quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Por que o compatibilismo é anti-bíblico?

Roger Olson

Por que o compatibilismo é anti-bíblico e é um exemplo de filosofia que destrói as Escrituras

Primeiro, o que é “compatibilismo?” Colocado de forma mais simples, é a visão que afirma que o livre arbítrio é compatível com o determinismo. Em outras palavras, com o compatibilismo, pode-se crer tanto no livre-arbítrio quanto no determinismo (a crença de que tudo o que acontece, incluindo decisões e ações humanas) é determinado. A alternativa a esse pensamento é o “não compatibilismo” ou o “livre-arbítrio libertário”, que significa que o livre-arbítrio é o “poder de escolha contrária”. É a visão de que o verdadeiro livre-arbítrio é incompatível com o determinismo.

Agora, é possível ser determinista e negar o livre arbítrio. Os não compatibilistas (como eu) acham que essa afirmação é consistente. Martinho Lutero e João Calvino foram deterministas que negavam o livre-arbítrio (pelo menos às vezes). No entanto, muitos calvinistas modernos dizem acreditar no livre arbítrio, mas definem o livre arbítrio usando o compatibilismo. A saber: Uma pessoa é “livre” sempre que está fazendo o que quer e não está sendo forçada a fazer algo que não quer fazer. Aqui, nessa visão de livre arbítrio, “agir livremente” é compatível com a impossibilidade de fazer o contrário. O poder da escolha contrária é negado.

O que embasa o compatibilismo é a crença de que sempre se age de acordo com seu desejo mais forte. Em outras palavras, os compatibilistas dizem: é incoerente afirmar que alguém pode querer fazer o que não se quer fazer e então agir de acordo com a vontade contra o motivo ou desejo mais forte. Isso parece ser filosoficamente fundamentado. A melhor articulação a favor do argumento é o ensaio de Jonathan Edwards, On the Freedom of the Will [Sobre a liberdade da vontade]. A maioria dos Calvinistas modernos concordam e assim definem “livre arbítrio” não como poder de escolha contrária, mas como fazer o que se quer fazer. A única ocasião em que uma pessoa age de forma não-livre é quando ela está sendo forçada a fazer algo que não quer fazer.

A Bíblia apóia o compatibilismo? Ou o compatibilismo é um conceito filosófico concebido para possibilitar a afirmação de acreditar que o livre arbítrio é compatível com o determinismo? Eu acredito na última opção.

Uma ironia em tudo isso é que muitos calvinistas acusam os arminianos e outros não-calvinistas de impor ideias filosóficas sobre teologia quando elas são incompatíveis (trocadilho intencional) com a Bíblia. Eu acredito que são os calvinistas que fazem isso ao evocarem o compatibilismo.

Em Romanos 7, o apóstolo Paulo contradiz categoricamente o compatibilismo. Leia Romanos 7: 14-19:

Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Romanos 7:14-19

No texto Paulo afirma inequivocamente e sem reservas que ele (e é certo que ele também quer dizer outros) faz o que ele não quer fazer e não faz o que ele quer fazer. No compatibilismo isso é impossível. Aparentemente, Paulo simplesmente não entendia nada de filosofia. Não há como interpretar Romanos 7 sem acreditar que Paulo cria no livre arbítrio como poder de escolha contrária.

Por outro lado, o compatibilismo tem o nítido problema de tornar a criação do mundo por Deus necessária, negando assim (de fato) a soberania de Deus. Deus poderia ter se abstido de criar o mundo? Não se o compatibilismo é verdadeiro. Se o livre arbítrio logicamente não pode significar poder de escolha contrária (como argumentam os compatibilistas), então, mesmo Deus não pode ter poder de escolha contrária.

Em On the Freedom of the Will, Edwards confrontou essa questão e a "solucionou" (SIC) alegando que Deus sempre faz a coisa mais sábia. Mas ele teve que admitir que há um sentido em que a criação do mundo por Deus era necessária. Isso, é claro, usurpa a soberania de Deus. Se Deus não tem poder de escolha contrária, então ele não é soberano. E se o mundo (criação) é necessário, então é em algum sentido, parte de Deus; a linha entre Deus e a criação é transgredida pelo compatibilismo.

Agora, se Deus tem poder de escolha contrária, o que é requerido pela crença na soberania de Deus e a “linha” entre Deus e a criação, então o poder de escolha contrária não pode ser considerado estritamente ilógico ou incoerente mesmo que seja algo misterioso.

Acredito que o compatibilismo usado na teologia Cristã é um exemplo de uma ideia filosófica que é imposta à teologia contra a Bíblia e contra a doutrina Cristã básica (ou seja, que Deus é soberano e a criação não é necessária). É claro que isso é altamente irônico porque a maioria dos compatibilistas Cristãos acreditam que o compatibilismo protege a soberania de Deus. Mas não protege. Na verdade esta ideia filosófica mina a liberdade de Deus e a responsabilidade humana e contradiz categoricamente Romanos 7.

Fonte:

http://evangelicalarminians.org/roger-olson-why-compatibilism-is-unbiblical/

Tradução Walson Sales.

Um comentário:

  1. Muito bem... Vc citou que Deus tem poder de escolha contrária. Minha pergunta é: Deus pode escolher pecar ? Deus pode escolher fazer o mal ? Jesus Cristo quando Homem poderia pecar?
    A resposta é não obviamente.
    Mas Deus é mais livre que as criaturas no entanto ele não pode escolher algo que contrarie sua natureza, contudo é plenamente livre.

    E o Diabo pode escolher o bem ? Pode o Diabo não querer mais o pecado?
    Obviamente que não. No entanto ele é plenamente livre ao fazer o mal porque liberdade não está atralada a a poder fazer escolha contrária ao deseja. Liberdade está relacionada a voluntariedade dase escolhas Assim todo ser humano escolhe livremente por querer aquilo. Em seu querer a criatura é livre

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