Talvez
em reação à qualidade fragmentária da narrativa do Alcorão, os primeiros
Muçulmanos elaboraram duas fontes principais para fornecer contexto para o
Alcorão: tafsir (comentário sobre o
Alcorão) e hadith, tradições do
Profeta Muhammad. E uma quantidade significativa (embora não todos) do hadith é
em si tafsir. Isso gera o asbab an-nazool,
ou circunstâncias de revelação (como acabamos de ver para a sura 66: 1-5), para
vários versos do Alcorão - que podem ter implicações importantes para a forma
como o versículo deve ser aplicado na era moderna. Um hadith, por exemplo,
relata a ocasião em que Muhammad estava recitando um verso do Alcorão que
repreende os muçulmanos que não participam da jihad: "Aqueles dos crentes
que ficam parados ... não estão em igualdade com aqueles que lutam no caminho
de Allah com suas riquezas e vidas. Allah conferiu àqueles que lutam com suas
riquezas e vidas uma posição acima dos sedentários. A cada um deles Allah
prometeu o bem, mas concedeu àqueles que lutam uma grande recompensa acima dos
sedentários" (4:95).
Nesse
ponto da recitação de Muhammad, um cego falou: "Ó Mensageiro de Allah! Se
eu pudesse, certamente participaria da Jihad." Em seguida, "Allah
enviou a revelação ao Seu Mensageiro" de outro segmento do versículo,
removendo o amigo cego do Profeta desta condenação: "exceto aqueles que
têm uma dor (incapacitante)."[6]
A
sunnah, ou modelo, do Profeta, que é
amplamente composta pelo Hadith, perde apenas para o Alcorão em autoridade para
a maioria dos muçulmanos e contém uma grande quantidade de informações sobre Muhammad.
É a partir da Sunnah que a maioria das leis que distinguem a sociedade islâmica
de outras sociedades foram elaboradas. A Sunnah é tão importante no pensamento
islâmico que, de acordo com o estudioso islâmico Ahmad Von Denffer, "há
acordo entre os estudiosos muçulmanos de que o conteúdo da sunna é [junto com o Alcorão] também de Allah. Portanto, eles o
descreveram como também sendo o resultado de alguma forma de
inspiração,"[7]
Sob
um ponto de vista de 1.400 anos depois, é virtualmente impossível dizer com
certeza o que é autêntico nesta massa de informações e o que não é. Os próprios
muçulmanos reconhecem que há uma gama muito grande de ahadith forjados (a forma plural de hadith), que foram escritos
para dar a sanção do Profeta às opiniões ou práticas de uma determinada parte
na comunidade muçulmana inicial. Isso torna quase insolúvel a questão do que o
Muhammad histórico realmente disse e fez. Mas isso não significa que o Hadith
não tenha relevância para os muçulmanos. Em reação a essa confusão causada pela
proliferação de ahadith forjados, relativamente cedo na história do Islã,
vários muçulmanos montaram coleções de relatos das palavras e atos do profeta,
que eles consideravam mais ou menos definitivos e autênticos.[8] No século IX,
vários estudiosos islâmicos percorreram o mundo muçulmano colecionando
tradições sobre Muhammad e depois tentando distinguir os verdadeiros dos
falsos. O imã Muhammad Ibn Ismail al-Bukhari (810-870), compilou a coleção de
hadith mais respeitada e autorizada (conhecida como Sahih Bukhari), que é dito ter reunido cerca de 300.000 ahadith.
Estes ele examinou cuidadosamente, tentando rastrear a ligação de cada hadith
através de uma cadeia discernível de transmissão (isnad) ao próprio profeta. Em última análise, ele escolheu, separou
e publicou cerca de dois mil ahadith como autênticos; as repetições acrescem os
números de ahadith em sua coleção para mais de sete mil.
Apenas
o Sahih Bukhari é formado de nove
volumes em uma edição de luxo em inglês-árabe publicado na Arábia Saudita. Além
de fornecer o contexto de grande número de versos do Alcorão, [sem os quais
esses versos não podem ser compreendidos – leia os artigos indicados abaixo],
essa coleção dá ao leitor insights sobre a vida privada de Muhammad, sua
sabedoria e exemplo em uma enorme variedade de tópicos, incluindo abluções,
características da oração e ações durante a oração, funerais, o imposto
obrigatório de caridade (zakat), a
peregrinação obrigatória a Meca (hajj),
jejum, boas maneiras, vendas e comércio, empréstimos, hipotecas, testamentos,
casamento, divórcio, leis de herança, jihad e a subjugação e punição dos
incrédulos, dinheiro de sangue, e muito mais - até mesmo interpretação de
sonhos.
Sahih Bukhari é
apenas uma das seis coleções, todas volumosas, que os muçulmanos geralmente
consideram confiáveis. Entre estas Sahih
Sittah, ou coleções confiáveis, existe outra que leva a designação sahih - que significa confiável, que é a
Sahih Muslim, que foi compilada por
Muslim ibn al-Hajjaj al-Qushayri (821-875). As outras coleções são consideradas
menos autoritativas depois de Bukhari e Muslim, mas ainda gozam de grande
respeito no mundo muçulmano: Sunan
Abu-Dawud compilada por Abu Dawud as-Sijistani (morto em 888); Sunan Ibn Majah, compilada por Muhammad
ibn Majah (morto em 896); Sunan
At-Tirmidhi, compilada por Abi 'Eesaa Muhammad At-Tirmidhi (824-893); e Sunan An-Nasai, compilada por Ahmad ibn
Shu'ayb an-Nasai (morto em 915).
Também
altamente consideradas, embora não numerado entre os Sahih Sittah, estão várias outras coleções, notavelmente uma
conhecida como Muwatta Imam Malik (ou
simplesmente Muwatta Malik). Malik
bin Anas bin Malik bin Abu Amir Al-Asbahi (715-801), ou Imam Malik, que viveu
mais próximo do tempo da vida de Muhammad de todos os colecionadores de ahadith
- e ele nasceu mais de oitenta anos após a morte do Profeta.
No
Islã, o estudo do hadith é uma ciência complexa e atraente. Estudiosos graduam
tradições individuais de acordo com designações como "sólido",
"bom", "fraco", "forjado" e muitas outras. Se uma
tradição aparece em Bukhari ou Muslim, os estudiosos muçulmanos atribuem-lhe
uma grande presunção de confiabilidade, e se aparece em ambas, a sua
autenticidade é virtualmente assegurada - pelo menos sob uma perspectiva
muçulmana tradicional. E essa não é apenas a visão dos estudiosos muçulmanos,
mas dos muçulmanos comuns: Bukhari e Muslim são considerados fontes
proeminentes. Um recurso islâmico da internet, enquanto assegura aos leitores
que "nada neste site viola os princípios fixos da lei islâmica",
resume a opinião prevalecente dos muçulmanos de forma sucinta: "Sahih
Bukhari é distinto com sua forte confiabilidade [sic]"; sobre Sahih Muslim, acrescenta: "Dos
300.000 Hadiths que foram avaliados pelos muçulmanos, apenas 4.000
aproximadamente - divididos em quarenta e dois livros - foram selecionados para
inclusão em sua coleção com base em critérios rigorosos de aceitação."[9]
Bukhari
e Muslim, e em menor grau as outras coleções de Sahih Sittah, permanecem o padrão de ouro para os ahadith. O
tradutor inglês de Sahih Muslim, Abdul Hamid Siddiqi, explica que os hadiths
"que são reconhecidos como absolutamente autênticos estão incluídos nestas
duas excelentes compilações", e que "mesmo desses dois, Bukhari ocupa
uma posição mais proeminente em comparação com a de Muslim."[10]
_________________________
Fonte:
SPENCER, Robert. The
Truth about Muhammad: Founder of the World’s Most Intolerant Religion. Washington,
DC: Regnery Publishing, 2006, pp. 24-27
Tradução Walson Sales
_________________________
Notas:
[6] Bukhari,
vol. 4, book 56, no. 2832.
[7] Von Denffer, 18-19.
[8] O
plural árabe da palavra hadith é ahadith, e isso é encontrado em grande
parte da literatura muçulmana de língua inglesa. No entanto, para evitar
confundir os leitores de língua inglesa, usei a forma plural em inglês.
[9] "Hadith & Sunnah,"
www.islamonline.net.
[10] Abdul Hamid Siddiqi, Introduction to Imam Muslim,
Sahih Muslim, translated by Abdul
Hamid Siddiqi, KitabBhavan, revised edition 2000, v.
_________________________
Indicações de artigos para leitura
adicional:
·
leia este importante artigo sobre o papel
dessas tradições no islamismo chamadas de Hadith:
http://www.cacp.org.br/muculmanos-e-o-hadith/
·
Leia o curso sobre o Islã Político do
Professor Bill Warner (a partir deste link abaixo você achará toda a série:
http://www.cacp.org.br/o-isla-politico-licao-1/
Explore
os sites:
https://www.bomdiacomteologia.com/
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