qual compartilharemos, também está sempre em mira.
Os profetas do Antigo Testamento anteviam os últimos dias sem indicarem quando exatamente ocorreriam. Seu propósito não era satisfazer a curiosidade das pessoas, mas focalizar o propósito de Deus e usar as profecias como incentivo para obedecer à vontade de Deus no tempo presente. Isaías, por exemplo, contava a respeito de um tempo em que o monte da casa de Deus seria exaltado "e concorrerão a ele todas as nações. E virão muitos povos e dirão: Vinde, subamos ao monte do SENHOR... para que nos ensine o que concerne aos seus caminhos, e andemos nas suas veredas" (Is 2.2,3).

Então Deus traria juízo e paz. Essa verdade levava à convocação: "Vinde, ó casa de Jacó, e andemos na luz do SENHOR" (Is 2.5). Sofonias também usou o julgamento futuro para incentivar as atitudes certas no presente: "Buscai o SENHOR... buscai a justiça, buscai a mansidão; porventura sereis escondidos no dia da ira do SENHOR" (Sf 2.3).
De modo semelhante, o Novo Testamento emprega a esperança da Segunda Vinda de Cristo como motivação. "Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos. E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro" (1 Jo 3.2,3).
Como os discípulos imaginassem que o Reino futuro apareceria imediatamente, Jesus esclareceu-lhes que haveria alguma demora. Por isso, teriam de estar em estado de prontidão para o momento da sua vinda. Numa parábola, Jesus se comparou a um homem nobre que partiu para uma terra remota a fim de ser nomeado rei, e então voltar (Lc 19.11-27). Posteriormente, os discípulos entenderam que Jesus queria dizer que Ele tinha de subir ao céu, e ser entronizado aí antes de poder voltar como rei. Essa comparação enfatizava também que Ele ficaria ausente durante muito tempo.

Jesus não disse exatamente quanto tempo estaria ausente; somente o Pai sabe o tempo de sua volta (Mt 24.30,36; Mc 13.32,33). È possível que Deus tenha mantido essa informação em sigilo a fim de reduzir ao mínimo os perigos da demora. Muitos serão tentados a seguir o exemplo do mau servo em Mateus 24.45-51: "Se aquele mau servo disser consigo: O meu senhor tarde virá, e começar a espancar os seus conservos,
e a comer, e a beber com os bêbados, virá o senhor daquele servo num dia em que o não espera e à hora em que ele não sabe, e separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes" (vv. 48-51).

E melhor não sabermos a data da Segunda Vinda de Cristo. Deus quer que realizemos a sua obra. Temos mais probabilidade de sermos fiéis se soubermos que ternos de estar sempre alertas, prontos a todo momento para a sua vinda (Mt 24.42; 25.13). Embora Jesus tenha dado outra indicação de que seria "muito tempo depois", (Mt 25.19), enfatizou repetidas vezes que a sua vinda seria tão repentina quanto inesperada.
Os crentes fiéis não serão apanhados de surpresa, porque estarão trabalhando enquanto esperam a vinda do Senhor (Lc 12.35-38). Os cristãos só serão apanhados de surpresa se deixarem seus corações "se carregar de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida". Nesse caso, "virá sobre vós de improviso aquele dia" (Lc 21.34). Jesus advertiu: "Vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas essas coisas que hão de acontecer e de estar em pé diante do Filho do homem" (Lc 21.36).
Entre as últimas palavras de Jesus registradas no Novo Testamento, lemos: "Eis que presto venho!" (Ap 22.7, 12). Os zombadores podem dizer: "Onde está a promessa da sua vinda?" (2 Pe 3.4). Devemos lembrar, porém, que Deus não considera o tempo da mesma maneira que nós: "Um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos, como um dia" (2 Pe 3.8). Além disso, Ele quer que mais pessoas cheguem ao arrependimento (2 Pe 3.9). Para nós, portanto, é melhor vivermos na tensão entre o "dentro em breve" mas "ainda não", ocupando-nos no seu serviço, cumprindo as tarefas que Ele nos dá a fazer, até que Ele volte (Mc 13.33,34; Lc 19.13).
Jesus também comparou o mundo na ocasião da Sua Segunda Vinda ao mundo nos dias de Noé. A despeito das advertências, das pregações, da construção da Arca, do ajuntamento dos animais, o povo não prestava atenção nem se preparava para o inevitável. Não acreditavam que o juízo divino chegaria. Para eles, o dia do dilúvio raiou como qualquer outro dia. Tinham planejado suas refeições, seus serviços, suas
festas e casamentos. Mas aquele dia trouxe consigo o fim do mundo que conheciam. Da mesma maneira, o presente mundo continuará cegamente, fazendo seus próprios planos. Mas um dia, Jesus voltará (Mt 24.37-39).
Para enfatizar que aquele dia será como qualquer outro, Jesus disse: "Então, estando dois no campo, será levado um, e deixado o outro; estando duas moendo no moinho, será levada uma, e deixada outra" (Mt 24-40,41). Isto quer dizer que as pessoas estarão cumprindo suas tarefas cotidianas quando, de repente, haverá a separação. "Levado" (gr. paralãmbanetei) significa "levado junto ou recebido". Jesus "levou consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu" (Mt 26.37). Ele mesmo prometeu: "Virei outra vez e vos levarei para mim mesmo" (Jo 14-3). Logo, aquele que é levado é recebido na presença de Jesus para estar com Ele para sempre (1 Ts 4.17). "Deixado" (gr. aphietaí) significa
"deixado para trás", assim como em Marcos 1.18,20, a fim de enfrentar a ira de Deus e os seus juízos. Noutras palavras: não haverá aviso prévio no último momento, e nenhuma oportunidade de ficar pronto em tão curto prazo. A mesma verdade é ressaltada na Parábola das Dez Virgens (Mt 25.1-13). Tudo isso faz-nos lembrar que, a despeito da demora, devemos sempre considerar iminente a volta de Cristo.

Confirmando a exortação para estarmos constantemente prontos, Jesus também repetiu o fato de que ninguém sabe o tempo da sua volta a não ser o Pai (Mt 24.36, 42, 44; Mc 13.32-37). Isso era difícil para os discípulos compreenderem, por isso perguntaram: "Restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?" (At 1.6). 
Jesus respondeu: "Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder" (v. 7). Noutras palavras: essas datas não são da responsabilidade deles.8 A nossa responsabilidade é Atos 1.8: "Recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de
vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas... até aos confins da terra". Essas palavras excluem qualquer tentativa de fixar datas, inclusive todas as sugestões a respeito da época ou até mesmo da estação do ano em que Cristo poderá voltar.9 A atenção dos crentes deve fixar-se em Jesus (Hb 12.2,3) e no cumprimento fiel da Grande Comissão (Mt 24.45,46; 25.21, 23).

Paulo confirma as advertências de Jesus ao reconhecer que "o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite" (1 Ts 5.2). Os crentes, porém, não serão apanhados de surpresa, não porque saibam de antemão a data, mas porque são do dia, e vivem na luz da Palavra de Deus (não são da noite, nem pertencem às trevas da iniquidade). Como consequência, estão alerta, com domínio próprio, protegidos pela fé e amor como couraça, e tendo por capacete a esperança da salvação (1 Ts 5.4-9). Assim como o apóstolo Paulo, continuam ansiando pela sua vinda (2 Tm 4-8) porque o amam e confiam nEle.
A esperança de Paulo não estava "ligada a uma data fixa, mas ao evangelho que declarava o cumprimento das promessas do Antigo Testamento, e conclamava as pessoas a viverem com confiança". 10
Jesus também advertia contra o prestar demasiada atenção aos sinais. Falsos cristos (messias, "ungidos", inclusive pessoas que alegam ter uma unção especial) usarão sinais para enganar (Mt 24-4,5). Jesus explicou que guerras e rumores de guerras não são sinais. Tais coisas deverão ocorrer, porque elas - juntamente com as fomes, os terremotos, a perseguição, a apostasia, os falsos profetas, e a multiplicação da iniquidade - são simplesmente características da era inteira entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, a era na qual temos a responsabilidade de pregar o Evangelho ao mundo inteiro (Mt 24.6-14). Ao invés de focalizarmos a nossa atenção nos sinais, devemos tomar posição em Jesus, e erguer a nossa cabeça; isso é: devemos manter nossa atenção fixada em Jesus, porque a nossa redenção está próxima (Lc 21.28).

A graça salvífica de Deus "ensina-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo" (Tt 2.12-14). "Bem-aventurada" (gr. makarian) implica numa plenitude de bênção, felicidade e alegria mediante o favor gracioso e imerecido de Deus. Embora nós, como crentes, recebamos bênçãos agora, há muito mais para vir.

Via: Ruanna Pereira.

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