segunda-feira, 22 de julho de 2019

A Teoria do Arrebatamento Parcial

A primeira teoria associada à translação da igreja não está relacionada ao período tribulacional, mas sim aos indivíduos que sofrerão a translação. Argumenta-se que nem todos os crentes serão levados na translação da igreja, mas apenas os que estiverem "vigiando" e "esperando" por esse acontecimento, que tenham atingido certo nível de espiritualidade que os torne dignos de ser incluídos. Essa teoria foi defendida por homens como R. Govett, G. H. Lang, D. M. Panton, G. H. Pember, J. A. Seiss e Austin Sparks, entre outros. Essa teoria é definida por Waugh, que diz:
Há, todavia, não poucos homens —alguns deles profundos e devotos estudiosos das Escrituras que crêem que apenas uma parte preparada e esperançosa dos crentes será então transladada. Eles crêem que uma conclusão clara de Lucas 21.36 é que os crentes que não "vigiarem" não vão "escapar de todas estas cousas que têm de suceder", e não serão dignos de "estar em pé na presença do Filho do Homem". Eles extraem de passagens como Filipenses 3.20, Tito 2.13, 2 Timóteo 4.8 e Hebreus 9.28 o conceito de que somente serão levados os que "aguardarem" e "amarem a sua vinda" (Thomas WAUGH, When Jesus comes, p. 108)
A. As dificuldades doutrinárias da teoria do arrebatamento parcial.
A posição do arrebatamento parcial baseia-se em certos mal-entendidos com relação às doutrinas da Palavra.
1. A posição do arrebatamento parcial está baseada numa interpretação errônea do valor da morte de Cristo para libertar o pecador da condenação e torná-lo aceitável a Deus. Essa doutrina está ligada a três palavras do Novo Testamento: propiciação, reconciliação e redenção. 
Com respeito à propiciação, Chafer escreve:

Cristo, ao derramar Seu próprio sangue, como se aspergido, sobre o Seu corpo no Gólgota, torna-se na realidade o Propiciatório. Ele é o Propiciador e fez propiciação ao suprir dessa maneira as justas exigências da santidade de Deus contra o pecado, de tal maneira que o céu se tornou propício. O fato de a propiciação existir deve ser aceito[...]
A propiciação é o lado divino do trabalho de Cristo na cruz. 
A morte de Cristo pelo pecado no mundo alterou toda a posição da humanidade no seu relacionamento com Deus, pois Ele reconhece o que Cristo fez pelo mundo, quer o homem aceite isso, quer não. Nunca se afirma que Deus foi reconciliado, mas Sua atitude em relação ao mundo foi mudada quando a relação do mundo para com Ele se tornou radicalmente diferente por meio da morte de Cristo. (Lewis Sperry CHAFER, Systematic theology, VII, p. 259)

Com respeito à reconciliação, o mesmo autor diz:
Reconciliação significa que alguém ou algo é totalmente mudado e ajustado a algo que é um padrão, como um relógio pode ser ajustado a um cronômetro [...] Por meio da morte de Cristo em nosso lugar, o mundo inteiro está totalmente mudado no seu relacionamento com Deus [...] O mundo está tão alterado na sua posição com respeito aos santos julgamentos de Deus por meio da cruz de Cristo que Deus não está mais atribuindo-lhes seu pecado. O mundo então é declarado redimível [...] Já que a posição do mundo diante de Deus está completamente mudada pela morte de Cristo, a própria atitude de Deus com relação ao homem não pode mais ser a mesma. Ele está disposto a lidar com as almas agora à luz daquilo que Cristo fez [...] Deus [...] acredita completamente naquilo que Cristo fez e o aceita, de forma que continua justo apesar de capaz de justificar qualquer pecador que aceite o Salvador como sua reconciliação.
(Ibid., VII, p. 262-3.)

Com respeito à redenção, ele escreve:
A redenção é um ato de Deus pelo qual Ele mesmo paga como um resgate o preço do pecado humano que insultou a santidade e o governo que Deus exige. A redenção oferece a solução ao problema do pecado, como a reconciliação oferece a solução ao problema do pecador, a propiciação oferece a solução ao problema de um Deus ofendido [...]
A redenção proporcionada e oferecida ao pecador é uma redenção do pecado [...] Redenção divina é pelo sangue — o preço do resgate— e pelo poder. (Ibid., III, p. 88)
O resultado desse tríplice trabalho é uma salvação perfeita, por meio da qual o pecador é justificado, torna-se aceitável a Deus, é colocado em Cristo posicionalmente para ser recebido por Deus como se fosse o próprio Filho. O indivíduo que tem essa posição com Cristo jamais pode ser algo menos que completamente aceitável a Deus. O parcialista, que insiste em que apenas os que estão "aguardando" e "vigiando" serão transladados, subestima a posição perfeita do filho de Deus em Cristo e o apresenta diante do Pai na sua própria justiça experimental. O pecador então deve ser menos que justificado, menos que perfeito em Cristo.
_2. O parcialista precisa negar o ensinamento do Novo Testamento sobre a unidade do corpo de Cristo. De acordo com l Coríntios 12.12,13, todos os crentes estão unidos ao corpo do qual Cristo é o Cabeça (Ef 5.30). Essa experiência de batismo esta presente em todo indivíduo regenerado. Se o arrebatamento inclui apenas parte dos redimidos, então o corpo, do qual Cristo é o cabeça, será um corpo desmembrado e desfigurado quando levado a Ele. A construção, da qual Ele é a pedra principal, estará incompleta. O sacerdócio, do qual Ele é o Sumo Sacerdote, estará sem uma parte de seu complemento. A noiva, da qual Ele é o Noivo, será desfigurada. A nova criação, da qual Ele é o cabeça, será incompleta. Isso é impossível de imaginar.
3. O parcialista precisa negar a totalidade da ressurreição dos crentes na translação. Já que nem todos os santos poderiam ser arrebatados, logicamente nem todos os mortos em Cristo poderiam ser ressurretos, visto que muitos deles morreram em imaturidade espiritual. 
Mas, já que Paulo ensina que "transformados seremos todos", e que ltodos "os que dormem" Deus trará (1 Co 15.51,52; l Ts 4.14), é impossível admitir uma ressurreição parcial.

4. O parcialista confunde o ensinamento bíblico sobre os galardões. Os galardões são dados gratuitamente por Deus como recompensa pelo serviço fiel. O Novo Testamento deixa bem claro o ensinamento sobre os galardões (Ap 2.10; Tg 1.12; l Ts 2.19; Fp 4.1; 1 Co 
9.25; l Pe 5.4; 2 Tm 4.8). Em nenhum lugar no ensinamento sobre os galardões o arrebatamento é incluído como recompensa pela vigilância. Tal ensinamento faria dos galardões obrigação legal por parte de Deus, em vez de presente de misericórdia.

5. O parcialista confunde a distinção entre lei e graça. Se essa posição estivesse correta, a posição do crente diante de Deus dependeria das suas obras, pois o que ele fez e as atitudes que ele desenvolveu seriam então a base de sua aceitação. Não é preciso dizer que a aceitação por Deus estará somente na base da posição do indivíduo em Cristo, não na sua preparação para a translação.
6. O parcialista deve negar a distinção entre Israel e a igreja. Será observado na discussão de passagens problemáticas a seguir que ele usa as passagens aplicadas ao plano de Deus para Israel e as aplica a igreja.
7. O parcialista precisa colocar parte da igreja crente no período tribulacional. Isso é impossível. Um dos propósitos do período tribulacional é julgar o mundo em preparação para o reino a seguir. A igreja não precisa de tal julgamento, a não ser que a morte de Cristo seja ineficaz. A partir dessas considerações, acredita-se então que a teoria do arrebatamento parcial não possa ser sustentada.
B. Passagens problemáticas. Há certas passagens que o parcialista usa para apoiar sua posição, as quais, à primeira vista, parecem apoiar essa teoria.
1. Lucas 21.36: "Vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais escapar de todas estas cousas que têm de suceder e estar em pé na presença do Filho do Homem" (Cf. G. H. LANG, Revelation, p. 88-9). Observaremos que a referência principal nesse capítulo é à nação de Israel, que já está no período tribulacional, e portanto isso não se aplica à igreja. 
As coisas das quais é preciso escapar são os julgamentos associados "àquele dia" (v 34), isto é, o Dia do Senhor. A igreja tem ordens de estar vigilante (l Ts 5.6; Tt 2.13) sem que isso implique ser digna de participar da translação.

2. Mateus 24.41,42: "Duas estarão trabalhando num moinho, uma será tomada, e deixada a outra. Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor" (Cf. R. GOVETT, One taken and one left. The Dawn, 22:515-8, Feb. 15,1936). Essa passagem também está no discurso em que o Senhor descreve Seu plano para Israel, que já está no período tribulacional. A levada vai ao julgamento e a deixada fica para a bênção milenar. Essa não é a perspectiva futura da igreja.
3. Hebreus 9.28: "... aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação". A expressão "aos que o aguardam" é usada aqui como sinônimo de "crentes" ou a "igreja", já que essa atitude constitui a atitude normal dos redimidos de Deus. Os crentes são os que "aguardam o Salvador" (Fp 3.20) ou esperam a "bendita esperança" (Tt 2.13). Os que esperam por Ele não são comparados aos que não o esperam. Essa passagem simplesmente ensina que, da mesma forma que Ele apareceu uma vez para tirar o pecado (v. 26) e agora se encontra no céu intercedendo por nós (v. 24), aparecerá novamente (v. 28) para completar o trabalho de redenção. A conclusão é que o mesmo grupo a quem Ele apareceu, e por quem Ele agora intercede, será aquele a quem Ele aparecerá.
4. Filipenses 3.11: "Para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos" (Cf. R. GOVETT, Entrance into the kingdom, p. 35). Alguns acreditam que Paulo duvidava de seu próprio arrebatamento. O contexto não apóia essa teoria. O v. 11 retoma o v. 8, no qual Paulo revela que, por causa do valor superior do conhecimento de Cristo Jesus, ele abriu mão de tudo aquilo em que confiava para "ganhar a Cristo", e, tendo achado Cristo, "alcançar a ressurreição dentre os mortos". A
ressurreição, então, é demonstrada como resultado de "ganhar a Cristo", não como resultado de se preparar para a translação. Ele revelou o segredo mais profundo de Seu serviço, uma devoção completa a Cristo desde que O encontrou na estrada para Damasco.

5. 1 Coríntios 15.23: "Cada um [...] por sua própria ordem". Isto é usado pelo parcialista para ensinar a divisão em níveis para o crente na ressurreição da igreja. No entanto, devemos lembrar, Paulo não está instruindo sobre a ordem da ressurreição da igreja, mas sim sobre as divisões ou os "grupos" dentro de todo o plano de ressurreição, que incluirá não só os santos da igreja, mas também os santos do Antigo Testamento e os santos da tribulação.
6. 2 Timóteo 4.8: "... mas também a todos quantos amam a sua vinda". Isto é usado pelos defensores dessa posição para mostrar que o arrebatamento deve ser parcial. No entanto, devemos notar que não se tem em mente nessa passagem o sujeito da translação, mas sim a questão da recompensa. O segundo advento foi criado por Deus para ser uma esperança purificadora (l Jo 3.3). Por causa de tal purificação, uma nova vida é produzida em vista da expectativa do retorno do Senhor. Portanto, os que realmente "amam a sua vinda" experimentarão novo tipo de vida que lhes trará um galardão.
7. 1 Tessalonicenses 1.10: "E para aguardardes dos céus o seu Filho [...] que nos livra da ira vindoura" e 1 Tessalonicenses 4.13-18, juntamente com 1 Coríntios 15.51,52, são usados pelo parcialista para ensinar que a igreja que não estava preparada para o arrebatamento encontrará o Senhor nas nuvens em Seu retorno à terra no segundo advento (Cf. G. H. LANG, op. cit., p. 236-7). Tal posição coincide com a interpretação do pós-tribulacionista, que demonstraremos ser contrária ao ensinamento das Escrituras.
Um exame das passagens bíblicas usadas pelos parcialistas para apoiar sua posição mostra que sua interpretação não é coerente com a verdadeira exegese. Já que essa teoria não está em harmonia com a verdadeira doutrina e a verdadeira exegese, deve ser rejeitada.

Por: Dwight Pentecost
Via: Eziel Ferreira.

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