Por Ebenezer José de
Oliveira
ÍNDICE
1- O TEMA DE ROMANOS 9 NÃO
É ELEIÇÃO E REPROVAÇÃO GERAL, MAS DE ISRAEL
2- O ÁPICE DA PROBLEMÁTICA
DO CAPÍTULO 9, 10 E 11 GIRA
3- O OBJETIVO EM ROMANOS 9
NÃO É DEFENDER O ENSINO DA DUPLA PREDESTINAÇÃO INCONDICIONAL, MAS SALIENTAR A
AUTORIDADE DIVINA NA ESCOLHA SALVÍFICA POR CRITÉRIOS SOBERANOS, E NÃO
JUDAIZANTES
4- A ILUSTRAÇÃO DE JACÓ E
ESAÚ NÃO VEM ADVOGAR A ELEIÇÃO E REJEIÇÃO INCONDICIONAL, MAS ENSINA QUE AS
PROMESSAS ESTÃO FIDELIZADAS NO PACTO DIVINO, NÃO SUBORDINAM-SE AOS CRITÉRIOS
DOS JUDAIZANTES
5- A ILUSTRAÇÃO DE FARAÓ
NÃO VEM ADVOGAR COERÇÃO DIVINA PARA A PRÁTICA DE PECADO, MAS SALIENTA A
SOBERANIA DE USAR QUEM QUISER, IMPLICITANDO O DIREITO MORAL DIVINO DE PERMITIR
O PECADO E PODER REDUNDÁ-LO
6- A ILUSTRAÇÃO DOS VASOS
NÃO ADVOGA QUE DEUS CRIA SERES MORAIS OBJETIVAMENTE ESTRUTURADOS E PROGRAMADOS
PARA SEREM INCRÉDULOS, MAS ILUSTRA QUE FOI DEUS QUEM FORMOU A NAÇÃO DE ISRAEL,
PORÉM PERMITIU QUE JUDEUS PUDESSEM DESONRAR O PACTO PREESTABELECIDO
INTRODUÇÃO
Como a Bíblia
não é um livro de cunho científico e sistemático, porque foi escrita com
objetivo final de alcançar o povão, por isso não é tão simples interpretar
exatamente de acordo com que cada autor quis transmitir, como muitos imaginam.
Quem escreveu o livro de Romanos foi o Apóstolo Paulo, e este escritor sacro
tem um estilo escriturário de difícil compreensão para aqueles que não conhecem
as causas que levaram escrever cada tópico e os propósitos que pretendia
alcançar; e quando não se faz a análise do discurso e a correta aplicação das
regras hermenêuticas ocasiona erros teológicos e heresias. Como o Apóstolo
Pedro bem advertiu: “e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também
o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada;
como faz também em todas as suas epístolas, nelas falando acerca destas coisas,
nas quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes
torcem, como o fazem também com as outras Escrituras, para sua própria
perdição”
(2Pe 3.15, 16).
A regra máster
da hermenêutica é: “a Bíblia explica a Bíblia”, isto significando que os textos
da Bíblia não podem ser interpretados isolados do contexto do restante da
Bíblia. Há um provérbio teológico que diz que “texto sem contexto é pretexto
para heresias”. Romanos 9 não é uma perícope independente, ela está diretamente
atrelada aos capítulos 10 e 11. O tema paulino para os capítulos 9, 10 e 11 é
“a eleição e a reprovação dos israelitas”.
O ponto
distintivo e esclarecedor é que a eleição dos israelitas, a princípio, não
objetivava terminantemente a salvação eterna deles, mas era uma eleição e
predestinação específica para obra; até porque a Bíblia afirma, tanto quanto
Paulo, que os israelitas que não se converteram serão condenados juntamente com
os demais incrédulos (Rm 3.20, 28; Mt 11.20-24; Gl 2.15, 16). Deus havia
elegido Israel para a tríplice missão: demonstrar o poder de Deus ao mundo,
revelar a palavra de Deus ao mundo e revelar o Messias ao mundo.
O foco da
argumentação de Paulo, nestes capítulos supracitados, não está direcionado a
salvação ou condenação eterna de toda humanidade, mas para alguns critérios do
pacto da eleição e rejeição das pessoas dos israelitas segundo a aliança
abraâmica. A dúvida que queria aloja-se em alguns da igreja em Roma que o
apóstolo tentava solucionar neste capítulo era: como Deus pode rejeitar
israelitas que não aceitaram a Jesus Cristo sem quebrar as promessas que Ele
fez aos patriarcas e à nação de Israel? Observem que os romanos imaginavam que
o pacto abraâmico automaticamente predestinava, de tabela por direito
incondicional, os israelitas para salvação. Dessa forma não precisariam nem
crer em Jesus para serem salvos. Então Paulo, no cap. 9, declara através do VT
por exemplos históricos que, a princípio, Deus é soberano para escolher e usar
quem Ele quiser, tem liberdade pra se agradar de quem Ele quiser e tem direito de rejeitar o judeu que Ele
quiser sem, no entanto, quebrar as promessas feitas. No cap. 10 Paulo revela
qual critério desclassifica os israelitas da promessa da salvação, é que os
judeus é quem quebraram o pacto pela incredulidade. No cap. 11 o apóstolo declara
que Deus por misericórdia irá restaurar novamente a nação israelita no futuro.
A ortodoxia
tem a finalidade de mostrar as mais evidentes e essenciais doutrinas da Bíblia,
como a Trindade, a perfeição dos atributos morais divinos, a imutabilidade
divina, a divindade de Cristo, a redenção pela encarnação, morte e ressurreição
de Jesus, a salvação pela graça por meio da fé em Cristo e etc., para que o
crente tenha critérios firmes para analisar as interpretações, as teses e as
teorias, se são mesmos bíblicas e ortodoxas, ou não. É a aceitação às doutrinas
mais essenciais da Bíblia que caracteriza uma teoria teológica como ortodoxa;
como também é a quebra das doutrinas
mais essenciais da Bíblia que caracteriza uma teoria ou tese teológica
como liberal. Portanto, toda teoria que interprete o capítulo 9 de Romanos como
afirmando que Deus deseja que o reprovado peque, que Deus concorre moralmente
com a prática de cada pecado, que Deus só conhece cada ato de pecado
previamente porque preordenou esses atos, que Deus por Sua vontade objetiva e
imediata causa cada pecado, que predestinou alguns homens para perdição, não pelas obras deles, mas
pelo Seu absolutismo (predestinação incondicional), todas estas são de cunho
liberal, pois quebram, necessariamente, a imutabilidade e perfeição do caráter
e atributos morais de Deus. Todas estas teses são infâmias e blasfêmias contra
o perfeito Criador de todas as coisas. Elas podem ser consideradas até
conservadoras se conservam o ensino de algum teólogo do passado, porém não
podem ser consideradas ortodoxas, porque quebram pilares da ortodoxia; por isso
devem ser consideradas anátemas!
Se Paulo
estivesse querendo dizer no cap. 9 que é Deus quem incondicionalmente
predestina alguns homens para pecar, conclui-se inevitavelmente que Deus seria
um ser antinomista em si mesmo (porque ignora os princípios morais eternos),
Deus apenas teria amor, mas não seria o próprio amor (porque sentia satisfação
em fazer sofrer eternamente quem não podia evitar sua programação fatal), seria
maquiavélico porque dava a Lei para que obedecesse, mas usava de malícia para
que não pudesse obedecer, Deus seria injusto (porque condenaria com penas
eternas a quem Ele mesmo programou, inelutavelmente, para uma vida de
impiedade). Poderíamos dizer, pela análise desta teoria calvinista, que Deus
seria tão imperfeito moralmente quanto o homem.
INTERPRETAÇÃO DE ROMANOS 9 À LUZ DA ORTODOXIA
1- O TEMA DE ROMANOS 9 NÃO É ELEIÇÃO E REPROVAÇÃO GERAL, MAS DE
ISRAEL
Os capitulos
9, 10 e 11 estão atrelados a um só tema, Paulo fala sobre “a eleição e
reprovação da nação de Israel”. Agora, como é possível achar o tema principal
destes três capítulos? A resposta é verificando os assuntos de cada perícope
nesses capitulos. Os assuntos principais de cada perícope chamamos de
epígrafes. No entanto, devemos atentar para as epígrafes de cada capítulo, pois
harmonizando suas idéias podemos detectar o tema principal. Prefiro usar fontes
calvinistas de que minhas próprias ou de qualquer outro arminiano para que o
leitor, que tenha uma visão oposta, não possa rejeitar por puro preconceito;
por isso apresento as epígrafes de Romanos 9, 10 e 11 expostas na única Bíblia
de estudo calvinista: a Bíblia de Estudo de Genebra:
Bíblia de Estudo de Genebra
Rm 9.1-5 Paulo e a
incredulidade dos JUDEUS
Rm 9.6-
Rm 9.14-
Rm 9.19-
Rm 9.30-33 ISRAEL é
responsável pela sua rejeição
Rm 10.1-15 Os JUDEUS
rejeitam a justiça de Deus
Rm 10.16-21 ISRAEL não
pode alegar falta de oportunidade
Rm 11.1-10 O futuro de
ISRAEL
Rm 11.11-
Rm 11.25-32 O ultimo
desígnio de Deus é misericórdia para com todos
Rm 11.33-
Observa-se no
capítulo 9 o Apóstolo Paulo salientando a soberania do Criador para usar as
pessoas que Ele quiser, escolher e rejeitar quem Ele quiser. Percebe-se que das
onze epígrafes que a Bíblia de
Genebra sugestiona para os capítulos 9, 10 e 11, apenas três não apresentam o
nome ISRAEL ou JUDEUS, então se conclui necessariamente que a nação de Israel
ou a etnia judaica é o objeto de discussão dos capítulos 9, 10 e 11. Porém, não
é difícil descobrir que também estas três perícopes que as supracitadas
epígrafes sugestionam fazem igualmente referência à nação de Israel; a primeira
é Rm 9.19-29 que registra uma vez a palavra JUDEUS e duas vezes a palavra
ISRAEL. A segunda é Rm 11.25-32 que registra duas vezes a palavra ISRAEL, uma
vez a palavra SIÃO referindo-se a pátria israelita, uma vez a palavra JACÓ e
três a palavra ELES, uma a palavra DELES e uma ESTES, todas, nove ao total,
referindo-se aos israelitas. Já a terceira epígrafe que a Bíblia de Genebra não
expõe o nome Israel ou judeus é a de Rm 11.33-36, que sendo a conclusão dos
três capítulos nada mais é que uma exclamação diante da sabedoria e justiça de
Deus quanto à eleição e rejeição de judeus
e a inclusão de alguns gentios pelo ministério da graça.
A abundancia de
referências à nação e ao povo judeu nas
perícopes de Romanos 9, 10 e 11 e confirmadas nas epígrafes da Bíblia de
Genebra, torna inquestionável que a eleição e reprovação de Israel aduzidos
desses capítulos é o tema principal deles. Quanto ao capítulo 9 nem mesmo
Calvino pôde negar que seu tema estava intrinsecamente ligado à reprovação dos
judeus, ou mesmo, a rejeição de uma parte da nação de Israel. Vejamos o que
Calvino comentou:
“1. Digo a verdade em Cristo – uma vez
suposto pela maioria que Paulo se declarara inimigo de sua própria nação, de
maneira que de alguma forma se fizera suspeito – até mesmo para os próprios
domésticos da fé – de ensiná-los a apostatarem de Moisés, então ele prepara a
mente de seus leitores, à guisa de preâmbulo, antes de entrar na discussão do
seu tema proposto. Neste preâmbulo, ele se desvencilha da falsa suspeita de ser
hostil para com os judeus. Visto que o tema carecia de apoio de juramento...”.
“2. Que tenho grande tristeza. É
bastante habilidosa a interrupção que o apóstolo faz de seu discurso antes de
declarar o tema. Não era ainda oportuno mencionar abertamente a destruição da
nação judaica.” (João Calvino, Romanos. Edições Paracletos, p. 322, 323).
O tema
proposto por Paulo, tão melindroso de Paulo falar pros judeus, no comentário de
Calvino era “a destruição da nação judaica”. Portanto, a análise desse discurso
de Paulo no capítulo 9 de Romanos, baseando-se nas fontes calvinistas,
epígrafes da Bíblia de Genebra e comentário de Calvino, infere,
necessariamente, que o tema principal desse capítulo fala da rejeição de uma
parte da nação de Israel, ou da reprovação de alguns judeus na carne, e não da
humanidade ou dos homens
2- O ÁPICE DA PROBLEMÁTICA DO CAPÍTULO 9, 10 E 11 GIRA
O versiculo “
a) Quem era o
objeto da preocupação de Paulo no texto, os rejeitados gerais ou somente os
judeus? A resposta se encontra na introdução, nos versículos 2, 3: “que tenho grande tristeza
e incessante dor no meu coração. Porque eu mesmo desejaria ser separado de
Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne”.
b) Versículo
3: “Porque eu
mesmo desejaria ser separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus
compatriotas segundo a carne”. Podemos observar que nos primeiros versículos deste capítulo
Paulo tenta externar a sua tristeza por causa da incredulidade de Israel. Aqui
no versículo 3 o apóstolo declara com firmeza que está se referindo ao Israel
“segundo” (gr. katà) “a carne” (gr. sárka) e não ao Israel espiritual.
c) Versículos
4 e 5: “os
quais são israelitas, de quem é a adoção, e a glória, e os pactos, e a entrega
da lei, e o culto, e as promessas; de quem são os patriarcas; e de quem
descende o Cristo segundo a carne, o qual é sobre todas as coisas, Deus bendito
eternamente. Amém”. Três fortes evidências que o apóstolo se referia ao Israel etnia
podem ser apresentadas daqui: primeiramente, a frase “os quais são israelitas”
está gramaticalmente e contextualmente ligada à última frase do versículo
anterior: “que são meus parentes segundo a carne (sárka)”.
Segundo, os
termos: “a entrega da lei” e “de quem são os patriarcas”, jamais podem ser
empregada para o Israel espiritual, porque a legislação (nomothesia) foi entregue à nação de Israel, e não para os crentes
gentios; terceiro, a oração: “e de quem descende o Cristo segundo a carne” declara
explicitamente que Paulo se refere aos judeus, visto que Jesus não descende dos
gentios, mas da sárka judaica. Mesmo a calvinista Bíblia de Genebra concorda em
seu comentário que esse texto fala de judeus na carne: “9:1-5 - O apóstolo agora
explica a rejeição da maioria de seus compatriotas judeus ao evangelho” (Bíblia de Estudo de
Genebra. P. 1332).
d) Qual foi a
palavra que Deus disse que o texto (Rm 9.6) defende que não falhou? O contexto
aproximado mostra que foi uma promessa divina: “os quais são israelitas, de quem é ... as
promessas”
(Rm 9.4), “...
mas os filhos da promessa são contados como descendência” (Rm 9.8). Se referia a
promessa de salvação à nação judaica, que os judaizantes imaginavam que era
incondicional e fatalística para todos os descendentes de Abraão, coisa que
Paulo estava refutando. Entretanto, o versículo 6 se apresenta como versículo
chave para discernimento da problemática desse discurso de Paulo.
e) Pra quem
era, originalmente, a promessa referida no texto, pra todos os fiéis da terra
ou somente pra os fiéis judeus? A resposta está nos versículos 3, 4 que diz: “... que são meus parentes
segundo a carne; os quais são israelitas, de quem é ... as promessas”.
f) Paulo
escreveu o cap. 10 com o objetivo de explicar a introdução e uma parte do
desenvolvimento do cap. 9. Sua epígrafe pode ser: “os judeus rejeitam a justiça
de Deus”, pois explica que os atos da soberania divina estavam atrelados à
genuína justiça, e não à tirania. O primeiro versículo retrata bem a introdução
e revela que o assunto da salvação do cap. 9 se referia aos judeus: “Irmãos, o bom desejo do
meu coração e a minha súplica a Deus por Israel é para sua salvação” (Rm 10.1).
g) O cap. 11
complementa a explicação do conteúdo do cap
No primeiro
versículo Paulo diz: “Pergunto, pois: Acaso rejeitou Deus ao seu povo? De modo nenhum;
por que eu também sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de
Benjamim” (Rm
11.1). Este esclarece que quando Paulo discorria no cap. 9 sobre a rejeição pra
salvação estava se preocupando em trazer uma explicação para aos judeus, e
mesmo que na conclusão mostrou a inclusão dos gentios, porém seu objetivo era o
assunto da eleição e reprovação da etnia de Israel, e não da humanidade.
É perceptível
que o texto chave que inicia o tema do discurso paulino dos capítulos 9, 10 e
11 seja: “Não
que a palavra de Deus haja falhado. Porque nem todos os que são de Israel são
israelitas”
(Rm 9:6), somando com seu tema já
indentificado: “A eleição e a reprovação de Israel”, acertadamente deduzido das
epígrafes da Bíblia de Genebra, podemos concluir que a problemática que Paulo
tenta solucionar no texto em comento consiste em: “Se as promessas que Deus fez
aos patriarcas e à nação de Israel parecem indicar uma predestinação
incondicional para todo israelita, então como Deus poderia condenar qualquer um
desses que rejeitarem a Jesus Cristo, sem quebrar essas promessas?”. Em
síntese, os argumentos de Paulo em Romanos 9, 10 e 11 giram em torno da etnia e
dos indivíduos israelitas na carne, explicando que Deus não é obrigado a salvar
todos, a Sua soberania e o fundamentos das Suas promessas Lhe dão o direito a
eleger condicionalmente só
3- O OBJETIVO DE PAULO NÃO É DEFENDER O ENSINO DA DUPLA
PREDESTINAÇÃO INCONDICIONAL, MAS SALIENTAR A AUTORIDADE DIVINA NA ESCOLHA POR
CRITÉRIOS SOBERANOS, E NÃO JUDAIZANTES
A começar pela
análise bibliográfica do livro de Romanos vemos que seu propósito não coaduna
com o ensino da predestinação fatalista incondicional; Paulo escreve a carta
com o objetivo principal de esclarecer e provar aos judeus em Roma que não
adiantava apenas ser descendente de Abraão, Isaque e Jacó para conseguir a
salvação eterna; assim, era necessário ser “justificado pela fé
Primeiro. Após
Paulo salientar a soberania divina ele esmera-se a defender que “ISRAEL é
responsável pela sua rejeição”, esta é a epígrafe da Bíblia de Genebra para Rm
9.30-33. Daí, infere-se necessariamente que essa soberania divina não é
tirania, ela baseia-se na justa justiça; se Israel é responsável pela sua
rejeição, então a predestinação não é incondicional, é condicionada pelo conhecimento
da sua rejeição a Cristo.
Segundo. Os
capítulos 9, 10 e 11, que estão atrelados entre si, fixam como objeto principal
de discussão a nação e o povo israelita, e não a humanidade. O apóstolo já
inicia em Romanos 9.1-5 tentando inculcar nos judeus que ele cria que Deus
havia elegido a nação de Israel e se condoia pela sua reprovação. O capítulo 11
de Romanos, que fecha toda essa perícope, revela que Paulo discorria sobre o
pacto coletivo, quando fala de uma restauração futura de Israel, no plano escatológico
(pela prensa da grande tribulação). Pois bem, a nação foi escolhida
primordialmente para obra: servir de palco para a revelação do poder de Deus,
da Palavra e a revelação de Cristo ao mundo. Para obra a escolha era
incondicional e absolutista, porém para salvação a Bíblia já havia apresentado
para os judeus que é condicional e individual: “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não
levará a iniquidade do pai, nem o pai levará a iniquidade do filho; a justiça
do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele” (Ez 18.20).
Terceiro. A
tese em Rm 9.30-33 que “ISRAEL é responsável pela sua rejeição” não é um texto
sem contexto, pois todo capítulo 10 de Romanos vem consubstanciá-lo; em Rm
10.1-15 Paulo declara que “os JUDEUS rejeitam a justiça de Deus”, e para não
sobrar dúvidas que a soberania divina não é tirania, o apostolo ressalta em Rm
10.16-21 que “ISRAEL não pode alegar falta de oportunidade”. Essas conclusões
textuais na Bíblia (calvinista) de Genebra inferem necessariamente duas coisas
contrárias a ela: que se os israelitas não podem alegar falta de oportunidade é
porque tinham livre-arbítrio real de escolherem a Cristo; e que a eleição e a
reprovação divina individual não se baseiam em tirania, mas no amor e justiça
onisciente divino: “Mas contra Israel diz: todo dia estendi as mãos a um povo rebelde
e contradizente” (Rm 10.21). Paulo não se contradiz, e nem a Bíblia pode se
contradizer, pois Deus não poderia estender uma mão de salvação pra todos pegar
(cap. 10), e ao mesmo tempo, afastar as pessoas com a outra para que não
pudessem alcançar a mão da salvação (cap. 9). Essa interpretação é um tremendo
absurdo! Faz de Deus bondoso e maligno ao mesmo tempo!
Quarto. O
apóstolo inicia transparecendo que a problemática que discutirá seria que a
promessa para os judeus não falhou, e que nem todos os que são de Israel são
israelitas. A Bíblia de Estudo de Genebra comentando Romanos 9.6, a chave da
problemática do discurso de Paulo em Romanos 9, diz: “A promessa e o plano de
Deus de que seria o Deus da descendência de Abraão (Gn 17.7-8) estão aqui
4- A ILUSTRAÇÃO DE JACÓ E ESAÚ NÃO VEM ADVOGAR A ELEIÇÃO E
REJEIÇÃO INCONDICIONAL, MAS ENSINA QUE AS PROMESSAS ESTÃO FIDELIZADAS NO PACTO,
NÃO PODEM SUBORDINAR-SE AOS CRITÉRIOS DOS JUDAIZANTES
Versículos
9-14: Paulo postou aqui sem pretensão primária de figurar Esaú e Jacó como
representando todos os réprobos e todos os eleitos; não há problema se o
sentido for pessoal, porque as evidências corroboram que a eleição da
descendência abraâmica objetivava prioritariamente obra, assim a de Jacó não
era diferente disso. Porque a sentença é bem pessoal para os dois: cita a avó
Sara, a mãe Rebeca e o pai Isaque. Porém, aqui não é cabível a interpretação
universal espiritualizada, pois será que todos os rejeitados gentios também são
descendentes de Abraão? Não tem lógica. Como também, Deus nunca disse a Abraão
“Eu te escolhi só pra ti salvar”, ao contrário Ele disse-lhe: “de ti farei uma grande
nação”, “... e em ti serão
benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.2a, 3b). E sobre Jacó e Esaú Deus disse: “duas nações há no teu
ventre, e dois povos se dividirão das tuas entranhas: um povo será mais forte
do que o outro povo, e o maior servirá o menor” (Gn 25.22), o que tem a ver aqui ser
patriarca de um povo com ser eternamente salvo? E o que foi que Deus disse a
Jacó, será que disse que ele era um predestinado para salvação? vejamos: “por cima dela estava o
Senhor, que disse: Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão teu pai, e o Deus de
Isaque; esta terra em que estás deitado, eu a darei a ti e à tua descendência;
e a tua descendência será como o pó da terra; dilatar-te-ás para o ocidente,
para o oriente, para o norte e para o sul; por meio de ti e da tua descendência
serão benditas todas as famílias da terra. Eis que estou contigo, e te
guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; pois não te
deixarei até que haja cumprido aquilo de que te tenho falado” (Gn 28.13, 14).
É mais que
evidente que a eleição de Jacó foi apenas uma extensão do propósito de Deus de
fazê-lo, do mesmo jeito que fez a Abraão e Isaque, um patriarca de uma nação
escolhida para obra. Por isso Deus disse: “... não te deixarei até que haja cumprido aquilo de que te tenho
falado”. Deus
havia elegido Israel para a tríplice missão: demonstrar o poder de Deus ao
mundo, revelar sua palavra ao mundo e revelar o Messias ao mundo. Portanto,
interpretar que a escolha de Jacó foi exatamente para predestinação para
salvação incondicional é um assassinato da hermenêutica e ignorância bíblica!
Se o cap. 9 de
Romanos objetiva tratar universalmente dos rejeitados e dos eleitos, então
quando ele fala de Jacó e Esaú estaria tratando de todos os eleitos e de todos
os rejeitados universalmente pra salvação. Então vamos analizar o texto:
V. 11: “pois não tendo os gêmeos
ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal (para que o propósito de Deus
segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele
que chama)”.
Primeiramente, todo mundo sabe que a escolha de Abraão, Isaque e Jacó
objetivava a formação do povo eleito, e não objetivava primariamente a salvação
deles. Veja: “Eu
farei de ti uma grande nação; abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome; e tu,
sê uma bênção. Abençoarei aos que te abençoarem, e amaldiçoarei àquele que te
amaldiçoar; e em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.2, 3); “por cima dela estava o
Senhor, que disse: Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão teu pai, e o Deus de
Isaque; esta terra em que estás deitado, eu a darei a ti e à tua descendência;
e a tua descendência será como o pó da terra; dilatar-te-ás para o ocidente,
para o oriente, para o norte e para o sul; por meio de ti e da tua descendência
serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 28.13, 14). A Bíblia não declara em canto nenhum que escolheu
Jacó especialmente para ser salvo, mas formar um povo para ser luz para os
gentios (Is 49.6).
V. 12: “foi-lhe dito: O maior
servirá o menor”. Se o texto tivesse falando em eleição e rejeição pessoal, esse
texto que Paulo se refere estaria tratando de indivíduos. Vamos então ao texto
no VT.: “Respondeu-lhe
o Senhor: Duas nações há no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas
estranhas, e um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao
menor” (Gn
25.23). Essa profecia jamais se cumpriu entre as pessoas de Esaú e Jacó, pois
Esaú herdou todos os bens de Isaque, e jamais precisou serviu a Jacó, porém
foram os descendentes de Esaú que serviram ao povo de Israel (2Sm 8.14).
V. 13: “Como está escrito: Amei a
Jacó, e aborreci a Esaú”. Será que essa revelação foi dita referindo-se às pessoas de Jacó
e Esaú? O único texto do VT que fala isso é Ml 1.1-4: “A palavra do Senhor a
Israel, por intermédio de Malaquias. Eu vos tenho amado, diz o Senhor. Mas vós
dizeis: Em que nos tens amado? Acaso não era Esaú irmão de Jacó? diz o Senhor;
‘todavia amei a Jacó, e aborreci a Esaú’; e fiz dos seus montes uma desolação,
e dei a sua herança aos chacais do deserto. Ainda que Edom diga: Arruinados
estamos, porém tornaremos e edificaremos as ruínas; assim diz o Senhor dos
exércitos: Eles edificarão, eu, porém, demolirei; e lhes chamarão: Termo de
impiedade, e povo contra quem o Senhor está irado para sempre”. Nesse tempo de
Malaquias, já não existiam Jacó e Esaú há muitos anos, portanto, está mais que
claro que a interpretação que Jacó e Esaú em Romanos 9 ensina eleição e
rejeição incondicional é forçosa e anti-bíblica, pois essa declaração quer
dizer que Deus amou ao povo de Israel e aborreceu o povo de Edom.
O ponto
distintivo e esclarecedor é que a eleição de Jacó e a rejeição de Esaú, como
era para a missão de formar uma nação escolhida, Deus havia escolhido os
descendentes de Jacó e rejeitado os descendentes de Esaú para obra: “e aborreci a Esaú; e fiz
dos seus montes uma desolação, e dei a sua herança aos chacais do deserto” (Ml 1.3). Esaú já havia
morrido nesse contexto, há muitos anos, então isso é uma declaração que Deus
desolou os montes dos descendentes de Esaú. Então, quando Paulo diz que Deus
aborreceu Esaú antes de o haver nascido, fala da sua rejeição e da sua
descendência para obra e não pra salvação! Veja como a Bíblia fala de Esaú
referindo-se à sua descendência: “não contendais com eles, porque não vos darei da sua terra nem
sequer o que pisar a planta de um pé; porquanto a Esaú dei o monte Seir por
herança” (Dt
2.5). “E a
casa de Jacó será um fogo, e a casa de José uma chama, e a casa de Esaú
restolho; aqueles se acenderão contra estes, e os consumirão; e ninguém mais
restará da casa de Esaú; porque o Senhor o disse” (Ob 1.18). “Mas eu desnudei a Esaú, descobri os seus
esconderijos, de modo que ele não se poderá esconder. E despojada a sua
descendência, como também seus irmãos e seus vizinhos, e ele já não existe” (Jr 49.10). Portanto,
Esaú foi rejeitado incondicionalmente para obra, e não para salvação (Hb 12.16,
17); é iníquo afirmar que Deus predestina incondicionalmente para perdição!
Como, também,
quando Paulo usa a expressão
5- A ILUSTRAÇÃO DE FARAÓ NÃO VEM ADVOGAR COERÇÃO DIVINA PARA A
PRÁTICA DE PECADO, MAS SALIENTA A SOBERANIA DE USAR QUEM QUISER, IMPLICITANDO O
DIREITO MORAL DIVINO DE PERMITIR O PECADO E PODER FAZER DELE UMA OBRA PARA O
BEM.
A frase em Rm
9.18 “endurece
a quem quer”
jamais poderia advogar que Deus, com poder coercitivo, faz o homem pecar ou impede que este procure amá-lo. A
Bíblia não afirma só a soberania divina, mas também a perfeição do caráter
moral divino. O endurecer de Deus é nada mais que Sua resposta ao coração
impenitente, Deus libera-o totalmente
para o pecado (Rm 1.18-28). Então, quando o homem segue voluntariamente
sua carne, torna-se mais bronco para com Deus. Godet apropriadamente escreveu: “O que não deve ser
esquecido, e o que aparece claramente, de toda a narrativa em Êxodo, é que o
endurecimento de Faraó, foi inicialmente um ato seu. Cinco vezes é dito dele
que ele mesmo endureceu, ou tornou pesado seu coração (Êx 7.13; 7.22; 8.15;
8.32; 9.7), antes da vez quando é finalmente dito que Deus o endureceu (Êx
9.12), e mesmo depois disso é dito que ele endureceu a si mesmo (Êx 9.34).
Assim ele inicialmente fechou seu próprio coração aos apelos de Deus; ficou
mais firme pela resistência obstinada sob os julgamentos de Deus, até que
finalmente Deus, como punição por sua rejeição obstinada do direito, entregou-o
à sua louca insensatez e afastou seu julgamento”. Essas verdades provam que esse endurecimento
nada mais é do que a “Lei divina das Causas e Efeitos” em plena evidência.
Perceba como a Bíblia afirma isso: “Não vos enganeis; Deus
não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7).
Deus já havia
visto, pela Sua onisciência do futuro, e dito a Moisés que o rei do Egito tinha
o coração obstinado e não deixaria os israelitas saírem, mas Ele faria o Faraó
liberar o povo pela força das pragas: “Eu sei, porém, que o rei do Egito não vos deixará ir, a não ser
por uma forte mão. Portanto estenderei a minha mão, e ferirei o Egito com todas
as minhas maravilhas que farei no meio dele. Depois vos deixará ir.” (Êx 3.19, 20). Podemos ver
na Bíblia, sem nenhuma agressão à hermenêutica, como o endurecer de Deus era
apenas uma força de expressão pela reação natural de Faraó diante de um
circunstancia contrária a seus intentos. Vejamos: “Disse o Senhor a Moisés:
Fala aos filhos de Israel que se voltem e se acampem diante de Pi-Hairote,
entre Migdol e o mar, diante de Baal-Zefom; em frente dele assentareis o
acampamento junto ao mar. Então Faraó dirá dos filhos de Israel: Eles estão
embaraçados na terra, o deserto os encerrou.
Eu endurecerei o coração de Faraó, e ele os perseguirá; glorificar-me-ei
em Faraó, e em todo o seu exército; e saberão os egípcios que eu sou o Senhor.
E eles fizeram assim. Quando, pois, foi anunciado ao rei do Egito que o povo
havia fugido, mudou-se o coração de Faraó, e dos seus servos, contra o povo, e
disseram: Que é isso que fizemos, permitindo que Israel saísse e deixasse de
nos servir?” (Êx
14.1-5). Não há qualquer quebra de livre-arbítrio nesse texto. O que há é uma
reação naturalíssima de Faraó diante de uma oportunidade de realizar seu
intento, continuar usando o povo como escravo, pois esse trabalho saía muito
barato para o Egito!
A justiça
divina libera para tornar-se mais incrédulo e mais pecador todo aquele que,
voluntariamente conhecendo a verdade, se faz impenitente. Era isso que o
Apóstolo implicitou quando fez referencia a Faraó, pois salientava a soberania
divina para permitir que alguns judeus se perdessem. Veja o que Paulo diz: “Mas pergunto: Porventura
não ouviram? Sim, por certo: Por toda a terra saiu a voz deles, e as suas
palavras até os confins do mundo”. “Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia
estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente” (Rm 10.18, 21). E como os
judeus eram rebeldes e contradizentes o oleiro permitiu, em Seu governo
universal, que a Lei da semeadura entrasse em efeito: “E Davi diz: Torne-se-lhes
a sua mesa em laço, e em armadilha, e em tropeço, por justa retribuição” (Rm 11.9).
Deus, por
desejar ser amado por amor livre e voluntário, e não com amor coagido pelo
poder da Sua soberania, precisou dar livre arbítrio ao homem. Mas, como o livre
arbítrio humano não é soberania, então Deus aplicou a essa liberdade moral à
Lei das causas e efeitos, que sentencia: “O que semear a perversidade segará males...” (Pv 22.8; veja também Is
40.24); mas, também para o bem: “Semeai para vós em justiça, colhei segundo a misericórdia; lavrai
o campo alqueivado; porque é tempo de buscar ao Senhor, até que venha e chova a
justiça sobre vós” (Os 10.12). Portanto, em questão de interpretação bíblica, até o
próprio Calvinista Charles Hodge concorda que não deve haver contradição na
Bíblia: “Se as
Escrituras são o que alegam ser, a palavra de Deus, são a obra de uma só mente,
a mente divina. À luz desse fato, segue-se que a Escritura não pode contradizer
a Escritura. Deus não pode em um lugar ensinar algo que seja inconsistente com
o que Ele ensina em outro lugar. Por conseqüência, a Escritura deve explicar a
Escritura. Se uma passagem admite diferentes interpretações, a única que pode
ser verdadeira é aquela que concorda com que a Bíblia ensina em outros lugares
sobre o mesmo tema” (Teol. Sist. C. Hodge. P. 140). Então como é que Deus endureceria
o coração de alguém só para que não pudesse ser salvo? Isso contradiz as
Escrituras no que diz respeito à lei da semeadura e do Seu amor universal: “Tenho eu algum prazer na
morte do ímpio? diz o Senhor Deus. Não desejo antes que se converta dos seus
caminhos, e viva?” (Ez 18.23). Deus é soberano, mas também é santo e justo, não faz
ninguém pecar!
|
HIPERCALVINISMO |
CALVINISMO-MODERADO |
ARMINIANISMO |
QUANTO À JUSTIFICATIVA |
Deus faz o homem pecar,
porque é absolutista (preordenação) |
Deus fataliza cada
pecado, porque é absolutista (preordenação) |
Deus permite o pecado,
porque deseja ser amado livremente (conhecimento prévio) |
QUANTO AO SENTIMENTO
DIVINO |
Deus deseja, decreta e
opera o pecado, porque não é oposto a Ele |
Deus deseja que o pecado
aconteça, mas odeia o pecado |
Deus não deseja que o
pecado aconteça e odeia-o |
QUANTO À CONCORRÊNCIA
DIVINA |
O pecado acontece por
ação objetiva de Deus em causas primárias irresistíveis (criando uma necessidade
de pecar) (Concorrência Moral Imediata) |
O pecado acontece por
ação objetiva divina em causas secundárias irresistíveis (motivando para que
peque) (Concorrência Moral Mediata) |
O pecado acontece pelo
decreto divino universal do livre curso natural e livre-arbítrio
(Concorrência Física Mediata) |
6- A ILUSTRAÇÃO DOS VASOS NÃO ADVOGA QUE DEUS CRIA SERES MORAIS
OBJETIVAMENTE ESTRUTURADOS E PROGRAMADOS PARA PECAR, MAS INSINUA QUE FOI DEUS
QUEM FORMOU A NAÇÃO DE ISRAEL, PORÉM PERMITIU QUE JUDEUS PUDESSEM DESONRAR O
PACTO PRESTABELECIDO.
Quando Paulo
fala do direito do oleiro de fazer o barro do jeito que quiser, responde duas
questões da problemática judaica: a primeira é que o criador da nação de Israel
fez este povo permitindo que alguns pudessem quebrar o pacto divino; isso pode
ser explicado pela Lei do livre-arbítrio (Rm 10.21; At 7.51; Mt 23.37).
Segundo, Deus tem o direito de usar quem Ele quiser ou deixar de usar, sem dar
explicações a ninguém. Usou Israel do mesmo modo que usou faraó para um propósito.
Para obra a eleição é incondicional, para salvação a coisa muda, a condição é
abraçar a Cristo.
Na questão dos
vasos, é evidenciado pelo VT que o texto que Paulo usa fala sobre a promessa
divina para o povo judeu (coletividade), que assim que o objeto de barro recebe
a forma conferida pelo oleiro, assim também Deus iria moldar uma situação
política de salvação através da Pérsia (Is 45.9-16). Perceba outras referencias
acerca do assunto: “Os preciosos filhos de Sião, comparáveis a ouro puro, como são agora
reputados por vasos de barro, obra das mãos de oleiro!” (Lm 4.2). “Não poderei eu fazer de
vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? diz o Senhor. Eis que, como o barro
na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel” (Jr 18.6). Elas também se
referem ao povo israelita (nação), e não particularmente a indivíduos. Isso
indica a eleição para obra.
Agostinho
(354-430 dC) acertadamente disse: “O intérprete deve consultar o verdadeiro credo ortodoxo” (Henry Virkler,
Hermenéutica Avançada, p. 45). Os calvinistas só conseguem ver a soberania
divina como credo ortodoxo, e esquecem que a perfeição dos atributos morais
divino, quanto à Sua imutabilidade moral, também, são pilares da ortodoxia (Ml
3.6; Tg 1.17; 1Pe 1.15, 16). Dizer que Deus faz objetivamente seres morais
programados para pecar por pura vontade soberana é uma blasfêmia! A isso
Agostinho aconselha: “Com efeito, conceber de Deus a opinião mais excelente possível é o
começo mais autêntico da piedade. E ninguém terá de Deus um alto conceito, se
não crer que Ele é todo-poderoso e que não possui parte alguma de sua natureza
submissa a qualquer mudança” (O Livre-Arbítrio. Paulus. P. 29).
Não se pode
interpretar a Bíblia dando significados anti-bíblicos para os textos. Deus
jamais pode ser tão oposto ao pecado (Hb 1) e ao mesmo tempo fazer que alguém
peque. Agostinho dá a receita da hermenêutica ortodoxa: “Se o significado de um
texto é obscuro, nada na passagem pode constituir-se matéria de fé ortodoxa” (Agostinho, Henry
Virkler, Hermenéutica Avançada, p. 45). Portanto, toda interpretação que diz
que Deus, por pura vontade, preordena Suas criaturas para pecar, pode ser até conservadora se
conserva o ensino de algum teólogo, mas não pode ser ortodoxa, pois quebra
pilares da ortodoxia: a perfeição dos atributos morais divinos e Sua
imutabilidade.
HIPERCALVINISMO |
CALVINISMO-MODERADO |
ARMINIANISMO |
Deus programou
fatalisticamente cada pecado no coração dos homens, antes da queda.
(Determinismo - supralapsariano) |
Deus decretou liberdade
volitiva ao homem (livre- agência), porém fatalizou cada pecado depois da
queda. (Determinismo - infralapsariano) |
Deus decretou liberdade
de volição moral (livre-arbítrio), previu, pode intervir, mas não fatalizou
cada pecado. (Intervencionismo - Sublapsariano) |
Ebenezer José de
Oliveira é Presbítero da IEADPE,
Professor da ESTEADEB e autor do livro A
doutrina da Predestinação em Calvino, publicado pela Editora Beréia.
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