sexta-feira, 22 de maio de 2020

Paulo Como Verdadeiro Fundador do Cristianismo?

Na metade do século XIX, o acadêmico alemão do Novo Testamento Ferdinand Christian Baur propôs uma drástica revisão do entendimento tradicional das origens cristãs. Empregado a filosofia de historia de G.W. F. Hegel, o mesmo homem que inspirou Karl Marx na arena política, Baur acreditou  ver um processo de "tese-antítese- síntese" nas primeiras gerações da História da Igreja. Um ramo do cristianismo seguia a Pedro, que permanecia relativamente fiel ao ensinamento judaico de Jesus. Paulo, no entanto, representava uma abordagem contrária, influenciada mais pela cultura greco- romana. As gerações posteriores, então, criaram uma síntese das duas tendências. No final do século XIX, outro liberal alemão, William Wrede, expandiu a obra de Baur e chamou Paulo de o segundo fundador do cristianismo. Autores  de outras disciplina ficaram ainda menos  discretos nas suas descrições.  O famoso dramaturgo inglês  George Bernard Shaw escreveu sobre "a monstruosa imposição de Jesus," ao  passo que o filosofo niilista Friedrich Nietzsche chamou Paulo de "o primeiro cristão" e o "desenvangelista judeu" ( isto é alguém que traz más noticias, em lugar de um "evangelista" ou portador de boas novas).

Uma comparação superficial entre Jesus e Paulo certamente revela diferenças mais rápido que similaridades. Paulo parece citar ou se referir aos ensinamentos de Jesus raramente e dizer ainda menos sobre a vida de Cristo. Em vez disso, Paulo se concentra no significado da morte e ressurreição de Jesus e emprega categorias cristológicas que revelam Jesus um ser muito divino e exaltado. Particularmente para as pessoas  que não julgam os Evangelhos terrivelmente dignos de confiança, que duvidam de que Jesus agisse como algo mais do que um profeta, ou declarasse sê-lo, Paulo parece trabalhar num mundo completamente diferente.

Na primeira metade do século XX, Rudolf Bultmann se esforçou, como muitos,  para conservar Jesus e Paulo afastados um do outro. Mas para Bultmann, a fé não dependia de evidencias históricas, mas do testemunho do Espírito de Deus a uma pessoa, por intermédio de sua Palavra. Uma pessoa poderá afirmar a doutrina cristã tradicional como crente, pela fé, mesmo que os seus estudos como historiador conduzissem a retratos radicalmente diferentes das origens cristãs. Bultmann também se faz famoso por apelar a 2 Coríntios 5.16 ("Assim que, daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, contudo, agora, já o não conhecemos desse modo") e reivindicar que isso queria dizer que sendo incrédulos, os discípulos  pensariam que era importante avaliar o Jesus histórico, mas que, sendo crentes, reconheciam que o Jesus terreno não tinha importância. O que importava era adorar o Senhor ressuscitado.

Na segunda metade do século XX, o pêndulo começou a se afastar destas posições de  extremo ceticismo. Os comentaristas  concordam que 2 Coríntios 5..16 estava contrastando duas avaliações diferentes de Cristo, antes e depois da ressurreição - uma  que não o considerava como Messias divino, e outra que o considerava. Acadêmicos conservadores como F.F. Bruce e J. W.. Fraser escreveram livros importantes que destacam a continuidade  entre as vidas e os ensinamentos de Jesus e Paulo*, gerando uma crescente confiança na  similaridade entre os dois homens, até mesmo em círculos menos conservadores.
Em anos recentes, o evangélico inglês David Wenham fez muito  no que se refere a defender esta causa, em dois importantes livros  e em vários artigos sobre o tema.

Mas  o ceticismo é difícil de eliminar, e antigas teorias ressuscitam a roupa nova. No principio deste novo milênio, Michael Goulder. da Universidade de Birmingham, modificou e reapresentou a teoria de Baur, pelo menos no que diz respeito a tensão em Corinto, sugerindo que Paulo tinha que combater o cristianismo  Petrino como uma parte daquilo que ele considerava como falsos ensinos. E Gerd Lüdemann, cujas opiniões sobre o assunto  discute-se nos tópicos " Os Credos Cristãos Antigos e " Milagres", vão além do que Wrede, chama Paulo de o verdadeiro fundador do Cristianismo. A ideia de que a mudança do ensino de Jesus para  a teologia de Paulo a respeito de Jesus possa ser resumida com o título "De o profeta judeu a deus dos gentios".

O conhecimento de Paulo sobre os ensinamentos de Jesus

O óbvio ponto de partida para responder a essas acusações envolve os mesmos textos que foram apresentados, que demonstra que Paulo estava ciente dos ensinamentos de Jesus, em cartas escritas  antes  da composição de qualquer Evangelho escrito, demostrando que os ensinamentos de Cristo estava circulando de boca em boca e eram relativamente preservados com cuidado. Aqui, nós precisamos nos aprofundar nos detalhes, examinando estes e outros textos, para determinar  o quanto Paulo conhecia sobre Jesus e quão cuidadosamente ele usava o que conhecia, exemplificado em textos  litúrgicos, ensinos  éticos, escatologia, etc.

Livro: Questões Cruciais do Novo Testamento
Via Fabiana Ribeiro.

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