quarta-feira, 7 de abril de 2021

A Importância dos Ahadiths [plural de hadith] para os Muçulmanos


Por Robert Spencer

 

Talvez em reação à qualidade fragmentária da narrativa do Alcorão, os primeiros Muçulmanos elaboraram duas fontes principais para fornecer contexto para o Alcorão: tafsir (comentário sobre o Alcorão) e hadith, tradições do Profeta Muhammad. E uma quantidade significativa (embora não todos) do hadith é em si tafsir. Isso gera o asbab an-nazool, ou circunstâncias de revelação (como acabamos de ver para a sura 66: 1-5), para vários versos do Alcorão - que podem ter implicações importantes para a forma como o versículo deve ser aplicado na era moderna. Um hadith, por exemplo, relata a ocasião em que Muhammad estava recitando um verso do Alcorão que repreende os muçulmanos que não participam da jihad: "Aqueles dos crentes que ficam parados ... não estão em igualdade com aqueles que lutam no caminho de Allah com suas riquezas e vidas. Allah conferiu àqueles que lutam com suas riquezas e vidas uma posição acima dos sedentários. A cada um deles Allah prometeu o bem, mas concedeu àqueles que lutam uma grande recompensa acima dos sedentários" (4:95).

Nesse ponto da recitação de Muhammad, um cego falou: "Ó Mensageiro de Allah! Se eu pudesse, certamente participaria da Jihad." Em seguida, "Allah enviou a revelação ao Seu Mensageiro" de outro segmento do versículo, removendo o amigo cego do Profeta desta condenação: "exceto aqueles que têm uma dor (incapacitante)."[6]

A sunnah, ou modelo, do Profeta, que é amplamente composta pelo Hadith, perde apenas para o Alcorão em autoridade para a maioria dos muçulmanos e contém uma grande quantidade de informações sobre Muhammad. É a partir da Sunnah que a maioria das leis que distinguem a sociedade islâmica de outras sociedades foram elaboradas. A Sunnah é tão importante no pensamento islâmico que, de acordo com o estudioso islâmico Ahmad Von Denffer, "há acordo entre os estudiosos muçulmanos de que o conteúdo da sunna é [junto com o Alcorão] também de Allah. Portanto, eles o descreveram como também sendo o resultado de alguma forma de inspiração,"[7]

Sob um ponto de vista de 1.400 anos depois, é virtualmente impossível dizer com certeza o que é autêntico nesta massa de informações e o que não é. Os próprios muçulmanos reconhecem que há uma gama muito grande de ahadith forjados (a forma plural de hadith), que foram escritos para dar a sanção do Profeta às opiniões ou práticas de uma determinada parte na comunidade muçulmana inicial. Isso torna quase insolúvel a questão do que o Muhammad histórico realmente disse e fez. Mas isso não significa que o Hadith não tenha relevância para os muçulmanos. Em reação a essa confusão causada pela proliferação de ahadith forjados, relativamente cedo na história do Islã, vários muçulmanos montaram coleções de relatos das palavras e atos do profeta, que eles consideravam mais ou menos definitivos e autênticos.[8] No século IX, vários estudiosos islâmicos percorreram o mundo muçulmano colecionando tradições sobre Muhammad e depois tentando distinguir os verdadeiros dos falsos. O imã Muhammad Ibn Ismail al-Bukhari (810-870), compilou a coleção de hadith mais respeitada e autorizada (conhecida como Sahih Bukhari), que é dito ter reunido cerca de 300.000 ahadith. Estes ele examinou cuidadosamente, tentando rastrear a ligação de cada hadith através de uma cadeia discernível de transmissão (isnad) ao próprio profeta. Em última análise, ele escolheu, separou e publicou cerca de dois mil ahadith como autênticos; as repetições acrescem os números de ahadith em sua coleção para mais de sete mil.

Apenas o Sahih Bukhari é formado de nove volumes em uma edição de luxo em inglês-árabe publicado na Arábia Saudita. Além de fornecer o contexto de grande número de versos do Alcorão, [sem os quais esses versos não podem ser compreendidos – leia os artigos indicados abaixo], essa coleção dá ao leitor insights sobre a vida privada de Muhammad, sua sabedoria e exemplo em uma enorme variedade de tópicos, incluindo abluções, características da oração e ações durante a oração, funerais, o imposto obrigatório de caridade (zakat), a peregrinação obrigatória a Meca (hajj), jejum, boas maneiras, vendas e comércio, empréstimos, hipotecas, testamentos, casamento, divórcio, leis de herança, jihad e a subjugação e punição dos incrédulos, dinheiro de sangue, e muito mais - até mesmo interpretação de sonhos.

Sahih Bukhari é apenas uma das seis coleções, todas volumosas, que os muçulmanos geralmente consideram confiáveis. Entre estas Sahih Sittah, ou coleções confiáveis, existe outra que leva a designação sahih - que significa confiável, que é a Sahih Muslim, que foi compilada por Muslim ibn al-Hajjaj al-Qushayri (821-875). As outras coleções são consideradas menos autoritativas depois de Bukhari e Muslim, mas ainda gozam de grande respeito no mundo muçulmano: Sunan Abu-Dawud compilada por Abu Dawud as-Sijistani (morto em 888); Sunan Ibn Majah, compilada por Muhammad ibn Majah (morto em 896); Sunan At-Tirmidhi, compilada por Abi 'Eesaa Muhammad At-Tirmidhi (824-893); e Sunan An-Nasai, compilada por Ahmad ibn Shu'ayb an-Nasai (morto em 915).

Também altamente consideradas, embora não numerado entre os Sahih Sittah, estão várias outras coleções, notavelmente uma conhecida como Muwatta Imam Malik (ou simplesmente Muwatta Malik). Malik bin Anas bin Malik bin Abu Amir Al-Asbahi (715-801), ou Imam Malik, que viveu mais próximo do tempo da vida de Muhammad de todos os colecionadores de ahadith - e ele nasceu mais de oitenta anos após a morte do Profeta.

No Islã, o estudo do hadith é uma ciência complexa e atraente. Estudiosos graduam tradições individuais de acordo com designações como "sólido", "bom", "fraco", "forjado" e muitas outras. Se uma tradição aparece em Bukhari ou Muslim, os estudiosos muçulmanos atribuem-lhe uma grande presunção de confiabilidade, e se aparece em ambas, a sua autenticidade é virtualmente assegurada - pelo menos sob uma perspectiva muçulmana tradicional. E essa não é apenas a visão dos estudiosos muçulmanos, mas dos muçulmanos comuns: Bukhari e Muslim são considerados fontes proeminentes. Um recurso islâmico da internet, enquanto assegura aos leitores que "nada neste site viola os princípios fixos da lei islâmica", resume a opinião prevalecente dos muçulmanos de forma sucinta: "Sahih Bukhari é distinto com sua forte confiabilidade [sic]"; sobre Sahih Muslim, acrescenta: "Dos 300.000 Hadiths que foram avaliados pelos muçulmanos, apenas 4.000 aproximadamente - divididos em quarenta e dois livros - foram selecionados para inclusão em sua coleção com base em critérios rigorosos de aceitação."[9]

Bukhari e Muslim, e em menor grau as outras coleções de Sahih Sittah, permanecem o padrão de ouro para os ahadith. O tradutor inglês de Sahih Muslim, Abdul Hamid Siddiqi, explica que os hadiths "que são reconhecidos como absolutamente autênticos estão incluídos nestas duas excelentes compilações", e que "mesmo desses dois, Bukhari ocupa uma posição mais proeminente em comparação com a de Muslim."[10]

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Fonte:

 

SPENCER, Robert. The Truth about Muhammad: Founder of the World’s Most Intolerant Religion. Washington, DC: Regnery Publishing, 2006, pp. 24-27

 

Tradução Walson Sales

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Notas:

 

[6] Bukhari, vol. 4, book 56, no. 2832.

[7] Von Denffer, 18-19.

[8] O plural árabe da palavra hadith é ahadith, e isso é encontrado em grande parte da literatura muçulmana de língua inglesa. No entanto, para evitar confundir os leitores de língua inglesa, usei a forma plural em inglês.

[9] "Hadith & Sunnah," www.islamonline.net.

[10] Abdul Hamid Siddiqi, Introduction to Imam Muslim, Sahih Muslim, translated by Abdul Hamid Siddiqi, KitabBhavan, revised edition 2000, v.

 

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Indicações de artigos para leitura adicional:

·         leia este importante artigo sobre o papel dessas tradições no islamismo chamadas de Hadith:

http://www.cacp.org.br/muculmanos-e-o-hadith/

 

·         Leia o curso sobre o Islã Político do Professor Bill Warner (a partir deste link abaixo você achará toda a série:

http://www.cacp.org.br/o-isla-politico-licao-1/

 

Explore os sites:

https://www.bomdiacomteologia.com/

http://www.cacp.org.br/

 

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