A. W. Tozer
Knowledge
of the Holy, cap. 22.
Outro real problema criado pela doutrina da soberania
divina tem a ver com a vontade do homem. Se Deus rege Seu universo mediante
Seus decretos soberanos, como é possível que o homem exerça livre escolha? E se
ele não pode exercer liberdade de escolha, como ele pode ser considerado
responsável por seu comportamento? Ele não é uma mera marionete cujas ações são
determinadas por um Deus que fica atrás dos bastidores mexendo os pauzinhos conforme
lhe agrada?
A tentativa de responder tais questões tem dividido a
igreja cristã organizadamente em dois grupos que carregam os nomes de dois
distintos teólogos, Jacó Armínio e João Calvino. A maioria dos cristãos está
satisfeita em se envolver em um grupo ou outro e negar ou a soberania de Deus
ou o livre-arbítrio do homem. Parece possível, entretanto, reconciliar estas
duas posições sem fazer violência a cada uma, embora o esforço que segue pode
mostrar-se deficiente aos partidários de um grupo ou outro.
Aqui está a minha opinião: Deus soberanamente decretou que
o homem fosse livre para exercer escolha moral, e o homem desde o começo tem
cumprido esse decreto fazendo sua escolha entre o bem e o mal. Quando ele
escolhe fazer o mal, ele não está agindo, por meio disso, contra a vontade
soberana de Deus, mas a cumprindo, considerando que o decreto eterno decidiu,
não qual escolha o homem deveria fazer, mas que ele devesse ser livre para
fazê-la. Se em Sua absoluta liberdade Deus desejou dar ao homem uma liberdade
limitada, quem poderá impedir Sua mão ou dizer, “Que fazes?” A vontade do homem
é livre porque Deus é soberano. Um Deus menos que soberano não poderia conceder
liberdade moral às Suas criaturas. Ele teria medo de fazer isso.
Talvez uma simples ilustração possa nos ajudar a entender.
Um transatlântico deixa Nova Iorque em direção a Liverpool. Seu destino foi
determinado pelas autoridades competentes. Nada pode mudá-lo. Este é pelo menos
um pequeno quadro da soberania.
A bordo do transatlântico está uma multidão de passageiros.
Estes não estão em correntes, nem suas atividades lhes são determinadas por
decreto. Eles são completamente livres para movimentarem-se para lá e para cá
conforme desejarem. Eles comem, dormem, divertem-se, ficam à toa no convés,
lêem, falam, tudo como desejam, mas ao mesmo tempo o grande transatlântico está
conduzindo-os constantemente em frente, em direção a um porto predeterminado.
Ambas a liberdade e a soberania estão presentes aqui e elas
não se contradizem. Assim é, creio, com a liberdade do homem e a soberania de
Deus. O poderoso transatlântico do propósito soberano de Deus mantém seu curso
constante através do mar da história. Deus se move imperturbado e desimpedido
rumo ao cumprimento desses propósitos eternos que Ele propôs
Sabemos que Deus cumprirá cada promessa feita aos profetas;
sabemos que os pecadores um dia serão varridos da terra; sabemos que um grupo
resgatado entrará para o gozo de Deus e que os justos irão resplandecer no
reino de seu Pai; sabemos que as perfeições de Deus todavia receberão aclamação
universal, que todas as inteligências criadas confessarão Jesus Cristo Senhor
para a glória de Deus Pai, que a presente ordem imperfeita será abolida, e um
novo céu e uma nova terra será estabelecida para sempre.
Na direção de tudo isto Deus está se movendo com infinita
sabedoria e perfeita precisão de ação. Ninguém pode dissuadi-lo de Seus
propósitos; nada O desvia de Seus planos. Visto que Ele é onisciente, não pode
haver circunstâncias imprevistas, nem acidentes. Visto que Ele é soberano, não
pode haver ordens canceladas, nem quebra de autoridade; e visto que Ele é
onipotente, não pode haver falta de poder para atingir Seus fins escolhidos.
Deus é suficiente a Si mesmo por todas estas coisas.
Ao mesmo tempo as coisas não são tão fáceis como este
ligeiro esboço pode sugerir. O mistério da iniquidade já opera. Dentro da ampla
esfera da vontade soberana e permissiva de Deus o mortal conflito do bem com o
mal continua com fúria crescente. Deus todavia conseguirá o que quer no furacão
e na tempestade, mas a tempestade e o furacão estão aqui, e como seres
responsáveis devemos fazer nossas escolhas na presente situação moral.
Certas coisas foram decretadas pela livre determinação de
Deus, e uma destas coisas é a lei de escolha e conseqüências. Deus decretou que
todos que desejosamente se entregam a Seu Filho Jesus Cristo em obediência de
fé receberão a vida eterna e se tornarão filhos de Deus. Ele também decretou
que todos que amam as trevas e continuam em rebelião contra a suprema
autoridade do céu permanecerão em um estado de alienação espiritual e
finalmente sofrerão a morte eterna.
Reduzindo toda a questão em termos individuais, chegamos a
algumas conclusões vitais e bem particulares. No intenso conflito moral que
agora nos cerca, quem quer que esteja do lado de Deus está do lado que vai
ganhar e não pode perder; quem quer que esteja do outro lado está do lado que
vai perder e não pode ganhar. Não há aqui nenhuma sorte, nenhum jogo. Há
liberdade de escolha de qual lado estaremos mas nenhuma liberdade para negociar
os resultados da escolha uma vez que ela é feita. Pela misericórdia de Deus
podemos nos arrepender de uma escolha equivocada e alterar as conseqüências
fazendo uma escolha nova e correta. Além disso não podemos ir.
Toda a questão da escolha moral gira em torno de Jesus
Cristo. Cristo afirmou claramente: “Aquele que não está comigo está contra
mim,” e “Ninguém vem ao Pai senão por mim.” A mensagem do evangelho incorpora
três elementos distintos: um anúncio, um comando e um chamado. Ele anuncia as
boas novas da redenção realizada em misericórdia; ele comanda todos os homens
em todos os lugares a arrependerem-se e chama todos os homens a submeterem-se
aos termos da graça crendo
Todos nós devemos escolher se obedeceremos ao evangelho ou
nos desviamos em incredulidade e rejeitamos sua autoridade. A escolha somos nós
que fazemos, mas as conseqüências da escolha já foram determinadas pela vontade
soberana de Deus, e dela não há apelação.
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