POR LEONARDO MELO.
INTRODUÇÃO
Depois da queda de Lúcifer, o mundo físico e espiritual provaram influências devastadora quanto a sua concepção original quando da criação por Deus, cf. Gn. 1.1, 2.4; Is. 37.16, 45.18, 42.5, 51.13; Sl. 115.16, Ap. 10.6, ss. Uma das armas que nosso adversário tem se utilizado é a mentira, pois, ele próprio é o pai da mesma, cf. Jo. 8.44; II Ts. 2.9; I Jo. 2.21, ss, e infelizmente tem influenciado uma multidão de pessoas, principalmente no meio evangélico ou sobre a vida daqueles que se dizem evangélicos. Essa influência nefasta do adversário alastrou-se pelo mundo e influenciou também a vida do povo de Deus no A. T., mas vamos perceber a sua ação mais contundente a partir do surgimento da Igreja do Senhor Jesus. E justamente é com a influência maligna da mentira que vão surgir os sistemas heréticos religiosos.
O que nos deixa sobressaltado, é que aqueles que ensinam as heresias usarão os textos sagrados da Bíblia, até mesmo para uma auto-afirmação do conteúdo doutrinário que vão expor ou ensinar. Na realidade, os hereges querem dar um ar de autoridade a suas falácias doutrinárias usando a Palavra do próprio Deus. E na Bíblia essa verdade é muito translúcida, cf. Mt. 24.11, 24.24; Mc. 13.22; II Pe. 3.1-5, i Tm. 4.1-2; ss. O fato é que as heresias vão surgir em um contexto histórico influenciados pelo Judaísmo e pelas correntes filosófica-religiosa da época. É razoável afirmar que até hoje, como um ciclo, as seitas trazem um prejuízo enorme para o verdadeiro cristianismo e para a verdadeira Igreja de Cristo.
O QUE É HERESIA E AS SEITAS HERÉTICAS PRIMEVAS
O apóstolo Paulo ao escrever sua primeira carta á Igreja em Corinto, ele afirma que é necessário o surgimento de heresias no meio da Igreja, porque simplesmente elas servirão de medidor, de aferidor da verdade doutrinária que está sendo ensinada na Igreja, cf. I Co. 11.19; também é pertinente salientar que na oração sacerdotal proferida por Jesus, Ele roga ao Pai por unidade no meio do povo dele, cf. Jo. 17. 11, 20-24, pois, Ele como Deus conhecia tanto o preço quanto a dificuldade da unidade. Seria a nota principal da verdadeira Igreja. Porém, haveria ruptura da unidade, divisões, divergências de opinião, em uma palavra!
Logo, Heresia é um ensino falso, uma afirmação que se desvia das doutrinas cristãs, isto é, a palavra heresia vem do grego hairesis, e originalmente significa um “ato de escolha”, porém , com o passar do tempo, houve uma ascensão etimológica da palavra, isto é, desenvolveu gradualmente os sentidos estendidos de “escolha”, “um curso preferido de ação”, “uma escola de pensamento”, e “uma seita filosófica ou religiosa”. Como por exemplo, o estoicismo é muitas vezes referido como uma hairesis (ou seja uma escola de pensamento) pelos escritores gregos do final do período clássico, como foram as várias escolas médicas da época. Flávio Josefo, o historiador judeu do século I, refere-se aos saduceus, fariseus e essênios como exemplos de haireses, pelo qual ele quis dizer “partidos”, “escolas” ou agrupamentos”. De modo nenhum, Josefo insinua que alguns desses grupos é não ortodoxo; ele simplesmente observa que eles constituem grupos separados, identificáveis dentro do judaísmo.
O termo grego hairesis é claramente entendido como um termo neutro, não pejorativo, não implicando louvor nem crítica; ele se refere a um grupo de pessoas que tem visões comuns. O termo é descritivo, não avaliativo, cf. (McGRATH. 2014. pg. 50-51). A preocupação é que a divisão em facções destrói a unidade cristã e encoraja a rivalidade e a ambição pessoal, como bem preocupou-se Jesus e frisou em sua oração sacerdotal em favor da unidade cristã, cf. Jo. 17.11,22-24. É oportuno salientar que, o que está em causa não é o aparecimento de grupos, ou partidos, mas as consequências negativas dessa ocorrência para a unidade da Igreja, cujos líderes administram mal essa ocorrência.
Então, baseados nas premissas exposta anteriormente, percebemos que as heresias surgem de maneira sutil e vai contaminando a Igreja como um vírus, consequentemente Hairesis, passa então, no século II, a oposição binária heresia-ortodoxia a significar uma escola de pensamento que desenvolviam idéias que subvertiam a fé cristã, em oposição a ortodoxia, uma versão autêntica e normativa da fé cristã. Já no primeiro século de existência, a Igreja se vê influenciada pelas primeiras heresias que surgem com os judaizantes. Não é a toa que Tertuliano, 150 anos mais tarde escrevia: “A condição de nosso tempo nos obriga a dar esta advertência, que não devemos admirar por causa das heresias, nem da sua existência que foi predita, nem de que arruínem a fé em muitos, pois, sua razão de ser é provar a fé , tentando-a”, cf. (CRISTIANI. 1962. Pg. 08). Enfim, a heresia também se explica pelo aspecto positivo, com efeito, nem tudo está errado na heresia, sempre contém uma premissa verdadeira, mas falseada pela interferência de um sistema filosófico que está em contradição com a fé, ou pela recusa implícita ou explícita do mistério da fé.
As seitas que foram surgindo ao longo do início da história da Igreja foram:
1. As de matrizes judaicas: os judaizantes, a mais antiga das heresias conhecidas pela Igreja, que eram contrários a expansão da Igreja, surgindo desse conflito, as seitas dos Ebionitas ou Pobres; surgiram também os Essênios, e os Alexaítas (surgiu no séc. I, na Jordânia, influenciados pelo Judaísmo e pelo metempsicose(influência do ofismo, platonismo e neo-platonismo);
2. Seitas de Matrizes pagãs. Influenciadas pelas religiões orientais, tais como: Taoísmo, Budismo, Maometismo, Judaísmo, Catolicismo, gnosticismo, onde surgiu os Ofitas, que cultuavam a serpente que foi do paraíso; o Montanismo, caracterizado pelo seu rigorismo moral e pelo milenarismo, pois criam que Jesus breve implantaria seu Reino na terra.
3. Heresias anti-trinitárias. Adocionismo, que explicavam que o título , Filho de Deus foi dado á Cristo por causa de sua adoção por Deus; surgiu também o Sabelianismo ou Monarquianismo, para os sabelianos os três nomes não passam de três aspectos, três títulos diferentes, não significam pessoas distintas. Por isso, os cristãos ortodoxos chamava-os de “Patri-passens”, os que crêem que o Pai sofreu por nós na cruz, assim como ficaram conhecidos como modalistas.
As heresias na Igreja , no século IV
As controvérsia provocadas , no séc. III, pelos erros antitrinitrários haviam terminado com a condenação clara dos patripassiens, porém, nem todos os escritores há época souberam evitar o subordinacionismo. Surge o Arianismo, com o bispo egípcio Ário, que ensina que Jesus não é Deus, é semelhante, porém não da mesma substância. Negava a divindade de Cristo. Surgiu, pelo ano de 335 , o Focianismo com o bispo Marcelo de Ancira, contra o Arianismo, todavia, ele caiu no erro do sabelianismo. Foi condenado pela heresia, porém apelou ao Papa Júlio I, que considerou-o sua doutrina ortodoxa, no idos dos anos de 338 e 341. Suas ideias foram retomadas por Fócio, bispo de Sírmio, por isso o nome e esta seita herética, focianismo que reviveu o sabelianismo.
Também surgiu uma seita conhecida como Semi-Arianismo, que tinha em Basílio de Ancira seu principal representante ensinava que Jesus era semelhante em substância, HOMOIOUSIOS, em grego. Então, ficaram conhecidos como “Homeousianos”; em situação oposta está os arianos puro, e afirmavam que o verbo era dissemelhante – ANOMOIOS do Pai, por conseguinte ficaram conhecidos como “anomeanos”. havia entre os dois grupos, um outro bispo que defendia outro ponto de vista, Acácio de Cesaréia, ele afirmou que o verbo(Jesus) era semelhante – omoios ao Pai, sem ser da mesma substância. Essa teoria levou o nome de “Homeanos”.
A igreja avançava, porém as heresias não paravam de surgir, por mais que fossem combatidas, desmoralizadas, banidas, surgiam outras em seu lugar, como por exemplo os Pneumatomáquios, isto é , a maioria dos semi-arianos e os arianos puros se declararam contra a Pessoa do Espírito Santo, por isso a denominação de Pneumatomáquios.
Também no Ocidente as heresias surgem e com elas seus defensores. Surge o “Donatismo”, com o Bispo Donato, de Casa Negra, na África, que afirmavam que :
Os pecadores públicos e manifestos , notadamente os bispos e padres prevaricadores , não pertenciam mais a Igreja e que fora da verdadeira Igreja, todos os sacramentos eram inválidos. Fato ainda mais grave, os donatistas queriam expulsar da Igreja não só os bispos e padres acusados de prevaricação, mas também quem se relacionavam com eles. O Donatismo foi condenado no Concílio de Latrão, em Roma, em 313, depois no de Arles, em 314.
Também surge o “Priscilianismo”, aproximadamente no ano 370, seu fundador foi um certo Prisciliano, que pertencia a nobreza espanhola. Tinha seu fundamento teológico baseado no gnosticismo, na adivinhação e no maniqueísmo, porém suas doutrinas foram combatidas vigorosamente pelos bispos ortodoxos, Santo Ambrósio e São Martinho. Influenciou os Albigenses. Praticavam certas magias e criam nos astros celestiais Prisciliano morreu por volta do ano de 385.
O Pelagianismo. Foi uma heresia ligada ao nome de Pelágio(355-435), um monge britânico que havia empreitado uma cruzada para reformar a Igreja romana, apareceu por volta do ano 384, em Roma. Negava o pecado original, isto é, deformava a graça, segundo ele o sacrifício de Cristo foi inútil. Para Pelágio, a humanidade precisava apenas ser orientada sobre o que fazer, e ser, então, deixada livre sem nenhuma ajuda. Foi vigorosamente refutado por Agostinho de Hipona. Tradicionalmente, considera-se que as origens das controvérsias pelagianas deu-se em 405. As idéias de Pelágio foram condenadas no Concílio de Éfeso em 431.
A maioria dessas primeiras heresias e controvérsias cessaram a partir de 451, porém, elas deixaram um impacto tremendo sobre a Igreja e sua unidade.
CONCLUSÃO
A Igreja sempre lutará com os inimigos internos e com os externos. Isso é factual. Porém, precisamos enfatizar que o Senhor da Igreja declarou que os poderes das trevas(portas do inferno) nunca iram destruir a Igreja, cf. Mt. 16.18. Percebemos claramente como nosso Senhor tem razão quando proferiu essa assertiva, pois, vimos no dia a dia da Igreja como nosso adversário tem se levantado contra a Igreja e como tem influenciado os Governos para se insurgirem contra o povo do Senhor. Desde o surgimento das heresias até as perseguições, percebemos como o inimigo das nossas almas não dar sossego aos servos de Deus. Atualmente os sistemas filosóficos-político-religiosos tem a cada instante influenciado a sociedade de forma espantosa, de maneira que não há mais espaço para a Igreja no mundo.
A crescente onda ateísta, o avanço da Teologia Liberal, o desprezo pelos valores judaico-cristãos, o avanço do Islamismo, do ocultismo, do satanismo, da laicidade do Estado, assim como a influência socialista no mundo atual tem contribuído para servirem de opositores a obra de Deus. Muito mais perverso do que as heresias é a rejeição e a desconstrução do Cristianismo e da Pessoa de Jesus Cristo. Não foi a toa que o apóstolo Paulo afirmou que viria tempos difíceis, assim como Judas também enfatizou, cf. Jd. 18; II Tm. 4.13, ss. Enfim, a Igreja tem que está atenta porque as heresias são cíclicas, algumas foram extintas para sempre, porém há outras que estão se eternizando e influenciando a sociedade e a comunidade cristã.
É razoável comentar que, a atração da heresia na cultura ocidental contemporânea ultrapassa qualquer sentimento popular, ainda que volúvel, das irreparáveis inadequações ou insuficiências morais da ortodoxias religiosas.
FONTE.
1. McGRATH, Alíster. Heresia – Uma história em defesa da vedade. Trad. José Carlos Siqueira. S. Paulo. 2014. Hagnos. 292 pg.
2. CAIRNS, Earle E. O Cristinaismo através dos séculos. Trad. Israel B. de Azevedo & Valdemar Kroker. S. Paulo. 2008. Editora Vida Nova. 671 pg.
3. CRISTIANI,Cônego. Breve História das Heresias. Trad. José Aleixo Dellagnello. S. Paulo. 1962. Editora Flamboyant. 129 pg.
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