Charles Taylor observa que, como consequência do Cristianismo, novos valores entraram no mundo. Pela primeira vez, as pessoas i começaram a ver a sociedade não pela perspectiva do aristocrata soberba, mas pela perspectiva do homem comum. Isso significava que as instituições não deveriam se concentrar em dar aos ricos e nobres de nascimento novas formas de passar o tempo livre; pelo contrario. Deveriam se aplicar a darão homem comum uma vida rica e significa. Além disso, as instituições econômicas e politicas deveriam ser planejadas de tal modo que os impulsos pecaminosos que Kant chamou de "pau torto da humanidade"- poderiam, apesar disso, ser canalizados para produzir resultados socialmente benéficos.
Uma área em que atestamos essa mudança e na importância social dada ao casamento e a família. Hoje, temos por certo que a família e a instituição a qual foram confiados o cuidado e a educação dos filhos. Por mais incrível que pareça, a família não era muito importante na Grécia antiga. Na verdade, Platão propôs uma abolição do casamento e da família, visualizando uma republica na qual tudo o que dizia respeito a procriação e ao cuidado dos jovens estaria nas mãos do Estado. Aristóteles, mais prudente que Platão, reconheceu a necessidade da família. Ao mesmo tempo, ele a descreveu como um bem infra estrutural. Sem duvida, a família e necessária para que a vida seja boa, assim como é necessário comer e dormir todos os dias; porem, para Aristóteles, uma vida dedicada a família não e uma vida completa nem nobre. Os gregos viam a família, na maioria das vezes, exclusivamente como um veiculo de procriação.
Grande parte dos casamentos era arranjado, nem se esperava que o marido e a esposa fossem amigos. Na verdade, para Aristóteles, as mulheres eram totalmente incapazes de ser amigas, e ele com certeza não esperava que a esposa se relacionasse com o marido com nível de igualdade. A irrelevância do amor romântico na Grécia antiga pode ser confirmada no fato de que, das trinta e poucas tragédias gregas que possuímos, nenhuma delas tem como tema o amor.
Eros era uma força poderosa na Grécia antiga, mas se expressava principalmente na homossexualidade. A pratica era comum em Atenas, mas os espartanos se destacavam de modo especial nela, encorajando-a em seus ginásios e usando acompanhantes homossexuais para criar solidariedade entre soldados na guerra.' O historia dor Michael Grant escreve que Eros era também a base da pratica da pederastia. Ele observa que as relações sexuais entre homens e meninos eram ‘’muito mais preferidas as relações sexuais entre homens da mesma idade’’. Os antigos também estabeleceram uma filosofia educacional baseada na pederastia. Como descreve o historiador K. I. Dover, o homem sempre desempenhava o papel ativo e o menino, o papel passivo. Todo o projeto era concebido em termos de uma troca: o jovem concordava em ter relações sexuais com um homem mais velho e, em troca, recebia conhecimento e tutela. A mente moderna jamais deixaria de se preocupar com a provável exploração do rapaz mais jovem em tal relacionamento. Porem, os antigos não se inquietavam com isso. Muitos deles se sentiam como Pausanius no Symposium de Platão, que se atormentava pelo fato de que os arranjos pederásticos eram injustos para os homens mais velhos, porque os jovens, uma vez mentoreados, por fim saiam a procura de parceiros de sua idade. Podemos admirar os grandes feitos da filosofia, do drama e da politica clássicos, mas quando falamos com entusiasmo sobre "a gloria que foi a Grécia e a grandeza que foi Roma, deveríamos ter em mente que as praticas sexuais dessas civilizações subsistem, hoje, somente em prisões e na ideologia de grupos marginais como a Associação Norte-Americana do Amor entre Homens e Meninos (NAMBLA, em inglês).
Na era crista, pederastia e homossexualidade passam a ser vistos como pecados. Em lugar disso, o Cristianismo exalta o amor monogâmico heterossexual. Que oferece a base para um relacionamento duradouro e exclusivo entre marido e esposa, orientado para a educação dos filhos. A família e, para nos, algo tão aceito—continuando um ideal poderoso em nossa sociedade, mesmo quando a vida familiar esta longe do ideal— que nos esquecemos das premissas centrais sobre as quais esta baseada. Essas premissas foram introduzidas pelo Cristianismo em uma sociedade para a qual eram completamente estranhas. Primeiro, o Cristianismo fez com que a vida familiar fosse importante de um modo que não era antes. A vida familiar não mais estava subordinada a vida da cidade, como Platão e Aristóteles acreditavam que deveria estar. Na verdade, a família passou a ser vista pela primeira vez, como o caminho ideal para que as principais necessidades da vida fossem supridas. Essa mudança começou com a elevação do casamento a um sacramento católico, dando-lhe prestigio religioso além de sua necessidade social. Uma mudança igualmente significativa foi feita pela Reforma Protestante. Os católicos reverenciavam o sacerdócio celibatário, moldado segundo o Cristo celibatário, como o modelo de virtude, mas Martinho Lutero contestou essa interpretação, insistindo em que o cristão comum que tinha uma esposa e filhos com ela também estava cumprindo uma vocação ou "chamado" de Deus.
E Segundo, a cristandade desenvolveu um novo conceito de amor romântico, que e, hoje, uma das toras mais poderosas em nossa civilização. Enquanto os casamentos continuavam a ser arranja dos no Ocidente, especialmente entre as classes mais afluentes, um ideal novo e alternativo surgiu na idade Media. Era a ideia de amor como a base para a realização e a preservação de um casamento feliz. Não estou dizendo que as pessoas não se apaixonavam" antes da era medieval. Mas apaixonar-se' era antes considerada uma forma branda de insanidade, algo que não poderia e não deveria ser a base para um casamento duradouro. Os cristãos medievais começaram a entender o casamento entre um homem e uma mulher como um relacionamento similar aquele entre Cristo e a igreja. A Bíblia descreve esse relacionamento como intimo e apaixonado, e não, e claro como algum tipo de acordo mercenário. Assim, os cristãos começaram a ver o casamento como um companheirismo intimo revigorado pela paixão romântica.
Hoje, o amor romântico e considerado um pouco mais que um sentimento, mas esta e uma sombra pálida de seu significado original. Ele deveria ser o ápice de uma busca, representando os grandes ideais de sacrifício pessoal e serviço ao próximo. O conceito era, a principio, restrito a aristocracia, mas logo se espalhou por toda a sociedade. O primeiro sinal de romance como um importante valor social surge nos nobres poemas de amor que mesclavam o amor erótico e espiritual e o concentravam em uma bela mulher, normalmente inalcançável. Essa literatura de desejo inseriu o sonho de romance na mente do Ocidente.
Terceiro, o Cristianismo introduziu a necessidade de consentimento, da parte tanto do homem como da mulher, como um pré-requisito para o casamento. Mais uma vez, para nos isso e normal hoje, mas você só precisa ir a Ásia, a África ou ao Oriente Médio para atestar que as pessoas nessas regiões sofrem pressões frequentes para se casarem contra a sua vontade. Cresci na Índia, onde os casamentos ate hoje são muitas vezes arranjados pelos pais. O Ocidente, no entanto, desde os primeiros dias do Cristianismo, aceitou o casamento com base na escolha e acordo mutuo. Isso não começou por causa da "igualdade entre os sexos. Pelo contrario, começou por causa da ideia cristã de que temos um parceiro que Deus fez para cada um de nos. O sentimento romântico era visto como uma atividade da alma guiando-nos para encontrar esta companhia para toda a vida. Como seres humanos falíveis, podemos nos enganar sobre muitas coisas, mas não podemos nos enganar quanto ao modo como nos sentimos com relação a outra pessoa. Ao mesmo tempo, o Cristianismo enfatizava que o livre-arbítrio também deveria ser escolha obrigatória. Uma vez que concordamos em nos casar sem coerção, deveríamos cumprir nossos votos e preservar o casamento como um compromisso vitalício.
A verdade sobre o cristianismo
Disnesh D`Souza
Via Ruanna Pereira.
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