Em 1546, em resposta ao rápido crescimento e divulgação da reforma protestante, a igreja decide por conferir a tradição valor igual ao das escrituras, os principais motivos que impulsionaram tal ato se dá principalmente pelo fato de que até então o conhecimento bíblico era pouco difundido e o valor de seus ensinamentos não eram considerados de grande valia para as pessoas, uma vez que em 1222 a igreja ordena a proibição da leitura da Bíblia pelos leigos, medida que tinha como principal interesse permitir que a igreja continuasse se afundando no paganismo e em doutrinas heréticas sem sofrer a revelia os seus fiéis. Com o advento e ampla disseminação da reforma protestante e com ela a mensagem da biblia como unica regra de fé, bem como seu estudo e valor amplamente exaltados onde quer que a reforma fosse anunciada, a igreja sente a necessidade de liberar a leitura para leigos porém com algumas restrições: a bíblia precisaria ser editada pelo clero, além disso o leigo não poderia assumir nenhuma interpretação que não fosse feita pelo clero. (OLIVEIRA, 2002. Pág 22). A manipulação da interpretação do texto bíblico permitiu que a igreja continuasse a esconder suas práticas pecaminosas, porém vendo que a reforma estava abrindo a mente de muitos fieis, e que todos já possuíam liberdade e ousadia para ler a bíblia da forma como achasse melhor, na tentativa de reprimir esse comportamento eles agora igualando a tradição católica ao texto bíblico, ou seja, ambos tem mesma autoridade divinas, com isso a igreja poderia manipular mais facilmente seus adeptos sem que eles pudessem questionar suas decisões, uma vez que elas tinham autoridade divina.
Atitudes como essa não foram a primeira nem a última medida da igreja para que pudesse continuar divinizando a si própria, como por exemplo: em 1303 já havia reivindicado para si o conceito de único caminho para salvação, posteriormente em 1573 reconhece como sagrados os livros apócrifos, nesse ato se utilizando de sua autoridade divina para alterar o Canon sagrado, em 1870, o próprio papa se considera divino, quando afirma "a tradição sou eu" (ibidem). Ora, se a tradição é considerada igual em autoridade comparada com o texto sagrado, e se o próprio papa diz ser ele mesmo a tradição, logo, ao se expressar assim ele está reinvidicando para si a autoridade sagrada que Deus deu `as escrituras, o que não pode ser classificado como nada menos que um abuso a fé, e afronta a autoridade de Deus.
Os católicos costumam perguntar: "A Igreja que produziu o Novo Testamento não tem autoridade para modificá-lo ou acrescentar algo às suas crenças?" Isso o fazem para justficar o seu desvio doutrinário (SOARES, 2003. Pág 161). esse tipo de argumento tanto invalida a função dos apóstolos, que foram os verdadeiros escritores do novo testamento, quanto ausenta completamente a inspiração e autoria divina do texto neotestamentario, ficando a forte impressão de que não é Deus e sim a igreja a fonte de tal conteúdo.
Geisler, 2002 (pag 54) cita alguns argumentos de apologistas católicos que defendem a ideia de que o Canon foi causado pela igreja, e portanto a autoridade deste não pode ser superior a autoridade dela. entendemos que existe aqui uma ideia errônea sobre as funções da igreja e da bíblia, porém o argumento não pode subsistir uma vez que esse ensinamento não é visto pelos apostolos, nem tão pouco faz parte dos ensinamentos transmitidos atraves da igreja primitiva. Postanto esse pensamento não alcança fundamentação teológica nem tão pouco histórica. No livro seitas e heresias (pag 23) Raimundo de Oliveira faz uma exposição de frases de cristãos renomados da antiguidade que foram contundentes sobre esse assunto:
A Tradição não pode resistir a uma análise por parte de famosos cristãos da antigüidade, tampouco diante das Escrituras.
Cipriano, no século III, disse: "A tradição, sem a verdade, é o erro envelhecido".
Tertuliano afirmou: "Cristo se intitulou a Verdade, mas não a tradição... Os hereges são vencidos com a Verdade e não com novidades".
No ano 450, disse Venâncio: "Inovações são coisas de hereges e não de crentes ortodoxos".
Jerônimo, o tradutor da "Vulgata", tradução oficial da Bíblia usada pela Igreja Romana, escreveu: "As coisas que se inventam e se apresentam como tradições apostólicas, sem autoridade e testemunho das Escrituras, serão atingidas pela Espada de Deus".
A Confissão de Fé de Westminster traz num dos seus decretos algo que os católicos deveriam ler e não esquecer, que diz: "O Supremo Juiz, pelo qual todas as controvérsias de religião são determinadas e todos os decretos de concílios, opiniões de escritores antigos, doutrinas de homens e espíritos privados serão examinados e cujas sentenças devemos acatar, não pode ser outro senão o Espírito Santo, falando através das Escrituras."
Raimundo de oliveira, 2002, pág 21, cita um texto do padre Bernhard Conway, do ano de 1929, onde ele afirma que "A Bíblia não é a única fonte de fé, como Lutero ensinou no século XVI, porque, sem a interpretação de um apostolado divino e infalível, separado da Bíblia, jamais poderemos saber, com certeza, quais são os livros que constituem as Escrituras inspiradas, ou se as cópias que hoje possuímos concordam com os originais." Nessa frase o padre é muito infeliz ao classificar o clero como infalível e divino, e que possuem autoridade pra trazer a interpretação bíblica por si mesmo e não através da unção e da iluminação do Espírito Santo.
No Compêndio do Vaticano II, lê-se o seguinte: "Não é através da Escritura apenas que a Igreja deriva sua certeza a respeito de tudo que foi revelado. Por isso ambas (Escritura e Tradição) devem ser aceitas e veneradas com igual sentido de piedade e reverência" (p. 127). Aqui, o texto proveniente de um dos concílios mais fortes da modernidade, aponta para a igreja como uma entidade a ser venerada, e exige dos fiéis que o mesmo respeito que eles dedicam a palavra de Deus seja tambem dedicado a essa instituição.
O catolicismo reinvidica para si uma autoridade que não pode lhe ser atribuída a menos que a própria biblia lhe conceda, uma vez que ela é quem regula o comportamento da igreja de Cristo (texto). Entendemos portanto que as tentativas da igreja católica ao longo da história em reivindicar para si o fato de ser ela o motivo da inspiração do Canon, e portanto estarem no mesmo patamar de autoridade que este, não encontra fundamento e está baseada em argumentos superficiais que escondem o desejo de manipulação do texto sagrado para justificar seus desvios doutrinários.
Geisler, Norman L. Enciclopédia de apologética: respostas aos críticos da fé cristã. São Paulo:Editora Vida, 2002.
OLIVEIRA, Raimundo de. Seitas e heresias. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 23°edição, CPAD, 2002.
SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2° edição, CPAD, 2003.
VIER, F. Compêndio do Vaticano II. Petrópolis, RJ: Editora Vozes Ltda, 1968.
Por Sandro Nascimento.
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