Por Marc Cortez.
A seguir, uma conversa que ocorreu recentemente
no grupo da igreja da escola secundária de minha filha. A conversa serviu para
destacar três erros que frequentemente cometemos quando falamos sobre a
soberania de Deus e como esse tema se relaciona com o pecado e o sofrimento no
mundo.
Pastor dos
jovens: “Deus é soberano. Isso
significa que ele controla tudo o que acontece.”
Estudante do
ensino médio: “Então Deus
estava no controle quando meu cachorro morreu? Por que Deus mataria meu
cachorro?”
Pastor dos
jovens: "Essa é uma pergunta
difícil. Mas, às vezes, Deus nos permite passar por momentos difíceis para
estarmos preparados para coisas ainda mais difíceis no futuro. Lembro como foi
difícil quando meu cachorro morreu. Mas passar por isso me ajudou a lidar com
um momento ainda mais difícil quando minha avó morreu. Isso faz sentido?"
Estudante do
ensino médio: (Longa pausa).
"Então, Deus matou meu cachorro para me preparar para quando ele for matar
minha avó?"
Pastor dos
jovens: (Silêncio).
Ah, ministério de jovens. Não há nada como uma
pergunta de uma criança de 12 anos para fazer você perceber que o que você
acabou de dizer não faz tanto sentido quanto você pensava quando o disse.
Se você olhar atentamente para esta conversa
rápida, acho que verá três erros que as pessoas geralmente cometem ao falar
sobre a soberania de Deus e como esse tema se relaciona com as coisas ruins que
acontecem no mundo.
1.
Respondendo à pergunta errada
Isto se refere mais a como lidamos com questões
difíceis em geral. Surpreende-me quantas vezes ouço alguém fazer uma pergunta
muito boa e profunda, apenas para receber uma resposta para uma pergunta
completamente diferente. Observe no diálogo que a aluna queria saber por que
Deus matou seu cachorro. Essa é uma pergunta sobre a agência pessoal direta de
Deus em algo aparentemente mau. Mas a resposta tinha a ver com a razão pela
qual Deus permitiu que o cachorro morresse. Esse é um problema relacionado, mas
nitidamente diferente.
Este não é um problema pequeno. Muitas pessoas
não percebem que sua resposta não corresponde à pergunta. Contudo, eles
assumirão que sim. E isso pode empurrá-los para algum mal-entendido maior.
Foi o que aconteceu neste diálogo. O aluno
perguntou sobre Deus ter matado seu cachorro. O pastor dos jovens pulou essa pergunta
e foi diretamente à vontade permissiva de Deus. Mas a aluna
(compreensivelmente) achou que o pastor de jovens estava respondendo à pergunta
que ela realmente fez. Então ela concluiu que o pastor estava concordando que
Deus de fato matou o cachorro, e estava apenas tentando explicar por que Deus
faria uma coisa dessas. Essa claramente não era a intenção do pastor, mas, ao
responder à pergunta errada, ele empurrou o aluno para esse mal-entendido.
Tudo o que há a dizer: ouça as perguntas com atenção. Responder à pergunta errada pode causar
problemas.
2.
Confundindo Autoridade e Agência
Ao falar sobre a soberania de Deus e como ela se
relaciona com o pecado e o mal, é importante distinguir dois conceitos: autoridade e agência. Quando dizemos que Deus é "soberano", estamos
afirmando que Deus tem autoridade sobre tudo o que acontece no universo. Ele é
o Rei. Como tal, ele tem poder soberano sobre tudo o que acontece. Se ele
quiser fazer um rio fluir para trás, ele pode fazer isso. O rio é dele. Como
rei, ele tem o poder e a autoridade inerentes.
Mas isso é diferente de dizer que ele causa
diretamente tudo o que acontece, que é uma questão de agência. Um Rei pode ter
autoridade soberana sobre o comerciante no mercado, mas quando esse comerciante
vende um saco de arroz, não dizemos que o Rei executou pessoalmente essa ação.
Portanto, agência e autoridade são conceitos
distintos. Podemos combiná-los de diferentes maneiras ao entender como Deus se
relaciona com o pecado e o mal. Os Cristãos geralmente concordam que Deus tem
autoridade sobre tudo o que acontece, mesmo as coisas ruins. (Sim, até os
Arminianos afirmam que Deus é soberano nesse sentido.) Mas eles discordam
exatamente sobre como entender a ação de Deus. Alguns dirão que Deus causa
diretamente tudo o que acontece. Outros querem falar sobre diferentes tipos de
causalidade (ou seja, a causação divina e da criatura estão ambas em ação em
todos os eventos, mas a ação de Deus é de alguma forma menos direta e,
portanto, Ele não é responsável pelo pecado e pelo mal). Eu poderia continuar
indefinidamente. O objetivo é reconhecer
que diferentes abordagens da ação divina ainda afirmam a autoridade divina.
Eles apenas descompactam o relacionamento de maneira diferente.
Em nossa história acima, o pastor dos jovens não
reconheceu a distinção e respondeu a uma pergunta sobre agência com sendo uma
resposta sobre autoridade. Não faça isso.
3. Tentando
fazer o mal parecer bom
Existe uma linha tênue entre ajudar as pessoas a
ver que Deus é maravilhoso o suficiente para usar até as piores situações para
seus bons propósitos e fazer parecer que essas situações horríveis são
realmente boas. Sim, Deus pode usar uma situação ruim para bons propósitos. Ele
faz isso o tempo todo. Os irmãos de José o venderam como escravos, e com isso
Deus resgatou o povo da fome (Gênesis 37–45). Os Babilônios esmagaram Judá, e
Deus demonstrou sua incrível santidade (Isaías 7: 10–8: 10; 9: 8–10: 4). Jesus
foi executado na cruz e Deus redimiu um mundo pecaminoso (Atos 2: 22–23). Nosso
Deus é maravilhoso, e ele está sempre trabalhando, mesmo nas situações mais
horríveis.
Isso não
significa que situações horríveis são realmente boas. Significa apenas que Deus
é bom. Criativo. Poderoso. Redentor.
Não louvamos a Deus pelo mal, louvamos a Deus no
meio do mal. Essas são respostas criticamente diferentes. Devemos evitar a
primeira afirmação para não corrermos o risco de, com nossa pressa de
confortar, minimizarmos o mal e sugerirmos que Deus é, de alguma forma, culpado
pelo próprio pecado contra o qual ele trabalha tão ativamente.
Discutir a soberania de Deus com alguém que
enfrenta uma situação difícil é sempre um desafio. Você deve ter cuidado para
não minimizar a dor dessas pessoas e parecer que elas devem, de alguma forma,
ser capazes de "seguir em frente" simplesmente porque você os lembrou
que Deus está no controle. A soberania de Deus não faz a dor desaparecer,
apenas coloca a dor em um contexto. Essa é uma boa coisa a fazer, mas deve ser
feita com cuidado.
Fonte:
Tradução Walson Sales.
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