Por Dave W. Gilmore
Fé. Use esta palavra hoje, e ela evoca imagens de pessoas andando com os olhos fechados, sem saber para onde estão indo ou o que está na frente delas. Em outras palavras - cego. Apenas creia. Fomos condicionados a pensar que a fé e a razão são polos opostos. E não é produtivo que os Cristãos sejam frequentemente retratados dessa maneira nos filmes e na televisão. Nesses filmes e programas, sempre alguém chega aos Cristãos com uma questão bem fundamentada que o crente não consegue lidar ou responder. O Cristão se rende à racionalidade do questionador e diz: "Querido, às vezes você só precisa ter fé".
O que a cultura acha que nós entendemos por fé?
Com o aumento da ciência e da tecnologia, as pessoas são ensinadas a acreditarem apenas em coisas que possam observar ou provar. E como não podemos fazer Deus aparecer com um teste científico, ou não podemos recriar a ressurreição de Jesus em um experimento de laboratório, então ele não deve existir, e a ressurreição não poderia ter acontecido. O biólogo ateu e evolucionista Richard Dawkins descreve a fé dessa maneira em seu livro The God Delusion:
[fé é] uma crença falsa e persistente, defendida diante de fortes evidências contrárias
Para Richard Dawkins (e muitos outros), a fé é o oposto da razão. Essa temática se desenrola em um dos meus filmes favoritos de Natal de todos os tempos: A Miracle on 34th Street [Um milagre na Rua 34]. Perto do fim, quando a menininha perde a “fé” de que Kris Kringle é o Papai Noel, sua mãe a encoraja dizendo que ela precisa continuar acreditando no Papai Noel porque “Fé é acreditar em coisas quando o senso comum lhe diz para não acreditar.” A garota - corretamente - responde com um intrigante “huh?”. É quase como se pudéssemos substituir fé por "pensamento positivo".
Vivemos realmente nossas vidas dessa maneira? Evitamos agir até que possamos provar através de testes científicos que seremos bem sucedidos? A resposta, claro, é não. Ser tão dogmático em ter que provar tudo nos tornaria terrivelmente improdutivos. Pense nisso desta maneira; Quando você se sentou em sua cadeira, você primeiro inspecionou detidamente a cadeira ou usou algum tipo de medidor de força para ver se ela sustentaria seu peso antes de se sentar? Não, você não a inspecionou dessa forma. Você sabe para que servem as cadeiras, sabe o que elas devem fazer, então você se sentou nela e não pensou duas vezes. Eu confio que a cadeira vai aguentar meu peso antes de me sentar nela.
Em um nível mais pessoal, quando estou no trabalho, e minha esposa e meus filhos estão em casa depois da escola, não sinto necessidade de ter algum tipo de câmera de vídeo para poder ficar de olho nela. Nem sinto a necessidade de ligar para ela constantemente para ter certeza de que tudo está bem. Eu tenho fé nela como mãe. Por quê? Porque a experiência me ensinou que ela é uma mãe incrível e confiável para meus filhos. Minha fé nela não é algo que eu simplesmente sustente cegamente. Eu desenvolvi confiança nela através do nosso relacionamento.
O que a Bíblia quer dizer com a palavra fé?
Até aqui tudo bem sobre o que eles afirmam. Mas nosso tópico hoje é sobre a fé bíblica. Então, se quisermos saber como os Cristãos devem entender sobre fé, precisamos procurar na Bíblia. Então, quando os autores do Novo Testamento escreveram sobre fé, eles tiveram a mesma definição de Richard Dawkins e da Sra. Walker? Será que eles realmente queriam dizer que deveríamos apenas sentar, calar a boca e acreditar “simplesmente” sem outra razão? Os autores do Novo Testamento nos disseram para não fazer perguntas e resistir à racionalidade?
No grego original do Novo Testamento, a palavra usada para fé é pistis. Esta palavra não significa "crença sem razão"; ela significa convicção da verdade; Confiar em; fidelidade. Quando o Novo Testamento foi traduzido para o Latim, a palavra usada foi fides, que significa “confiança”. Todas essas definições implicam algum tipo de relação ou experiência com a parte ou coisa em questão. Em outras palavras, você tem razões. Você não decidiu ter fé em alguém/algo "simplesmente". Você tem fé nessa pessoa ou coisa com base na experiência anterior e em um relacionamento desenvolvido.
Este conceito de crença baseado na razão é representado em toda a Bíblia. Quando Moisés está falando com Deus na sarça ardente, ele diz a Deus que as pessoas não acreditarão no que ele tem a dizer. Deus diz "Moisés, volte lá e diga a eles para eles simplesmente crer"? Não. Ele diz a Moisés para realizar vários sinais como evidência de que o que ele diz é verdade.
Em todo o seu ministério nos Evangelhos, Jesus realizou rotineiramente milagres de cura, alimentando as massas, controlando o clima e ressuscitando os mortos. Cada um desses milagres servia a um propósito específico ao afetar o assunto específico - o cego agora podia ver, o coxo agora podia andar, os 5.000 tinham algo para comer e Lázaro voltou à vida - mas eles também serviam a um propósito maior. Esses milagres eram uma evidência de que Jesus era quem Ele disse que era. Ele não andava por aí, distribuindo sabedoria e dizendo às pessoas "Ei, eu sou Deus em carne e osso eeeeeeee... você só precisa acreditar em mim quando eu falar". Não! Ele realizou milagres como prova de que ele era quem Ele disse que era. E a maior prova disso tudo foi que Ele ressuscitou dos mortos! Ele disse aos apóstolos que seria capturado, torturado e morto. E que depois Ele ressuscitaria dos mortos. E foi só quando os discípulos viram isso acontecer que eles realmente acreditaram que Jesus era quem Ele disse que era.
Um dos meus exemplos favoritos de Jesus fornecendo evidências de Sua natureza ocorre quando João Batista está na prisão. Aqui está o primo de Jesus, o homem que estava proclamando Sua chegada e que estava batizando pessoas na proclamação do Messias. Ele até mesmo batizou Jesus e testemunhou Deus proclamando dos céus “este é o meu Filho em quem me comprazo”. Jesus chamara João de o homem mais santo da terra. Então, aqui está João, sentado na masmorra de Herodes. E ele começa a ter dúvidas. Então, ele envia alguns de seus discípulos para perguntar a Jesus "você é realmente o Messias". Agora, se fosse eu, eu teria olhado para aqueles caras e dito “João deveria saber melhor. Ele me conhece por toda a minha vida e me viu fazendo muitas coisas. Volte lá e diga a ele apenas para relaxar e acreditar em mim”. Felizmente, Jesus não lidou com a pergunta da mesma forma que eu faria. Em vez disso, Ele fez com que os discípulos de João observassem enquanto Ele fazia os coxos andarem, curou os cegos, curou leprosos e ressuscitou mortos. Então Ele diz “OK, volte e dê o relatório a João sobre o que vocês testemunharam”. Em outras palavras, Ele deu aos discípulos de João (e, portanto, a João) evidências de que Ele era aquele a quem João estava buscando. Ele não encorajou João a ter uma fé cega.
Por que alguns Cristãos têm uma fé cega?
Agora, não me entenda mal; Cristãos com fé cega certamente existem. Eu diria que um grande número de crentes acha que não podemos fazer perguntas e devemos "apenas acreditar". A ideia de que devemos ter uma fé cega e não fazer perguntas geralmente vem de uma interpretação incorreta de duas passagens nos Evangelhos. A primeira é Mateus 18: 2-4. Quando Jesus nos diz que os maiores no Céu são aqueles que são como crianças. Agora, isso certamente não significa "não fazer perguntas". Qualquer pessoa com filhos sabe que eles fazem MUITAS perguntas. Porque as crianças têm o desejo de conhecer o mundo ao seu redor. A diferença entre crianças e adultos nesta passagem em particular é que as crianças o fazem com humildade e alegria de conhecer. Eles também ficam animados quando recebem presentes. E Jesus estava oferecendo o maior presente de todos - a vida eterna. Os adultos, por outro lado, muitas vezes colocam orgulho, ambição e arrogância à equação. Essas coisas nos impedem de nos humilharmos verdadeiramente diante de Deus. Então, esta passagem é sobre ser humilde, alegre e maravilhado com o presente que nos foi dado, e não "não fazer perguntas".
A segunda passagem que pode encorajar as pessoas a não fazerem perguntas é quando Jesus aparece aos apóstolos e Tomé teve dúvidas (João: 24-29). Depois que Jesus aparece, ele diz a Tomé: “Porque me viste, creste? Mais bem-aventurados são os que não viram e creram.” A princípio, parece que Jesus está de certa forma criticando Tomé por não crer Nele. Mas Tomé não estava duvidando de Jesus, mas do testemunho ocular dos apóstolos. De fato, os apóstolos também não creram no testemunho ocular das mulheres! Não creram até que viram o túmulo vazio por si mesmos, e então Jesus apareceu a eles e assim creram! A questão de Jesus fica mais clara quando lemos os últimos versos do Evangelho de João. João escreve:
“30 Ora, Jesus fez muitos outros sinais na presença dos discípulos, que não estão escritos neste livro; 31 estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome. (ESV)”
João explica o propósito no final do seu evangelho. Ele escreveu apenas um punhado de evidências de que precisaríamos para crer que Jesus é o Messias para que nós também possamos ser salvos.
Uma fé cega é antibíblica e perigosa
Como você pode ver, ter uma fé cega é antibíblico. Nossa fé é construída sobre confiança e evidência. A fé não é apenas um pensamento positivo. Ter uma fé cega também pode ser muito perigoso quando ela é usada para abusar dos outros por pessoas revestidas de autoridade. Já falamos sobre a necessidade de discernimento antes. A Bíblia ensina repetidamente que devemos “testar os espíritos”; Em outras palavras, não basta seguir as coisas sem ponderar e meditar nelas. O Cristianismo não é uma visão de mundo que diz que deve haver obediência cega. As Escrituras nos dizem repetidamente que precisamos saber o que ela ensina para que possamos discernir a verdade quando algo entra em questão. Precisamos pesar as evidências e chegar à verdade.
“Fé não é crença apesar das evidências, mas crença à luz da evidência” --Sean McDowell, Is God Just a Human Invention? [Deus é apenas uma invenção humana?]
Falar sobre a Fé com os Não-Crentes
Às vezes, em nossas conversas com os não-crentes, usamos linguagem e termos que eles não entendem. Ou eles têm uma definição incorreta. "Fé" tornou-se um desses termos. Mesmo pessoas seculares usam o termo em conversas quando falam sobre coisas que nem são religiosas. E, quando eles usam o termo, querem dizer que fé significa “pensamento positivo”. Ou “crer apesar da razão”. Então, ao invés de desperdiçar muito esforço em redefinir o termo fé, eu encorajaria você a começar a usar palavras que retratam o que nossa fé realmente é. Palavras como "confiança" ou "convicção". Isto é o que supomos ter quando utilizamos o termo. Coloquei minha confiança em Jesus porque estudei o que ele ensinou e acho que ele acertou no modo como o mundo funciona. Tenho uma forte convicção sobre várias questões porque vi a maneira como Deus trabalha no mundo ao nosso redor. Agora, eu poderia ter usado a palavra “fé” nessas sentenças, mas usar as palavras confiança e convicção conduz para onde minhas crenças se apoiam, a saber, em raciocínios e evidências sólidas.
Por fim, não devemos ser o tipo de Cristão que simplesmente crê porque queira ou precise que algo seja verdade. Deixar-se guiar por uma fé cega é perigoso e pode levá-lo por caminhos errados ou até a um penhasco. A fé cega não é ensinada na Bíblia. Fazer perguntas é uma maneira de conhecer a Deus, da mesma forma que se faz perguntas para conhecer outras pessoas. Não, a Bíblia não nos encoraja a crer “simplesmente”; ela nos encoraja a confiar em Jesus com base na razão e na evidência, e chegar a uma conclusão racional sobre a verdade do Cristianismo.
Fonte:
Tradução Walson Sales.
Excelente exposição sobre fé. Vai me ajudar bastante em um sermão Lara estudo bíblico. Parabéns!
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