Por Walson Sales
Charles
Darwin nasceu em 12 de fevereiro de 1809, em Shrewsbury, Inglaterra, filho do
médico Robert Darwin e neto do pitoresco deísta e evolucionista Erasmus Darwin.
A mãe de Charles era a filha do extemporâneo industrial e unitarista Josiah
Wedgwood, um ceramista de fama (GUNDLACH, 2018).O avô de Darwin, Erasmus,
possuía um intelecto cortante e uma repulsa profunda por qualquer divindade.
Tinha linguagem chula, humor extravagante, era corpulento e não poupava
ninguém, pois acusava o outro avô materno de Darwin, o patriarca da cerâmica
Josiah Wedgwood, de estar em queda livre com seu Cristianismo unitarista
insípido, reduzido à quase nudez, pois duas doutrinas basilares haviam sido
rejeitadas, a saber, a Santíssima Trindade e a Divindade de Jesus. O
Cristianismo de Josiah havia rejeitado tantos elementos sobrenaturais que, se
fosse rebaixado um pouquinho mais, aterrissaria em queda livre no ateísmo,
dizia Erasmus. Erasmus era um crítico ferrenho do Cristianismo e da religião e
era conhecido por dizer com certa frequencia “que necessidade existe para o
Cristianismo, se os homens podem sorver ‘o leite da ciência’? As sacerdotisas
da natureza não explicavam todas as coisas – até mesmo a criação?” (DESMOND
& MOORE, 2001, p. 25). Os dois avôs de Darwin concordavam em muitas coisas,
mas em questão de religião se afastavam drasticamente.
O
doutor Erasmus Darwin era um gigante, um hedonista, cuja sombra se estendera
pelas gerações posteriores. Marcado pela varíola, aleijado e obeso, era um
médico renomado com uma atração fatal por mulheres. Foi pai de uma dúzia de
filhos com duas esposas diferentes, e de mais dois com uma govenanta. Receitava
sexo contra a hipocondria, compunha versos eróticos em profusão e mantinha um
compromisso profundo com as maravilhas da mecânica e com a evolução. Charles
Darwin via ali aspectos profundos de si mesmo. Erasmus admitia a ascenção
natural da vida e o parentesco entre todas as criaturas; repudiava a
escravidão, admirava a filantropia, e insistia na bondade para com os animais
inferiores. Como deísta, acreditava em uma deidade distante – um Poder-potente,
Todo grandeza, Todo bondade. Segundo consta, ele orava: “Ensina-me, Criação,
ensina-me como adorar o vasto desconhecido”. Por não ser um Cristão Ortodoxo ou
mais especificamente, da Igreja Anglicana, era grosseiramente caluniado e no
mesmo ano em que morreu, em 1802, foi duramente atacado por duvidar da Bíblia.
Isso abalou Charles Darwin profundamente, pois afirmou com muito desgosto “Esse
era o estado do sentimento Cristão neste país no início do século corrente”. É
de conhecimento dos principais biógrafos de Darwin que muitas histórias
negativas sobre seu avô Erasmus foram recortadas dos relatos que vieram à
público. Muita informação sobre filhos ilegítimos, muito vinho, mulheres e
ardor. Frases grosseiramente agnósticas e tudo o que mostrasse sua heterodoxia
foi também amputado, pois refletia mal o Cristianismo [e a família]. Darwin
mesmo aprovou este processo impetrado por sua filha Henrietta. As asserções e
supressões falavam pelos dois lados da família. Henrietta parecia com a mãe e
com o avô materno, Josiah, pois 100 anos de devoção unitarista haviam marcado a
mentalidade dos Wedgwood. A censora impôs sua vontade. O mundo teria que
aguardar mais outro século para ler sobre as forças familiares que haviam
moldado o destino de Charler Darwin (DESMOND & MOORE, 2001, p. 26, 27).
Erasmus
era um polivalente. Além de médico, projetou uma carruagem capaz de fazer
curvas em alta velocidade, na qual viajava 15 mil quilômetros por ano para
medicar a nova elite da Inglaterra. Projetou um moinho de vento horizontal para
pulverizar pigmentos nas instalações de Wedgwood e até mesmo uma máquina de
falar, capaz de pronunciar o Pai-Nosso, o Credo e os Dez Mandamentos na língua
comum”, onde foi-lhe oferecido 10 mil libras pelo invento. Mas este homens não
apostavam muito na ortodoxia. A maioria deles era não-conformista por livre
escolha, portanto, marginalizados em um mundo em que as oportunidades
educacionais e políticas eram reservadas para os membros da Igreja Anglicana.
Eles pertenciam a uma contracultura de capelas e prosperavam nas cidades
industriais em crescimento. À parte do livre pensamento de Erasmus, sua
vanguarda intelectual estava nos unitaristas como Josiah. Em 1870, quando
Joseph Priestley, destacado filósofo, químico e unitarista da época, veio a
Birmingham para servir como ministro na nova Casa de Culto dos Dissidentes,
esse grupo marginalizado ganhou um aliado importante. Priestley era um gênio.
Estudava o ar e os gases e é possível que tenha descoberto o oxigênio, a
amônia, o monóxido de carbono, o dióxido de enxofre e a lista segue. Foi
financiado em suas pesquisas por Wedgwood. A teologia de Priestley foi
provavelmente ainda mais influente, uma vez que moldou os pontos de vista de
três gerações entrecruzadas pelo casamento de Darwin e Wedgwood. Ele pretendia
restaurar o cristianismo em sua pureza primitiva e torná-lo uma religião de
felicidade universal, nesta vida e na próxima. Os Anglicanos acharam isso
perigoso – Deus ordenando felicidade para todos de maneira imparcial, sem levar
em consideração a posição social ou o ritual, também era condenável. Contudo,
para Priestley, almas imortais não existiam mais do que os “espíritos”
imateriais da química. Milagres e mistérios como a Santa Trindade e a
Encarnação de Cristo tampouco faziam parte de seu cristianismo. Para ele, a benevolência
de Deus estaria expressa em um mundo inteiramente material, no qual as leis da
natureza reinariam absolutas e tudo teria uma causa física. A carne humana
seria ressuscitada na próxima vida, como foi a de Jesus, graças a alguma lei
física desconhecida. Esta era a fé robusta, esperançosa e autoconfiante da nova
elite industrial que moldou o pensamento da família de Charles Darwin (DESMOND
& MOORE, 2001, p. 28, 29).
Nem
todos os unitaristas foram tão longe a ponto de negar a alma. Por outro lado,
livres-pensadores como Erasmus forma muito além disso, descartando a Bíblia e
também Jesus – e clamando que “nenhuma Providência particular é necessária para
fazer girar este planeta ao redor do sol”. A esposa de Erasmus bebia gim e
morreu embriagada, deixando o marido com cinco crianças. Uma década de flertes,
e namoros fúteis se seguiram e então, aos 49 anos, Erasmus descobriu-se gordo,
manco e apaixonado por uma mulher casada, sua paciente, a quem dedicava poemas
e versos de amor. Era uma bela paciente casada, filha ilegítima de um Conde.
Quando seu rico marido morreu, em 1780, o viúvo Erasmus casou-se com ela, mudou
de residência e transferiu suas operações para a mansão dela no interior, nos
subúrbios de Derby. Tal devassidão era sinal de que uma elegante libertinagem
afetava as melhores famílias (DESMOND & MOORE, 2001, p. 29, 30).
Erasmus
estava fazendo versos sobre as novas liberdades francesas e finalizando seu
livro médico-evolucionista Zoonomia, quando
Priestley caiu nas “mãos sacrílegas dos selvagens de Birmingham”. Sua capela e
sua casa foram invadidas e vandalizadas por uma multidão que gritava “nada de
filósofos – a Igreja e o Rei para sempre”. Os tumultos de 1791 significaram o
fim da Sociedade dos Dissidentes. Priestley recebeu uma oferta de asilo na
Etrúria, mas acabou fugindo para os Estados Unidos. A Botânica erótica de
Darwin foi denunciada como lixo titilante; seu “ateísmo”, ferozmente criticado
como o tipo de filosofia desmoralizadora que desencadeara o terror (DESMOND
& MOORE, 2001, p. 31).
Para
os Darwin, o casamento, como tudo o mais, era administrado pelo velho Erasmus.
Para Robert, (pai de Charles Darwin, o naturalista), ele escolheu Susannah,
filha de Josiah. Eles se casaram em abril de 1796, um ano depois da morte de
Josiah. Robert estava então estabelecido como médico e a herança de Sussanah,
de 25 mil libras, constituía um acréscimo bem-vindo à fortuna da família. Foram
morar na periferia de Shrewsbury, onde construiu uma casa apelidada de The
Mount. A primeira criança do casal foi uma garota, Marianne; duas outras filhas
vieram a seguir, Caroline em 1800 e Susan em 1803, esta um ano depois da morte
pacifica de Erasmus. Veio então o primeiro filho homem, em 29 de dezembro de
1804. O casal batizou o filho em homenagem ao tio, morto afogado cinco anos
antes e ao falecido avô – Erasmus. Robert era temperamental em família e
Sussannah sifria muito com isso. Em 12 de fevereiro de 1809, quando atingira 44
anos, ela deu à luz. O menino foi chamado Charles Robert Darwin em memória aos
médicos da família e na esperança de uma carreira brilhante, batizaram o bebê
na igreja Anglicana de St. Chad no dia 17 de Novembro. Isso era adequado e
prudente. O país estava em guerra com a França, a família era conhecida por ser
liberal. O velho Erasmus já havia sido ridicularizado publicamente pelo governo
por ter composto uma poesia em favor do franceses e para piorar, o
nome dos Darwin já era associado ao ateísmo subversivo. Apesar de
Suassanah permanecer fiel aos seus princípios cristãos, seu cristianismo era do
culto dos Dissidentes, ou seja, unitarista e “em queda livre” em direção ao
ateísmo, como denunciava o velho Erasmus (DESMOND & MOORE, 2001, p. 31,
32).
Fontes citadas:
DESMOND, Adrian; MOORE, James. Darwin:
A Vida de um Evolucionista Atormentado (Tradução Cyntia Azevedo). 4ª edição revisada e ampliada. São Paulo: Geração Editorial, 2001
GUNDLACH, Bradley J. Charles Darwin. In COPAN, Paul [et all] (organizadores). Dicionário
de cristianismo e ciência: obra de referência definitiva para a interseção entre
fé cristã e ciência contemporânea. (tradução Paulo Sartor Jr).
1. ed. - Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2018.

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Evolução
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