sábado, 6 de julho de 2019

O Pentateuco

Que sólida evidência existe da autoria Mosaica do Pentateuco?
Por Gleason L. Archer
É comum nos círculos liberais ou neo-ortodoxos afirmar-se que Moisés nada tem que ver com a composição do Pentateuco. A maior parte dos críticos que sustentam essa versão acredita que os ditos livros de Moisés foram escritos por diversos autores anônimos, tendo início no século IX a.C. e terminando com o "Código sacerdotal", por volta de 445 a.C. — a tempo de Esdras lê-lo em voz alta na Festa dos Tabernáculos (cf. Ne 8). Outros especialistas, de modo especial os da escola da crítica da forma, acham que só pequeníssima parte do Pentateuco foi escrita até o tempo de Esdras, ainda que algumas partes tenham existido antes sob a forma de tradição oral, durante séculos — talvez remontando ao tempo do próprio Moisés. Tendo em vista o consenso entre os especialistas não-evangélicos de que as vindicações da autoria mosaica são todas especiosas, é bom que façamos pelo menos uma breve reafirmação da evidência sólida e irresistível, tanto interna como externa, de que o Pentateuco inteiro é obra autêntica de Moisés, sob a inspiração do Espírito Santo.
Testemunho bíblico da autoria Mosaica
O Pentateuco com freqüência refere-se a Moisés como seu autor, a começar por Êxodo 17.14: "Depois o SENHOR disse a Moisés: 'Escreva isto num rolo, como memorial, e declare a Josué que farei que os amalequitas sejam esquecidos para sempre debaixo do céu'". Em Êxodo 24.4, lemos: "Moisés, então, escreveu tudo o que SENHOR dissera". Lemos, ainda, no versículo. 7: "Em seguida, leu o Livro da Aliança para o povo...". Outras referências ao fato de Moisés ter escrito o Pentateuco encontram-se em Êxodo 34.27, Números 33.1, 2 e Deuteronômio 31.9, das quais, na última temos: "Moisés escreveu esta lei e a deu aos sacerdotes...". Dois versículos adiante, encontramos uma exigência severa a respeito do futuro: "... quando todo o Israel vier apresentar-se ao SENHOR, o seu Deus, no local que ele escolher, vocês lerão esta lei perante eles para que a escutem". Essa norma sabidamente percorre Êxodo, Levítico, Números e a maior parte de Deuteronômio (pelo menos até o capítulo 30).
Mais tarde, após a morte de Moisés, o Senhor deu estas instruções a Josué, sucessor de Moisés: "Não deixe de falar as palavras deste Livro da Lei e de meditar nelas de dia e de noite, para que você cumpra fielmente tudo o que nele está escrito. Só então os seus caminhos prosperarão e você será bem-sucedido" (Js 1.8). Negar a autoria de Moisés significa que todos os versículos acima citados são infundados e indignos de aceitação. Josué 8.32-34 registra que a congregação de Israel estava reunida fora da cidade de Siquém, no sopé do monte Ebal e do monte Gerizim, quando Josué leu em voz alta a lei de Moisés, escrita em tábuas de pedra, e os trechos de Levítico e de Deuteronômio referentes às bênçãos e às maldições, como Moisés havia feito anteriormente (cf. Dt 27 e 28). Se a hipótese documentária estiver correta, esse relato também deve ser rejeitado por se tratar de mera invencionice. Outras referências do AT à autoria mosaica do Pentateuco são 1 Reis 2.3; 2 Reis 14.6; 21.8; Esdras 6.18; Neemias 13.1; Daniel 9.11-13 e Malaquias 4.4. Todos esses testemunhos também deveriam ser totalmente rejeitados por se tratar de erros.
Cristo e os apóstolos igualmente deram testemunho inequívoco de que Moisés foi o autor da Torá [Lei]. Em João 5.46, 47, Jesus disse: "Se vocês cressem em Moisés, creriam em mim, pois ele escreveu a meu respeito. Visto, porém, que não crêem no que ele escreveu, como crerão no que eu digo?". Deveras! De maneira semelhante, em João 7.19, Jesus disse: "Moisés não lhes deu a Lei? No entanto, nenhum de vocês lhe obedece. Por que vocês procuram matar-me?". Se a confirmação de Cristo de que Moisés foi de fato o autor do Pentateuco é descartada — como de fato o faz a teoria da crítica moderna —, segue-se indubitavelmente a negação da autoridade do próprio Cristo. Pois, se o Senhor estava enganado a respeito de uma verdade histórica desse tipo, poderia enganar-se também a respeito de princípios e doutrinas que estivesse ensinando. Em Atos 3.22, Pedro diz a seus compatriotas: "Pois disse Moisés: 'O Senhor Deus lhes levantará dentre seus irmãos um profeta como eu; ouçam-no em tudo o que ele lhes disser' (cf. Dt 18.15). Afirmou Paulo, em Romanos 10.5: "Moisés descreve desta forma a justiça que vem da Lei: 'O homem, que fizer estas coisas viverá por meio delas"'. Mas a teoria JEDP* de Wellhausen, e a crítica moderna racionalista negam que Moisés tenha escrito quaisquer dessas coisas. Isso significa que Cristo e os apóstolos estavam totalmente enganados ao julgar que Moisés as tenha escrito de fato. Um erro dessa categoria, tratando-se de fatos históricos que podem ser atestados, levanta séria dúvida quanto a poderem os ensinos teológicos, que tratam de assuntos metafísicos, fora de nossa capacidade de comprovação, ser aceitos como dignos de confiança ou plenos de autoridade. Assim, vemos que confirmar Moisés como escritor do Pentateuco é assunto da maior importância para o cristão, pois a autoridade do próprio Cristo está em jogo.
Evidência interna da composição Mosaica
Além dos testemunhos diretamente oriundos dos trechos do Pentateuco mencionados acima, temos o testemunho de alusões fortuitas a acontecimentos ou questões da época, a situações sociais ou políticas ou a assuntos relacionados ao clima ou à geografia. Quando todos esses fatores são pesados de modo imparcial e correto, chega-se à seguinte conclusão: o autor desses livros e seus leitores devem ter vivido no Egito. Além disso, esses fatores revelam que tiveram pouco ou nenhum conhecimento direto da Palestina, dela sabendo apenas por meio de tradições orais, vindas de seus antepassados. Citamos as seguintes evidências:
1. O clima e as condições atmosféricas mencionados no Êxodo são tipicamente egípcios, não palestinos (cf. a referência à seqüência da colheita, em relação à praga da saraiva, em Êxodo 9.31, 32).
2. As árvores e os animais a que se faz referência de Êxodo a Deuteronômio são todos naturais do Egito ou da península do Sinai, e nenhum deles é peculiar à Palestina. A árvore chamada acácia é nativa do Egito e do Sinai, mas dificilmente se encontra em Canaã, exceto ao redor do mar Morto. Essa árvore forneceu madeira para grande parte do mobiliário do tabernáculo. As peles com que o exterior do tabernáculo foi recoberto eram de um animal chamado taḥaš, ou dugongo, que é estranho à Palestina, mas encontrado nos mares adjacentes ao Egito e ao monte Sinai. Quanto à lista de animais limpos e imundos que encontramos em Levítico 11 e em Deuteronômio 14, alguns são peculiares à península do Sinai, como o dîśōn, ou ovelha montês (Dt 14.5), o ya‘a nāh, ou avestruz (Lv 11.16), e o te.’ô, ou antílope selvagem (Dt 14.5). É difícil imaginar como uma lista desse tipo poderia ter sido feita nove séculos depois, em uma terra onde não havia nenhum desses animais.
3. Mais conclusivas ainda são as referências geográficas que anunciam perspectivas de uma pessoa não familiarizada com a Palestina, mas boa conhecedora do Egito. 1) Em Gênesis 13.10, em que o autor deseja transmitir aos leitores como era verde o vale do Jordão, ele o compara a uma localidade bem conhecida da região oriental do delta do Nilo, perto de Mendes, entre Busiris e Tânis. Declara ele que o vale do Jordão era "como a terra do Egito, como quem vai para Zoar" (egip., T-; -r). Nada poderia ser mais evidente, com base nessa referência casual, que o fato de o autor estar escrevendo para um grupo de pessoas não familiarizadas com a aparência das regiões da Palestina, mas pessoalmente familiarizadas com a aparência do baixo Egito. Tal familiaridade só poderia ter se desenvolvido no próprio Egito, e isso se enquadra muito bem à datação mosaica para a composição do livro de Gênesis.
2) A fundação de Quiriate-Arba (nome pré-israelita de Hebrom, no sul de Judá), segundo Números 13.22, ocorreu "sete anos antes de Zoã, no Egito". Isso implica com toda a clareza que os leitores de Moisés estavam bem cientes da data da fundação de Zoã, mas desconheciam a data em que Hebrom — que se tornaria uma das mais importantes cidades de Israel após a conquista — havia sido fundada.
3) Em Gênesis 33.18 há uma referência à "cidade de Siquém, em Canaã". Para um povo que havia vivido na Palestina mais de sete séculos a partir da conquista (de acordo com a data atribuída a essa passagem pela escola de Wellhausen), parece-nos estranho ser preciso dizer que uma cidade tão importante como Siquém ficava "em Canaã". Todavia, seria perfeitamente cabível a um povo que ainda não se houvesse estabelecido ali — como era o caso do povo conduzido por Moisés.
4. A atmosfera e a ambientação do deserto prevalecem por toda a narrativa, desde Êxodo 16 até o fim de Deuteronômio (conquanto haja algumas referências à agricultura, como previsões das condições da terra que logo o povo haveria de conquistar). A importância atribuída a um grande tabernáculo (tenda) como lugar central de culto e reunião dificilmente teria pertinência a um público leitor que houvesse vivido na Palestina mais de sete séculos e só estivesse familiarizado com o templo de Salomão ou com o de Zorobabel como santuário central. A explicação de Wellhausen para isso, que o tabernáculo era simplesmente extrapolação artificial do templo, não se harmoniza aos fatos. O templo era muito diferente em tamanho e no mobiliário, em comparação ao tabernáculo descrito na Torá. Todavia, nem mesmo essa teoria de ficção histórica explica por que os contemporâneos de Esdras teriam estado tão interessados num mero tabernáculo a ponto de a ele devotar tantos capítulos em Êxodo (25-40) e a ele referir-se em quase três quartas partes de Levítico e também com tanta freqüência em Números e em Deuteronômio. Não se consegue encontrar em toda a literatura mundial outro exemplo de tamanha atenção dada a uma estrutura que na verdade (segundo Wellhausen) jamais existiu e nunca exerceu influência sobre a geração para a qual aqueles textos foram escritos.
5. Há grande evidência de natureza técnica e lingüística que se pode reunir em apoio da existência de um contexto egípcio para todo o texto da Torá. Podem-se encontrar exemplos cheios de minúcias a esse respeito em meu livro Merece confiança o Antigo Testamento? Basta que se diga que existe um enorme número de nomes egípcios e de palavras tomadas de empréstimo da língua egípcia que se encontram mais no Pentateuco que em qualquer outra seção das Escrituras. Isso é o que se poderia esperar de um autor que, educado no Egito, escrevesse para um povo nascido e vivido nesse mesmo ambiente.
6. Se o Pentateuco tivesse sido escrito entre os séculos IX e V a.C, como crê e ensina aquela escola documentária, e extrapolasse as práticas religiosas e as perspectivas políticas dos séculos V e VI, indo até os tempos de Moisés (mediante uma mentira piedosa), seria razoável esperar que esse documento espúrio, forjado muito tempo depois de Jerusalém tornar-se a capital do reino israelita, ter-se-ia referido a Jerusalém por esse nome em muitas ocasiões. É certo que teria incluído algumas profecias sobre as futuras conquistas dessa cidade e de sua situação privilegiada como localidade permanente do templo de Iavé. Entretanto, um exame minucioso de todo o texto de Gênesis até Deuteronômio leva-nos à espantosa conclusão de que o nome de Jerusalém jamais é mencionado. É certo que o monte Moriá aparece em Gênesis 22 como o local em que Abraão tentou oferecer o filho Isaque em sacrifício, mas nenhuma idéia existe ali de que aquele seria o local do futuro templo. Em Gênesis 14, há uma referência a Melquisedeque como "rei de Salém" — não de "Jerusalém" —, mas tampouco temos aqui algum indício de que mais tarde essa cidade haveria de tornar-se a capital política e religiosa da comunidade hebraica. Em Deuteronômio 12.5-18, encontramos referências a um "local que o SENHOR, o seu Deus, escolher dentre todas as tribos para ali pôr o seu Nome e sua habitação. Para lá vocês deverão ir". Tais referências, é verdade, são tão genéricas que podem incluir cidades como Siló e Gibeom, em que o tabernáculo foi guardado por longos períodos antes da construção do templo de Salomão. Entretanto, é justo presumir que Deuteronômio 12.5 tenha a intenção de prever o estabelecimento do templo de Jerusalém. No entanto, é quase impossível explicar as razões por que essa obra de Moisés, alegadamente espúria, escrita muito mais tarde do que se supõe, deixe de mencionar Jerusalém pelo nome, embora houvesse muitas razões para que esse nome ali constasse. Só a suposição de que a Torá é autenticamente mosaica, ou pelo menos composta muito antes da conquista de Jerusalém (ano 1000 a.C.), pode explicar a ausência do nome dessa cidade.
7. Ao datar documentos literários, é da maior importância avaliar os termos-chave aparentemente em uso na época em que o autor executou seu trabalho. No caso de um livro religioso, os títulos pelos quais Deus é caracteristicamente chamado assumem grande importância. Durante o período entre 850-450 a.C, encontramos crescente realce atribuído ao título de YHWH ṣ e ḇa’ôṯ (na maior parte das vezes traduzido em nossas versões por "SENHOR dos Exércitos"). Esse nome confere especial realce à onipotência do Deus da aliança de Israel e ocorre cerca de 67 vezes em Isaías (final do século VIII a.C), 83 vezes em Jeremias (final do século VII e início do VI a.C), treze vezes nos dois capítulos de Ageu (final do século VI a.C.) e 51 vezes nos quatorze capítulos de Zacarias (final do século VI e início do V a.C). Esses profetas cobrem quase todo o tempo durante o qual o texto do Pentateuco estaria sendo composto, na forma dos manuscritos J, E, D e P. Entretanto, é de espantar que nem uma única vez o título "Iavé dos Exércitos" se encontre no Pentateuco inteiro. Da perspectiva da ciência da literatura comparada, esse fato seria considerado a mais forte evidência de que a Torá teria sido composta numa época em que o título "Iavé dos Exércitos" não era utilizado. Portanto, toda a Torá, até mesmo o chamado Código sacerdotal, devem ter sido compostos antes do século VIII a.C. Caso essa dedução seja válida, a hipótese documentária deve ser totalmente abandonada.
8. Se a parte do Pentateuco chamada Código sacerdotal foi de fato composta nos séculos VI e V a.C, seria de esperar que algumas instituições caracteristicamente levíticas e certos valores culturais do povo, introduzidos a partir dos dias de Davi, fossem mencionados com alguma freqüência. Dentre estes estariam os corais, formados pelos cantores do templo, os quais Davi organizou lançando 24 sortes (1Cr 25), e aos quais tantas referências se fazem nos títulos dos Salmos. No entanto, nenhum coral organizado por cantores levíticos é mencionado uma única vez na Torá.
A ordem dos escribas (sōpērîm) certamente teria sido mencionada", pois o grande chefe deles, o próprio Esdras, estaria concluindo grandes porções do Pentateuco, a tempo de celebrar-se a Festa dos Tabernáculos, em 445 a.C. — segundo a hipótese de Wellhausen. Entretanto, por alguma estranha razão, nenhuma referência se percebe, de modo algum, à ordem dos escribas nem à função deles, tampouco um indício profético de que um dia haveria de existir um corpo de guardiães do texto sagrado.
A partir da época de Salomão, passou a existir uma importantíssima classe de serviçais no templo, conhecidos por netinins ("os que foram dados", i.e., dados para o serviço do Senhor no templo). O número dos netinins (392), que se uniram aos 42 mil que retornaram da Babilônia em 538 a.C, está incluído nas estatísticas de Esdras 2.58 e de Neemias 7.60, ao lado da contagem dos levitas e dos sacerdotes. No entanto, não existem referências a eles ou previsão a respeito deles no "Documento P". Que estranho!
Desde o tempo de Davi, "o amado cantor de Israel" (2 Sm 23.1, NVI, nota de rodapé), fazia-se uso abundante de vários instrumentos musicais (de corda, de sopro, de percussão — desses três tipos) em relação ao culto público diante de Deus. É certo que a sanção de Moisés a tão importante característica do culto levítico deveria aparecer na Torá, tivesse esta sido composta tardiamente, no século X a.C. ou depois. É de surpreender, no entanto, que não exista uma única referência a instrumentos para acompanhamento musical no culto do tabernáculo. É impossível harmonizar esse fato com a data de uma composição do século V a.C. Não resta a menor dúvida de que um corpo sacerdotal profissional como esse, descrito pelos autores da crítica documentária, teria tido a maior das motivações para se incluir tais instituições, tão queridas entre as ordenações, de "Moisés".
9. O Pentateuco, especialmente Deuteronômio, contém várias referências à futura conquista de Canaã pelos descendentes de Abraão. O autor de Deuteronômio escreve, cheio de confiança, que as hostes hebraicas vencerão toda oposição dentro da terra de Canaã, derrotarão todos os exércitos inimigos e implodirão todas as cidades que decidirem atacar. Isso se reflete com clareza nas repetidas exortações para que se destruam todos os templos e santuários cananeus e tudo se reduza a pó (Dt 7.5; 12.2, 3; cf. Êx 23.24; 34.13).
Visto que todas as nações defendem seus relicários sagrados com a máxima força de que são capazes, a presunção de que Israel seria capaz de destruir todos os santuários pagãos por toda a terra presume a supremacia militar do povo de Iavé após a invasão de Canaã. Em que outra circunstância na carreira da nação hebréia poder-se-ia nutrir tão grande confiança senão nos dias de Moisés e de Josué? Aqui, outra vez, a evidência interna aponta fortemente para uma data de composição coincidente com os dias de Moisés. Nada mais fora da realidade supor que Josias, em 621 a.C, quando Judá era um pequenino estado vassalo sob o domínio do Império Assírio, pudesse almejar destruir todos os altares idólatras, demolir todos os altos (maṣṣēḇāh) e árvores veneradas (’ašērāh) e esmagar todas as estruturas de templos, reduzindo-os a pó, de norte a sul e de leste a oeste da Palestina. Como poderia a pequenina colônia que lutava para sobreviver esperar eliminar todos os relicários religiosos de Dã até Berseba?
A única conclusão que se pode tirar das ordens exaradas no Pentateuco para que destruíssem todos os traços da idolatria é que estava na capacidade militar de Israel o poder de fazer cumprir essas ordens por todo o país. Nada, porém, seria menos cabível nos dias de Zacarias, de Esdras e de Neemias que planejar e executar tão grande extirpação do culto idólatra em toda a Palestina. A grande batalha deles era a sobrevivência, em face das reiteradas más colheitas e de grandes hostilidades por parte das nações vizinhas. Nem o "Documento P" do tempo de Esdras nem o Deuteronômio dos dias de Josias poderiam harmonizar-se com as passagens aqui mencionadas.
10. Deuteronômio 13.2-11 prescreve a pena de morte por apedrejamento para qualquer idólatra ou falso profeta, fosse irmão, esposa ou filho. Os versículos seguintes (12-17) dizem que até mesmo uma cidade toda que se voltasse para a idolatria deveria ter todos dos seus moradores sentenciados à morte. Todas as suas casas deveriam ser reduzidas a pó e cinza e todas as propriedades condenadas a essa excomunhão. Isso não é teoria visionária, mas ordem séria com procedimentos investigativos nela embutidos, o que refletia um programa que deveria ser posto em execução no Israel da época. No entanto, quando examinamos o registro bíblico da situação espiritual de Judá no século VII a.C. (ou, na verdade, no século VIII, a partir do tempo de Acaz), descobrimos que a adoração aos ídolos era tolerada em quase todos os recantos do reino — exceto durante a reforma religiosa empreendida por Ezequias e por Josias. Isso teria induzido à destruição de todas as cidades e vilas, incluindo-se Jerusalém. Ninguém cria leis cuja implementação seja totalmente impossível de ser executada, por causa das condições reinantes. A única época em que tal legislação poderia ter sido posta em vigor era a dos dias de Moisés e de Josué — e possivelmente nos dias de Davi. (Já nos dias de Salomão, o culto às relíquias nos "lugares altos" estava sendo praticado.)
*A sigla refere-se aos códigos Eloísta, Javista, Deuteronômico e Sacerdotal (Priestly em inglês, de onde se extrai o "p"). Para melhor compreensão do conceito, v. Introdução bíblica: como a Bíblia chegou até nós, de Norman Geisler e William Nix (São Paulo, Vida, 1996). (N. do E.)
Archer, Gleason L. Enciclopédia de Temas Bíblicos: respostas às principais dúvidas, dificuldades e “contradições” da Bíblia. Tradução Oswaldo Ramos. 2. Ed. São Paulo: Editora Vida, 2001, pp. 41-46.
Via Walson Sales.

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