sábado, 6 de julho de 2019

RESENHA CRÍTICA DO CAPÍTULO 9 “A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA” DO LIVRO “O SÉCULO DO ESPÍRITO SANTO” DE VINSON SYNAN

Obra analisada:
SYNAN, Vinson. O século do Espírito Santo. São Paulo: Vida, 2011, pp. 288-316.

VINSON SYNAN, autor do livro “O Século do Espírito Santo”, é um respeitado historiador dos Movimentos Pentecostal e Carismático. Já escreveu dezenas de livros, entre eles: The Holiness-Pentecostal Tradition e The Old-Time Power: History of the Pentecostal Holiness Churches. Dos quinze capítulos existentes no livro “O Século do Espírito Santo” apenas sete foram inscritos por Synan, os demais oito capítulos foram escritos por outros autores, como é o caso de Peter Hocken que escreveu o capítulo nove.
PETER HOCKEN (1932 – 2017) foi um padre teólogo e historiador britânico da Renovação Católica Carismática (RCC) e do Movimento Pentecostal no século XX. Foi autor de diversos livros, entre eles: “The Strategy of the Spirit?, Pentecosts and Parousia: Charismatic Renewal, Christian Unity, and the Coming Glory e Azuza, Rome and Zion.”

O livro “O Século do Espírito Santo” aborda os cem anos do avivamento Pentecostal e Carismático. Ele é sem sombra de dúvida uma das melhores obras escritas por Vinson Synan. No capítulo nove deste livro “Peter Hocken” nos relata como o “Espírito Santo” foi derramado sobre um determinado grupo de católicos que após receberam o batismo no “Espírito Santo”, tiveram experiências maravilhosas e como esse movimento passou a ser disseminado no meio católico bem como suas respectivas etapas de expansão, ascensão e declínio. Hoje esse movimento é mundialmente conhecido como a Renovação Católica Carismática (RCC).
Logo nos primeiros parágrafos, Hocken faz questão de frisar a importância que teve o dia 18 de fevereiro de 1967. Ele relata esse dia como sendo um outro dia de Pentecostes. Ele não deixa dúvida de que acredita que aquele dia foi uma data escolhida por Deus para deixar um marco histórico escrito nas páginas da história da Igreja Católica Romana. Hocken relata que em uma noite O Espírito Santo desceu sobre um grupo de católicos romanos que estavam em um retiro ao norte de Pittsburgh, Pensilvânia. Segundo ele, a maioria eram estudantes da Universidade de Duquesne. Eles não planejaram um serviço na capela ou coisa do tipo, mas uma festa de aniversário para um dos participantes no retiro de fim de semana. Peter Hocken leva o leitor a acreditar que de várias formas ou de várias maneiras, Deus liderou e conduziu esses vinte e cinco jovens católicos para aquela capela, onde eles passaram a sentir uma presença tangível do Espírito Santo e logo em seguida alguns deles começaram a gritar, outros riam e choravam, alguns caíram prostrados no chão, e todos começaram a falar em línguas.
É visível nas palavras do autor que a Renovação Carismática Católica (RCC) teve seu início por meio de uma inesperada ação do Espírito Santo naquele fim de semana em Duquesne, seguindo as influências carismáticas protestantes de Pittsburgh e de outras como a Adhonep e David Wilkerson. Para Peter Hocken a Renovação Carismática Católica (RCC), foi, sem dúvida uma das vertentes mais importantes do movimento carismático do século XX.
Hocken parecia estar convicto de que os elementos carismáticos da RCC eram os mesmos presentes entres os protestantes: a experiencia básica do batismo no Espírito Santo, a manifestação e o exercício dos dons espirituais de 1 Co 12.8-10, o louvor exuberante a exaltação a Cristo, a evangelização e a atenção a voz do Senhor. Segundo ele, havia apenas algumas pequenas diferenças na forma, estilo e no tempo de celebração.
Objetivando mostrar a inicialização desse movimento, Peter Hocken afirma que ele foi iniciado com teólogos leigos e uma vez que a Renovação Católica Carismática começou com os leigos e foi em grande parte liderada por eles, o movimento se revelou decisivo na abertura das portas aos leigos para papeis de liderança na renovação após 1967. Mais tarde segundo Hocken o movimento passou da universidade de Duquesne e se espalhou para a Universidade de Notre Dame, em Soth Bend, Indiana. Lá também muitos outros foram batizados e começaram a orar em línguas.
Mais adiante, Peter Hocken nos apresenta as fases desse movimento, que por sua vez é relatado em vários parágrafos e em diversas páginas, mostrando o crescimento extraordinário experimentado pela RCC em vários países, sua aceitação, expansão, suas conferências e como inúmeras comunidades carismáticas foram implantadas. Mas, ele faz questão de nos revelar também o lado ruim enfrentado pelo movimento da RCC, ou seja, sua baixa e declínio em determinados países como por exemplo: Estados Unidos, Canadá e Irlanda.
Mais adiante o autor vai nos mostrar como como cresceu a RCC durante a década de 1980 entre os grupos étnicos – hispânicos, haitianos, coreanos e filipinos. Nessa época os líderes desses grupos se reuniam com o NSC, de língua inglesa, porém tinham “canais” em seus respectivos idiomas na conferência nacional. No início da década de 1990, eles eram fortes o bastante para ter conferências e comitês nacionais organizados por eles próprios.
Hocken faz questão de frisar também que o interesse da RCC em fazer da evangelização o principal objetivo da igreja na década de 1990 contribuiu para que o movimento fosse mais aceito integralmente como elemento inseparável da Igreja Católica Romana. Em especial na África, na América Latina, a RCC passou a ser vista como um dos instrumentos mais eficazes em ganhar o povo para Cristo. Além disso tinha como incentivador o Papa João Paulo II que era um incentivador dos novos movimentos da igreja Católica Romana.
Partindo para a finalização do capítulo, o autor afirma que apesar de algumas decepções e algumas áreas de declínio, a RCC tem uma inegável história de sucesso. Ela de fato exerceu muito mais influência sobre a igreja católica Romana que o percebido em sua jurisdição visível. Ele ainda afirma que a igreja Católica Romana de 2000 tinha muito mais consciência da pessoa do Espírito Santo que a da década de 1960. Hocken acredita que embora isso tenha se devido a diversos outros fatores, como a renovação Bíblica e Litúrgica, a maior influência foi, sem dúvida, a da RCC. Ele diz que a RCC foi o instrumento mais eficaz para conduzir o católico comum a leitura da Bíblia e o amor pela palavra de Deus.
Peter Hocken finaliza dizendo que finalmente a RCC foi responsável por uma mudança importantíssima: a aceitação de cristãos de outras igrejas por parte dos católicos comuns. Ele ainda diz que a renovação carismática é o primeiro movimento de massa a abarcar de fato todas as igrejas e tradições cristãs. Ainda continuando ele diz: Muitos leigos católicos tiveram sua primeira experiência com o ecumenismo na RCC, que tornou real no coração o que o Concílio do Vaticano II havia declarada acerca do ecumenismo espiritual e da vontade do Senhor a respeito da unidade cristã. Ele ainda completa: A RCC representa uma interessante mistura de reforma da herança católica e de aberturas aos dons protestantes, tudo lançado no cadinho do Espirito Santo.
Peter Hocken é sem sombra de dúvida um grande escritor, como já havia citado anteriormente já existem muitas obras publicadas em seu nome. Tive a oportunidade de ler trechos de alguns dos seus livros em inglês. O capítulo 9 é descrito por ele de forma surpreendente, pois ele impressiona pelo poder que tem de compilar tanto assunto histórico dentro de apenas um simples capítulo. A forma como ele compactou os assuntos e os expôs realmente merece aplausos, entretanto sou incisivo em afirmar que discordo de muitos assuntos apresentados por ele nesse capítulo. Por mais que ele tente convencer o leitor de como estudantes católicos leigos tenham recebido o batismo no Espírito Santo, eu não consigo acreditar na genuína descida do Espírito Santo sobre os católicos da Universidade de Duquesne e nem tão pouco que eles tenham sido batizados no Espírito Santo, como também não acredito que o Espirito Santo tenha se espalhado para a Universidade de Notre Dame, em Soth Bend, Indiana e tenha batizados a muitos. A história da RCC realmente impressiona e nos chama a atenção. Porém ao fazer um uma busca mais profunda comparando o movimento da RCC com o que realmente nos revela a Bíblia Sagrada, logo descubro que a RCC não passa de uma imitação do que realmente vem a ser o verdadeiro avivamento bíblico. Na Bíblia encontramos alguns exemplos de busca pela renovação ou avivamento espiritual. Nos livros dos Reis (II Rs 22) temos o exemplo do rei Josias, que foi o último dos reis justos do reino do sul. Aos dezesseis anos começou a invocar ao Senhor com toda a sinceridade (II Cr 34.3), e como prova de seu amor, lealdade e obediência a Deus, começou a destruir a idolatria do meio do povo (o culto a imagens e deuses) (II Cr 34.3-4). Na restaurando do templo, foi encontrado o livro da Lei, escrito por Moisés que estava perdido (II Cr 34.15). Naquele momento surgiu uma nova postura do rei e do povo diante da palavra de Deus, e todo o país experimentou uma renovação espiritual (II Cr 23.1-21). Muitos foram os resultados encontrados na renovação espiritual do rei Josias, a saber: “Fez o que era reto aos olhos do Senhor...” (II Rs 22.2); Ordenou que reparassem “as fendas da casa do Senhor...” (II Rs 22.5); Provou crer na Palavra de Deus e aceitou sua mensagem (II Rs 22.11); Consultou a Deus (II Rs 22.13); “... fez o concerto perante o Senhor, para andarem com o Senhor e guardar os seus estatutos, com todo o coração e com toda a alma...” (II Rs 23.3); Destruiu a idolatria (II Rs 23.4-20); Celebrou a “Páscoa” (II Rs 21.21), etc.
É possível observar que a renovação espiritual na época do rei Josias observa e se coaduna com princípios bíblicos, e não com a tradição idólatra que o povo e o reino de Judá se encontravam. O princípio bíblico essencial para um verdadeiro avivamento é o arrependimento sincero de pecados. Sempre que existe um arrependimento verdadeiro, pecados específicos são reconhecidos, falsos mestres e irmãos são devidamente disciplinados, práticas pagãs e mundanas são abandonadas e os padrões de santidade são restaurados. A RCC fala de uma renovação, mas essa mesma renovação não apresenta um verdadeiro e sincero arrependimento, não apresenta uma genuína mudança de atitude. Falar de renovação ou avivamento espiritual, sem incluir mudança de atitude, arrependimento, regeneração pela palavra de Deus, significa que não há propósito sadio e real de mudança no coração e na maneira de viver desse movimento. Alguns livros voltados para o assunto da Renovação Carismática Católica nos revelam que nas reuniões realizadas por diversos grupos católicos que pertenciam o movimento RCC não havia nenhum elemento visível de busca por um avivamento real, pois eles permaneciam na indiferença com seus antigos vícios e práticas. Isso sempre foi visível na maioria dos adeptos da RCC. Entre eles, não há arrependimento sincero, mudança de vida, libertação dos vícios, com raríssimas exceções. O movimento da RCC é na verdade um movimento de práticas e crenças do catolicismo popular, e não possui renovação genuinamente bíblica.
Já o derramamento do Espírito Santo no dia de pentecostes na vida dos 120 discípulos regenerados que esperavam ansiosamente a promessa feita por Jesus, foi totalmente diferente dos relatados por Peter Hocken no capítulo 9 desse livro em foco. Foi algo genuinamente divino. Após eles receberem o Batismo com o Espírito Santo, foram revestidos de poder e autoridade, se tornaram testemunhas de Jesus Cristo, e suas mensagens estão registradas na Bíblia, mensagens não mariocêntricas e sim cristocêntricas. (At 1.8; 2.22-36; 3.13-26; 4.8-22 e 32-33).
Extraído de um trabalho que fiz para a obtenção de notas no Curso de Teologia da ESTEADEB/PE.
Por Nivaldo Gomes.

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