- Quando vou à livraria, não encontro na seção de biografias o mesmo tipo de literatura com que me deparo nos evangelhos – eu disse. – Quando, atualmente, alguém escreve uma biografia, vasculha a vida inteira do biografado. Mas veja o caso de Marcos [o evangelho] – ele não fala do nascimento de Jesus e não diz absolutamente nada sobre a mocidade do Salvador. Em vez disso, concentra-se em um período de três anos e passa metade de seu evangelho tratando dos eventos que culminaram na última semana d Cristo. Como o senhor explica isso?
- Existem dois motivos [...] O primeiro é literário, e o segundo é teológico. Com relação ao primeiro motivo, era assim que as pessoas escreviam biografias no mundo antigo. Eles não tinham essa percepção que temos hoje de que deviam dar igual importância a todas as fases da vida de indivíduo; ou que deviam contar a história em sequência estritamente cronológica; tampouco achavam que tinham que citar literalmente o que dissera o biografado, bastava que a essência do que ele havia dito ficasse preservada. Os antigos gregos e hebreus nem sequer tinham um sinal para denotar a interrogação. Para eles, o registro da história só vala a pena porque as suas personagens tinham lições a ensinar. O biógrafo, portanto, se demorava nas partes da vida do biografado que considerava exemplares, paradigmáticas, que pudessem servir de ajuda a outras pessoas e que dessem sentido a determinado período da história.
- E qual seria o motivo teológico? – perguntei-lhe.
- É uma decorrência do que acabei de dizer. Para os cristãos, embora a vida de Jesus, seus ensinamentos e milagres sejam maravilhosos, não teriam sentido algum se Cristo não tivesse de fato morrido e ressuscitado dos mortos, para expiação e perdão dos pecados da humanidade. Marcos, portanto, autor do evangelho que é provavelmente o mais antigo, dedica quase metade de sua narrativa aos eventos que levarão àquele período de uma semana cujo clímax será a morte e ressurreição de Cristo. Dada a importância da crucificação – concluiu – a composição do evangelho está perfeitamente de acordo com a literatura antiga.
(Em Defesa de Cristo. Lee Strobel, 2011)
Por Rafael Félix.
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