É interessante observar que em Israel, como na Mesopotâmia, O casamento É um assunto puramente civil e não sancionado por nenhum ato religioso. É certo que Malaquias chama a esposa "a mulher de tua aliança", berît, MI 2.14, e que com frequência berît se refere a um pacto religioso, mas aqui este pacto não é senão o contrato de casamento. Em Pv 2.17, o casamento e chamado "a aliança de Deus" e, na alegoria de Ez 16.8, a aliança do Sinai torna-se o contrato de casamento entre Iahve e Israel. Fora estas prováveis alusões, o Antigo Testamento não menciona contrato escrito de casamento a no ser na historia de Tobias, Tb 7.13. Possuímos muitos contratos de casamento procedentes da colônia judaica de Elefantina, que datam do seculo V antes de nossa era, e na época greco-romana o costume estava bem estabelecido entre os judeus. E difícil dizer ate onde ele remonta. Existia desde muito tempo na Mesopotâmia, e o Código de Hamurabi declara invalido um casamento concluído sem que um contrato tenha sido estabelecido. Em Israel redigiam-se documentos de divorcio desde antes do Exilio, Dt 24.1,3, Jr 3.8: seria, pois, estranho se naquele tempo não houvesse contratos de casamento, e o silencio dos textos e, talvez, acidental. A formula determinante do casamento e dada nos contratos de Elefantina, que são redigidos em nome do marido: "Ela e minha esposa e eu seu marido a partir de hoje, para sempre", a mulher não faz nenhuma declaração. Pode-se encontrar um equivalente em 'Tb7.1l, onde o pai de Sara diz a Tobias: "Desde agora es seu irmão e ela e tua irmã." Em um contrato do século Il d.C., descoberto no deserto de Judá, a formula e: "Tu serás minha mulher." O casamento era ocasião de alegria. A cerimonia principal era à entrada da noiva na casa do esposo. O noivo, com a cabeça adornada com um diadema, Ct 3.11; Is 61.10, acompanhado por seus amigos com tamborins e musicas, 1Mc 9.39, dirigia-se a casa da noiva. Esta estava ricamente vestida e adornada com joias, SI 45.14-15; Is 61.10, mas, coberta com um véu, Ct 4.1,3; 6.7,e só se descobria no aposento nupcial. Por isso Rebeca se cobriu com um véu ao avistar seu noivo Isaque, Gn 24.65, e esse costume permitiu a Labão substituir Raquel por Lia no primeiro casamento de Jacó, Gn 29.23-25. A moça, acompanhada de suas amigas, Sl 45.15, conduzida a casa do esposo, Sl 45.16: cf. Gn 24.67. Cantam-se cantos de amor, Jr 16.9, nos quais se celebram as qualidades do casal, dos quais temos exemplos no SI 45 e no Cântico dos Cânticos, seja qual for a interpretação que lhes seja dada, alegórica ou literal. Os árabes da Palestina e da Síria conservaram costumes análogos: o cortejo, Os cantos nupciais, o véu da noiva. Às vezes, durante o trajeto, uma espada e levada pela noiva ou diante dela, e as vezes ela executa, avançando e retrocedendo, a dança do sabre. Relacionou-se a isso a dança da Sulamita em Ct7.1. Em algumas tribos a noiva tenta, por brincadeira, escapar de seu noivo que deve simular conquista-la a fora. Foi proposto ver nessas brincadeiras uma sobrevivência do casamento por rapto, do qual haveria igualmente um vestígio no Antigo Testamento: o rapto pelos benjamitas das moças que dançavam nas vinhas de Sil6, Jz 21.19-23. Essas comparações não parecem ter fundamento. O gesto de brandir a espada tem valor profilático: corta a mal sorte e afugenta os demônios. Nada indica que a dança da sulamita seja uma dança do sabre, e o episodio de Siló se explica pelas circunstancias extraordinárias mencionadas no relato. Em seguida, celebrava-se o grande banquete, Gn 29.22; Jz 14.10; Tb 7.14 Nesses três casos a ceia acontece na casa dos pais da noiva, mas em condições particulares. Pela regra geral dava-se, certamente, na casa do noivo, cf. Mt 22.2. A festa durava normalmente sete dias, Gn 29.27; Jz 14.12, e podia se prolongar por ate duas semanas, Tb 8.20; 10.7. Contudo, o casamento se consumava já na primeira noite, Gn 29.23; Tb 8.1. Dessa noite nupcial se conservava o tecido manchado de sangue que provava a virgindade da noiva e que servia de prova em caso de calunia do marido, Dt 22.13-21. O mesmo costume ingênuo existe ainda na Palestina e em outros países muçulmanos.
Instituições de Israel no antigo testamento
Roaland de Vaux
Via: Ruanna Pereira
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