Série Os Mártires do Cristianismo Parte V
POR VOLTA DO TERCEIRO ano do reinado de Henrique I foi fundado o hospital de São Bartolomeu em Smithfield, pela ação de um menestrel do rei chamado Rayer. A obra foi depois concluída por Richard Whittington, vereador e prefeito de Londres. Esse local em Smithfield era na época o palco onde os vilões e outros transgressores dos decretos do rei eram executados.
JOHN BADBY, ARTESÃO
No ano de 1410 de nosso Senhor, no dia primeiro de março, um sábado, numa casa ou sala no interior do recinto dos frades pregadores de Londres, deu-se o interrogatório de um certo John Badby, artesão, na presença de Thomas Arundel, Arcebispo de Cantuária. Esse John Badby respondeu que era impossível que qualquer sacerdote produzisse o corpo de Cristo mediante a enunciação das palavras sacramentais. O arcebispo, percebendo que ele de modo algum mudaria de opinião e, além disso, vendo que sua atitude teimosa e coração inabalável aparentemente começavam a convencer outras pessoas, declarou que John Badby era um herege público manifesto e o entregou ao poder secular. Tendo os bispos concluído essas atividades pela manhã, à tarde o decreto do rei não se fez esperar. John Badby foi trazido para Smithfield, onde foi colocado dentro de um barril vazio e preso a uma fogueira com uma corrente, tendo lenha seca a sua volta. Estava ele nessa situação quando o príncipe, o filho mais velho do rei, demonstrando algum sentimento do bom samaritano, procurou uma forma de salvar-lhe a vida. Nesse ínterim o prior de São Bartolomeu em Smithfield, precedido por doze tochas acesas, trouxe, com toda a solenidade, o sacramento do corpo de Deus e o exibiu ao pobre coitado junto à fogueira. E então lhe perguntaram o que ele acreditava estar ali presente. Respondeu ele que sabia muito bem que era pão consagrado e não o corpo de Deus. Em seguida atearam-lhe fogo. Quando aquela alma inocente sentiu as chamas gritou: — Piedade! — como se invocasse ao Senhor. Comovido com aquele grito horrível, o príncipe mandou apagar o fogo. Obedecida a ordem, perguntou ao condenado se ele abandonaria a heresia, dizendo-lhe que se o fizesse teria bens suficientes e prometendo-lhe também um estipêndio anual para prover o seu sustento, a ser pago pelo tesouro do rei. Mas esse corajoso campeão de Cristo recusou a proposta, ignorando as belas palavras do príncipe e também desprezando todos os conselhos dos circunstantes. Ele estava plenamente determinado a preferir expor-se a qualquer espécie de tortura por mais dura que fosse a abraçar tamanha idolatria e perversidade. Por isso o príncipe deu ordens para que ele fosse imediatamente recolocado na fogueira. Mas em nada o alteraram as torturas que lhe impuseram, e ele perseverou invencível até o fim.
WILLIAM SWEETING E JOHN BREWSTER
William Sweeting e John Brewster foram queimados juntos no dia dezoito de outubro de 1511, d.C.
A razão principal alegada contra eles foi sua fé em relação ao sacramento do corpo e sangue de Cristo. Levantaram-se também outras razões, como a leitura de certos livros proibidos e o convívio com pessoas suspeitas de heresia. Mas uma ofensa grave e hedionda que superou as demais foi o fato de eles terem deixado de exibir nas roupas a pintura do feixe de juncos que no seu primeiro julgamento haviam sido condenados a usar pelo resto de suas vidas ou pelo tempo que aprouvesse ao seu ordinário determinar.
JOHN STILMAN
John Stilman foi acusado de pronunciar-se contra a adoração de imagens com orações e ofertas dirigidas a elas. Também o condenaram por negar a presença carnal e corporal no sacramento em memória de Cristo e, mais ainda, por seus altos elogios e recomendações dirigidos a John Wickliff, afirmando que se tratava de um santo que estava no céu. Foi entregue aos xerifes de Londres para ser queimado em público em 1518.
THOMAS MAN
Thomas Man foi preso por professar o Evangelho de Cristo. Ele se pronunciara contra a confissão auricular e negara a presença do corpo de Cristo no sacramento da eucaristia. Acreditava que as imagens não deviam ser adoradas, não acreditava no crucifixo nem tampouco o adorava. Por essas questões passou um longo tempo na prisão e no fim, por medo da morte, aceitou renunciar às suas ideias e submeter-se ao julgamento da igreja romana. Em conseqüência disso exigiram dele não apenas uma retratação pública mas também que, a partir daquele momento, permanecesse preso no mosteiro de Osney perto de Oxford e, como prova de sua conversão, carregasse um feixe de juncos na frente da primeira cruz na próxima procissão geral na universidade. De qualquer modo, pouco tempo depois, quando o bispo precisou que o pobre coitado o ajudasse em trabalhos domésticos, tirou-o do mosteiro e o instalou dentro da própria casa. Apesar de tudo isso, ele fugiu e foi para outras terras procurar trabalho a fim de sustentar-se na pobreza. Viveu na maior simplicidade por um certo tempo em Essex e depois em Suffolk, onde também se reuniu aos mais piedosos professores do Evangelho de Cristo de que tinha notícias. Mas depois de alguns anos, acusado como relapso, foi preso e conduzido à presença do Bispo de Londres. O bispo, porém, queria dar a impressão de que fazia tudo por imposição da justiça e nada contra a lei. Por isso, indicou certos doutores e advogados do tribunal eclesiástico de Cantuária para defendê-lo. Ele foi condenado como herege e entregue ao xerife de Londres que o recebeu montado em seu cavalo em Paternoster-row, em frente ao palácio episcopal (1558, d.C.). O xerife imediatamente conduziu-o para Smithfield e ali, naquela mesma tarde, o “transformou num anjo de Deus”. Era o ano de 1518.
Série Os Mártires do Cristianismo Parte V
Jonh Foxe
Compilação: Eziel Ferreira.
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