sábado, 22 de fevereiro de 2020

O EVANGELHO E AS LITURGIAS JUDAICO-MESSIÂNICA - Lei ou Graça?

POR LEONARDO MELO.

INTRODUÇÃO.

Conforme, os textos Sagrados da Bíblia e a  História Universal da humanidade é factual que Jesus Cristo é o Filho de Deus, onde o Logos tornou-se carne, habitou entre nós, foi crucificado e ao terceiro dia ressuscitou. Há inúmeras evidências, sejam elas históricas ou arqueológicas. E argumentos teológicos que provam essa verdade, Jesus Cisto é o Messias ao qual o povo israelense rejeitou.  Toda a Teologia Neo-Testamentária se desenvolve em torno da pessoa bendita de Jesus. Na realidade a Bíblia é Cristocêntrica, desde o Pentateuco até os Escritos tudo conduz á Jesus, isto é, no A.T. havia um véu e no N.T. esse véu foi tirado e rasgado e as profecias sobre Jesus teve total cumprimento, como Aquele que irá salvar Israel e todos quanto o aceitem como Senhor de suas vidas, que serão aqueles que formam a Igreja, cf. Gl. 4.4;  Mt. 27.51; Hb.9.3-8, 10.19-20, ss. É óbvio que tem um propósito de Deus em todo esse cenário religioso que envolve o mundo e a nação israelense. Porém, é razoável frisar que Deus não abandonou á Israel, nem o rejeitou como querem os Teólogos da Substituição. Na análise das fontes, assim como as fontes primárias bem como as fontes secundárias ou externas elas atestam  a existência de Jesus Cristo, além do que historiadores romanos tais como, Cornélio Tácito (56-120 d.C.), Caio Suetônio Tranquilo(69-140 d.C.), Plínio, o jovem(61-114 d.C.), além do judeu historiador Flávio Josefo(37-100 d.C.), todos esses historiadores romanos e o judeu Josefo, registraram em seus anais a pessoa de Jesus Cristo, como alguém real e que marcou a sua época. É razoável mencionar que “Hoje, o critério mais importante que os pesquisadores possuem para atestar a existência de uma personagem histórica é o da múltipla confirmação: autores diferentes, que nunca se conheceram, afirmam fatos semelhantes sobre o personagem”, e Jesus Cristos se encaixa nesta argumentação.

Na realidade em Jesus, Deus está mostrando ao mundo a sua graça salvadora e para Israel que   rejeitou seu Messias, não só perderam pontualmente a oportunidade de servir ao mundo e apresentar ao mundo seu Messias como o Senhor que reinará em justiça e equidade, mas também se afastaram das bênçãos espirituais de salvação em Jesus e do gozo da presença de Jesus como seu Senhor e Rei,  afim de que reinem como uma nação onde a justiça e a verdade e o amor sejam uma realidade tangível. Há, contudo nos nossos dias uma corrente religiosa arraigada no judaísmo conhecidos como “judeus messiânicos”, que são congregações que professam sua fé em Jesus Cristo como Messias, todavia em seus cultos preservam algumas observâncias inerentes a Lei Mosaica, e desta maneira trazem grande confusão para aqueles que estão querendo se converter ao verdadeiro Cristianismo. A semelhança da emergente Igreja na Galácia quando da conversão dos judeus ao Cristianismo que queriam introduzir alguns preceitos referentes á Lei e que foram combatidos pelo apóstolo Paulo, assim também nos nossos dias estes que se intitulam judeus-messiânicos agem da mesma maneira dos crentes gaulês.

O CULTO DOS JUDEUS-MESSIÂNICO

O Judaísmo Messiânico é o nome pelo qual é conhecido a vertente que crê em Yeshua.  São comunidades religiosas formadas por não judeus, descendentes de judeus e judeus que tem por característica principal a crença em Yeshua (Jesus), como o Mashiach (Messias) prometido ao povo judeu. Como não há uma organização que centralize essas comunidades, comumente acontecem divergências de opiniões que acabam por fazer com que isolem-se uma das outras. Não possuem nenhum vinculo com o Estado de Israel, e nenhuma ligação com as Associações, Federações ou Confederações Israelitas porque de fato, não são judeus. Embora o estranhamento com relação aos judeus messiânicos seja explicado por sua crença nesse Messias, sua “novidade” não reside propriamente aí, pois o que é recente não é a possibilidade de ser judeu e acreditar em Cristo, mas sim a de “ser judeu e acreditar em Cristo e não ser cristão”. É esta possibilidade que o judaísmo messiânico inaugura ou “retoma” ao afirmar que a crença em Cristo não implica necessariamente afastamento do judaísmo nem conversão ao cristianismo, mas retorno a uma espécie de judaísmo primevo.

A liturgia realizada na sinagoga segue a ordem do serviço tradicional judaico prescrito pelo sidur para as tardes de sábado, serviço denominado Minchá de Shabat. Realizado inteiramente em hebraico, a participação no serviço religioso mostra-se dependente tanto da transliteração quanto da tradução, a fim de que não se permaneça mudo no meio dos demais, nem surdo ao sentido dessas palavras. É frequente o recurso a estas duas ferramentas de inteligibilidade presentes no sidur e que permitem que as imagens das letras hebraicas sejam convertidas em sons dotados de significados.

Ainda que as palavras em hebraico criem estranhamento a princípio por serem apenas emaranhado de sons, os quais, apesar de melódicos, permanecem mudos de sentido, ao atentar para sua tradução, o estranhamento inicial desaparece revelando palavras de louvor a Deus que, muitas vezes inspiradas em Salmos. Algumas dessas palavras trazem em si apenas correspondência aparente, pois, embora compartilhem uma mesma grafia, no contexto judaico-messiânico apresentam significados muito diferentes daqueles compreendidos por judeus e cristãos ao usarem os mesmos significantes. Isso se percebe ao longo do serviço religioso messiânico que conjuga a importância que a Torá ocupa no pensamento judaico e a centralidade de Cristo na teologia messiânica.

A princípio guardada no armário (aron HaKodesh), depois dele retirada, vista, carregada ao redor da sala, tocada, lida, erguida, novamente guardada e interpretada, a Torá é a protagonista da Minchá de Shabat. Mas, o movimento da Torá não é apenas através do espaço, nem a ação messiânica sobre ela se restringe a tirar, carregar, erguer e tornar a guardar, pois mais importante do que atentar para os movimentos da Torá é perceber a Torá em movimento durante o serviço messiânico onde o rolo sagrado divide o palco com Cristo.

Embora a Torá seja uma presença visível, ao contrário de Cristo, a comunidade de crentes em adoração é capaz de revelar a presença do Messias ao torná-lo visível por meio de palavras que, transformadas em sons, enchem também com Cristo os espaços por onde a Torá circula. É possível ver referências diretas a esse Messias em alguns momentos particulares, como no pronunciamento do meio cadish, prece tradicional judaica que os messiânicos modificam ao inserirem a palavra “Yeshua”, marcando com isso o caráter particular de sua crença no Messias (ungido).

As diferentes porções (parashiot) nas quais a Torá está dividida são lidas semanalmente pelos judeus messiânicos. Embora estas sejam as mesmas também presentes no serviço tradicional judaico, é no momento da interpretação, na drashá, que a diferença se manifesta através do recurso messiânico aos textos do Novo Testamento cuja articulação com a Torá engendra processo dinâmico de extensão de sentidos e de práticas que põe as palavras da Torá em movimento.

No momento que sucede a leitura da Torá, o rolo aberto é levantado diante de todos que estendem seus braços para o alto enquanto entoam em conjunto o Vezot haTorá: “É esta a Lei que Moisés pôs diante dos filhos de Israel, de acordo com o Eterno, por intermédio de Moisés”. Presente ali diante deles está a Lei entregue a Moisés e ao povo de Israel no Egito. A autenticidade de suas palavras é atribuída ao passado, ao período de Moisés, ao passo que a garantia de sua veracidade é dada pela certeza do verbo no presente: “É esta a Lei de Moisés”.

Após ter seu rolo novamente fechado, a Torá é depositada sobre o joelho de um dos membros enquanto outro a cobre novamente com a capa de veludo e esta é então reconduzida ao armário. Mais uma vez escondida dos olhos e colocada em repouso, é no momento que sucede o fim do movimento da Torá que se pode perceber com mais clareza a Torá em movimento durante a interpretação realizada pelo rabi a respeito de suas sagradas palavras.

Ainda que a forma da Minchá de Shabat seja repetidamente a mesma semana após semana, e que também as parashiot se repitam de um ano a outro, o momento da drashá (interpretação) é marcado pela mudança, decorrente tanto da variedade de parashiot, quanto das diversas possibilidades de interpretação de uma mesma parashá que, embora se repita, nunca o faz da mesma forma.

Para os judeus messiânicos, Yeshua HaMashiach (Jesus Cristo) é elemento central e indispensável na constituição de um “judeu completo” participante do que o rabi chama de “Israel profundo” e define como aquele que “amava e ama Yeshua HaMashiach e se deleita nas palavras da Torá”. A maneira como o “Israel profundo” é descrito pelo rabi deixa ver o posicionamento judaico-messiânico a respeito das práticas rituais ao mostrar que, embora se dedique ao estudo da Torá e cumpra os preceitos (mitzvot), o “Israel profundo não crê em regra sobre regra e preceito sobre preceito”, estando “menos interessado em fazer tudo direitinho e mais interessado em fazer tudo certo perante os olhos de Deus”. Opondo o “fazer tudo direitinho”, expressão que faz referência à meticulosidade característica da ortodoxia, ao “fazer tudo certo”, o rabi expressa a visão dos messiânicos a respeito dos judeus ortodoxos, que, embora sejam por eles admirados pelo cuidado com a Torá e com os preceitos, são acusados de excesso de zelo e de preocupação exagerada com as formas e ritos, que para os messiânicos se mostram vazios, uma vez que seu real significado, aquilo que os tornam “certos”, pode ser encontrado apenas no Messias.

Os auto-intitulados "rabinos messiânicos" não tem formação rabínica, tampouco passam por um Beit Din (Tribunal Rabínico). Os judeus messiânicos tem uma visão mais liberal do que os judeus ortodoxos. Ao contrário do judaísmo ortodoxo e Judaismo Conservador, que só aceita judeus filhos de mães judias, no judaísmo messiânico aceita qualquer pessoa que esteja disposta a crer que JESUS CRISTO É O MESSIAS esperado por Israel e o Salvador do mundo. No entanto, salvo exceções de algumas comunidades, os judeus messiânicos guardam algumas mitzvot de Israel, as 613 mitzvot (obviamente, aqueles que são passíveis de serem cumpridos atualmente), observando as festas tradicionais e a Kashrut, professam os treze princípios da fé judaica, formulados por Maimônides, no século XII, podem também atender ao Tzahal (quando vivendo em Israel).

O judaísmo em geral rejeita o judaísmo messiânico/nazareno como sendo um ramo do judaísmo - muito embora, em sua origem no século I, tenha sido considerado como tal. Visto que são comunidades originadas por judeus com o propósito de agregar gentios à visão judaica, formando assim um só corpo, entre judeus e gentios crentes em Yeshua, - como por exemplo a organização Ministério Ensinando de Sião, a CINA Congregação Israelita da Nova Aliança e diversas outras comunidades existentes tanto no Brasil quanto no restante do mundo, até mesmo em Israel, onde essas comunidades estão ganhando cada vez mais força, os convertidos ao judaísmo messiânico, não usufruem da Aliá (Lei de Retorno). A posição oficial do Estado de Israel atualmente reconhece para a Lei do Retorno apenas judeus que possam comprovar sua ascendência judaica.

CONCLUSÃO

Há em nosso país atualmente dezenas de sinagogas que abrigam os novos convertidos ao Evangelho de Cristo que vieram do judaísmo, ou não. A grande questão não é eles aceitarem á Jesus Cristo como o Senhor de suas vidas e crer que Ele é o Messias, estão certos nesse propósito, o problema é que eles, os judeus-messiânicos estão judaizando a Igreja com a inserção de costumes que são da antiga aliança, e o mais grave é que seus líderes doutrinam os novos conversos e os demais irmãos a observarem alguns preceitos da Lei, pois, conforme entendimento deles, Yeshua deixou isso bem claro. E então, eles citam vários textos do Novo Testamento a fim de corroborar com suas assertivas, cf. Mt. 5.17; Lc. 2.39; Jo. 7.49; Rm. 2.13, 3.31, 4.15, 7.7 , 16 e 22;   I Co.9.8; Gl. 3.21; Tg. 4.11, ss, entretanto, o que eles desconhecem é o ensinamento que o próprio Messias deixou em seus Evangelhos e o  que o apóstolo Paulo escreveu sobre a Lei e a graça, quando dirigiu suas cartas ás Igrejas em Roma e na Gálacia principalmente, Verdadeiros tratados Bíblico-Teológico sobre a supremacia da Nova Aliança sobre a Antiga, porém sem anular a Lei na observância moral da mesma.

Por exemplo, aos gálatas, ele diz: “A Lei do Espírito que há em Cristo nos livrou da Lei”, Gl. 5.18, Jesus afirma que o cumprir a Lei está em amar á Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a sí mesmo, e Ele próprio se fez maldição por nós: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”. Cf. Gl.3.13, ainda: “Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a Lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz”,cf. Ef.2.15.”; Paulo exorta á Igreja em Roma: “Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte, Rm. 8.2 e
“Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; cf. Rm. 2.14. Percebemos de modo muito cristalino o contraste que o apóstolo Paulo traça sobre  A Lei e a Graça, não reprovando a primeira, porém exaltando a força da graça em seu objetivo último que é cumprir a Lei do amor em Cristo Jesus. O fim da Lei á a graça em toda a sua multiforme manifestação, sem as amarras dos cerimoniais da Lei. O próprio Jesus condenou principalmente o farisaísmo quando Ele afirmou que os doutores e sábios da Lei sobrecarregavam o povo com preceitos litúrgicos que eles mesmo não observavam. A Nova Aliança nos trouxe uma nova perspectiva de adoração, mais intimista, sem necessariamente, ter a presença do Templo para se adorar á Deus. Foi isso que o Mestre de Israel falou para aquela mulher samaritana: “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem”. ”Deus é espírito, e importa que os que o adoram, o adorem em espírito e em verdade, cf. Jo.4.23-24. O culto oferecido á Jesus é simples, sem liturgias e sem cerimoniais, advém de um coração sincero e quebrantado diante de um  Deus Santo e amoroso que requer apenas  de seus filhos, a santidade, o amor em suas ações(obras), a obediência, a humildade e a fidelidade; certamente o Eterno não desamparará aqueles que lhe servirem com essas virtudes. O templo atualmente serve apenas de mais um referencial na adoração á Deus, a fim de se manter a Koynonia com o corpo de Cristo em suas reuniões, e é óbvio, é um suporte para a administração eclesiástica. Amém.

FONTE.

1. Bíblia Sagrada. Antigo e Novo Testamento. Trad. ARC. Com referências e algumas variantes. Imprensa Bíblica Brasileira. R. de Janeiro. 86ª impressão. 1996. 1409 pg.

2. http://www.morasha.com.br/leis-costumes-e-tradicoes/a-sinagoga.html/ acesso em 08/02/2020.

3. http://shemaysrael.com/judaismo-messianico/ acesso em 08/02/2020

4. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-85872019000100015/Judaísmo messiânico, genealogia e agência: relações entre judeus e não judeus em sinagoga messiânica paulistana/ acesso em 11/02/2020

5. https://ensinandodesiao.org.br/acesso em 11/02/2020.

6. MURRAY, John. Romanos. S. Paulo. Ed. Fiel. 1ª edição. 2003. 684 pg.

7. BRUCE. F. F.. Romanos – Introdução e Comentário. S. Paulo. Ed. Vida Nova. 7ª Reimpressão. 1997. 232 pg.

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