domingo, 19 de abril de 2020

A escravidão no período do Antigo Testamento

A escravidão foi uma triste realidade que ocorreu no mundo “civilizado”, até onde se sabe, abrangeu continentes como: Europa, Ásia, África e as Américas. O que se via eram homens que, em sua grande maioria, eram tratados como objetos, sem qualquer possibilidade de escolha, relegados à pura sorte e corriqueiramente espancados pelos seus senhores, como forma de punição exemplar, para os demais escravos ou por puro prazer de seus donos. De acordo com Hunt (2016) que traz um trecho da autobiografia de um escravo fugitivo, chamado Frederick Douglas, onde ele conta a brutalidade de seu dono, para com seus escravos: “Ele era um homem cruel, endurecido por uma longa vida como proprietário de escravos. Ele às vezes parecia ter grande prazer em chicotear um escravo. Eu acordava com freqüência ao amanhecer com os gritos comoventes de minha própria tia, a quem ele costumava amarrar ao poste e chicotear suas costas nuas até ela estar literalmente coberta de sangue. Nem palavras, nem lágrimas ou orações de sua vitima ensangüentada parecia mover seu coração de ferro”. Esta triste situação era a realidade de muitos escravos, na trajetória da escravidão, em todos os tempos. 
Inclusive no período do Antigo Testamento, as nações vizinhas de Israel aderiam à escravidão, embora houvessem algumas leis quanto a forma que o escravo deveria ser tratado, em sua grande parte tais leis não davam qualquer amparo ao escravo, antes protegia seu senhor, que poderia inclusive decepar seus membros, em punição a sua desobediência, como por exemplo o código de Hamurabi, que permitia que os senhores cortassem as orelhas de um escravo em caso de desobediência. Estas práticas eram comum ás nações que rodeavam o território de Israel.
Sabendo dessa prática abominável, Deus fez questão de estabelecer leis e estatutos para coibir que tais atrocidades fossem cometidas pelo seu povo, que tinha em seus vizinhos péssimos modelos á serem seguidos. As leis que tratam da escravidão nas Escrituras, diferem completamente do contexto social das demais nações do Antigo Oriente, que tratavam os escravos sem qualquer apreço, já no território dos Israelitas havia a valorização á dignidade do homem, algo impensável nas demais nações.
O conceito de escravidão que temos secularmente, em nada se assemelha ao estabelecido por Deus para seu povo, na realidade o que ocorria  era uma espécie de serviço contratado, que funcionava da seguinte maneira: certo individuo estava endividado e como não tinha recursos para pagar, ele voluntariamente se tornava um servo, a quem muitos interpretam como escravos, que ficaria responsável por realizar algumas determinações de seu senhor, como cuidar das ovelhas, cozinha, ser o mordomo da casa, entre outras funções. Vemos esta realidade no episódio em que Jacó trabalha voluntariamente para Labão, a fim de casar-se com sua filha (Gn 29.29). De modo que trabalhou por sete anos para finalmente alcançar o premio. Neste ínterim, Jacó tinha casa e comida, ou seja, o serviço contratado em Israel, servia para amparar o necessitado, de modo que não passasse privações ou mesmo fome.  Tais atribuições são extremamente opostas as condições desumanas que[as demais nações tratavam seus empregados.

O cuidado com os desfavorecidos

Alguns textos servem para amparar aqueles que se encontram numa situação financeira critica que por este motivo apelam para o serviço voluntário, a fim de quitar suas dividas e não sucumbir de fome. Em Levítico 25.47: “E teu irmão, que está com ele empobrecer, e vender-se ao estrangeiro ou peregrino que está contigo”. Este ato voluntário de se vender servia para proteger o individuo e sua família, que poderia sofrer represálias, devido a divida do chefe de família que não poderia pagar, ou seja, a servidão não era algo imposto, mas por livre escolha o individuo se tornava servo de outrem. Logo, podemos ver que uma das ramificações do trabalho considerado, por muitos, como escravo em Israel, estava distante da horrenda realidade das demais nações circunvizinhas. 
Outro ponto muito importante nesta prestação de serviço era que após o pagamento da dívida o servo estava livre de seu vinculo com seu senhor, passando agora a desfrutar normalmente de sua vida, podendo buscar seus próprios meios para manter-se. Isto graças ao cuidado de Deus com os desfavorecidos, que mesmo quando eram servos, tinham sua dignidade preservada, onde jamais o senhor poderia maltratar seu servo, conforme Levítico 25.53: “Mas enquanto estiver vendido ao estrangeiro, deverá ser tratado como um trabalhador contratado anualmente; não deixem que o proprietário o trate com impiedade”. Algo fora de cogitação nas demais nações, onde os senhores tinham domínios sobre os escravos em todas as fases de sua vida.
Havia um contraste muitos grande entre as formas de tratamento entre os Israelitas e as demais nações, no tocante aos servos/escravos. Enquanto as nações procediam com os escravos como propriedade, possuindo domínio total e absoluto, destituindo-o por completo de sua identidade, isso abrange: sua raça, família e sociedade, do lado do povo escolhido por Deus a metodologia era o oposto. Sobre as leis de servidão em Israel, podemos afirmar que: “As leis de servidão que vigoravam em Israel estavam preocupadas em controlar ou regular – não idealizar – um acordo de trabalho inferior. A servidão em Israel foi induzida pela pobreza, se entrava voluntariamente e estava longe de ser ideal. O objetivo dessas leis era combater abusos potenciais, não institucionalizar a servidão” (HUNT, 2016, p.144). Sendo assim, estas leis tinham por objetivo proteger aos que necessitavam aderir a esta modalidade, que entravam em vigência, por um período de tempo. O desejo de Deus era de que não houvesse pobres em Israel, por essa razão, instituiu leis que permitiam a servidão para amparar os pobres da nação.
No Antigo Testamento é possível perceber que os servos eram tratados como seres humanos que possuíam direitos garantidos em lei, por outro lado, as nações do Antigo Oriente não possuíam esta visão, dessa forma os escravos eram marcados e tatuados, contra sua própria vontade, uma violação total aos direitos e a dignidade, algo restritamente proibido por Deus.
Portanto vimos que os serviços realizados em Israel, durante o Antigo Testamento, em nada se assemelham com as atrocidades cometidas pelas nações que cercavam os limites dos descendentes de Abraão, pois as leis hebraicas foram estabelecidas por Deus, que tinha como propósito amparar e cuidar dos pobres e necessitados, uma vez que a servidão em Israel preservava os direitos e, sobretudo a honra dos servos que aderiam a esta categoria de serviço.

Por Edson Moraes.

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