Por Edward D. Andrews
Os materiais
Os materiais primários usados para receber a escrita nos tempos antigos eram os papiros e o pergaminhos. Estes materiais eram usados também pelos autores e copistas da Bíblia.[1]. Em 2 Timóteo 4:13, o apóstolo Paulo solicitou a Timóteo que ele trouxesse “a capa que deixei em Trôade, na casa Carpo, e os livros [rolos - βιβλια] e, principalmente os pergaminhos” [membranas na ortografia grega (No Grego está assim: “τον {VAR1: φαιλονην } {VAR2: φελονην } ον απελιπον εν τρωαδι παρα καρπω ερχομενος φερε και τα βιβλια μαλιστα τας μεμβρανας”)]. Alguém pode perguntar porque Paulo usou uma palavra latina (transliterada em grego)? Sem dúvida, foi devido ao fato de que não havia palavra Grega que servisse como equivalente ao que ele estava pedindo. Foi somente mais tarde que a palavra “códice” transliterada foi trazida para a língua Grega como uma referência ao que nós saberíamos que seria um livro.
Papiro: O Papiro era o material de escrita usado pelos antigos Egípcios, Gregos e Romanos e era feito da medula do caule de uma planta aquática. Essa medula era cortada em tiras, com uma camada disposta horizontalmente e a outra verticalmente. Às vezes, era coberta com um pano e depois batida com uma espécie de martelo. Os eruditos também sugeriram que a pasta oriunda desse processo pode ter sido usada entre as camadas, e então uma pedra grande seria colocada em cima até que os materiais estivessem secos.
Escrever na folha de papiro, mesmo no lado correto, não era tarefa fácil, porque a superfície era áspera e fibrosa. “Ocorreriam defeitos de umidade entre as camadas durante a confecção ou pelo uso de tiras esponjosas que poderiam fazer com que a tinta corresse; tais defeitos exigiram a reconstrução da folha.” (Abbot, 1938, p. 11). A dor nas costas por causa dos longos períodos sentado, de pernas cruzadas no chão inclinado sobre uma folha de papiro em uma tábua, lidando com tinta corrente, a caneta possivelmente arranhando e rasgando a folha de papiro, tendo que apagar caracteres ilegíveis, eram um impedimento pessoal de escrever uma carta.
Pele Animal: Por volta do quarto século d.C., os manuscritos Bíblicos feitos de papiro começaram a ser substituídos pelo uso de pergaminhos, um material de alta qualidade feito de couro de bezerro, pele de cordeiro ou pele de carneiro. Manuscritos como o famoso Codex Sinaiticus (01) e o Codex Vaticanus (03, também conhecido como B) do quarto século d.C., são conhecidos como códices, pergaminhos ou velinos [velum]. Esse uso de pergaminho como principal material de escrita continuou por quase mil anos até ser substituído pelo papel. As vantagens do pergaminho sobre o papiro eram muitas, como (1) era muito mais fácil escrever em pergaminho liso; (2) podia-se escrever em ambos os lados; (3) o pergaminho durava muito mais tempo; e (4) quando desejado, os pergaminhos antigos podiam ser raspados e o pergaminho reutilizado.
A fragilidade dos materiais
Pode-se perguntar por que não sobreviveram mais manuscritos do Antigo e do Novo Testamento. Contudo, deve ser lembrado que os Cristãos sofreram intensa perseguição durante os primeiros 300 anos depois do Pentecostes em 33 d.C. Com esta perseguição do Império Romano vieram muitas ordens para destruir os textos Cristãos. Além disso, esses textos não eram armazenados de maneira a garantir sua preservação; eles eram usados ativamente pelos Cristãos na congregação e estavam sujeitos ao desgaste. Além disso, a umidade é inimiga do papiro e faz com que se desintegrem com o tempo. É por isso que, como descobriremos, os manuscritos em papiro que sobreviveram foram preservados pelas areias secas do Egito. Além disso, parece não ter entrado nas mentes dos primeiros Cristãos a preservação de seus documentos, porque a solução para a perda de manuscritos era apenas fazer mais cópias. Felizmente, o processo de se fazer cópias foi transferido para as peles de animais mais resistentes, que durariam muito mais tempo. Aqueles manuscritos que sobreviveram, especialmente a partir do quarto século d.C., e antes, são o caminho para restaurar o Novo Testamento Grego original.[2]
Tanto o papiro quanto o pergaminho comprometeram a sobrevivência da Bíblia porque eram materiais perecíveis. O papiro, o mais fraco dos dois, podia rasgar e descolorir. Por causa dos climas úmidos, uma folha de papiro pode se decompor até o ponto de se transformar apenas em um punhado de poeira. Devemos lembrar que o papiro é uma planta e, quando o pergaminho é armazenado, ele pode mofar e apodrecer pela umidade. Pode ainda ser comido por roedores famintos ou também insetos, especialmente cupins quando eram enterrados. Quando alguns dos manuscritos foram descobertos pela primeira vez, eles foram expostos a luz e umidade excessivas, o que apressou a deterioração.
Embora o pergaminho seja muito mais durável que o papiro, ele também perecerá no devido tempo se for manuseado de forma incorreta ou exposto aos elementos (temperatura, umidade e luz) com o passar do tempo.[3] O Pergaminho é feito de pele de animal, por isso também é alvo de insetos. Assim, quando se trata de registros antigos, é mencionado no livro Everyday Writing in the Graeco-Roman East que “a sobrevivência é a exceção e não a regra”. (R.S. Bagnall 2009, 140). Pense nisso por um momento, a Bíblia e sua revelação especial poderiam ter desaparecido pela decomposição dos materiais.
Como os nossos manuscritos bíblicos sobreviveram a essa deterioração?
A Lei Mosaica ordenava a todo futuro rei: “Será também que, quando se assentar sobre o trono do seu reino, então escreverá para si num livro, um traslado desta lei, do original que está diante dos sacerdotes levitas.” (Deuteronômio 17:18). Além disso, o copista profissional do Antigo Testamento Hebraico fazia muitos manuscritos, na época de Jesus e dos apóstolos, em todo o Israel e até mesmo na distante Macedônia, onde haviam muitas cópias das Escrituras nas sinagogas (Lucas 4:16, 17; Atos 17:11). Tanto o nosso Antigo Testamento Hebraico quanto o Novo Testamento Grego sobreviveram, apesar dos elementos frágeis em que foram produzidos e mesmo assim há muito mais manuscritos e fragmentos desses escritos do que de qualquer outro documento antigo. Por exemplo, existem 5.830 manuscritos do Novo Testamento apenas no original Grego.
O estudioso do Novo Testamento, Philip W. Comfort, escreve: “Os Judeus eram conhecidos por colocar pergaminhos contendo as Escrituras em cântaros ou jarros, a fim de preservá-los. Os pergaminhos do Mar Morto encontrados em jarros nas cavernas de Qumran são um exemplo célebre disso. Os Papiros Beatty foram muito provavelmente parte de uma biblioteca Cristã, que estavam escondidos em jarros para serem preservados do confisco durante a perseguição de Diocleciano.”[4] O Cristianismo foi inicialmente constituído por Cristãos Judeus apenas nos primeiros sete anos (29-36 d.C.), com Cornélio sendo o primeiro gentio batizado em 36 d.C. Grande parte do Cristianismo primitivo (no período de 33-350 d.C.) era composto de Cristãos Judeus, que evidentemente carregavam a tradição de colocar “rolos contendo Escrituras em cântaros ou jarros para preservá-los”. É por essa razão que alguns de nossos manuscritos bíblicos mais antigos foram descobertos em regiões extraordinariamente secas, em jarros de barro e até em aposentos e cavernas escuras.
Manuscritos descobertos em montes de lixo no Egito
Começando em 1778 e continuando até o final do século XIX, muitos textos em papiro foram acidentalmente descobertos no Egito, que datavam de 300 a.C. a 500 d.C., quase 500 milhões de documentos no total. Cerca de 130 anos atrás, começava uma busca sistemática. Naquela época, um fluxo contínuo de textos antigos estavam sendo encontrados pelos fellahin (agricultores) nativos, e a Egypt Exploration Society, uma organização britânica sem fins lucrativos, fundada em 1882, percebeu que precisava enviar uma equipe de expedição antes que fosse tarde demais. Eles enviaram dois acadêmicos de Oxford, Bernard P. Grenfell e Arthur S. Hunt, que receberam permissão para revistar a área ao sul da região agrícola no distrito de Faiyun. Grenfell escolheu um sítio [arqueológico] chamado Behnesa por causa de seu antigo nome Grego, Oxyrhynchus. Uma busca nos cemitérios e nas casas arruinadas não produziu nada. O único lugar que restou para procurar foram os lixões da cidade, que tinham cerca de 9 metros de altura. Parecia a Grenfell e Hunt que tudo estava perdido, mas eles decidiram tentar.
Em janeiro de 1897, uma trincheira experimental (uma escavação ou depressão no solo) foi feita, e demorou apenas algumas horas até que materiais antigos de papiro fossem encontrados. Estes achados incluíam cartas, contratos e documentos oficiais. O vento soprara areia sobre esses documentos, os encobrindo e, por quase dois mil anos, o clima seco servira de proteção para os preservar.
Demorou apenas três meses para retirar e recuperar quase duas toneladas de papiros da localidade Oxyrhynchus. Eles enviaram vinte e cinco grandes caixas para a Inglaterra. Nos dez anos seguintes, esses dois corajosos estudiosos retornaram todos os anos para aumentar a coleção. Eles descobriram a escrita antiga clássica, juntamente com as ordenanças reais e contratos, misturados com relatos de negócios, cartas privadas, listas de envio, bem como fragmentos de muitos manuscritos do Novo Testamento.
Qual o benefício de todos esses documentos? Acima de tudo, a maior parte desses documentos foram escritos por pessoas comuns em grego Koiné (comum) do dia a dia. Muitas das palavras que eram usadas nos mercados, não pelas elites, apareceram nas Escrituras Gregas do Novo Testamento, que despertaram os estudiosos para o fato de que o Grego bíblico não era um Grego especial, mas, em vez disso, era a linguagem comum de pessoas comuns, o homem nas ruas. Assim, ao comparar como as palavras foram usadas nesses papiros, surgiu uma compreensão mais clara do Grego bíblico. Até o momento desta publicação, menos de dez por cento desses papiros foram publicados e estudados. A maior parte dos papiros foi encontrada no topo dos 3 metros do monte de lixo, porque os outros 6 metros abaixo foram destruídos pela água de um canal próximo. Se olharmos de forma simples, isto significaria que os 500 mil documentos encontrados poderiam ter sido dois milhões no total. Então, devemos ponderar quantos documentos transitaram na antiga localidade de Oxyrhynchus que nunca foram descartados nos lixões. Temos quase meio milhão de documentos em papiro (provavelmente houve milhões que não sobreviveram) em lixões nas areias secas de Oxyrhynchus, no Egito.
Por fim
O resultado final é que o Novo Testamento foi preservado em mais de 5.830 manuscritos Gregos completos ou fragmentados, bem como cerca de 10.000 manuscritos latinos e 9.300 manuscritos em várias outras línguas antigas, que incluem Siríaco, Eslavo, Gótico, Etíope, Copta e Armênio. Alguns destes tem mais de 2.000 anos de idade.
Notas:
[1] O papiro é um material de escrita preparado no antigo Egito a partir do caule vigoroso de uma planta aquática, usado como material em todo o antigo mundo mediterrâneo para a escrita. O Pergaminho é feito de peles de animais e foi usado como uma superfície de escrita durável nos tempos antigos.
[2] Cf. J. H. Greenlee, Introduction to New Testament Textual Criticism (Peabody: Hendrickson, 1995), 11.
[3] Por exemplo, a cópia oficial assinada da Declaração de Independência dos EUA foi escrita em pergaminho. Agora, menos de 250 anos depois, a declaração quase apagou a ponto de estar pouco legível.
[4] Philip Wesley Comfort e David P. Barrett, The Text of the Earliest New Testament Greek Manuscripts (Wheaton, IL: Tyndale House, 2001), 158.
Fonte:
Tradução: Walson Sales
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