terça-feira, 24 de março de 2020

5 Argumentos a Favor da Existência do Livre Arbítrio


por Evan Minton

O livre-arbítrio é um tópico debatido entre Cristãos e até entre alguns não-Cristãos. Os Cristãos que afirmam que os homens têm livre-arbítrio no sentido libertário são os Arminianos, Molinistas e Teístas Abertos. Os Cristãos que negam o livre arbítrio no sentido libertário geralmente caem no campo Calvinista. Argumentei em outro lugar que o livre arbítrio libertário é o único tipo verdadeiro de livre arbítrio que existe [ao contrário do tipo compatibilista]. O compatibilismo, apesar do que o nome sugere, não concilia livre arbítrio e determinismo. O compatibilismo, no máximo, explicaria por que sentimos que somos livres quando realizamos nossas ações, apesar de termos sidos determinados. O compatibilismo explicaria por que me sinto uma criatura livre, apesar de ser uma marionete de Deus, minha natureza pecaminosa, meus desejos ou as moléculas do meu cérebro (dependendo do tipo de determinista que você seja). Mas, na verdade, isso não nos leva a afirmar as duas proposições; (A) O homem é determinado e (B) O homem é livre. Por quê? Porque no compatibilismo, o homem ainda não pode escolher entre alternativas. Ele só pode escolher o que Deus, sua natureza pecaminosa, sua química cerebral ou seus desejos o fizeram escolher. Quando colocado com as opções de escolha A ou Não-A, Deus/Pecado Natural/Processos Neurológicos/meu desejo fará com que eu escolha um, e não tenha a capacidade de escolher o oposto do que escolhi. Não vejo como isso é "livre" em qualquer sentido significativo. Dizer que "você é livre para escolher o que está decidido a escolher" é o mesmo que dizer a uma pessoa que está amarrada: "Você é livre para ficar parada".

O livre arbítrio libertário é o único livre arbítrio verdadeiro que existe. Se você negar isso, pode muito bem negar que temos livre arbítrio por completo. Acredito que temos livre-arbítrio e tenho razões filosóficas e bíblicas para sustentar essa crença. Às vezes, as razões filosóficas e bíblicas se fundem (como você verá abaixo). Abaixo, listarei três argumentos para a verdade de que o homem é uma criatura livre. Antes porém, deixe-me fazê-lo entender a definição de "livre arbítrio" que utilizarei. Como afirmado, rejeito a ideia de compatiblismo (que determinismo e livre-arbítrio podem coexistir) porque você não pode escolher nada, exceto o que estava determinado a escolher. O livre arbítrio que existe no homem é o livre arbítrio libertário.

O livre arbítrio libertário afirma que:

1: O homem é a origem e causa de suas próprias ações.
2: O Homem, na maioria dos casos[1], terá a habilidade para escolher entre 2 ou mais opções. E qualquer que seja a opção escolhida, ele não precisa fazer essa escolha. Ele poderia ter escolhido uma das alternativas. Por exemplo, se apresentado com A e Não-A, o homem escolhe A, mas não precisava escolher A. Ele poderia ter escolhido Não-A. Ficou ao seu alcance escolher Não-A. Ele simplesmente não exerceu esse poder.[2]
3: A escolha do homem foi indeterminada. Nada interno ou externo ao homem determinou causalmente o homem a fazer a escolha que fez. Sua escolha foi sem causa ou indeterminada.

Agora, que razões podem ser dadas para acreditar que Deus concedeu aos seres humanos esse tipo de livre arbítrio?

1: O argumento da responsabilidade moral

Parece-me que, se o homem está determinado a fazer o que faz, logo ele não pode ser responsabilizado por suas próprias ações. Se Deus determinou causalmente o homem a pecar (como muitos Calvinistas afirmam), então como o homem pode ser responsabilizado por esse pecado? Deus não seria o culpado? Afinal, não foi Deus quem determinou causalmente o homem a fazer o que ele fez? Como o ser humano recebe a culpa, mas Deus sai de cena de forma mágica? Se nossa natureza pecaminosa nos determinou causalmente, por que nos culpar? Por que não culpar a natureza pecaminosa dentro de nós? Se, como no determinismo ateísta, as moléculas em movimento dentro de nossos cérebros nos fizeram fazer o que fizemos, por que nos culpar? Por que não culpar a química do nosso cérebro? "Não é minha culpa! A química do meu cérebro me fez fazer isso!” As causas são sempre responsáveis por seus efeitos. Se Deus determina causalmente as pessoas a pecar, então Deus é responsável por nossos pecados. Se nossa natureza pecaminosa nos determina causalmente ao pecado, então nossa natureza pecaminosa é responsável por nossos pecados. Se a química do nosso cérebro ... bem, você entendeu o argumento. O que nos levou a fazer o que fazemos é, em última análise, responsável pelo que fazemos. É senso comum que os deterministas de todos os tipos negam voluntariamente. Se não somos a origem e a causa última de nossas ações, não somos responsáveis por nossas ações. Qualquer que seja a origem e a causa última, essa coisa é a responsável. E é essa coisa que receberá a culpa.

Se eu bater uma bola em uma mesa, a culpa é da bola que caiu no chão? Não! Bem, quem ou o que é? Obviamente sou eu. Sou responsável pela queda da bola, porque fui eu quem a fez cair.

Nesse ponto, o determinista que defende o compatibilismo pode responder: “Mas o homem fez o que fez porque queria. Ele não foi forçado contra sua vontade. Sua ação estava de acordo com sua vontade.” Certo, mas por que o homem queria fazer o que fez? Muitos Calvinistas dizem que Deus faz com que as pessoas queiram X e o desejo determina que elas façam X. Nesse caso, o problema é apenas chutado para o andar de cima. O homem fez X porque ele queria fazer X, mas a razão pela qual ele queria fazer X foi porque Deus o fez querer fazer X. Então, Deus ainda é o culpado. Os compatibilistas deterministas ateus substituirão a palavra "Deus" ou "processos neurológicos" e farão o mesmo argumento, mas o argumento falha no determinismo naturalista pela mesma razão que falha no determinismo divino. A partir de agora, abordarei apenas formas teológicas de determinismo. Menciono apenas o determinismo naturalista para apontar que ele sofre da mesma falha do Calvinismo.

Alguns Calvinistas acreditam que Adão tinha livre arbítrio libertário (LAL) e ele pecou, a partir de então, ninguém mais era livre. Nossa natureza pecaminosa nos determinou causalmente a cometer pecados de vários tipos. Nesse caso, Deus não está em cena, mas também nem o homem. Você não pode culpar o homem por pecar nessa visão. Está na natureza dele. Assim como é da natureza de um leão matar gazelas. Você não culpa o leão por não escolher uma dieta vegana, não é? Se é da natureza de X fazer Y, geralmente não temos indignação moral com X. Nos desculpamos por X dizendo: "É da natureza de X. X não pode evitar." Por que fazer isso com animais, mas não com seres humanos?

Além disso, geralmente percebemos que, se uma pessoa não pode escolher outra coisa que não a que fez, não é culpada. Se eu te derrubar, você não me responsabiliza se você percebeu que a razão pela qual eu o atropelei foi porque meu sapato estava desamarrado sem eu saber, e tropecei no meu cadarço enquanto corria, fazendo com que batesse em você e você caísse. Se você soubesse da minha situação, provavelmente me desculparia, ou não? Agora, por outro lado, se eu te empurrasse de propósito com minhas mãos, a história seria diferente. Você me responsabilizaria porque sabia que eu tinha o poder de escolher o contrário, fiz de propósito e a origem das ações e a causa final foram minha vontade (não algo externo a mim, como no exemplo anterior).

Se um homem não tem braços e você diz para ele te abraçar, e ele não te abraça porque não tem braços, você não o penaliza, certo? Não! Por que não? Porque o homem não tinha a capacidade de te abraçar. Todo mundo acredita intuitivamente que "dever" implica "poder", bem, exceto para os deterministas que acreditam que Deus penaliza o homem por pecar quando ele não pôde escolher o contrário, e penaliza o homem por não crer em Cristo quando acredita que o homem era incapaz de crer. Mas mesmo eles aceitam essa premissa em todas as outras áreas da vida, apenas não na teologia. Eu nunca poderia acusar um Calvo de ser consistente.

Parece-me que, a menos que o homem seja livre no sentido libertário, ele não pode ser responsabilizado por tudo o que faz.

Meu argumento a favor do livre arbítrio é o seguinte:

1: Se os homens não são livres em um sentido libertário, eles não podem ser responsabilizados pelas ações erradas.
2: A Bíblia ensina que Deus responsabilizará os homens pelas más ações.
3: Portanto, os homens têm livre arbítrio no sentido libertário.

Este é um argumento logicamente válido. A regra de inferência que esse argumento segue é o "Modus Tollens". Portanto, para que a conclusão seja alcançada, ambas as premissas devem ser verdadeiras. Já dei boas razões para acreditar que a premissa 1 é verdadeira. De fato, a premissa 1 é a única premissa nesse argumento que os Calvinistas negarão. Nenhum Calvinista negará a premissa 2. No entanto, deixe-me dar algumas das evidências bíblicas para a premissa 2 assim mesmo.

“Depois vi um grande trono branco e aquele que nele estava assentado. A terra e o céu fugiram da sua presença, e não se encontrou lugar para eles. Vi também os mortos, grandes e pequenos, de pé diante do trono, e livros foram abertos. Outro livro foi aberto, o livro da vida. Os mortos foram julgados de acordo com o que tinham feito, segundo o que estava registrado nos livros. O mar entregou os mortos que nele havia, e a morte e o Hades entregaram os mortos que neles havia; e cada um foi julgado de acordo com o que tinha feito.” Apocalipse 20:11-13

“Assim, cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus.” Romanos 14:12

“Pois todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba de acordo com as obras praticadas por meio do corpo, quer sejam boas quer sejam más.” 2 Coríntios 5:10

Essas três passagens são apenas uma pequena amostra de passagens que afirmam que Deus responsabilizará o homem por suas ações. A segunda premissa é claramente verdadeira. Parece então que ambas as premissas são verdadeiras, das quais se segue a conclusão: 3: Portanto, os homens têm livre-arbítrio no sentido libertário.

2: Em muitos lugares, a Bíblia afirma ou implica que o homem tem livre-arbítrio

O livre-arbítrio está implícito em toda a Bíblia, mas há alguns lugares onde é explicitamente evidente. Por exemplo, em 1 Coríntios 10:13, o apóstolo Paulo escreveu: Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele lhes providenciará um escape, para que o possam suportar. Essa é provavelmente a evidência mais poderosa do livre arbítrio libertário, o exemplo mais explícito do livre arbítrio libertário e a passagem mais difícil para os deterministas ignorar em toda a Bíblia. Paulo diz que a tentação que aflige seus leitores não é algo incomum, nada exclusivo a eles. Ele então continua dizendo que Deus é fiel e não permitirá que a tentação para pecar seja tão avassaladora que seja impossível para eles resistir. Em vez disso, Deus “providenciará um escape" para que eles suportem a tentação e evitem pecar.

Paulo está assumindo aqui que seus leitores não precisam pecar. O pecado não é inevitável. Deus fornece uma saída para que possamos evitar o pecado. Se pecamos, é porque nos recusamos a seguir "o caminho de escape" que Deus ofereceu. Se não pecamos, é porque escolhemos "o caminho de escape". Esse versículo pressupõe o livre arbítrio libertário, pois pressupõe que o ouvinte não precisa pecar. Ele se depara com A (pecado) e Não-A (O caminho de escape). Ele pode escolher qualquer opção e é responsável por qualquer opção que escolher. O determinista não pode entender esse versículo. Se os seres humanos estão causalmente determinados a fazer tudo o que fazemos, então "o caminho de escape" não era uma opção possível para aqueles que pecam. "O caminho de escape" no determinismo não passa de uma ilusão! Somente se o homem realmente tem o poder de escolher genuinamente entre alternativas, podemos dizer que "o caminho de fuga" era uma opção possível para aqueles que pecaram.

Paulo está dizendo essencialmente em 1 Coríntios 10:13: “Olha, você não precisa pecar. Você não tem que pecar. Deus fornecerá uma saída para que você possa suportar a tentação. Se você optar por não seguir o caminho dEle, a culpa é sua, não de Deus”.
Vejam que hoje ponho diante de vocês vida e prosperidade, ou morte e destruição. Pois hoje lhes ordeno que amem o Senhor, o seu Deus, andem nos seus caminhos e guardem os seus mandamentos, decretos e ordenanças; então vocês terão vida e aumentarão em número, e o Senhor, o seu Deus, os abençoará na terra em que vocês estão entrando para dela tomar posse. Se, todavia, o seu coração se desviar e vocês não forem obedientes, e se deixarem levar, prostrando-se diante de outros deuses para adorá-los, eu hoje lhes declaro que sem dúvida vocês serão destruídos. Vocês não viverão muito tempo na terra em que vão entrar e da qual vão tomar posse, depois de atravessarem o Jordão. Hoje invoco os céus e a terra como testemunhas contra vocês, de que coloquei diante de vocês a vida e a morte, a bênção e a maldição. Agora escolham a vida, para que vocês e os seus filhos vivam,” - Deuteronômio 30:15-19.

Nesta passagem, Moisés estava claramente dando aos Israelitas a opção de servir a Deus ou servir aos ídolos. Agora, se os Israelitas tiveram uma escolha há milhares de anos atrás, por que não temos uma escolha hoje? Nesta passagem, Moisés estava dizendo: “Eu coloquei diante de vocês A e Não-A. Prefiro que você escolha A". Parece com o livre arbítrio libertário para mim!

"Agora temam o Senhor e sirvam-no com integridade e fidelidade. Joguem fora os deuses que os seus antepassados adoraram além do Eufrates e no Egito, e sirvam ao Senhor. Se, porém, não lhes agrada servir ao Senhor, escolham hoje a quem irão servir, se aos deuses que os seus antepassados serviram além do Eufrates, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra vocês estão vivendo. Mas, eu e a minha família serviremos ao Senhor". - Josué 24:14,15.

Josué está dando claramente aos Israelitas a opção de servir a Deus ou servir aos ídolos. Agora, se os Israelitas tiveram uma escolha há milhares de anos atrás, por que não temos uma escolha hoje?

Além disso, na visão Calvinista, Deus determina causalmente tudo, então teríamos que concluir que a aparente oferta de escolha entre o único Deus verdadeiro e os deuses pagãos não era sincera. Deus não é sincero? Certamente sim! A inferência mais razoável é que os Israelitas tinham a opção legítima de escolher A (adorar o único Deus verdadeiro) ou Não-A (adorar os ídolos). E qualquer que seja a escolha que eles fizeram, eles não precisavam ter feito e poderiam ter escolhido o contrário.

Além disso, várias passagens da Bíblia falam sobre “ofertas voluntárias” (por exemplo, Levítico 22:23, Números 29:39, Deuteronômio 12: 6, Deuteronômio 16:10, Esdras 8:28). Como você pode dar uma "oferta voluntária" se você não tem livre-arbítrio !?

3: O argumento do amor verdadeiro

Se os seres humanos não têm livre arbítrio libertário, é impossível que o amor exista. Este argumento a favor da existência do livre-arbítrio tem o seguinte formato:

1: Se o amor do homem não é dado livremente, ele não é genuíno.
2: O amor do homem é genuíno.
3: Portanto, o homem ama livremente.

Este é um argumento logicamente válido, pois o silogismo assume a forma modus tollens. Portanto, para afirmar a conclusão, teremos que afirmar que ambas as premissas são verdadeiras. Então, as premissas são verdadeiras ou falsas? Bem, vamos dar uma analisada.

Premissa 1: Se nosso amor a Deus e aos outros não fossem dados por vontade própria, seria impossível que nosso amor fosse genuíno. Em vez disso, teríamos um amor artificial, um amor programado, um amor forçado. Para que o amor seja genuíno, ele deve ser dado livremente. As pessoas que dão amor verdadeiro devem ter a liberdade de escolher não amar. Para entender: imagine que chegamos no ano de 3.000, em que a robótica foi aperfeiçoada ao ponto em que os robôs parecem, falam e se comportam 100% idênticos aos seres humanos reais. Você vai ao “Depósito de Robôs” para comprar uma esposa. Você compra um andróide que parece tão bonita quanto uma supermodelo. Com base na aparência dela, você já sabe que ela tem a qualidade de ser atraente. Mas e a personalidade dela? O manual que a acompanha informa que você pode programar a personalidade dela da maneira que desejar. Então, você a programa para ela sempre fazer o que você quiser, sempre colocar suas necessidades acima das dela, e sempre rir de suas piadas etc. Você a programa para que ela nunca o deixe por outro homem. Você a programa para dizer "eu te amo" 20 vezes ao dia. Você a programa para nunca incomodá-lo enquanto você assiste futebol. Na verdade, você a programa para gostar tanto de futebol quanto você. Você a programa para ser a esposa perfeita.

Pergunta: alguma coisa faria sentido para você? Você se sentiria amado? Não. Você reconheceria claramente que o amor dela por você é artificial. Todo ato de bondade, toda demonstração de afeto e todo "eu te amo" eram obras sua, não dela. Você causalmente determinou que ela fizesse essas coisas por você. Esses desejos não se originaram dentro dela. Todos os atos dela de amor e abnegação seriam gestos vazios, porque você a levou a praticá-los, e ela não tinha capacidade de agir de maneira diferente.

Da mesma forma, se Deus determinou causalmente todos a amá-Lo, louvá-Lo 24/7, nunca desobedecê-Lo e sempre fazer o bem, nossas ações seriam desprovidas de sentido. A única razão pela qual O louvamos é que Ele nos programou para louvá-Lo. A única razão de nos abstermos do pecado é que Ele nos programou para nos abstermos. Seria o mesmo sobre o nosso "amor" um pelo outro. Se Deus determina causalmente que um homem ame sua esposa, não vejo como isso seria mais significativo do que quando uma garotinha faz com que um boneco Ken demonstre amor a uma boneca Barbie.

Eu acho que a premissa 1 é verdadeira com certeza. Mesmo que o Calvinista negue que Deus determina tudo de forma causal, e queira atribuir a determinação à natureza pecaminosa ou apenas a nossos desejos, isso não ajudaria em nada. Suponha que, na ilustração acima mencionada da esposa-robô, eu não determinei causalmente minha esposa a fazer todas essas coisas, mas um de meus amigos íntimos o fez. Ele me deu uma esposa robô e a programou para fazer todas essas coisas por mim, porque ele sabe que tipo de esposa eu gostaria. Mesmo que a programação não tenha sido minha, eu ainda não me sentiria amado por essa mulher robô, porque ela ainda não conseguia escolher o contrário. Portanto, de maneira semelhante, se minha natureza, desejos ou moléculas cerebrais determinam causalmente que eu ame a Deus e ao próximo, seria tão sem sentido quanto se Deus fosse o único a puxar as cordas.

Premissa 2: Por que pensar que nosso amor é genuíno? Talvez o Calvinista possa ficar furioso e dizer “Ok, eu concordo. Sem livre arbítrio libertário, nosso amor é autômato inútil. Mas e daí? Talvez nosso amor seja autômato inútil!?” Antes de tudo, gostaria de salientar aos meus leitores que acho que nenhum Calvinista negaria a premissa 2. É mais provável que ele tente negar a premissa 1. É claro que isso levanta a questão: por que o Calvinista seria relutante em negar a premissa 2?

Porque o Calvinista, como todos os Cristãos, percebe que Deus é perfeito. Deus é o Maior Ser Concebível, e, como tal, tem todas as grandes propriedades de criação, incluindo a onisciência. Se Deus é onisciente, então Ele sabe que tipo de mundo seria aquele onde o amor verdadeiro poderia existir. Se a premissa 2 for falsa, somos forçados a dizer que Deus criou um mundo sem amor! Ninguém ama verdadeiramente a Deus, ninguém ama verdadeiramente o próximo! Mas, a Bíblia ensina que Deus quer que nosso amor por Ele seja genuíno. É por isso que os dois maiores mandamentos são amar a Deus com todo o coração, alma, força e mente, e amar o próximo como a nós mesmos (ver Mateus 22: 37-39, Marcos 12: 30-31, Lucas 10: 27). Deus quer que o amemos com todo o coração, alma, força e mente, e que amemos o próximo como a nós mesmos. Se Deus não queria que obedecêssemos a esses mandamentos, por que Ele os deu a nós em primeiro lugar? Deus realmente criaria um mundo onde o amor é impossível e depois nos mandaria amar? Isso seria uma coisa bastante estúpida de se fazer, não? Uma vez que Deus ordena que amemos a Ele e aos outros, isso implica que somos capazes de amá-Lo e de amar uns aos outros. Dado que apenas um mundo de criaturas com livre-arbítrio é um mundo onde o cumprimento desses dois mandamentos é possível, segue-se que Deus prefere realizar tal mundo possível e, como Deus prefere esse mundo, segue-se que Ele atualizaria tal mundo.

Além disso, a negação da premissa 2 implicaria uma negação da inerrância bíblica. Pois a Bíblia implica que nosso amor a Deus é real quando diz: "Nós o amamos porque Ele nos amou primeiro". (1 João 4:19). Aí está, exatamente em 1 João 4! "Nós amamos". Se você nega essa premissa, deve negar que esse versículo é verdadeiro!

Conclusão:

Dada a verdade das 2 premissas, a conclusão segue lógica e necessariamente. O homem ama livremente.

4: O problema do livre arbítrio aparente

Um dos problemas que tenho com o argumento dos Criacionistas da Terra Jovem de que "o universo tem realmente apenas 6.000 anos, Deus apenas fez parecer que tinha bilhões de anos" é que esse argumento faz de Deus um enganador. Sim, Deus tinha a liberdade de fazer o universo em um estado avançado, e ele certamente produziu o vinho em Caná em um estado envelhecido, pois era o vinho de melhor sabor (ver João 4), e se a leitura literal de Gênesis está correta, Deus criou Adão e Eva em corpos adultos. MAS Deus criaria Adão e Eva com a aparência de história passada? Há uma diferença entre a aparência de idade e a história passada. Como Richard Deem escreveu: “Adão teve uma aparência de história [vivida]? Ele teve um umbigo de um nascimento que nunca aconteceu? Seus dentes estavam gastos quando foi criado, mesmo que ele nunca tivesse comido? Adão tinha calos nos pés, mesmo que nunca tivesse andado? A Bíblia não trata dessas questões e, como o corpo de Adão não está disponível, não temos ideia das respostas para essas perguntas. A Bíblia compara o corpo de Adão com a criação? Não! A analogia não tem base bíblica e é baseada apenas em conjecturas. O vinho de Caná tem uma aparência de história [passada]? Segundo o relato bíblico, Jesus ordenou que os vasos de água fossem enchidos com água e, imediatamente, a água se tornou vinho. Parecia história [passada]? Se o vinho estivesse em odres (como o original), pode-se dizer que pareceria ter envelhecido nos odres. No entanto, o vinho ainda estava nos potes de água. Não tinha aparência de história [envelhecimento temporal]. A Bíblia compara o vinho de Caná com a criação? Não! Como o corpo de Adão, a analogia do vinho de Caná não tem base bíblica e é baseada apenas em conjecturas.”[3] Para Deus ter criado um universo como criou, ele teria criado uma aparência de história passada. História de milhões de anos de erosão, bombardeios na superfície da lua, erosão dos cânions em Marte, luz das estrelas chegando a milhões de anos-luz de distância, mas [supostamente] chegando a milhares porque foi criada em trânsito etc. Isto faria de Deus um enganador, e a Bíblia ensina que Deus não pode mentir (ver Números 23:19, Tito 1: 2, Hebreus 6:18). Como Deus não pode mentir, segue-se que Ele não poderia ter criado um universo que [apenas] parece ter durado milhões de anos de história.

Bem, parece que o mesmo problema afeta os Calvinistas na esfera do livre arbítrio. Até os Calvinistas não negam que parecemos ter livre-arbítrio. Sentimos que temos livre arbítrio. Muitos de nós pensam que nossas ações são livres. Certamente parece que quando fazemos uma escolha, poderíamos ter feito o contrário. Os Calvinistas apenas negam que essa aparência e esse sentimento sejam reais. Eles dirão que é um engano ou ilusão. O problema é que isso implica que Deus criou um universo com uma aparência enganosa. Todo mundo é um fantoche Dele, mas Ele nos fez acreditar que nossas ações são livres. Ele manipula todas as cordas, mas implantou em nós a crença de que o que fazemos é feito por nossa própria vontade e de que tínhamos o poder de escolher outra coisa e não o que escolhemos.

De fato, eu não evitaria argumentar que a crença no livre arbítrio é uma crença propriamente básica. Eu acho que a maioria das pessoas acredita que é livre, assim como acredita que a moralidade objetiva existe e que o mundo externo existe. As pessoas param de acreditar nessas coisas quando um determinista, um relativista ou um solipsista respectivamente as convencem. Por que Deus formaria nossas mentes assim enganosamente? Por que ele plantaria uma crença inata na liberdade libertária se isso não refletisse a realidade? Parece-me que, se o homem não é verdadeiramente livre, Deus é um enganador, assim como Deus é um enganador se a luz das estrelas não estiver viajando há milhões de anos.

5: O argumento do site FreeThinking Ministries

Esse argumento se originou com o apologista Tim Stratton, líder do FreeThinking Ministries. As premissas do argumento demonstram tanto a existência do livre arbítrio quanto a existência da alma, e indiretamente aponta para a existência de Deus. Por isso, destrói simultaneamente o Calvinismo e o Ateísmo, pelo menos se todas as premissas forem verdadeiras. O argumento de Stratton é o seguinte:

1- Se o naturalismo é verdadeiro, a alma humana imaterial não existe.
2- Se a alma não existe, o livre arbítrio libertário não existe.
3- Se o livre-arbítrio libertário não existe, a racionalidade e o conhecimento não existem.
4- A racionalidade e conhecimento existem.
5- Portanto, o livre arbítrio libertário existe.
6- Portanto, a alma existe.
7- Portanto, o naturalismo é falso.
8- A melhor explicação para a existência da alma é Deus.

As premissas 1 e 2 parecem obviamente verdadeiras para mim. Se o naturalismo é verdadeiro, somos apenas robôs orgânicos. Se o ateísmo é verdadeiro, tudo o que existe é matéria, energia, espaço e tempo. Não há "almas" ou "espíritos". A maioria dos ateus concordaria com a premissa 1. Na verdade, eu ficaria chocado se encontrasse algum ateu que pensasse que havia uma alma dentro de seu corpo ou que espíritos existem. Se for esse o caso, se não somos almas nos corpos, segue-se que somos apenas "moléculas em movimento", como Frank Turek gosta de colocar. Se o naturalismo / ateísmo é verdadeiro, não somos nada além de autômatos. Todos os nossos movimentos, sentimentos, pensamentos e opiniões são determinados causalmente por processos eletroquímicos em nossos cérebros, moléculas e átomos circulando e outros processos físicos. "Você" é uma máquina de carne. Como afirmou o geneticista Francis Crick: "Suas alegrias e tristezas, suas memórias e suas ambições, seu senso de identidade e livre arbítrio, na verdade não são nada mais do que o comportamento de um vasto conjunto de células nervosas e suas moléculas associadas".[4]

Então, se o ateísmo é verdadeiro, não temos almas, e se não temos almas, não temos livre arbítrio. Somos apenas "moléculas em movimento". E a premissa 3? É verdade que "se o livre arbítrio libertário não existe, a racionalidade e o conhecimento não existem?" Acho que sim! Tim Stratton, em seu artigo “The Freethinking Argument In A Nutshell”, escreveu “A premissa (3) é equivalente a 'se todas as coisas são causalmente determinadas, então isso inclui todos os pensamentos e crenças'. Se nossos pensamentos e crenças nos são forçados, e como não poderíamos ter escolhido melhores crenças, ficamos simplesmente supondo que nossas crenças determinadas são boas (e muito menos verdadeiras). Portanto, nunca poderíamos afirmar racionalmente que nossas crenças são a inferência para a melhor explicação - só podemos assumi-la. Aqui está o grande problema para o naturalista ateu: segue-se logicamente que, se o naturalismo é verdadeiro, os ateus - ou qualquer outra pessoa - não podem possuir conhecimento. Conhecimento é definido como ‘crença verdadeira justificada’. Pode-se ter crenças verdadeiras; no entanto, se eles não possuem garantia ou justificativa para uma crença específica, sua crença não se qualifica como uma reivindicação de conhecimento. Se não se pode inferir livremente a melhor explicação, não se tem justificativa de que a crença deles seja realmente a melhor explicação. Sem justificativa, o conhecimento desce pelo ralo. Tudo o que nos resta são suposições que geram perguntas.”[5]

A Premisa 4 é verdadeira? Sim. Eu acho que é. É claro que os seres humanos possuem racionalidade e conhecimento. Contradizer a afirmação de que os seres humanos possuem racionalidade e conhecimento seria afirmar que os seres humanos possuem racionalidade e conhecimento. Negar a reivindicação seria afirmá-la. Por que eu digo isso? Porque o detrator dessa premissa estaria dizendo que ele está nos dando o conhecimento do contrário. Além disso, se alguém rejeita o conhecimento, por que alguém deveria ouvi-lo? Se alguém nega ser um homem racional, por que devemos ouvi-lo? Por que ouvir alguém que admite abertamente que é irracional?

Dada a verdade das 4 premissas, as etapas 5 a 7 seguem. O livre arbítrio libertário existe, portanto a alma existe, portanto o naturalismo é falso.

Como Stratton lhe dirá, esse argumento tem 3 conclusões dedutivas e 1 conclusão indutiva. A conclusão dedutiva é que o naturalismo é falso, a conclusão indutiva é uma inferência de que Deus é a melhor explicação para o porquê da alma humana existir. Um universo ateu com espíritos é implausível prima facie. Faz mais sentido para mim pensar que, se existem almas, mentes imateriais, haveria uma “Mega Mente” que criou todas elas. Dado que este artigo é bastante longo, não irei mais longe na conclusão indutiva do The FreeThinking Argument.

Este argumento mata 2 coelhos com 1 cajadada. Esses coelhos são chamados de Ateísmo e Calvinismo.

Para uma defesa completa e aprofundada desse argumento, confira esta palestra de 48 minutos de Tim Stratton. – neste link:

Conclusão

Por estas 5 razões, acredito que os seres humanos têm livre arbítrio libertário. Não posso me envolver em nenhuma forma de determinismo. Existem muitas razões, filosóficas e exegéticas, para acreditar que o homem tem livre arbítrio.
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Fonte:
Tradução Walson Sales.
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Notas:
[1] Quando digo “na maioria dos casos”, quero dizer que haverá alguns casos em que apenas uma opção estará disponível para nós escolhermos. Os libertários não estão comprometidos com a visão de que devemos sempre, em todas as circunstâncias, poder escolher entre alternativas. Por exemplo, se você pular de um prédio, claramente sua única opção é cair no chão. Se um homem cheira cocaína, ele é viciado e agora não pode fazer nada além de cheirar, a menos que Deus o liberte milagrosamente ou a reabilitação o reabilite. No caso de pular de edifícios e vícios, o homem não pode escolher Não-A, mas o homem pode escolher Não-A em muitas circunstâncias. Ken Keathley chama isso de "circunstâncias que permitem a liberdade". A circunstância antes de pular do prédio era uma circunstância que permitia a liberdade. A circunstância depois que você pulou não.
[2] Isso não se aplica à salvação. Eu não sou um Pelagiano. Eu acredito que o homem é livre para escolher receber a Cristo ou rejeitá-lo, mas o homem deve receber essa habilidade do Espírito Santo. O homem deve receber o que os teólogos Arminianos chamam de "graça preveniente". Para ver um argumento bíblico da doutrina da Graça Preveniente, consulte meu post no blog “What Biblical Evidence Is There For Prevenient Grace?”, neste link: http://cerebralfaith.blogspot.com/2016/03/what-biblical-evidence-is-there-for.html
Acredito que a vontade do homem deve ser liberta para que ele venha a Cristo.
[3] Richard Deem, artigo online “Appearance Of Age — A Young Earth Problem”, http://www.godandscience.org/youngearth/appearance.html
[4] Francis Crick, The Astonishing Hypothesis, 1994 citado em Mariano Artigas, The Mind of the Universe: Understanding Science and Religion, Templeton Foundation Press, 2001 p. 11.
5: Tim Stratton, “The FreeThinking Argument In A Nutshell”, November 30th 2015, http://freethinkingministries.com/the-freethinking-argument-in-a-nutshell/

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