O Calvinismo é uma corrente teológica que se denomina cristã, cujos ensinamentos são extraídos de Textos Bíblicos de maneira isolada, removidos de seu contexto, de forma tendenciosa e manipuladora com o propósito de apoiar suas idéias. Este grupo apresenta um Deus diferente do que vemos nas Escrituras de forma geral, em suma, Este Deus age em parceria com o diabo, pois Ele mantém o saldo na condição de salvo e o pedido, perdido.
Existe cinco pilares em que o calvinismo embasa suas doutrinas, conhecido como TULIP. O objetivo deste artigo é analisar apenas um, denominado como “Graça irresistível”. Mas o que seria este ensino, estaria ele em conformidade com as Escrituras? De que modo os calvinistas a apresentam? E a Bíblia como se posiciona acerca da graça irresistível?
O que é a graça irresistível?
O quarto ponto da TULIP é a graça irresistível que altera a seu bel prazer um termo Bíblico que é a graça, pois nas 170 menções que a graça é citada nas Escrituras, jamais ela está acompanhada da palavra irresistível. Este princípio de modificar um termo Bíblico para amparar seus ensinamentos é algo corriqueiro para os calvinistas, que no caso da graça, se é alterado seu conceito para algo arrebatador, onde o homem não possa rejeitar (evidentemente todo homem salvo, foi alcançado pela graça de Deus, mas isto não significa que esta graça não possa ser resistida). O mesmo ocorre com os outros pontos do calvinismo, como o conceito calvinista para a situação do homem, no tocante ao seu estado pecaminoso, denominado de “Depravação total” pelos seguidores de Calvino. Segundo a Bíblia, o homem foi afetado em todas as áreas de sua vida, por meio do pecado, ou seja, ele está corrompido no sentido de não possuir mais a perfeição moral e espiritual, planejado por Deus no princípio da criação, contudo esta corrupção não o torna incapaz de responder ao chamado de Deus, conforme defende o calvinismo.
A graça irresistível está diretamente associada a depravação total, sendo assim ela está construída sob uma falsa premissa. Para facilitar a compreensão do propósito da graça irresistível no sistema calvinista, vejamos o seguinte comentário: “É aqui que vemos o verdadeiro plano da salvação segundo o sistema calvinista. Se os homens são incapazes de crer em Jesus Cristo, contudo Deus elegeu alguns para a salvação e expiou seus pecados, então, o único modo pelo qual eles podem e serão salvos é aguardando em silêncio que Deus supere suas vontades para que eles possam crer no evangelho.” (VANCE, 2017. p. 514).
Portanto o que salva o homem não é o fato de crer em Jesus, mas antes a graça irresistível, o crer é o resultado desta graça, o que obviamente não está em concordância com as Escrituras (Rm 10.9). Neste processo a regeneração precede a fé, pois o eleito é alvo desta graça, que o conduz a Cristo, o que os calvinistas chamam de fé. De maneira precisa certo apologeta comentou sobre a graça irresistível: “A fé se tornou algo que Deus concedeu irrestritamente aos eleitos sem que eles tenham tido conhecimento de que estavam sendo regenerados...A graça irresistível decorre dessa premissa antibíblica, a qual se apegam os calvinistas, apesar do fato de que nosso Senhor chama a todos: Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei (Mt 11.28)” (HUNT, 2015. p. 516).
Logo é correto afirmar que se a graça irresistível fosse uma realidade, seria desnecessário a pregação do evangelho, pois o não-eleito não responderia positivamente a mensagem da cruz, ainda que quisesse, pois Deus não expiou os seus pecados, predestinando-o para a condenação. Seguindo essa linha, podemos afirmar que o chamado de Jesus: Vinde a mim os que estão cansados (Mt 11.28) e quem tem sede venha a mim e beba (Jo 7.37) não passaram de uma encenação, pois os perdidos que não foram eleitos por Deus, logo não receberam irresistivelmente sua graça, jamais poderiam ir até a Cristo.
A Graça irresistível na visão calvinista
O capítulo X da confissão de fé de Westminster, exaustivamente citado pelos calvinistas, para apoiar a graça irresistível traz o seguinte conceito soteriológico:
I – Todos aqueles a quem Deus destinou para a vida, e só esses, é ele servido chamar eficazmente pela sua palavra e pelo seu espírito, no tempo por ele determinado e aceito, tirando-os daquele estado de pecado e morte em que estão por natureza para a graça e salvação, em Jesus Cristo. Isso ele faz iluminando o entendimento deles, espiritual e salvificamente, a fim de compreenderem as coisas de Deus, tirando-lhes o coração de pedra e dando-lhes um coração de carne, renovando as suas vontades e determinando-as pela sua Onipotência, para aquilo que é bom e atraindo a Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm mui livremente, sendo para isto dispostos pela sua graça”.
De acordo com Jonh Piper: “Não pode haver salvação sem a realidade da graça irresistível. Se estamos mortos em nossos pecados, totalmente incapazes de nos submeter a Deus, então nunca creremos em Cristo a menos que Deus vença a nossa rebelião” (HUNT, 2017 apud PIPPER, 1997). Dessa forma o calvinismo defende que ninguém pode resistir a graça salvadora de Deus, que lhe é imposta resistivelmente sobre os eleitos, predestinados para obter a salvação.
Conforme declarou Seaton, Vance traz um interessante conceito acerca da Graça irresistível: “Se os homens são incapazes de salvar a si mesmos devido a sua natureza degenerada, e se Deus se propôs a salvá-los, e Cristo realizou sua salvação, então segue logicamente que Deus deve também propor os meios para chamá-los aos benefícios desta salvação que obteve para eles” (2017, p. 514).
Outro celebre calvinista citado por Vance é Tom Ross, que traz o seguinte conceito sobre a graça irresistível: Se todo o homem é depravado e corrupto, e naturalmente indisposto a vir a Cristo, Deus deve realizar uma poderosa obra interior a fim de mudar a disposição do pecado e levá-lo a um conhecimento salvífico de Jesus Cristo” (2017, p. 514).
Dessa forma fica perfeitamente claro que o ato de salvar a quem quer procede de Deus, sem que seja necessário o homem responder ao seu chamado, sendo assim é correto afirmar que há uma violação da parte de Deus quanto a vontade humana, o que chamamos de livre-arbítrio.
Segundo o calvinismo a doutrina da graça irresistível é tão importante que sem ela não pode haver salvação, conforme as palavras de Gunn, citado por Vance que disse: “A graça deve ser irresistível se alguém deve ser salvo” (2017, p. 515).
Evidentemente a graça deve ser irresistível pois só afetará os eleitos, logo não há a possibilidade de que o não eleito seja alcançado por ela, segundo a teoria calvinista.
A graça irresistível conforme a Bíblia
O grande problema para um calvinista solucionar nesta doutrina é o fato de que ela está diretamente ligada, conforme o calvinismo, a vontade de Deus, de maneira que se Deus deseja que algo ocorra, necessariamente tem que acontecer. Todavia este pensamento torna-se fraco ao ser confrontado com a Bíblia Sagrada, que nos mostra que há situações em que Deus deseja que algo aconteça, mas por causa da obstinação do homem, tal vontade não ocorre, como nos casos abaixo:
Quem dera que eles tivessem tal coração que me temessem, e guardassem todos os meus mandamentos todos os dias, para que bem lhes fosse a eles e a seus filhos para sempre. (Deuteronomio 5.29)
Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! (Mateus 23.37).
A fala de Jesus no versículo acima citado revela, de modo indubitável, que é possível resistira graça de Deus. Existem outros Textos que corroboram com a idéia de que há situações em que a vontade de Deus não ocorre, vejamos:
O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. (2 Pedro 3.9).
Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade. (1 Timóteo 2.4).
Os dois versículos dão um nó na mente de um calvinista, que tenta de todas as formas alterar a compreensão do significado das palavras. No primeiro verso mostra que desejo de Deus é que ninguém se perca, mas que todos se arrependam e alcancem a salvação, daí levanta-se a questão, ninguém irá se perder? Não! Sendo assim a vontade de Deus não ocorreu.
De igual modo o segundo verso mostra que a vontade de Deus é que todos se salvem, mais uma vez perguntamos: todos irão se salvar? A resposta se repete, NÃO. Logo com base nesses dois Textos vemos quão fraco é a estrutura da graça irresistível ensinada no calvinismo.
As Escrituras nos mostram que há diversas maneiras de rejeitar a graça da parte de Deus:
1º Recusando receber a correção Divina
Ah SENHOR, porventura não atentam os teus olhos para a verdade? Feriste-os, e não lhes doeu; consumiste-os, e não quiseram receber a correção; endureceram as suas faces mais do que uma rocha; não quiseram voltar. (Jeremias 5.3)
2º Recusando dar ouvidos as palavras de Deus
Este povo maligno, que recusa ouvir as minhas palavras, que caminha segundo a dureza do seu coração, e anda após deuses alheios, para servi-los, e inclinar-se diante deles, será tal como este cinto, que para nada presta. (Jeremias 13.10)
3º Recusando obedecer a Deus
Porém eles e nossos pais se houveram soberbamente, e endureceram a sua cerviz, e não deram ouvidos aos teus mandamentos. (Neemias 9.16)
4º Recusando escolher agradar a Deus
Também vos destinareis à espada, e todos vos encurvareis à matança; porquanto chamei, e não respondestes; falei, e não ouvistes; mas fizestes o que era mau aos meus olhos, e escolhestes aquilo em que não tinha prazer. (Is 65.12)
Fica claro que a graça não é resistível ao analisarmos as Escrituras, Nela vemos Deus chamando o homem, e este recusando-se a responder a este chamado (Pv 1.24; Jr 7.13), inclusive a própria nação de Israel, escolhida por Deus, dentre as demais nações rejeitaram esta graça (Sl 78.41; 81.11). O calvinista não aceita este ensino, mas não há como negligenciá-lo, vemos que é possível rejeitar o conselho de Deus (Pv 1.25), até mesmo no Novo Testamento, vemos que os doutores da lei e os fariseus rejeitaram o conselho de Deus: “Mas os fariseus e os doutores da lei, rejeitaram o conselho de Deus contra si mesmos” (Lc 7.30). Numa certa ocasião, Jesus critica duramente os judeus que rejeitavam sua maravilhosa graça: “E não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo 5.40).
Portanto, concluímos que a graça de Deus é maravilhosa, um ato de amor imerecido da parte de Deus para com o ser humano, todavia é possível rejeitar esta graça, como foi exposto e conforme nos revela as Escrituras.
Referências
[1] HUNT, Dave. Que amor é este: A falsa representação de Deus no calvinismo. São Paulo. 2015, Editora Reflexão.
[2] VANCE, Laurence. O outro lado do calvinismo. São Paulo. 2017, Editora Reflexão.
Por
Edson Moraes
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