Shiva
É a divindade que representa a terceira pessoa da tríade hindu. Esta divindade, é considerado como o deus da destruição, sendo uma divindade muito reverenciada na índia. Acredita-se que a forma que Shiva utiliza para destruir o mundo ocorre no final de cada época, onde o deus dança sobre o mundo, até que este seja reduzido á pedaços. Devido á isso é conhecido como o senhor do universo, o “rei que dança” (Natajara). Ironicamente o papel de Shiva como o destruidor, tem como finalidade a renovação da criação, visto que possui importantes papéis no universo, como a criação, preservação e destruição. Dessa forma assim se expressou Schselinger, acerca do papel renovador de Shiva: “O papel renovador de Shiva é representado por sua forma fálica, a divinização do órgão reprodutor, sem idéia obscena, e contendo um potencial masculino e outro feminino” (SCHSELINGER, 1982. p.283). Algumas vezes a figura de Shiva é demonstrada com três faces: duas opostas como macho e fêmea, na figura do destruidor, o Bhairava; sua terceira face, porém, demonstra mansidão, o oposto das laterais. No entanto, Shiva passou a ser apresentado na figura masculina, sempre tendo ao seu lado, sua esposa Parvati. Shiva era considerado uma divindade de menor importância, conhecido anteriormente pelo nome de Rudra, o qual é citado por três vezes apenas no Rig Veda. Veio a ganhar status de notoriedade, como Brahma e Vishnu após absorver as características de uma divindade primitiva da fertilidade.
Ele é considerado como todas as coisas, por essa razão pode aparecer de várias formas, no entanto sua figura, geralmente é representada como um homem sentado, com as pernas cruzadas, aparentando estar meditando, segurando em uma de suas mãos um tridente que com ele Shiva destrói a ignorância do homem, em seu pescoço há uma cobra naja envolta que simboliza sua vitória sobre a morte. Ainda sobre sua aparência, assim o descreve Lemaítre: “Representam-no então com o rosto sujo de cinza, seminu, cingido de crânios e ostentando uma coleira de serpentes (Rudra era já no Vedismoo senhor das serpentes” (LEMAÍTRE, 1958, p.64). Shiva possui um terceiro olho, que segunda a crença seria uma poderosa arma, com a qual poderia destruir qualquer criatura apenas com seu olhar. A origem desse olho, de acordo com a tradição, provém de uma brincadeira de Parvati (Sua esposa), que lhe tapara os dois olhos com a mão (LEMAÍTRE, 1958, p.65). O historiador norueguês Victor Hellern traz uma imagem interessante sobre a polarização de Shiva: “É igualmente um deus do desvario e do êxtase, tanto criador como destruidor, o que o torna ao mesmo tempo aterrorizante e atraente. É ele quem traz a doença e a morte, mas é também o que cura” (HELLER, 2000, p.47). Essa idéia de aparente contraditoriedade é algo real na figura de Shiva, por esse motivo há tantas formas de dirigir-se á esta divindade, que por alguns é considerado como um deus benevolente, enquanto por outros é tido como um deus implacável destrutivo. De acordo com Renou: “É sobre Shiva que recaem os aspectos mais amedrontadores e apavorantes da crença, a luta contra demônios e contra o mal, a imagem da morte, os tipos mais severos de ascetismo, o tantrismo, o conhecimento intelectual e seus efeitos mais perigosos” (RENOU, 1964, p. 27).
Uma curiosidade acerca de Shiva está relacionada com a questão do Rio Ganges, que é um dos rios mais estimados e venerados na India, sendo considerado como uma divindade, nele se pratica diversas cerimônias religiosas. De acordo com o ICP: “Todos os dias, ao cair da tarde, milhares de peregrinos se congregam ás margens do rio a fim de dar um mergulho de purificação para lavar os pecados do corpo [...] e quando bebidas são capazes de curar enfermidades” (ICP, 2015 p.71). De acordo com a crença hindu, o Ganges seria a personificação de uma deusa, conhecida como Ganga, que desceu do céu entre as tranças de Shiva. Outra curiosidade é que acredita-se que a cidade de Shiva seria Varanasi, localizada ao norte da Índia e considerada a capital espiritual Indiana, segundo o Hinduísmo quem morre nesta cidade vai direto para Shiva, mesmo que o tal carregue consigo um carma maligno.
Há um grupo de hindus que atribuem a Shiva a divindade suprema, são os praticantes do Shaivaismo, que tem por objetivo da adoração, soltar suas almas das cadeias que possuem, a fim de chegar ao “Shivata” que é a natureza de Shiva. Shiva é afamado como o deus da meditação e do iogues, retratado como um asceta, que se consagra através de exercícios espirituais de auto disciplina. Shiva é também conhecido no Hinduísmo, por meio de outros nomes, corroborando com esta verdade, assim se expressou Bowker: “No texto Shiva Purana, ele tem mais de mil nomes, como Maheshvara, senhor do conhecimento e Mahakala, o senhor do tempo” (BOWKER , 2000, p.21).
A cavalgadura utilizada por Shiva é o touro branco conhecido como Nandi, que de acordo com a crença, o touro encarna a energia sexual. Estando sob as costas de Nandi, Shiva controlaria esses impulsos. A antiguidade da adoração a esta divindade é um muito antiga, comentando sobre esta questão, escreveu Champlin: “Descobertas arqueológicas recentes, tem demonstrado a grande antiguidade de seu culto, a ponto de ter ficado claro que Shiva era conhecido e adorado até mesmo pelo povo pré-ariano, que vivia a margem do rio indo” (CHAMPLIN, 2013, p.201).
Brahma
Intitulado como o deus da criação, Brahma é uma dos três deuses que formam um trimuri ou tríade a religião Hindu, ao lado de Shiva e Vishnu. O entendimento desta trindade seria: Brahma na figura do criador, Vishnu o sustentador, sendo o protetor das leis da natureza e a harmonia do universo, já Shiva é o destruidor,que dança sobre o mundo reduzindo a pedaços, quando isto acontece cabe a Brahma criar novamente o mundo. Este deus seria própria representação da força do universo, sua apresentação é de um homem com quatro cabeça, embora exista uma lenda de que originalmente Brahma possuía cinco ao invés de quatro de cabeças, quando se apaixonou por sua consorte Saravasti, pois ela por ser muito tímida, o deus criou a quinta cabeça para assim poder enxergar sua amada em todas as direções: Esquerda, direita, atrás, frente e acima; Esta quinta cabeça foi arrancada por Shiva, por haver sido ofendido por Brahma, segundo a lenda.
Ainda sobre a figura de Brahma, é apresentado que esta divindade possui quatro braços, nos quais carrega cinco objetos, a saber: Flor de lótus, que simboliza a natureza de todos os seres viventes e sua essência, em outra um rosário, conhecido como Japamala, que simboliza o período de tempo de tempo que o universo se move, noutra está segurando uma Jarra de água, que seria a substância usada pelo deus na criação do universo e por fim um livro que simboliza o conhecimento, inclusive as quatro cabeças de Brahma, acredita-se, que cada rosto cita um dos quatro vedas, as escrituras sagradas do hinduísmo.
Como mencionado, Brahma possui uma consorte, Saravasti, a qual é citada nos Vedas, e é alvo de adoração tanto no hinduísmo como também no Jainismo e Budismo. Ainda nos dias atuais continua sendo adorada, atualmente simboliza a poesia, a musica, a arte, a intelectualidade e o conhecimento. Embora no passado esta deusa foi adorada na forma de um rio,hoje quase seco, onde seus seguidores ofereciam sacrifícios em suas margens. Em suas imagens, Saravasti está assentada sobre uma flor de lótus que serve remonta ao vinculo com o rio.
Brahma também possui um veiculo para sua locomoção, um cisne divino, por essa razão, este animal desfruta de muita honra na religião, por ser um veiculo de um deus. Mesmo sendo componente da trindade hindu, o deus Brahma não goza de muitos adeptos no hinduísmo, diferentemente de Shiva e Vishnu que possuem templos espalhados por toda a Índia, por esse motivo possui poucos templos em sua homenagem, sendo o mais conhecido o templo de Pushkar localizado no estado de Rajasthan, na Índia, denominado Templo Brahmaji. De acordo com a lenda, em Pushkar Brahma teria derrotado um demônio, usando uma flor de lótus.
Ganesha
Um dos deuses masculinos pertencentes ao ciclo de Shiva é Ganesha, o senhor dos ganas. Sua adoração está centralizada na Índia meridional sob o nome de Subrahmanya (RENOU, 1967, p.27). Ganesha, segundo a crença, é o filho de Shiva e Parvati, sendo ele o deus destruidor de obstáculos, talvez por essa razão seja tão popular entre os homens, que o buscam com o propósito de que tenham seus obstáculos destruídos por seus poderes, esta divindade simboliza representação ao apelo e a força espiritual, desfrutando de muitos adoradores no sul da Índia. Geralmente as estátuas de Ganesha são postas em construções de novas casas, de acordo com Bowker: “esta divindade representa também o começo de uma jornada ou de um empreendimento arriscado e os poetas tradicionalmente o invocam ao principiar um livro” (BOWKER, 1997, p. 29).
Sua figura é de um ser com corpo humano, possuindo quatro braços e que possui a cabeça de elefante, tendo apenas uma presa. De acordo com a crença, Shiva, sem perceber que era seu filho, degolou Ganesha, no momento em que protegia sua mãe Parvati. Após perceber o mal que cometera, Shiva prometeu ao filho repararia o erro tomando a cabeça da primeira criatura que visse, neste caso a de um elefante. Outra lenda conta que o deus Saturno, ao olhar para a criança de Parvati queimou a cabeça, deixando apenas cinzas, sua mãe encontrou uma cabeça de elefante e a substituiu. O elefante tem uma grande estima dentro do hinduísmo, conforme menciona Lemaítre: “O elefante é o emblema da força e da sabedoria. É um dos mais importantes animais sagrados. [...] Os quatro regentes do mundo que se acham sob o monte Meru cavalgam quatro elefantes cósmicos, os dinaga” (LEMAÍTRE, 1958, p.58)
Inicialmente acredita-se que Ganesha não fosse uma divindade, antes um símbolo sagrado de alguma tribo que foi absorvida á religião hindu. A forma mais comum que representa Ganesha possui alguns símbolos que merecem destaque: tridente, uma nota de que é filho de Shiva; Doces, que são carregados num saco, chamado de Laddus, por essa razão, em seus templos são oferecidos doces em seu sacrifício; a tromba partida, numa de suas mãos ele carrega o pedaço de sua tromba, que segundo a crença o próprio Ganesha cortou, para compor o Mahabharata, que é uma das escrituras hindus, composta por cerca de noventa mil versos; A Serpente, geralmente em volta do ventre de Ganesha está uma serpente, que também está associado á Shiva, a serpente é apenas um lembrete de que Ganesha é filho de Shiva; sua postura real, pelo fato de estar com uma de suas pernas elevadas, denota a realeza de Ganesha, conhecido como Lalitasana.
Assim como as demais divindades, Ganesha possui uma consorte, esposa, chamada Siddhi ou Riddhi, a qual carrega consigo um lothus. Além disso, Ganesha possui um veiculo para se locomover, representado na figura de um rato, que embora pequenos, são considerados perspicazes, com grande habilidade de abrir novos caminhos roendo tudo que encontrar, dessa forma este simbolismo atribui a Ganesha a capacidade de destruir os obstáculos que surgir pela frente.
Brahman
É a representação da realidade final no hinduísmo, não podendo ser definido por meio da sabedoria humana, visto que seu conceito muda com o tempo, dessa forma sua essência invisível é a realidade suprema. Esta divindade é inalcançável por meio da compreensão humana, visto que é ao mesmo tempo: Eterno, absoluto, imortal, infinito em sua forma, mas também nada disso, pois está acima da capacidade intelectual do homem. Por essa razão nada pode ser pronunciado ou mesmo imaginado sobre ele.
Trazendo um conceito interessante sobre a maneira que se pode definir esta divindade, se expressou Hellern: “Brahman é o principio construtivo do universo, uma força que permeia tudo, uma divindade impessoal. Todas as almas individuais são reflexos dessa única alma universal” (HELLERN, 2000, p.45).
No texto religioso, extraído do Bhagavad Gita, “canção do bem aventurado” ilustra a percepção que os hindus definem Brahman:
Põe este sal na água e vem comigo amanhã de manhã.
Svetaketu fez assim, e pela manhã seu pai lhe disse: traz o sal que puseste na água ontem a noite.
Svetaketu olhou para a água mas não o achou, pois se tinha dissolvido.
Seu pai disse: prova a água deste lado. Que tal?
É Sal.
Prova a do meio. Que tal?
É sal.
Prova daquele lado. Que tal?
É sal.
Procura de novo o sal e vem comigo.
O filho fez e disse: não vejo sal. Só água.
Disse o pai: Também não podes ver o espírito, meu filho. Mas ele está ali. O Espirito do universo é uma essência invisível e sutil. Essa é a realidade.
Essa é a verdade.
De acordo com o hinduísmo o homem está preso á um processo incansável de reencarnação, visto que está preso na ignorância e a única forma de libertar-se é através do conhecimento, que traz a compreensão de que a alma humana, “atmã” e o mundo espiritual “Brahman” são essencialmente uma única coisa, da mesma forma que a água e o sal. A concepção hindu é que o homem possui uma centelha divina em seu interior, a finalidade é que está partícula seja dissolvida em Brahman, assim estará novamente unido, em sua completude, com o Espirito universal.
Esta compreensão de essência suprema, que está acima dos demais deuses do hinduísmo é representada na expressão de Lemaitrê: “Brahman, Divindade suprema, junto de quem os demais deuses não passam de simples intermediários [...] É sempre Brahman, pois que tudo é Brahman” (LEMAITRÊ, 1958, p.60)
Por
Edson Moraes
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