POR LEONARDO MELO
INTRODUÇÃO
Se não bastasse o crescimento do antisemitismo que tem influenciado o mundo e até mesmo as Igrejas consideradas Cristãs; das constantes guerras declaradas á Israel, como por exemplo o BDS, sigla em inglês para Boicote, Desabastecimento e Sanções, que espalhou-se pelo mundo com o objetivo de minar o Estado de Israel; além do antisionismo que tem como objetivo fazer oposição política ao Governo israelense, assim como, lutar para convencer o mundo á negar o direito de Israel de existir como nação, e se não bastasse toda essa pressão dos declarados inimigos de Israel e seus milhões de simpatizantes dispersos, surgiu no seio da cristandade há uma década atrás o movimento teológico conhecido como “Teologia da Substituição”, isto é, onde de fato começou a se propagar a doutrina, pois, já desde os primórdios da Igreja, nos primeiros séculos, alguns pais da Igreja já nutriam essa visão de que Deus substituiu á Israel, assim como, alguns reformadores nutriam esse entendimento. Essa Teologia afirma que a Igreja gentílica substituiu a Israel nos planos de Deus, e que a Igreja é o verdadeiro Israel de Deus. Porém, vamos compreender através da Bíblia quão equivocada é essa Teologia, pregada por pseudo-teólogos e que tem trazido tamanho prejuízo a comunidade cristã e confundindo a muitos incautos membros das denominações cristãs.
De maneira esclarecedora (HENDRIKSEN. 2011. pg. 494) escreve ”..., Agora descobrimos que Deus reúne para sí um remanescente mesmo dentre a maioria endurecida. Paulo, pergunta; “Tropeçaram para que ficassem caídos”? Ele responde “Certamente não”! ao contrário por causa da transgressão dele[veio] a salvação para os gentios com o fim de provocar ciúme em Israel”. Isso comprova que não foi a ruína final e irrevogável que Deus tinha em mente quando inicialmente endureceu o coração dos que haviam se endurecido. Ao contrário, Deus estava usando até mesmo a transgressão de Israel para servir de elo na cadeia da salvação, com o fim de salvar o gentio como o judeu”.
Ademais, é razoável entendermos que “O judaísmo e o cristianismo são religiões ligadas por suas reivindicações ao mesmo pacto bíblico iniciado por Deus com Abraão e seus descendentes. No entanto, apesar da conexão inseparável entre a eleição de Israel e a da Igreja, entre o "velho" e o "novo" pacto, este patrimônio espiritual compartilhado tem sido a fonte de um tipo de rivalidade violenta entre irmãos competindo pelo mesmo amor paterno, e direitos herdados. Deus, ao que parece, tinha apenas uma bênção para doar. Poderia ser dado a Jacó ou a Esaú - mas não a ambos”, (SOULEN. 1996).
- DEFININDO A TEOLOGIA DA SUBSTITUIÇÃO (SUPERSESSIONISMO) E A VERDADE CONTIDA NAS ESCRITURAS SAGRADAS SOBRE ISRAEL E A IGREJA
A Teologia da Substituição é composta de vários sistemas teológicos, geralmente construídos sobre o fundamento da Teologia Aliancista. Coloca a Igreja como substituta de Israel no plano global de Deus para a história do mundo. É oportuno destacar que essa Teologia ganhou visibilidade atualmente, porém, já era estudada e alguns dos pais da Igreja concordavam com o que esta teologia define hoje como verdade em relação a nação judaica e a Igreja. Segundo, (SOULEN. 1996): Tanto os teólogos cristãos quanto os judeus identificaram diferentes tipos de teologia da substituição na interpretação bíblica. R. Kendall Soulen aponta três categorias: punitiva, econômica e estrutural:
1. Punitivo: é representado por teólogos como Hipólito de Roma, Orígenes e Lutero. Representa o ponto de vista que os judeus que rejeitam Jesus como Messias estão, consequentemente, condenados por Deus, perdendo assim a promessa que lhes fora feita sob a Aliança Mosaica. É importante salientar que tanto Orígenes quanto Hipólito esperavam que os judeus fossem salvos juntamente com os gentios no fim dos tempos.
2. Econômico: não se refere a dinheiro e sim à função técnica teológica do termo. É o ponto de vista que o objetivo prático da nação de Israel nos planos de Deus foi substituído pela Igreja. Seus principais representantes são escritores como Justino Mártir e Santo Agostinho. Este esperava também que os judeus fossem salvos com os gentios no fim dos tempos.
3. Estrutural: é o termo utilizado por Soulen para a marginalização de facto do Antigo Testamento como um normativo para o pensamento cristão. Em suas palavras, "O supersessionismo estrutural se refere à narrativa lógica de um modelo lógico que torna as escrituras hebraicas em grande parte inconclusivas na formação das convicções cristãos sobre como Deus funciona como Realizador e, como Redentor, engaja a humanidade de forma universal e duradoura.
Apesar de vários eruditos cristãos eminentes se debruçarem sobre os textos Bíblicos a fim de fundamentarem seu engano teológico acerca da eleição de Israel e da Igreja, é visível quando analisamos honestamente o texto Sagrado e fazemos uma exegese sem estar eivada de preconceitos algum, que perceberemos como estão enganados os estudiosos e teólogos que saem em defesa da Teologia da Substituição.
A grande questão dos adeptos da Teologia da Substituição é que eles usam o método alegórico para interpretar a Bíblia e dessa maneira fazem uma análise exegética corrompida e ignoram as regras da hermenêutica para elucidação dos textos Bíblicos. Ademais os teólogos da Substituição trazem um entendimento totalmente fora do contexto Bíblico para a interpretação dos textos que fazem alusão as alianças divinas prescritas nas Escrituras, especificamente a promessa e aliança que Deus faz á Abraão, cf. Gn. 12.1-4 “Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei”. ”E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção”. “E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra”. “Assim partiu Abrão como o Senhor lhe tinha dito, e foi Ló com ele; e era Abrão da idade de setenta e cinco anos quando saiu de Harã”, assim como, Gn. 15.17-21. As alianças de Deus são irrevogáveis e não falham, se fosse o caso de falharem, então teríamos um Deus que não tem poder nem condições de cumprir sua Palavra e sustentá-la, então, Ele não é DEUS, PORÉM, DEUS É O DEUS dos deuses, Todo-Poderoso que criou os céus e a terra e que tudo se move e vive pelo seu poder sustentador, cf. Gn. 1.1; Êx. 3.14; Dt. 32.39; Is. 43.10-13; Jr. 23.23; 33.19-26,ss.
A fidelidade de Deus para com Israel e a Igreja, é que inspira Paulo pelo Espírito Santo a escrever á Igreja na Galácia :“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo”; “Mas digo isto: Que tendo sido a aliança anteriormente confirmada por Deus em Cristo, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a invalida, de forma a abolir a promessa”; “Porque, se a herança provém da lei, já não provém da promessa; mas Deus pela promessa a deu gratuitamente a Abraão”; “Logo, para que é a lei? Foi ordenada por causa das transgressões, até que viesse a posteridade a quem a promessa tinha sido feita; e foi posta pelos anjos na mão de um medianeiro”; “Ora, o medianeiro não o é de um só, mas Deus é um”; “Logo, a lei é contra as promessas de Deus? De nenhuma sorte; porque, se fosse dada uma lei que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei”, cf. Gl. 3.16-21. Precisamos entender que as promessas feitas pelo Eterno á Abraão, isto é, suas promessas: Promessa(aliança) da terra, cf. Gn. 12.1; 13. 14-17; 15. 17; 17. 7-8, que foi reafirmada na promessa da terra, cf. Nm. 34. 1-12; Dt. 30.1-10; Aliança Davídica, que é a promessa da descendência, cf. Gn. 17.4-8; I Sm. 7.12-17; Sl. 89.3-4; 34-37; Is. 9. 6-7; Lc. 1.30-33; e a promessa da benção, que foi reafirmada na Nova Aliança, cf. Gn. 12.2-3; Jr. 31.31-34; 32.40;Ez.16.60-62;34.25-31;37.26-28,Hb.8.6-13. As promessas feitas a Abraão por Deus são incondicionais e eternas, e se aplicam a nação judaica, assim como aplica-se também á Igreja.
Um texto que de forma clara elucida todas as dúvidas acerca da nação e destino de Israel e a Igreja, encontra-se na carta paulina á Igreja em Roma, que mostra a posição fundamental de Israel no plano da salvação de Deus, cf. Rm;. 9 a 11.1-32, especificamente, Rm. 11.vers. 17 e 18 “E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles, e feito participante da raiz e da seiva da oliveira”, “não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustenta a raiz, mas a raiz a ti”. Crentes gentios receberam a Palavra de Deus, o Messias e sua Salvação, e através de Abraão fomos enxertados na benção de Abraão e co-participantes dela.
Os Evangelhos e a carta de Paulo á Igreja em Roma, romanos é o fundamento Neo-Testamentário da nossa fé e justamente, na carta aos romanos é que o apóstolo Paulo fala de maneira transparente sobre Israel e sua salvação. Precisamos entender que a diferença entre a condição imutável de Israel, como povo eleito de Deus e a salvação dos remanescentes , fica esclarecida no contexto de Romanos 9 á 11. Já a época da Nova Aliança, ao falar sobre os privilégios de Israel, Paulo não emprega o tempo verbal do passado, mas, do presente, cf. Rm. 9.4-5, por essa razão, também nós devemos estabelecer a diferença entre a condição de Israel como povo eleito de Deus e a salvação dos crentes. “Ao falarem em Israel de Deus, cf. Gl. 6.16, em judeus incircuncisos de coração, cf. Rm. 2. 28-29; e em filhos da promessa, cf. Rm. 8.9, de modo algum Paulo revoga a condição de povo eleito de Deus para Israel e as respectivas promessas , porém, trata da questão da salvação”, (LIETH & PFLAUM. 2014. pg. 35). Segundo, (MURRAY. 2003. pg. 439) “A distinção étnica entre os gentios e Israel, que aparece anteriormente nos contextos de Rm. 9.25-26, 30-31; 10.19-20, é novamente ressaltada , pois, o desígnio salvífico, contemplado na expressão “ para pô-los em ciúmes”, tem em mira a salvação de Israel, do ponto de vista de identidade racial. Isto elimina qualquer contestação de que o desígnio salvador divino não envolve Israel como uma entidade racial distinguida pelo lugar que ocupou na história passada da redenção. É verdade que no tocante aos privilégios que dizem respeitos ás realizações de Cristo, agora não existe mais judeu ou gentio, e os gentios passaram a ser co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do Evangelho, cf. Ef. 3.6; contudo, isto não significa que Israel não mais cumpre qualquer desígnio particular na realização do propósito salvador de Deus em seu âmbito mundial”.
Enfim, para entrar no gozo da aliança Abraâmica, Israel não precisa voltar á Antiga Aliança de Moisés, que foi colocada de lado, mas crer no Messias, em Jesus Cristo o Mediador da nova Aliança, Aliança superior, melhor. E a Bíblia profetiza que é exatamente isso que acontecerá no futuro, quando o próprio Deus converter seu povo, cf. Dt. 4. 29-31; Jr. 24.7; Ez. 11.19; 36.26; Zc. 12.10; Mt. 19.28; 24.30; Rm. 11.25-26. O futuro de Israel prometido na Aliança Abraâmica, portanto, não é condicionado ao cumprimento da Lei, que veio 430 anos depois, mas, depende do próprio “Descendente”, Jesus Cristo. É o que nos mostra Gálatas, 3.15-18. E, isso faz a restauração de Israel ser tão certa e segura, cf. “Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel”? “E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder”. Atos 1. 6-7. Podemos, entender e manter finalmente a idéia de que o conteúdo da carta aos galátas(salvação pela graça) de modo algum indica a revogação da eleição por, Deus , da terra e do povo de Israel. O mesmo se aplica aos textos em romanos, cf. Rm. 9 ao 11.
FONTE.
1. MURRAY, John. Romanos. Comentário Biblico Fiel. S. Paulo. Editora Fiel. 2003. 1ª edição. 684 pg.
2. LIETH, Norbert & PFLAUM, Johannes. A Teologia da Substituição- o futuro de Israel é coisa do passado? R. Grande do Sul. Editora Actual. 2014. 1ª edição. 69 pg.
3. HENDRIKSEN, William. Romanos. Comentário do Novo Testamento. S. Paulo. 2011. 2ª edição. 671 pg.
4. Revista Notícias de Israel. Obra Missionária Chamada da Meia-noite. Julho/2011. nº 07. “A primazia de Israel no Programa de Deus”, pg. 05 e 06.
5. Revista Notícias de Israel. Obra Missionária Chamada da Meia-noite. Outubro/2015. Nº 10. “A Aliança eternamente válida”, pg.07.
6. SOULEN, R. Kendall. The Godo of Israel. and Christian Theology. EUA/ Editora Augsburg fortress Publishers. 1996. 1ª edition. 195 pg.
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