Por Lindley Baldwin
Seguiram então para uma cerimônia fúnebre. O Reverendo Marritt já prevendo um grande comparecimento, havia preparado com muito cuidado, o seu sermão para a ocasião. Mas o momento de oração que haviam tido na carruagem moveu seu coração. O sermão que ele pregou naquele dia deixou os ouvintes maravilhados. A impressão de todos era que o próprio céu tinha sido aberto, pois ele abandonou seu discurso formal e entregou uma mensagem de terna compaixão, inspirada pessoalmente pelo Consolador.
Os outros dois pastores também experimentaram a mesma inspiração divina. Ambos também deram uma palavra breve, mas demostraram tal poder que, como comentaram posteriormente, eles mesmos se surpreenderam com a sua eloquência.
As pessoas presentes ao culto os escutavam como que extasiadas, sem contudo saberem que aqueles abençoados pregadores nada mais eram do que o meio pela qual um humilde rapaz negro transformará, através de sua influência espiritual, um cenário de luto num culto, de gozo.
Mas embora tivesse sido pela fé de Samuel que eles tinham recebido a unção do alto, o rapaz mesmo não pronunciou uma palavra durante o culto. Ficou sentado num canto, sentindo-se transbordado o Espírito Santo. Não pôde deixar de comparar a beleza da solene cerimônia dos cristãos com as cenas brutais que presenciara na selva. Já vira pessoas de sua raça serem mortas como animais, e os corpos ficarem insepultos. Lembrou-se dos rituais degradantes da seita dos adoradores de leopardos. Tinha visto outros escravos ou reféns de guerra serem torturados e mortos, e depois enterrados sem que ninguém preferisse uma palavra de conforto em seu sepultamento.
Como era diferente o culto fúnebre dos cristãos!
Mesmo a morte para os cristãos era algo celestial. A certa altura do culto sem que ninguém tivesse feito apelo, várias pessoas começaram dirigir-se para frente e ajoelhar-se perto do caixa. Não estavam ali para prantear o falecido, mas para se mostrar arrependidos de carregarem o “corpo da morte”, o pecado.
O dia seguinte era domingo, e Merritt disse a Samuel:
- Gostaria que você fosse à escola dominical comigo hoje. Sou o superintendente e quero que dê uma palavra.
- Nunca fui a uma escola dominical, comentou ele; mas está bem.
Na igreja Merritt apresentou-o à congregação; ali estava um rapaz de nome Samuel Morris, que viera da África para conversar com o superintendente da escola sobre o
Espírito Santo.
Após a apresentação, o dirigente teve que sair num instante para cuidar de outros interesses. Quando regressou, alguns momentos depois, o altar estava cheio de jovens que choravam e soluçavam. Samuel se achava na frente, orando. O rapaz, porém, se mostrava calmo. Estava sempre tranquilo; era sua natureza. Ao orar, fazia-o ou sempre com modos naturais, como quem conversava com um amigo. Simplesmente "conversava com o seu Pai", fervorosamente , mas sem exaltação.
Então, aqueles alunos não tinham sido tocados por nenhum dos truques de oratória normalmente empregados pelos avivalistas profissionais. Também não foram suas palavras nem seu jeito de ser que haviam provocado tal Impacto, mas a presença do poder do Espírito Santo que foram sentido com tanta intensidade que o aposento ficou cheio de sua glória.
Imediatamente os jovens daquela escola dominica, num gesto espontâneo, fundaram um grupo de que deram o nome de Sociedade Mssionária Samuel Morris. Essa associação levantou fundos para pagarem a passagem de Samuel e comprar mais roupas e livros e todo o material de que ele necessecitaria na escola. Com os livros roupas e outros presentes que conseguiam, encheram três Baús.
Contudo estava decidido que Samuel iria estudar. Nos meados da semana tudo estava pronto, e ele tomou o trem para Fort Wayne. Chegou ao seu destino na sexta-feira, o seu "dia da libertação" dia em que jejuava e orava. Ao chegar ali, porém, não se achava em muito dos melhores condições do que quando desembarcara do navio, como forasteiro numa terra estranha. Tinha alguns livros que não sabia ler, algumas roupas e alguns presentes de valor nominal.
Aos olhos de todos não passava de um pobre rapaz negro, sem qualquer instrução básica. Entretanto, aquele jovem logo revelou um espírito de nobreza muito raro entre os crentes. Quando o diretor da escola, Taddeus C. Reade, perguntou-lhe, que quarto eu preferia, replicou:
- Se houver um que ninguém queira, fico com ele. Mais tarde, o Dr Reade relatou esse incidente nos seguintes termos:
- Virei o rosto, pois meus olhos se encheram de lágrimas. Perguntei a mim mesmo se eu estaria disposto a querer algo que ninguém mais queria. Nos muitos anos em que tenho trabalhado como professor, tenho tido que designar os quartos para os alunos, já fiz isso para mais de mil jovens. Muitos deles revelaram grande nobreza. Mas Samuel Morris foi o único que disse: se houver um quarto que ninguém queira, fico com ele."
Resumo extraído do livro Samuel Morris.
Via Fabiana Ribeiro.
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