sábado, 8 de fevereiro de 2020

A DESTRUIÇÃO DE JERUSALÉM E A DIÁSPORA – (PARTE III)

No século IV, o imperador Constantino devolveu à cidade o nome de Jerusalém, e consagrou-a como um santuário cristão.  Sob domínio romano, durante os três séculos e meio posteriores à Segunda Revolta, não foi permitido a um único judeu pisar na devastada Capital.  Alguns milhares de sobreviventes da Segunda Revolta conseguiram permanecer na Palestina estabelecendo-se na Galileia.  Apesar de viverem sob pesados impostos e proibidas de visitar sua antiga Capital, essas comunidades judaicas tiveram um certo crescimento, mesmo após a conquista árabe no século VII, chegando a aproximadamente 300.000 habitantes no ano 1000.

Então, com a chegada dos cruzados, os judeus da Palestina foram quase totalmente exterminados.  Em 1169, um judeu espanhol visitou a Terra Santa e encontrou apenas perto de mil famílias judias ainda vivas.  No século XV, a Inquisição na Espanha expulsou os judeus e em torno de 8.000 deles se refugiaram na Palestina.  Ao se dirigir para a Palestina em 1799, Napoleão convidou os judeus da Ásia e da África do Norte para o seguirem. Não foi ouvido pelos judeus e foi derrotado pelos ingleses.

Sob uma administração otomana brutal, a população judaica na Palestina vinha declinando progressivamente e, após um grande terremoto em 1837, não havia mais que 6.000 judeus na Terra Santa.  Em 1839, Judah Alkalai, um rabino ortodoxo de uma pequena comunidade próxima a Belgrado, na atual Iugoslávia, publicou “Caminhos Agradáveis” em cuja introdução fazia menção da necessidade de se estabelecer colônias judaicas na Terra Santa, como prelúdio necessário à redenção.  Em 1843, publicou “A Oferenda de Judá” onde declarava que pelo menos 22.000 judeus deveriam retornar à Terra Santa.  Assim começava a germinar a semente do nacionalismo judaico que teve sua manifestação máxima no que veio a ser conhecido como sionismo, ou movimento sionista. A palavra vem de Sion, ou Sião, e refere-se a colina sobre a qual foi erigido o templo de Jerusalém e que se converteu no símbolo da própria Jerusalém.
O sionismo era o movimento judeu que objetivava o restabelecimento de um estado judaico na Palestina.  Por volta de 1850, existiam no mundo aproximadamente quatro milhões de judeus, sendo que três milhões viviam na Europa Oriental, a maior parte na Rússia, onde representavam uma minoria de quatro por cento da população do Império Romano. A política czarista em relação aos judeus objetivava mantê-los isolados, ainda que em extensas áreas, limitá-los quanto às oportunidades de trabalho e impedi-los de participarem do governo local.  Desta forma, viviam em um Império como uma minoria desprezada e oprimida e encontravam consolo acalentando o sonho messiânico do retorno à Terra Santa.

A opressão foi tão efetiva que, no final do século XIX, quarenta por cento dos judeus do Império Russo estavam tão empobrecidos que, ao menos parcialmente, dependiam de caridade ou do envio de dinheiro de parentes que viviam no exterior, Era questão de simples sobrevivência.  Konstantin Pobedonostsev, o mais íntimo conselheiro do czar, comentou: “um terço morrerá, um terço deixará o país e um terço se dissolverá por completo na população circundante.” [3]

No final da década de 1870, grupos de estudo e clubes sionistas começaram a funcionar em centenas de cidades.  Eram conhecidos como Chovevei Tsice (Amantes de Sion).  Tinham em comum o credo: “Não há salvação para o povo de Israel a menos que estabeleça um governo próprio na Terra Santa”.

Pogrons (ataques populares, tolerados pelas autoridades, contra os judeus e suas propriedades) ocorriam em vários lugares com muitas mortes, gerando medo e aumentando o sentimento de que a única esperança seria o retorno à Terra Santa.  Na Palestina em 1881, a população judia ultra passava 25.000 pessoas e, entre 1882 e 1903, ocorreu o maior influxo de judeus desde o decreto de e pulsão da Espanha em 1492.  Durante esse período, em duas ondas de imigração, 25.000 judeus entraram na Palestina.  Na Europa Ocidental e na América, levantavam-se contribuições para financiar o envio e manutenção dos colonos na Terra Santa.  Um barão, Edmond de Rothschild, gastou seis milhões de dólares na compra de terras e construção de infraestrutura para os colonos entre 1884 e 1900.

O entusiasmo e a esperança de muitos judeus que partiam para a Palestina acabavam na dura realidade que encontravam quando lá chegavam.  Epidemias de malária e tifo e obstáculos que as autoridades otomanas impunham tornavam a vida dos colonos muito difícil.  Metade dos cerca de 50.000 judeus que viviam na Palestina no final do século XX dependiam da caridade do exterior.  Em 1895, entrava em cena, Theodor Herzl (1860 – 1904), escritor e jornalista que se tornaria o fundador do sionismo político moderno.  Em uma publicação de 1896, “O Estado Judeu”, ele defendeu a criação de um estado judeu na Palestina e, em 1897, organizou o Primeiro Congresso Sionista que se realizou em Brasiléia (Suíça).  O congresso deu poderoso impulso à difusão do sionismo em todo o mundo.

Em seu diário, Herzi escreveu: "Se eu tivesse de resumir o congresso de Basiléia em uma única frase, que não ousaria tornar pública, diria: em Basiléia, eu criei o estado judeu.”   Foram criados fundos para a compra de terras na Palestina e tentadas várias negociações diplomáticas com o governo otomano.  A proposta era simples: influentes financistas judeus aliviariam a crônica dificuldade financeira do governo otomano em troca de uma licença para a colonização judaica na Palestina. O sultão Abdul Hamid II não aceitou a proposta afirmando que nunca consentiria enquanto vivesse.  “Apenas nosso cadáver pode ser dividido”, dizia ele.  

Herzl faleceu em 1904, mas o movimento político que ele fundou prosseguiu. Esforços diplomáticos continuaram sendo realizados até que, em 2 de novembro de 1917, a Grã-Bretanha emite a “Declaração de Balfour” em favor da criação de uma nação judia na Palestina.  Os objetivos eram conquistar o apoio judeu à causa aliada durante a Primeira Guerra Mundial e, posteriormente, explorar a importância estratégica da Palestina no que se refere às rotas para a Índia e à conexão mediterrânea com os oleodutos do Oriente Médio.  

Após a Primeira Grande Guerra, a Palestina passou à administração da Grã-Bretanha e grandes assentamentos de judeus foram registrados. A comunidade judaica na Palestina, o Ishuv, multiplicou-se, principalmente durante a década de 1930, quando um número grande de judeus fugiu das perseguições nazistas na Europa.  Após o holocausto da Segunda Guerra Mundial, os líderes sionistas intensificaram suas reivindicações para conseguir autonomia política e facilitar a imigração para a Terra Santa.

Em 1947, a Grã-Bretanha decidiu abandonar a Palestina e recorreu à Organização das Nações Unidas (ONU).  Deste modo, a ONU planejou a divisão da Palestina em dois estados, um árabe e outro judeu.  Os protestos árabes contra essa divisão explodiram com muita violência na Palestina, entretanto, em 14 de maio de 1948, o Congresso Provisório do Estado proclamou o estabelecimento do Estado Judeu, que se chamaria Medinat Israel (Estado de Israel). “...Até que os tempos dos gentios se completem.” (Lc 21.24).

Atualmente o sionismo se baseia no apoio inequívoco a dois princípios básicos: a autonomia e segurança do Estado de Israel e o direito de qualquer judeu a estabelecer-se ali (Lei do Regresso).  Ambos os princípios garantem uma nacionalidade judaica para qualquer judeu que necessite.

[3] História de Israel, vol. I, pg. 12.

Extraído do livro “Os Últimos Dias” do autor Ricardo L. V. Mascarenas.

Por Nivaldo Gomes.

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