sábado, 10 de outubro de 2020

“Um calvinista pode dizer honestamente que Deus ama a todos?”


Embora seja verdade que a maioria dos calvinistas possa dizer: “Deus ama você” para todos honestamente, a pergunta que o Dr. Olson aborda aqui é se um calvinista consistente pode ou não dizer essa frase. Essa distinção faz toda a diferença.


Pode um calvinista dizer honestamente “Deus te ama” a todos?


por Dr. Roger Olson


Recentemente, um importante teólogo-pastor calvinista norte-americano perguntou e respondeu a essa questão importantíssima em seu blog: Pode um calvinista (e ele se refere a si mesmo e aqueles que concordam com ele) dizer honestamente “Deus te ama” a todos indistintamente?

Eu já respondi essa pergunta no Against Calvinism (Zondervan) [Contra o Calvinismo, publicado pela Editora Reflexão] e aqui, no meu blog. Mas abordarei o tema novamente - para aqueles que ainda não leram o que eu já disse sobre em outras ocasiões e lugares.

Simplificando - não, um “calvinista da TULIP” consistente, alguém que acredita na dupla predestinação, não pode dizer honestamente “Deus ama você” para todos indistintamente, sem querer dizer algo muito incomum e muito estranho com a palavra “ama.”

Não há nenhuma analogia na experiência humana para descrever um ser humano, companheiro, atormentar alguém (muito menos com relação ao tormento eterno) como punição por fazer o que o outro ser humano não poderia ter evitado fazer. Especialmente quando o que o outro ser humano fez foi interiormente determinado pela pessoa que punia.

John Wesley já explorou e respondeu a esta pergunta sobre se um calvinista pode honestamente dizer “Deus te ama” para todos sem distinção. Em seus dois sermões “Predestination Calmly Considered” [A Predestinação Calmamente Considerada] e “Free Grace” [Graça Livre], o teólogo revivalista e Arminiano, fundador da tradição Metodista disse que esse “amor” é um amor que faz o sangue gelar. Por quê?


Comentário adicional: As opiniões expressadas aqui são minhas (ou as do escritor convidado); Não falo por nenhuma outra pessoa, grupo ou organização; nem insinuo que as opiniões expressas aqui refletem as de qualquer outra pessoa, grupo ou organização, a menos que eu diga especificamente. Antes de comentar, leia o post inteiro e a “Nota para os comentadores” no final.


Mais uma vez, devo lembrar aos calvinistas e a todos a conexão inseparável entre as doutrinas calvinistas da providência e da predestinação. De acordo com o calvinismo clássico, histórico e consistente (de Calvino a Edwards, de Hodge a Piper), Deus determinou tudo o que acontece, exatamente como acontece, sem exceções. E isso inclui a queda de Adão e de toda a sua posteridade.

Creio que foi Charles Wesley quem expressou isso em um belo verso sobre o principal calvinista nos dias de Arminius na Holanda, Franciscus Gomarus: “Francisco Gomarus era um supralapsário; ele realmente deu a Adão uma desculpa. Deus decretou, preordenou os atos de Adão. Deus arruinou Adão previamente.” Naquela rima mordaz, “Gomarus” simplesmente representa todos os calvinistas da TULIP, não apenas os supralapsarianos.

É possível dizer para uma audiência de pessoas desconhecidas “Deus te ama” sem qualificações sérias (tais como “se você for um dos seus eleitos”)? Não e a palavra significa “ama” em qualquer sentido da palavra menos o pretendido pelo sistema calvinista. No calvinismo tem que ser assumido um significado único e idiocrático. Não pode mais significar "benevolência"; pois tem que significar algo radicalmente diferente.

No sistema calvinista, o destino eterno de cada pessoa é determinado por Deus e Deus torna certa as “escolhas livres” das pessoas, incluindo os pecados e falta de arrependimento pelos pecados, por qualquer meio (por exemplo, ao reter a graça necessária para a pessoa se arrepender). No Calvinismo, isso tudo é para a glória de Deus - para manifestar seus atributos, incluindo a justiça através da ira. Como bem definiu o sucessor de Calvino em Genebra, Theodore Beza: “Aqueles que se encontram sofrendo no inferno por toda a eternidade podem pelo menos se consolar com o fato de estarem ali para a maior glória de Deus.”

Então, o que os calvinistas dizem? Bem, um em particular diz que Deus sofre genuinamente por cada pecador que não se arrepende e necessariamente acaba no inferno. Deus deseja genuinamente que este não fosse o caso. Por outro lado, Deus é quem projetou todo o plano e esquema e tornou certo o destino eterno de cada indivíduo.

Mais uma vez, para repetir o gracejo de Wesley: esse “amor” é aquele que faz o sangue gelar. E acrescentar a palavra “amor” em tal sentença (“Deus te ama”) e dizer a uma pessoa reprovada é um equívoco.

O hiper-calvinista é um calvinista consistente. Ele é aquele que acredita que é errado dizer “Deus te ama” incondicionalmente e indiscriminadamente para um grupo de pessoas quando não se sabe quem entre eles pode ser eleito ou reprovado. “Deus ama você e quer salvá-lo” não é, diz o hiper-calvinista, uma oferta bem intencionada, então não deve ser dita a uma multidão de pessoas ou mesmo a um indivíduo se alguém não estiver certo de que essa pessoa é eleita. (e como alguém pode saber?) Eu respeito os hiper-calvinistas por sua consistência lógica.


Fonte:

http://evangelicalarminians.org/can-a-calvinist-honestly-say-god-loves-you-to-everyone-by-dr-roger-olson/


Tradução Walson Sales.

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