Por Walson Sales
Arquiinimigos: é a primeira impressão que temos dos Filisteus quando lembramos da opressão que causaram ao povo de Deus. Ninguém esquece das lutas de Sansão, das traições da vilã Dalila e da épica vitória de Davi sobre Golias. Únicos vizinhos não semitas de Israel, os Filisteus vieram de Caftor (provavelmente Creta ou alguma outra terra do Egeu) para se estabelecer nas praias mediterrâneas a oeste de Judá. O principal deus deles era Dagom, divindade agrícola. Com suas armas metálicas e tecnologia superior, a relativa riqueza e sofisticação dos filisteus foram uma grande ameaça para a segurança nacional de Israel no início da monarquia. Eles mataram o primeiro rei de Israel, (Saul) em batalha. Davi lhes impôs importantes derrotas, mas eles causaram grandes problemas para Israel por muitos anos. (DOCKERY, 2001, p. 250). Os filisteus fizeram parte do grande movimento de povos que saíram da área geral do Mar Egeu em cerca de 1.200 a.C. Eles são mencionados pelos egípcios como os “Povos do Mar”. Os filisteus eram hábeis na arte de trabalhar em metais e os arqueólogos tem descoberto muitos fornos nas escavações das antigas cidades filistéias. Gerar, na região de Gaza, é um desses casos. O monopólio dos filisteus nessa área é mencionado na Bíblia (1 Sm 13: 19-20). Um dos objetos mais encontrados nas ruínas escavadas dessas cidades filistéias é a caneca de cerveja, de todos os tamanhos e formatos, com bicos e coadores laterais usados para a cerveja de cevada. Isso indica que os filisteus eram grandes beberrões (Jz 16: 23-25). Eram ainda grandes navegadores e comerciantes, pois percorriam rotas marítimas entre o Egito e a Fenícia. O domínio e alcance deste povo fica claro pelo fato de ter havido grandes cidades filistéias como Asdode, Asquelom, Gaza, Bete-Semes, Tall Qasile, Afeque, Tell Beit Mirsin e Gezer. Pesquisas feitas neste sítios arqueológicos encontraram forte presença de cerâmica filistéia, encontradas também bem ao norte. Os filisteus eram tecnicamente avançados e tiveram vantagens evidentes sobre os Israelitas, pois conquistaram Siló (1 Sm 4), tinham um posto militar em Micmás (1 Sm 13-14), e derrotaram Saul na batalha do Monte Gilboa ao norte de Esdraelom (1 Sm 29). Davi conseguiu dobrar os filisteus (THOMPSON, 2007, pp. 103-106).
A cultura material dos filisteus entre 1150 e 1000 a.C., mostra semelhanças e provável influência do que é encontrado nas ilhas do mar Egeu, Micenas (sul da Grécia), Creta, Anatólia (centro-sul da Turquia), Chipre (cf. Números 24:24), Egito e Canaã. A cerâmica filistéia da época se assemelha ao que foi encontrado em Micenas (tigelas, potes e xícaras), Creta (xícaras), Chipre (garrafas, vasos e um anel oco de cerâmica) e Egito (jarros e xícaras). A lança e o equipamento defensivo de Golias (1 Sm. 17: 5–7) eram semelhantes aos equipamentos dos guerreiros do Mar Egeu. As lareiras encontradas em Tel Miqne (Ecrom) e Tell Qasile foram projetadas como as da Anatólia e região do Egeu. Altares de tijolos de barro filisteus provavelmente foram criados à luz da influência do mar Egeu, Chipre e Canaã. O Ashdoda (trono que representa uma divindade feminina) reflete Inspiração de Micenas, Chipre e Canaã. Esta evidência arqueológica sugere que pelo menos alguns dos habitantes filisteus da planície costeira do sul da Palestina vieram de Micenas (sul da Grécia) e as ilhas do Mar Egeu no final do século XIII ou início do século XII a.C., passando por Chipre e Creta (e talvez Anatólia e/ou Egito). A Pentapólis filistéia consistia em três cidades na costa mediterrânea (Ascalon, Asdode e Gaza) e duas cidades do interior (Ecrom e Gate), sob a autoridade de cinco governantes (cf. Js. 13: 3; Juízes 3: 3; 1 Sm.6: 4, 16, 18) (LONGMAN III, 2013, p. 1760). Vale ressaltar ainda que pesquisas recentes feitas em DNA de restos humanos de filisteus encontrados em Ascalom provam que eles tem, de fato, descendência indo-européia e não oriental, relatou Kristin Romey (2019) para a National Geographic.
Os Filisteus eram profudamente religiosos, pois celebravam suas vitórias nas casas de seus ídolos (1 Sm 5:21). Dagom (trigo) era um deus da vegetação adorado também em Ugarite e entre os primitivos Amorreus. Eles também adoravam Astarote (1 Sm 31:10), que correspondia à antiga deusa Assíria da fertilidade, Ishtar, além de Baal-Zebube (senhor das moscas), uma distorção sarcástica de Baal-Zebul, (senhor da morada celeste, 2 Rs 1:2). O filistismo, representa, portanto, uma mistura de religião com paganismo, sincretismo totalmente inaceitável na adoração do Deus verdadeiro (UNGER, 2006, p. 142).
A existência dos filisteus também foi colocada em dúvida pelos inimigos da Bíblia. A Bíblia registra que os filisteus eram inimigos efetivos de Israel na época dos Juízes. Até agora muitas cidades dos filisteus já foram descobertas na Palestina, juntamente com mais de 28 lugares e 5 centros importantes. Até o incêndio da cidade de Gibeá foi confirmado, como consta em Juízes 20: 8-40 (MUNCASTER, 2007, p. 225). Randall Price informa sobre a descoberta de uma importante cidade filistéia, Ecrom. Ele menciona que a arqueóloga israelita Trude Dothan e o arqueólogo americano Seymour Gittin trabalharam entre 1983 e 1997 para expor a história do que estava enterrado na cidade de Tel Miqne, que eles acreditavam se tratar da Ecrom dos tempos bíblicos. Apesar da situação geográfica litorânea e o interior montanhoso de Judá mostrar ser a localização correta e os artefatos arqueológicos retirados das escavações parecerem distintamente filisteus, nada havia confirmado de forma cabal que aquele local era o local exato da antiga Ecrom. Isso mudou depois de 14 anos de escavações. Os pesquisadores haviam achado uma inscrição de pedra que finalmente confirmou que eles estavam cavando na cidade bíblica de Ecrom. Incrivelmente, a pedra não apenas identificou o nome da cidade, mas também os nomes de dois de seus reis. O teor da inscrição, que está completa, é composto de 5 linhas com 71 letras e marcava a dedicação de um santuário num enorme complexo do templo. O rei na época, provavelmente por volta de 690 a. C., era Aquis, filho de Padi, como nos informa a inscrição (2006, p. 196). Outra importante cidade, Tell es-Safi (A cidade de Gate) foi descoberta. As escavações em andamento realizadas desde 1996 por Aren Maeir, da Universidade Bar-Ilan, em Tell es-Safi, desenterraram a cidade bíblica de Gate, cidade natal de Golias (1 Samuel 17: 4). Vários recursos e artefatos descobertos no local confirmam sua conexão histórica com Davi, Golias e a cidade de Gate. Além disso, objetos desenterrados no local revelam o tipo de dieta dos filisteus, pois foram encontrados ossos de porcos nas cidades filistéias, que geralmente mostram evidências de criação e consumo de porcos (e cães) como alimento básico (GEISLER, HOLDEN, 2013, p. 250, 51).
Como conseqüência das ambições imperialistas do império neo-Assírio, os filisteus ficaram sob o domínio Assírio em 734 a.C. Apesar de revoltas ocasionais contra seus senhores, eles permaneceram parte do império Assírio, até prosperando durante o século VII, até a queda da Assíria (612 a.C). Posteriormente capturada entre o Egito e a Babilônia, a Filístia foi conquistada e devastada por Nabucodonosor em 604 a.C. Isso efetivamente encerrou a história do povo filisteu, embora o nome transmitido em Grego e Latim tenha se tornado um nome para toda a terra que eles nunca foram capazes de subjugar, a saber, a Palestina (EHRLICH, 1993, p. 591). Uma curiosidade final: o termo Palestina significa Filístia ou Terra dos Filisteus. Após a revolta frustrada de Bar Korchba no segundo século d.C., o Imperador Romano Adriano, visando destruir o vínculo milenar do povo Judeu com a região, e a eliminação da identidade Judaica, batizou a Judéia de “Palestina” e impõs o termo a toda a terra de Israel, pois os Filisteus eram os arquiinimigos historicamente mais conhecidos do povo de Israel. Ao mesmo tempo, ele mudou o nome de Jerusalém para “Aélia Capitolina”. E assim, como todos os inimigos do povo de Deus, os verdadeiros Palestinos (Filisteus) não existem mais. Sendo assim, a Bíblia é feito uma bigorna, onde os martelos dos homens ficam batendo por milhares de anos e por fim, todos os martelos estão despedaçados e a Bíblia permanece inabalável.
Referências:
DOCKERY, David S. (Ed.) Manual Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2001
EHRLICH, Carl S. Philistines. In METZGER, Bruce; COOGAN, Michael D. (eds). The Oxford Companion to the Bible. New York: Oxford University Press, 1993
GEISLER, Norman L; HOLDEN, Joseph M. The popular handbook of archaeology and the Bible: Discoveries that confirm the reliability of Scripture. Eugene, Oregon: Harvest House Publishers, 2013
LONGMAN III, Tremper. The Baker Illustrated Bible Dictionary. Grand Rapids, MI: Baker Books, 2013
MUNCASTER, Ralph O. Examine as Evidências. Rio de Janeiro: CPAD, 2007
PRICE. Randall. Arqueologia Bíblica: O que as últimas descobertas da arqueologia revelam sobre as verdades bíblicas. 5ª edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2006
ROMEY, Kristin. Ancient DNA may reveal origin of the Philistines: Historical accounts and archaeology agree that the biggest villains of the Hebrew Bible were ‘different’—but how different were they really? Recuperado de: https://www.nationalgeographic.com/culture/2019/07/ancient-dna-reveal-philistine-origins/, acessado em 22/03/2020
THOMPSON, John A. A Bíblia e a Arqueologia: Quando a ciência descobre a fé. São Paulo: Vida Cristã, 2007
UNGER, Frederick Merril. Manual Bíblico Unger. São Paulo: Vida Nova, 2006.
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