domingo, 12 de janeiro de 2020

Trecho do livro "A Linguagem de Deus" de Francis Collins

O genoma humano é formado por todo o DNA de nossa espécie; é o código de hereditariedade da vida. O texto recém-revelado apresentava 3 bilhões de letras, escrito num código estranho e enigmático composto de quatro letras. A complexidade das informações contidas em cada célula do corpo humano é tamanha e tão impressionante que ler uma letra por segundo desse código levaria 31 anos, dia e noite, ininterruptamente. Se imprimíssemos essas letras num tamanho de fonte regular, em etiquetas normais, e as uníssemos, teríamos como resultado uma torre do tamanho aproximado de um prédio de 53 andares. Pela primeira vez naquela manhã de verão, aquele enredo fabuloso, que continha todas as instruções para construir um ser humano, encontrava-se disponível para o mundo.

Como líder do Projeto Genoma Humano internacional, no qual me empenhei por mais de uma década a fim de revelar a seqüência do DNA, fiquei ao lado do presidente Bill Clinton, no Salão Leste da Casa Branca, juntamente com Craig Venter, o líder de uma empresa concorrente do setor privado. O primeiro-ministro Tony Blair estava conectado ao evento via satélite, e as comemorações aconteciam em várias partes do mundo. Clinton iniciou o discurso comparando o mapa da seqüência do genoma humano ao que Meriwether Lewis desdobrou diante do presidente Thomas Jefferson, naquele mesmo recinto, quase duzentos anos antes. — Sem dúvida — afirmou Clinton —, trata-se do mapa mais 
importante e mais extraordinário já produzido pela humanidade. No entanto, a parte de seu discurso que mais chamou a atenção do público saltou da perspectiva científica para a espiritual. — Hoje — disse ele —, estamos aprendendo a linguagem com a qual Deus criou a vida. Ficamos ainda mais admirados pela complexidade, pela beleza e pela maravilha da dádiva mais divina e mais sagrada de Deus.

Será que eu, um cientista rigorosamente treinado, fiquei desconcertado com uma referência religiosa tão espalhafatosa, feita pelo presidente dos Estados Unidos num momento como aquele? Fiquei tentado a mostrar-me irritado ou a olhar envergonhado para o chão? Não, nem um pouco. Na verdade, eu trabalhara com o redator do discurso do presidente naqueles dias de frenesi que precederam o evento, e fui enfático em meu apoio à inclusão desse parágrafo. Quando chegou o momento em que precisei acrescentar algumas palavras de minha autoria, fiz coro com esse sentimento: — É um dia feliz para o mundo. Para mim não há pretensão nenhuma, e chego mesmo a ficar pasmo ao perceber que apanhamos o primeiro traçado de nosso manual de instruções, anteriormente conhecido apenas por Deus.

Via Sandro Nascimento.

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