A salvação foi da humanidade anunciada por Deus em Gênesis: “E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta, lhe ferirá a cabeça e tu lhe feriras o calcanhar” (Gn 3.15). O texto é bastante claro quando diz que será “a semente da mulher” que remirá os homens. No entanto, a doutrina da salvação segundo a tradição da Igreja Católica Apostólica Romana traz consigo muitos problemas, como a sua postura teológica acerca da posição de Maria junto à Trindade e ao peso inimaginável de seu papel como corredentora e mediadora no sentido da dispensação e da mediação da salvação para a humanidade.
Para o cristianismo primitivo e para o protestantismo, a doutrina da salvação está baseada na fé no Senhor Jesus Cristo, na graça dada por Ele, no Seu sacrifício sobre a cruz, no sangue derramado por Ele, na Sua morte e ressurreição e numa nova forma de vida, conforme podemos conferir em João 3.16 e Efésios 2. Para os romanistas, isso tudo tem a sua devida importância, no entanto, ainda existem artefatos não menos importantes que podem ser usados para que alguém possa alcançar a salvação. Um dos principais artefatos é o clamor que o crente católico deve fazer a Maria, pois Maria é, dentre outras coisas, participante direta na salvação das pessoas, fazendo o papel de corredentora.
A obra mais famosa de apologia à doutrina de Maria para o catolicismo romano é o livro de Santo Afonso de Ligório, sob o título de “As Glórias de Maria”. Nesta obra, percebemos que um dos títulos recebidos por Maria através da Igreja Católica é o de corredentora, ou seja, Maria teve um papel fundamental junto a Cristo na redenção do homem. Maria recebe o poder de interceder pelos homens em suas causas, incluindo na salvação: “única esperança de todos os pecadores, pois só por seu intermédio esperamos a remissão de todos os nossos pecados [...] Os pecadores só por intercessão de Maria recebem o perdão” (LIGÓRIO, 2016, p. 76). Segundo o mesmo autor, Maria, como medianeira das graças divinas, também é mediadora dos homens para com Deus para obtenção da salvação.
Mas, porque tanto é necessária da nossa parte a confiança, deu-nos o Senhor, para aumentá-la, sua própria Mãe por advogada e intercessora, e concedeu-lhe plenos poderes a fim de nos valer. Por esta razão que também que nela coloquemos esperança de nossa salvação e de todo nosso bem (LIGÓRIO, 2016, pp. 97, 98).
Maria é participante direta na redenção do homem, na dispensação da salvação e da graça de Deus ao homem.
A mãe de Deus ocupa no plano de salvação uma posição especial e isso é de grande importância para nossa vida espiritual. Sendo mãe de Cristo, ela é também nossa mãe pois somos membros do corpo místico de Cristo. Deus fez a obra da redenção depender, dum certo modo, do seu consentimento e de sua prontidão em tornar-se mãe daquele abandonado por todos deveria morrer sobre a cruz como um celerado. (No Deus Vivo e Verdadeiro, p. 77. apud SANTOS, 2017, p. 74).
Para eles, é impossível o homem chegar-se a Deus sem se chegar primeiro a Maria, pois ela é a única que pode fazer com que o homem possa se chegar a Deus. Isso deixa Jesus totalmente excluído deste papel, contrariando o que diz a Bíblia na primeira carta do apóstolo Paulo a Timóteo 2.5: “Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem”.
Podemos observar que essa salvação católica não só o homem poderá alcançar, mas também o próprio Lúcifer pode alcançá-la, de acordo com uma revelação feita a S. Brígida, relatada por Santo Afonso:
[...] não há no mundo pecador tão inimizado com Deus, que se não converta e recupere a divina graça, se a invocar e a ela recorrer. Certo dia a mesma Santa ouviu Jesus Cristo dizer a sua Mãe que ela estaria pronta a obter a divina graça até mesmo a Lúcifer, caso se humilhasse e implorasse seu auxílio (LIGÓRIO, 2016, p. 109).
Todavia, para o cristianismo primitivo a salvação do crente depende somente da fé na morte expiatória e na ressurreição de Jesus Cristo. Mas, com o passar do tempo, a salvação passou a ter mais alguns requisitos, conforme o catolicismo romano, como o clamor a Maria. Ela está no total controle da salvação e das graças de Deus para com a humanidade, pois, de acordo com Afonso: “É impossível salvar-se quem não é devoto de Maria e não vive sob sua proteção” (2016, p. 183). Com essa definição soteriológica a respeito da dependência do crente a Maria, não resta outra saída que não seja clamar por Maria, quer seja para alcançar as graças divinas ou a salvação da alma da ira futura.
Por Rafael Félix.
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