Capítulo
cinco do livro: Passionate
Conviction: Contemporary Discourses on Christian Apologetics, editado por Paul Copan e William Lane Craig
Obs.: “Traduzindo trechos e buscando editoras interessadas na publicação”
Jay W. Richards
Por
mais de cinquenta anos, o filósofo britânico Antony Flew foi o ateu público
mais sério intelectualmente do mundo de língua inglesa. Sua primeira polêmica
foi contra o apologista Cristão C. S. Lewis em Oxford em 1950 e depois ele continuou
a buscar defesas acadêmicas do ateísmo por mais de cinco décadas. Seu argumento
básico era sempre o mesmo: simplesmente não havia evidência suficiente para
acreditar em Deus. Então, aos oitenta e um anos, ele mudou de ideia.
Então,
o que fez com que o Antony Flew mudasse de ideia? Não foi uma conversão
religiosa. Em uma entrevista em 2004 ao filósofo Gary Habermas, Flew atribui
sua nova visão não a nenhum texto religioso, mas a evidências científicas, em
particular, evidências de design inteligente: “Eu acho que o argumento a favor
do Design Inteligente é muito mais forte do que era quando o conheci pela
primeira vez.”[1] Em uma entrevista à Associated
Press (9 de dezembro de 2004), Flew disse que suas ideias "têm alguma
semelhança com os teóricos americanos do "design inteligente".*
A
mudança de ideia de Flew pode ser o resultado mais visível até agora do
trabalho do movimento do design inteligente (DI). É também um microcosmo do
estado de mudança do debate sobre o argumento do design contemporâneo. Na balança
está o status da cosmovisão materialista que domina os postos de comando da
cultura há mais de um século. Esta é uma boa notícia para qualquer pessoa
interessada em apologética Cristã.
O Legado Materialista
A
ciência deixou o século XIX com uma visão simples do universo. Muito simples,
como se vê. A interpretação materialista oficial das ciências naturais era mais
ou menos assim: (1) O universo sempre existiu e, portanto, não precisamos
abordar a questão de sua origem. (2) Tudo no universo, seja grande ou pequeno,
submete-se a algumas bem entendidas, leis determinísticas. (3) A vida apareceu
inicialmente como resultado da sorte e da química. (4) As células, por sua vez,
são basicamente pequenas gotas de gelatina. (5) Praticamente todas essas adaptações
complicadas de organismos resultam de um processo extremamente simples chamado
seleção natural: esse processo quase milagrosamente criativo apenas apreende e
repassa essas pequenas variações aleatórias dentro de uma população que
fornecem uma vantagem de sobrevivência.
A
interpretação positivista da ciência (e do conhecimento em geral) forneceu
suporte indispensável a essa imagem do mundo. O positivismo, um programa
projetado para eliminar a metafísica da ciência, proibiu os cientistas de
apelar para uma agência inteligente ao tentar explicar as características do
mundo natural ou o próprio mundo natural. Essa restrição obviamente se aplicava
a um agente divino, mas acabou ficando claro que se aplicava a agentes em
geral. Tudo, no fundo, era pensado estar redutível às interações impessoais da
matéria, seguindo padrões previsíveis, e nada mais importava. De fato, muitos
físicos de escalões mais elevados haviam concluído que a física era basicamente
uma ciência completa. Havia pouco a fazer, exceto dar uma arrumada aqui e ali.
Mas
quase tão logo a cama Procrusteana**
ter sido feita, o mundo real começou a reagir. As revelações surpreendentes da
esfera quântica sugeriram que o mundo não era tão submisso quanto os
materialistas esperavam. O astrônomo Edwin Hubble descobriu que a luz de
galáxias distantes era deslocada para vermelho, indicando que o universo está
se expandindo. Este e outros detalhes sugeriram que o universo havia passado a existir
no passado finito - que ele tem uma idade. Isso contradiz categoricamente a
imagem anterior de um cosmos eterno e auto-existente.
Então,
nas décadas de 1960 e 1970, os físicos começaram a notar que as constantes
universais da física, como as forças da gravidade e o eletromagnetismo,
pareciam ser "ajustadas" para a existência de vida complexa. De modo
que o astrofísico ateu Fred Hoyle sugeriu que essa era a atividade de um
“superinteleto”.[2]
Depois,
há o problema persistente da origem da informação biológica, que transcende teimosamente
seu meio químico da mesma maneira que as letras e frases de um livro
transcendem a química da tinta e do papel. Vemos isso claramente na biologia
molecular, onde a presença de informações codificadas ao longo da molécula de
DNA parece, de forma suspeita, um código de computador extraordinariamente
sofisticado para a produção de proteínas, os blocos tridimensionais de toda a
vida. Suba de nível e encontramos máquinas complexas e funcionalmente
integradas que parecem inacessíveis ao mecanismo Darwiniano. Além disso, essas
estruturas se parecem muito com os sistemas produzidos por agentes
inteligentes, que podem prever uma função futura e concretizá-la.
Depois,
há a complexidade tridimensional do planejamento do corpo animal, que supera
nossa compreensão dos sistemas informacionais presentes nos níveis inferiores.
Finalmente, existem os próprios agentes humanos, que são tão inesperados em
termos materialistas, que muitos realmente tentam negar sua existência - outro veredito
do raciocínio materialista que tem problemas lógicos óbvios.
Adicione
a essa evidência os problemas filosóficos do próprio positivismo. Talvez a mais
grave tenha sido essa: os positivistas afirmaram que apenas as afirmações que
podem ser verificadas pelos sentidos são significativas ou pelo menos
científicas. Essa afirmação, no entanto, não pode ser verificada pelos
sentidos. Isso significa que, em si e por si mesmo, o positivismo é sem sentido
ou pelo menos não científico. Ao mesmo tempo, qualquer critério liberal o
suficiente para evitar contradições e acomodar a prática científica real também
permitiu a metafísica. Tais problemas acabaram levando ao fim de toda a empreitada
positivista. Os próprios positivistas admitiram isso abertamente. Por exemplo,
em uma entrevista de rádio da BBC, Brian McGee perguntou a A. J. Ayer, o pai do
positivismo lógico, qual era o principal defeito do positivismo. Ayer respondeu
que o principal problema era que "quase tudo era falso".[3]
No
início do século XXI, observamos um mundo totalmente diferente daquele que a
ciência materialista do final do século XIX imaginava. Este é um mundo
carregado de design, um cosmos que aponta para além de si mesmo em direção a uma
causa transcendente e inteligente. Mas isso não foi divulgado! Pelo contrário,
a definição materialista de ciência herdada do século XIX ainda nos impede de
considerar essa nova evidência. O problema é tão grave que alguns cientistas
estão dispostos a postular uma infinita panóplia de universos não observáveis,
apenas para explicar a sintonia fina em nosso universo.
Essa
situação estranha levou Phillip Johnson, nos anos 90, a fazer uma pergunta
singularmente rica e subversiva: se a definição materialista de ciência e a
evidência científica estão em conflito, devemos concordar com a definição ou com
a evidência? Fazer essa pergunta, como eles dizem, é respondê-la. Scientia significa
"conhecimento". A essência da ciência natural é a busca pelo
conhecimento do mundo natural. O conhecimento é um bem intrínseco. Se formos
adequadamente científicos, procuraremos estar abertos ao mundo natural e não
decidir de antemão o que é permitido revelar.
A
definição materialista de ciência não é uma mera brincadeira filosófica. Ela
determina o que pode ser discutido, financiado e publicado, pelo menos dentro
dos círculos oficiais. Esse poder cultural e institucional faz a ciência
materialista parecer uma estrutura inflexível, que se estende invencivelmente
às nuvens como o pé de feijão de Jack. Mas se a evidência é como a descrevi,
esse monólito certamente deve ter seus pontos fracos. Pois o materialismo tem
seus pontos fracos, exatamente onde não se encaixa no mundo natural. Isso
sugere que o argumento do design, no início do século XXI, tem um novo conjunto
de evidências sobre o qual repousa.
Ampliação do Argumento do Design Inteligente
Alguns
dos "sinais de design" mais conhecidos são as moléculas ricas em
informação, como o DNA, e as minúsculas máquinas moleculares, como o flagelo
bacteriano, que o bioquímico Michael Behe imortalizou em seu livro mais vendido
de 1996, o Darwin's Black Box.[4]
Behe*** argumentou que o flagelo e
muitas outras máquinas moleculares são "irredutivelmente complexas".
Elas são como uma ratoeira. Sem todas as partes fundamentais, elas não
funcionam. A seleção natural pode construir sistemas apenas em um pequeno passo
de cada vez, percorrendo um caminho no qual cada passo fornece uma vantagem de
sobrevivência presente. A Seleção Natural não pode selecionar para uma função
futura. Somente agentes inteligentes possuem essa previsão.
Mas
nem todo o trabalho importante está em ciências naturais em si. Parte do trabalho é conceitual. O materialismo, afinal, é
uma filosofia, mesmo que seus promotores contemporâneos tentem confundi-lo com
a ciência. Assim, o argumento do design moderno tem partes científicas e
filosóficas. Grande parte do trabalho envolve desmantelar a filosofia falida do
materialismo.
Durante
a maior parte da história ocidental, detectar as atividades de agentes
inteligentes tem sido um empreendimento bastante intuitivo. Livros como The Design Inference[5], do filósofo
William Dembski, reforçaram drasticamente o argumento do design, trazendo-o
para a esfera dos argumentos objetivos e evidências empíricas acessíveis ao
público, e para fora da esfera mais sombria da intuição.
Um Novo Argumento do Design
Ainda
mais recentemente, evidências crescentes em astronomia revelaram que, mesmo em um
universo ajustado em sintonia fina, muitas coisas locais precisam dar certo
para construir um único planeta habitável. (E mesmo depois de ter um ambiente
adequado para a vida, você não tem vida automaticamente.) Guillermo Gonzalez e
eu argumentamos no livro The Privileged
Planet[6] que, de forma suspeita, esses requisitos encontrados em um mundo habitável
também fornecem as melhores condições gerais para fazer descobertas
científicas. Em outras palavras, os locais compatíveis com observadores
complexos como nós são os mesmos que fornecem as melhores condições gerais para
observação. Você pode esperar isso se o universo for projetado para descobertas,
mas não se você for um materialista ativista do materialismo. Deixe-me explicar
isso com mais detalhes.
Leia
qualquer livro sobre a história das descobertas científicas e encontrará
magníficas histórias da engenhosidade humana, persistência e sorte. O que você
provavelmente não verá é qualquer discussão sobre as condições necessárias para
tais feitos. Uma descoberta requer que uma pessoa faça a descoberta e um
conjunto de circunstâncias que a tornam possível. Sem os dois nada é
descoberto.
Embora
os cientistas nem sempre discutam isso, o grau em que podemos "medir"
o universo mais amplo a partir de nosso lar terrestre - e não apenas nosso
entorno imediato - é surpreendente. Poucos consideraram como seria a ciência
em, digamos, um ambiente planetário diferente. Menos ainda perceberam que a
busca dessa pergunta leva sistematicamente a evidências imprevistas a favor do
design inteligente.
Pense
nas seguintes características de nossa casa terrestre: a transparência da
atmosfera da Terra na região visual do espectro, placas crustais em movimento,
uma lua grande e nossa localização específica no sistema solar, e a localização
do sistema solar dentro da Via Láctea. Sem cada um desses ativos, teríamos
dificuldade em aprender sobre o universo. Não é uma especulação inútil
perguntar como nossa visão do universo seria prejudicada se, por exemplo, nosso
mundo natal estivesse perpetuamente coberto por nuvens espessas. Afinal, nosso
sistema solar contém vários exemplos desses mundos. Basta pensar em Vênus, Júpiter,
Saturno e Titã, a lua de Saturno. Esses seriam péssimos lugares para se fazer
astronomia.
Podemos
fazer comparações semelhantes no nível galáctico. Se estivéssemos mais perto do
centro de nossa galáxia ou de um de seus maiores braços espirais empoeirados,
por exemplo - o pó extra impediria nossa visão do universo distante. De fato,
provavelmente teríamos perdido uma das maiores descobertas da história da
astronomia: a fraca radiação cósmica eletromagnética de fundo. Essa descoberta
foi o ponto central na decisão entre as duas principais teorias cosmológicas do
século XX. Subjacente a esse debate, estava uma das perguntas mais fundamentais
que podemos fazer sobre o universo: é eterno ou teve um começo?
A
teoria do estado estacionário postulava um universo eterno, enquanto a teoria
do big bang implicava um começo. Por algumas décadas, não houve evidência
direta para decidir entre as duas. Mas a teoria do big bang previa uma radiação
remanescente deixada do período anterior da história cósmica, que era mais
quente e mais densa. A teoria do estado estacionário não fez tal previsão. Como
resultado, quando os cientistas descobriram a radiação cósmica de fundo em
1965, essa foi a derrocada da teoria do estado estacionário. Mas essa
descoberta não poderia ter sido feita em outro lugar qualquer. Nosso ponto de
vista especial na Via Láctea nos permitiu escolher entre essas duas visões
profundamente diferentes das origens.
No
livro Privileged Planet, discutimos
estes e muitos exemplos comparáveis para mostrar que habitamos em um planeta
privilegiado para a observação e descoberta científica. Mas há mais informações
na história. A Terra não é apenas um lugar privilegiado para a descoberta;
também é um lugar privilegiado para a vida. É a conexão entre vida e descoberta
que pensamos que sugere propósito e não sorte.
Mencionei
acima que físicos e cosmólogos começaram a perceber décadas atrás que os
valores das constantes da física - características do universo que são iguais
em toda parte - devem estar próximos dos valores reais para que a vida seja
possível. Como resultado, eles começaram a falar sobre o universo ser ajustado
para a vida. E alguns começaram a sugerir que o ajuste fino implica em um projetista.
É
apenas mais recentemente que os astrobiólogos começaram a aprender que, mesmo
em nosso universo com ajuste fino, muitas outras coisas locais devem estar
corretas para se obter um ambiente planetário habitável.
Se
você fosse um chef cósmico, sua receita para cozinhar um planeta habitável
teria muitos ingredientes. Você precisaria de um planeta rochoso grande o
suficiente para manter uma atmosfera substancial e oceanos de água e reter o
calor interno por bilhões de anos. Você precisaria do tipo certo de atmosfera.
Você precisaria de uma lua grande para estabilizar a inclinação da rotação do
planeta em seu eixo. Você precisaria que o planeta tivesse uma órbita quase
circular em torno de uma estrela de seqüência principal semelhante ao nosso
sol. Você precisaria dar a esse planeta o tipo certo de vizinhos planetários
dentro de seu sistema estelar. E você precisaria colocar esse sistema longe do
centro, arestas e braços espirais de uma galáxia como a via Láctea. Você
precisaria cozinhá-lo durante uma janela estreita de tempo na história do
universo ... e assim por diante. Esta é uma lista parcial, mas você entendeu a
ideia.
Essa
evidência está se tornando conhecida entre os cientistas interessados na
questão da vida no universo. Pesquisadores envolvidos na busca por inteligência
extraterrestre (SETI), por exemplo, estão especialmente interessados em saber o
que a vida precisa. Esse conhecimento permitiria determinar suas chances de
encontrar outra civilização que se comunicasse. Infelizmente para os
pesquisadores do SETI, as chances não são promissoras. Evidências recentes
favorecem a chamada hipótese da Terra Rara (nome dado após um livro escrito por
Donald Brownlee e Peter Ward em 2000).[7] A teoria postula que planetas que
hospedam vida simples podem ser comuns, mas planetas com vida complexa são
raros.
Ainda
não sabemos se estamos sozinhos no universo. O universo é grande com vastos
recursos. A pesquisa em astrobiologia ainda não amadureceu a tal ponto de podermos
atribuir probabilidades precisas a todos os fatores necessários para tornar um
planeta habitável. Ainda não podemos afirmar com certeza se eles esgotam todos
os recursos disponíveis. Talvez o universo seja grande o suficiente para que
pelo menos um planeta habitável tenha surgido por acaso - ou talvez não.
Enquanto isso, é difícil defender o design inteligente com base apenas na
conclusão de que os planetas habitáveis são raros.
Dito
isto, achamos que há evidências de design na vizinhança. Pois, como
argumentamos em The Privileged Planet,
há um padrão suspeito entre as necessidades da vida e as da ciência. As mesmas
condições estreitas que tornam um planeta habitável para a vida complexa também
o torna o melhor lugar para fazer uma grande variedade de descobertas
científicas. Em outras palavras, se compararmos nosso ambiente local com outros
ambientes menos hospitaleiros, encontraremos uma coincidência impressionante:
os observadores se encontram nos melhores lugares para observar.
Por
exemplo, a atmosfera de que a vida complexa precisa, também é uma atmosfera
transparente para a "luz" cientificamente útil. A geologia e o
sistema planetário de que a vida precisa também são os melhores em geral para
permitir que a vida reconstrua eventos do passado. E a região mais habitável da
galáxia e o tempo mais habitável da história cósmica também são o melhor lugar
e tempo no geral para se fazer astronomia e cosmologia. Se o universo é apenas
uma concatenação cega de átomos colidindo com átomos e nada mais, você não
esperaria esse padrão. Você esperaria esse padrão, por outro lado, se o
universo fosse projetado para descobertas. Por si só, esse argumento é bastante
sugestivo. Mas adicione-o à evidência de design de outros campos da ciência e
você terá os ingredientes para uma argumento poderoso e contemporâneo a favor do
design.
O Argumento do Design e a Apologética
Alguns
podem pensar que isso é apenas de interesse acadêmico, uma vez que, na melhor
das hipóteses, esse é um argumento a favor do mero design, e não do Cristianismo
em si. Alguns Cristãos afirmam que os argumentos do design inteligente
"não são tão importantes". Para eles, o exemplo de Antony Flew pode
parecer apenas uma exposição de quando Flew diz que acredita em “Deus”, ele não
quer dizer que colocou sua confiança no Deus e Pai de Jesus Cristo. Ele está se
referindo ao genérico "Deus dos Filósofos" - uma Primeira Causa,
postulada com base em evidências e argumentos racionais. Embora ele diga que
permanece aberto à possibilidade de uma revelação especial, ele certamente não
passou por uma conversão completa ao Cristianismo. Então o crítico pode
perguntar: de que serve o argumento do design para a apologética Cristã?
Penso
que esta preocupação, apesar de compreensível, está errada. Certamente, nenhum
dos argumentos para o design inteligente pode estabelecer que Deus se encarnou
em Jesus, morreu para nos salvar dos nossos pecados e ressuscitou dos mortos.
Isso ocorre porque não aprendemos essas coisas estudando as ciências naturais.
Essas são reivindicações históricas, portanto, as evidências para elas terão
que ser extraídas da história. Mas não se segue que os argumentos do design sejam
problemáticos. Os argumentos contemporâneos do design inteligente apelam não ao
livro das Escrituras ou mesmo a evidências históricas, mas simplesmente ao
livro da natureza. Eles apelam para as evidências publicamente disponíveis do
mundo natural, especialmente das ciências naturais. A própria Bíblia nos diz
que o mundo natural revela algumas coisas sobre Deus (Sl 19: 1-4, Rm 1:20).
Isso não significa que a natureza revele tudo.
No
entanto, o argumento do design moderno ainda tem um profundo valor apologético,
mesmo que seja uma operação para preparar o caminho. O sucesso do argumento do
design significaria a derrota para o que certamente é o principal obstáculo à
crença Cristã no mundo moderno: o materialismo científico. Imagine como a
apologética seria mais fácil se fosse amplamente aceito que a visão de mundo
materialista está em descrédito.
Acho
que se pode argumentar cumulativamente o teísmo com mais força com base nas
evidências de design na biologia, astronomia, física e cosmologia. De fato, foi
exatamente esse o caso que convenceu o principal ateu do mundo, Antony Flew, de
que existe um Deus. E, para afirmar o óbvio, passar do ateísmo para o teísmo é
avançar em direção ao Cristianismo. Para a apologética, isso é um movimento na
direção certa. A partir daí, o apologista Cristão pode introduzir outras linhas
de argumentação, como uma defesa histórica da ressurreição de Cristo. Certamente,
é mais fácil fazer essa defesa se a existência de Deus for estabelecida.
O
argumento para o design inteligente não pode estabelecer tudo em que os Cristãos
acreditam. Mas é um primeiro passo valioso. Se você está interessado em
apologética, deve reconhecer o progresso feito no argumento do design pelo que
é: notícias muito boas.
*Nota do tradutor: Flew
foi considerado o maior ateu dos últimos cem anos. Depois que abandonou o
ateísmo, escreveu um livro cujo título é: Um Ateu Gararante: Deus Existe - As provas
incontestáveis de um filósofo que não acreditava em nada, publicado no
Brasil pela Editora Ediouro em 2008
**Nota do tradutor: Cama procrusteana - Uma situação ou
lugar em que alguém é forçado a entrar, geralmente violentamente. Na mitologia
grega, o gigante Procrustes capturava as pessoas e depois esticava ou cortava
seus membros para fazê-las caber em sua cama.
***Nota do Tradutor: O Livro do Michael J. Behe foi publicado no Brasil com o título A
Caixa Preta de Darwin: O Desafio Da Bioquímica À Teoria Da Evolução, em 1997 pela Editora Zahar e relançado em 2019 pela Editora Mackenzie.
____________________
Fonte:
RICARDS, Jay W. The Contemporary Argument For Design: An
Overview in COPAN, Paul;
CRAIG, William Lane (General Editors). Passionate Conviction: Contemporary Discourses
on Christian Apologetics. Nashville, Tennessee: B&H ACADEMIC, 2007.
Tradução Walson Sales.
____________________
Notas:
[1] “My Pilgrimage from Atheism to Theism: A
Discussion between Antony Flew and Gary Habermas,” Philosophia Christi 6/2
(2004): 197—211. Assista essa entrevista em “Atheist Becomes Theist: Exclusive
Interview with Former Atheist Antony Flew,” http://www.biola.edu/antony-flew/.
[2] Fred Hoyle, “The Universe: Past and Present
Reflections,” Engineering and Science (November 1981): 8-12.
[3] B. McGee, ed., Men
of Ideas (London: BBC, 1978), 131.
[4] Michael Behe, Darwin's
Black Box (New York: Free Press, 1996).
[5] William Dembski, The Design Inference (Cambridge: Cambridge University Press, 1998).
[6] Guillermo Gonzalez and Jay Richards, The Privileged Planet (Washington, D.C.:
Regnery, 2004).
[7] Peter Ward and Donald Brownlee, Rare Earth: Why Complex Life Is Uncommon in
the Universe (New York: Springer, 2000).
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