A visão arminiana clássica da Predestinação
Jack Cottrell
Arminianismo, em seu sentido mais amplo, é simplesmente
não-Agostinianismo ou não-Calvinismo. Ele tem muitas variações, “desde as
visões evangélicas do próprio Armínio à ala esquerda do liberalismo.”[3] O
que as mantêm unidas é a rejeição do conceito Agostiniano da verdadeira
depravação total* (escravidão da vontade) e uma crença na forma significativa
de livre-arbítrio, pelo menos em relação à capacidade de aceitar ou rejeitar a
oferta do evangelho da salvação.
É, realmente, uma impropriedade chamar este ponto de vista
de “Arminianismo,” uma vez que ele existia, muito antes de Tiago Armínio (AD
1560-1609). Foi a crença de consenso na Cristandade antes de Agostinho
(354-430) [4] e
foi afirmado pelo mesmo Agostinho, sobretudo, mas não exclusivamente, em seus
anos anteriores. [5] Por
exemplo, Agostinho declarou, em 412 d.C., que o Criador deu aos seres humanos o
livre-arbítrio como “um poder intermédio, que é capaz de inclinar-se tanto para
a fé quanto a se voltar para a descrença… Deus, sem dúvida, deseja que todos os
homens sejam salvos, mas não de modo a tirar-lhes a sua liberdade de
vontade.” [6] O
pensamento católico, na Idade Média, era misto, mas a partir do momento da
Reforma, [7] a
doutrina Católica Romana oficial esteve em consonância com o
Arminianismo. [8] No
século XVI, os anabatistas e a maioria da Reforma Radical ensinaram uma
doutrina (restaurada) do livre-arbítrio, ao contrário dos principais
reformadores. [9]
Quando o próprio Armínio fez a transição do catolicismo ao
protestantismo, ele foi confrontado com as visões estritamente calvinistas,
especialmente, aquelas de Beza em Genebra, mas ele, pessoalmente, rejeitou
tanto a forma supralapsariana quanto a sublapsariana do Calvinismo. [10] Embora
tenha reconhecido a herança Adâmica da depravação total e afirmado a
necessidade da graça para capacitar à fé, [11] ele
negou o significado prático da depravação**, declarando que tal capacidade da
graça é universal e resistível. [12] Assim,
quanto ao saber se os pecadores têm a capacidade de aceitar ou rejeitar o
evangelho, Armínio, certamente, foi um Arminiano. Alguns, tais como Gordon C.
Olson, Robert Picirilli e Stephen Ashby, referem-se à visão global de Armínio e
àquela de seus primeiros seguidores Remonstrantes como “Arminianismo
Reformado.” [13] Picirilli
e Ashby abraçam e ampliam essa visão. Leroy Forlines chama a visão de Armínio
de “Arminianismo Clássico” e identifica sua própria visão com ela. [14]
Muitos dos que continuam na tradição geral do livre-arbítrio
e que são, dessa forma, Arminianos, neste sentido amplo, estão fora do âmbito
da ortodoxia, do cristianismo conservador. Isso inclui grupos como Socinianos[15] e
Unitários, [16] [17] Quakers, [18] [19] alguns
cultos, como as Testemunhas de Jeová,[20]e
que Erickson, geralmente, chama de “ala esquerda do liberalismo.” [21]
A forma mais comum de Arminianismo, pós-Armínio, é aquela
formulada por John Wesley e abraçada por seus seguidores no Metodismo,[22] holiness[23] e
denominações pentecostais. É semelhante à própria visão de Armínio, mas inclui
uma visão mais completa e consistente da graça preveniente de Deus, que
restaura à raça Adâmica, o livre-arbítrio e a capacidade de aceitar ou rejeitar
o evangelho. Esta visão é, geralmente, chamada de “Arminianismo Wesleyano” ou
“Arminianismo evangélico.” [24]
Outros grupos modernos na tradição geral do Livre-arbítrio
incluem alguns batistas (por exemplo, a Igreja Batista do Livre-Arbítrio,
representada por Forlines e Picirilli) e as associações do Movimento de
Restauração (Stone-Campbell) – (igrejas cristãs, igrejas de Cristo), das quais
eu faço parte. [25]
Com a exceção dos católicos e grupos não-ortodoxos, como os
citados acima, a visão defendida pela maioria dos mencionados, neste breve
levantamento histórico, pode ser definida como “Arminianismo clássico” no
sentido mais amplo. Eu sei que Forlines usa esse título (com um “C” maiúsculo)
em um sentido mais específico, que inclui as doutrinas da graça preveniente e
expiação substitutiva. [26]Todavia,
eu vou aplicar esse título (com um “c” minúsculo) a todos aqueles que acreditam
na forma significativa de livre-arbítrio humano, para aceitar ou rejeitar o
evangelho, no entanto, a presença desta habilidade é esclarecida.
Como, então, a doutrina Arminiana clássica da predestinação se
encaixa nesse quadro? Como estou usando o termo, é a opinião de que antes que o
mundo existisse, Deus, condicionalmente, predestinou alguns indivíduos
específicos, para a vida eterna e o restante para a condenação eterna, baseado
em seu pré-conhecimento de suas respostas originadas do livre-arbítrio, à sua
lei e à sua graça. Para a maioria das pessoas aqui descritas como Arminianos
clássicos, a ideia principal é que Deus predestina de acordo com o
pré-conhecimento (presciência), das futuras decisões oriundas do livre-arbítrio
humano. Jewett chama essa de “a mais antiga visão da predestinação,” remontando
aos antigos Pais Gregos e “a visão mais amplamente aceita” hoje “entre os
estudantes leigos da Escritura.” [27] [28]
Alguns podem se surpreender ao saber que Arminianos crêem na
predestinação como tal. Isso ocorre porque muitos associam a palavra com o
Calvinismo e presumem que somente os Calvinistas aceitam tal doutrina. Este não
é o caso, no entanto. Como Forlines diz, [29] a
doutrina da predestinação é tão essencial para Arminianos como é para os
Calvinistas e nós, na categoria anterior, precisamos retomar a palavra, bem
como o conceito, juntamente com todas as bênçãos dela resultantes.
Vou agora apresentar quatro coisas: (1) uma explicação mais
completa da visão arminiana de predestinação; (2) um breve histórico da visão
arminiana; (3) uma declaração sobre os pressupostos gerais deste ponto de vista
teológico, e (4) uma breve exposição de Romanos 9 como um texto fundamental
sobre este assunto.
I. A VISÃO ARMINIANA DA PREDESTINAÇÃO
Tal como foi definida, a predestinação é a opinião de que
antes que o mundo existisse Deus, condicionalmente, predestinou alguns
indivíduos específicos, para a vida eterna e o restante para a condenação
eterna, baseado em seu conhecimento prévio das respostas oriundas do
livre-arbítrio à sua lei e à sua graça. No desempacotamento desta definição
vamos explorar o significado, os objetos, o fim, e a forma de predestinação.
A. O Significado da Predestinação.
O termo “predestinação” se refere à decisão de Deus para
realizar um determinado ato futuro, realizar um determinado objetivo ou a sua
determinação prévia para fazer com que algo aconteça. A atividade
predeterminadora de Deus não se limita às suas decisões sobre o destino final
dos indivíduos, mas também inclui outros aspectos de seus propósitos eternos.
Por exemplo, quando aplicado a pessoas, Deus não somente predestinou alguns
para a salvação, mas tem também predestinado alguns para papéis
de serviço, em que ele os usa como instrumentos para realizar
os seus propósitos em relação com a salvação. Discernir a diferença entre os
dois é fundamental para um correto entendimento do que significa dizer que Deus
predestinou alguns para a salvação.
1. Terminologia
O verbo grego traduzido como “predestinar” é proorizo,
que combina orizo, “limitar, fixar, apontar, determinar”,
e pro, “antes, prévio.” Proorizo assim, significa,
literalmente, “determinar de antemão, predeterminar, preordenar”. A
predestinação é, portanto, a predeterminação de Deus ou a decisão de fazer
algo, causar algo, trazer a existência um determinado evento ou estado de
coisas em um momento futuro. A palavra ocorre seis vezes no Novo Testamento (At
4:28, Rm 8:29, 30; 1 Coríntios 2:7; Ef 1:5, 11); os quatro usos em Romanos e
Efésios, referem-se, especificamente, às pessoas. A palavra inglesa
“predestinar” sugere a nuance “predeterminar o destino final de”, porém, uma
referência ao destino final, não é inerente ao termo grego. [30] É
uma palavra apropriada, no entanto, desde que, o uso em Romanos e Efésios,
parece se referir à pré-determinação de destinos pessoais. Nestes casos, o
prefixopro – (“pré-“), indica que a deliberação teve lugar, antes
que o mundo fosse criado (cf. Ef 1:4; Ap 17:8).
Em referência ao destino eterno, a predestinação inclui
tanto a eleição quanto a reprovação. [31] Quanto
à eleição para salvação é a escolha de Deus de certos
indivíduos para a finalidade específica de dar-lhes a vida eterna, enquanto
que, a reprovação é uma decisão de Deus para designar os
não-eleitos, à condenação eterna. Nosso foco principal aqui é sobre o primeiro
– eleição para salvação.
A eleição divina, em geral, é a determinação de Deus em
escolher ou selecionar uma pessoa ou grupo, dentre outros, para um papel
específico ou propósito em seu plano. Os termos no Novo Testamento para isso,
são o verbo eklegomai, ”escolher, selecionar, eleger”; o
substantivo ekloge, “escolha, eleição” e o adjetivo eklektos,
“escolhidos, eleitos”. Estes termos aparecem muito mais, frequentemente, do queproorizo e
têm um leque mais amplo de aplicações. Em 1ª Tm 5:21 Paulo refere-se aos anjos
eleitos ou escolhidos; em todos os outros casos, a eleição divina refere-se aos
seres humanos.
Considerando a última acepção – seres humanos -, é de suma
importância notar que muitas das passagens sobre a eleição não tem nada a ver
com a predestinação para a salvação, mas se refere, na verdade, à escolha
Divina de certos indivíduos ou grupos para serviço, ou seja, para
cumprir certo papel na realização histórica da salvação. Ser escolhido
para serviço é uma questão totalmente diferente de ser
escolhido para a salvação.
2. Escolhidos para Serviço
Dentre aqueles que são predestinados para papéis específicos
na realização da redenção, inclui-se o próprio Redentor, Jesus de Nazaré. A
eleição de Jesus é o ato central e primário da predestinação. Em Isaías 42:1, o
Senhor fala de Jesus como o eleito: “Eis o meu servo a quem sustenho, o meu
eleito, em quem minha alma se deleita.” [32] Mateus
12:18 cita essa passagem e a aplica a Jesus. Na transfiguração Deus anunciou a
eleição de Jesus com estas palavras: “Este é meu Filho, meu Escolhido;
ouçam-no!” (Lucas 9:35). Veja Lucas 23:35; 1 Pe 2:4, 6.
A eleição de Jesus fazia parte do plano divino, mesmo antes
que os mundos foram criados. Pré-conhecendo, tanto a obediência do Redentor,
quanto a desobediência de seus inimigos, Deus pré-determinou a realização da
redenção, através de Jesus de Nazaré (Atos 2:23; 1 Pe 1:20). Jesus foi
preordenado para morrer pelos pecados do mundo (Atos 4:28).
Às vezes, outros indivíduos foram escolhidos para papéis
especiais, a fim de facilitar os propósitos de Deus. Para criar a nação de
Israel, Deus escolheu Abraão, Isaac e Jacó (Neemias 9:7; Atos 13:17, Rm
9:7-13). [33] Ele
escolheu Moisés (Sl 106:23) e David (Sl 78:70, 139:16), dentre outros. Ele
mesmo escolheu certos governantes gentios para ajudar a realizar o seu
propósito para Israel, por exemplo, o Faraó (Rm 9:17) [34] e
Ciro (Isaías 45:1).
Como instrumentos para o estabelecimento da igreja outro
grupo de indivíduos foi escolhido, ou seja, os apóstolos. Dentre os seus
discípulos Jesus “escolheu doze deles, a quem também chamou de apóstolos”
(Lucas 6:13). Mais tarde, ele lhes perguntou: “Eu mesmo não escolhi vocês, os
doze?” (João 6:70). Cristo diz aos apóstolos: “Vocês não me escolheram a mim,
mas eu vos escolhi a vós e vos designei para que vades e dêem fruto” (João
15:16, veja 13:18, 15:19, Atos 1:2). Da mesma forma, escolhidos para serviço
como apóstolos, foram Matias (Atos 1:24) e Paulo (Atos 9:15, Gálatas 1:15-16).
Que tal eleição foi para serviço e não a salvação é visto a
partir do fato de que até mesmo Judas está entre os doze escolhidos (Lucas
6:13, João 6:70), embora seu papel predeterminado fosse aquele do traidor de
Jesus (João 6:71). Deus não levou Judas a cumprir esse papel,
mas ao invés disso, pré-conheceu que ele o faria, como um
apóstolo (Atos 2:23). Em outras palavras, Judas não traiu Jesus, porque ele foi
escolhido para fazer isso; ele foi escolhido porque Deus previu que ele iria
trair Jesus.
Um dos mais importantes atos de predestinação Divina para
serviço não se aplica a um indivíduo, mas a um grupo, ou seja, a nação de
Israel: “Porque tu és povo santo ao SENHOR, teu Deus, o Senhor teu Deus te
escolheu para ser um povo para Sua própria possessão dentre todos os povos que
há sobre a face da terra” (Dt 7:6; ver Dt 14:2; 1ª Cr 16:13, Atos 13:17). Esta
eleição de Israel foi a eleição da nação em geral, não a eleição de indivíduos
específicos. O país foi escolhido, especificamente, para preparar o caminho
para a vinda do Messias. Este propósito foi notificado através das relações de
Deus com a nação como um todo, não, necessariamente, através de cada membro
individual da nação. Além disso, esta eleição corporativa para serviço, não
tinha qualquer ligação necessária, com a salvação de qualquer israelita em
particular. A nação serviria ao seu propósito de preparação para o Messias,
mesmo que a maioria dos judeus individuais fosse perdida. [35]
Desde que Israel foi escolhido, especificamente, para
preparar o caminho para o aparecimento do Messias, seu objetivo foi realizado e
o seu destino cumprido na encarnação, morte e ressurreição de Jesus Cristo
(Atos 13:32-33, Rm 9:3-5). Assim, a nação de Israel não é mais o povo eleito de
Deus. Na era da Nova Aliança, Deus tem um novo corpo eleito, um novo Israel, a
igreja. Embora não seja estritamente paralelo ao Israel do Velho Testamento,
nesta época a igreja como um corpo é agora o povo escolhido de Deus (1 Pe 2:9)
e esta eleição é em parte uma eleição para serviço. Quando Pedro descreve a
Igreja como uma “raça eleita”, ele acrescenta este propósito para a escolha:
“para proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz” (1ª Pe 2:9). Assim, em termos de serviço, enquanto Israel foi
eleito para a preparação, a igreja é eleita para a proclamação.
3. Escolhidos para salvação
A linguagem da eleição faz às vezes referência à
predestinação para a salvação. O verbo é usado para esta finalidade muito
raramente (por exemplo, Efésios 1:4); o adjetivo eklektos na
maioria das vezes é usado para descrever aqueles a quem Deus salva, quer
individualmente (Rm 16:13) ou coletivamente. No sentido coletivo, às vezes ele
se refere aos “eleitos” como a sociedade em geral dos salvos (Lucas 18:7, Rm
8:33; Ap 17:14), como a igreja em geral (2ª Tm 2:10; Titus 1:1; 1ª Pe 1:1,
2:9), ou como igrejas específicas (2ª João 1, 13). Em 1ª Tessalonicenses 1:4 ,
o substantivo ekloge é usado neste último sentido. Em Romanos
11:5,7 é utilizado para o salvo (o “remanescente”) dentro da nação de Israel.
Embora os termos “predestinação” e “eleição” nem sempre são
usadas intercambiavelmente nas Escrituras, [36] eles,
certamente, estão muito próximos em relação ao significado. Sem dúvida aqueles
que vão estar no céu, com Deus, por toda a eternidade são tanto eleitos quanto
predestinados para isso. A única sombra de diferença entre os dois conceitos parece
ser este: que a eleição é ato de Deus de escolher ou selecionar determinados
indivíduos em detrimento de outros, a partir de um grupo maior, ao passo que, a
predestinação é um ato de Deus, em pré-apontar ou pré-indicar, aqueles já
escolhidos, para seu destino final. Os dois andam de mãos dadas e uma
referência a um, implica uma referência ao outro.
B. Os Objetos da Predestinação
A próxima questão são os objetos da predestinação. De acordo
com os Arminianos, no que diz respeito às questões de destino eterno,
especificamente quem são os objetos da atividade
predestinadora de Deus? Duas questões surgem aqui. Primeira, a predestinação é
aplicada aos perdidos, bem como aos salvos? Segundo, a predestinação é aplicada
principalmente aos indivíduos ou aos grupos?
1. Os Perdidos Também são Predestinados.
Arminianos concordam que alguns são predestinados para a
salvação eterna; os eleitos são escolhidos para a vida eterna. Tal como
acontece com o calvinismo, no entanto, não há nenhum consenso universal sobre a
forma como se aplica a predestinação para o perdido. Definindo-a apenas no
sentido calvinista, John Miley absolutamente rejeita o conceito de
reprovação. [37] Outros,
entretanto, entendem que a reprovação de acordo com a presciência funciona
exatamente da mesma forma como a eleição de acordo com a presciência, e,
portanto, não têm dificuldade em aceitá-la como um paralelo para a doutrina da
eleição. Salientando que Armínio aceitou ambas, Picirilli afirma que a
“reprovação é corolário da eleição” e que elas são “essencialmente paralelas
(embora como opostos).” [38]
Eu aceito o último ponto de vista, embora seja, sobretudo,
uma inferência, daquilo que sabemos da relação entre presciência e eleição. Há
poucas referências bíblicas específicas para essa doutrina. Exegese cuidadosa
de Romanos 9:22 mostra que os judeus incrédulos se prepararam (voz
média) para a destruição através de sua própria incredulidade; [39] assim,
este texto não é relevante aqui. Dois textos que podem ser relevantes,
entretanto, são 1ª Pedro 2:8 e Judas 4.
Judas 4 fala de certas pessoas que há muito tempo foram
assinaladas ou marcadas para condenação, mas é a sua condenação,
que é pré-registrada, [40] não
a sua incredulidade prevista. Pedro (1ª Pe 2:6-8) refere-se àqueles que por
incredulidade e desobediência tropeçaram sobre a “pedra de tropeço e rocha de
ofensa.” Em seguida, ele acrescenta, “para o que na verdade foram inscritos”.
Se assumirmos que os inscritos são os incrédulos, não está claro para o que
foram inscritos. Uma explicação razoável é que eles foram inscritos
(“destinados”, NIV) a tropeçar sobre a rocha, ou seja, ser reduzido à eterna
ruína e morte pela verdadeira Pedra rejeitada, ou seja, Jesus. Eles não foram
inscritos ou destinados à descrença e à rejeição de Jesus, mas para o “tropeço
ou escândalo” como a conseqüência natural e merecida de sua incredulidade e
rejeição. [41]
Outra possibilidade em 1ª Pe. 2:8 é que aqueles “inscritos”
não são os incrédulos, mas as próprias “pedra angular preciosa” do v. 6 e a
“pedra de tropeço e rocha de ofensa”. O verbo para “inscrito” no versículo 8
é tithemi, que no v. 6 é usado para “colocar” a pedra. Ou seja,
este é um dos muitos propósitos para os quais as pedras foram colocadas ou
designadas: ser a fonte de julgamento e queda para os incrédulos. O verbo no v.
8 (etethesan) está no plural porque se refere tanto à “pedra angular
preciosa” no v. 6 quanto à “pedra de tropeço” no v. 8 (ambas se referem,
naturalmente, a Jesus). Se esta é a interpretação correta, então 1ª Pe 2:8 não
iria se referir a qualquer tipo de reprovação.
2. A Predestinação se Refere, principalmente, a Indivíduos.
A próxima questão a respeito dos objetos da predestinação –
se ela se aplica principalmente a indivíduos ou grupos – não é discutido entre
os Calvinistas, que entendem que ela se refere a indivíduos. Porém, até mesmo
arminianos têm algum desacordo sobre esta questão. Alguns enfatizam grupo ou
eleição corporativa, enquanto outros a vêem como essencialmente individual.
Aqueles que tomam a primeira opinião – grupo ou eleição
corporativa – afirmam que Deus em seu conselho antes da criação, pré-determinou
que todos que finalmente caíssem em uma determinada categoria de pessoas seriam
escolhidos para a salvação eterna. Isto é, Deus determinou que ele daria a
salvação a qualquer um que cumprisse determinadas condições; “todos os que
reunirem as condições especificadas” são, portanto, predestinados a estar no
céu. O ato de predestinação se aplica não somente aos indivíduos concretos que
finalmente se tornariam uma parte deste grupo, como se aplicaria com o grupo
abstrato ou a própria categoria. “Deus predestina o plano, e não o homem” é um
argumento comum.
Orton Wiley é um exemplo. Ele declarou, “eu afirmo, é claro
para a classe predestinada”. Ele considera ofensivo dizer “que
Deus determinou de antemão se alguém deve ser salvo ou não, aplicado aos
indivíduos.” [42] Outro
exemplo é Robert Shank, que explica a eleição como “principalmente corporativa
e apenas secundariamente particular ou individual”. Ele diz: “A eleição para a
salvação é corporativa e compreende os homens individuais apenas na
identificação e associação com o corpo eleito.” [43] Isso
se aplica até mesmo aos trechos que ligam a predestinação com pré-conhecimento;
“se Deus ativamente pré-conheceu cada indivíduo – tanto os eleitos quanto os
réprobos – continua a ser uma questão discutível.” [44]
Gordon Olson concorda, declarando que a carta aos Efésios
“milita para a eleição corporativa e não individual.” [45] Ele
diz que 1ª Pe 2:9 indica “que a eleição da Igreja, como Israel, foi corporativa.” [46]Depois
de apresentar vários argumentos para a eleição corporativa, ele diz: “Podemos
ver como Paulo poderia estar se referindo à igreja corporativa, como aquela que
Deus escolheu, na eternidade passada, para se tornar Seu povo escolhido.”
Assim, “a natureza corporativa da eleição é tão clara, em contextos
suficientes, que levam à probabilidade de que, tudo deve ser tomado coletivamente.” [47] Olson
admite a eleição individual, mas diz que “tudo que se pode falar sobre ela,” é
“de forma secundária e auxiliar”.[48]
Em sua Teologia Cristã, Alister McGrath
deixa a impressão de que, todos os arminianos, entendem a predestinação
corporativamente, [49] mas
isso, simplesmente, não é verdade. Na verdade, os defensores Arminianos da
eleição individual são abundantes, iniciando nos tempos modernos, com o próprio
Armínio, que declara que o seu próprio sentimento sobre predestinação inclui o
“decreto, pelo qual Deus decretou salvar e condenar pessoas em particular. Este
decreto tem o seu fundamento na presciência de Deus”, pelo que desde toda a
eternidade, ele sabia quais as pessoas que crêem e perseveram e aquelas que
não. [50] No
início do século XIX, Richard Watson, admitindo a eleição de pessoas para serviço
e das nações e grupos para privilégios especiais, afirma que “um TERCEIRO tipo
de eleição é a eleição pessoal; ou a eleição de indivíduos para serem filhos de
Deus.”[51] Forlines
fortemente afirma que os eleitos “foram escolhidos individualmente.
Acho que Paulo deixa muito claro que a eleição é individual.” [52] Na
minha opinião isto está correto e eu concordo com Picirilli que “a doutrina
arminiana da eleição” é “pessoal e individual.” [53] Esta
visão é mais coerente, com a teologia geral do Arminianismo clássico e com o
próprio ensino bíblico.
Sem dúvida, quando a Bíblia fala de predestinação para
salvação, refere-se às pessoas e não a um plano impessoal (por exemplo, Romanos
8:29-30; 1ª Pe 1:1-2). Em 2ª Tessalonicenses 2:13, Paulo diz que “Deus escolheu
vocês”, os cristãos de Tessalônica, “para a salvação.” Em Romanos 16:13 Rufus é
chamado de uma pessoa eleita. Apocalipse 17:8 implica que nomes específicos
foram escritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo. O que pode ser isso,
a não ser predestinação individual? Como veremos a seguir, uma característica
distintiva da visão Arminiana da predestinação é que ela é baseada no divino
pré-conhecimento literal (Rm 8:29; 1ª Pe 1:1-2). Verdadeiro pré-conhecimento é
pré-conhecimento deindivíduos. Não se pode acreditar na predestinação
segundo o pré-conhecimento e ao mesmo tempo, negar a predestinação individual.
Assim, uma teologia consistente Arminiana afirma a predestinação dos
indivíduos.
Algumas referências bíblicas a eleição podem realmente ser a
uma eleição corporativa. Este é especialmente o caso quando o grupo coletivo de
vivos, salvo os indivíduos são chamados de “o eleito” (por exemplo, Col 3:12,
2ª Tm 2:10; Tito 1:1). A igreja do Novo Testamento como um grupo é a raça
“escolhida” de Deus (1ª Pe 2:9), e quando alguém é adicionado à igreja que ele
se torna um dos “eleitos”. Mas isso não significa que a predestinação para a
salvação de forma alguma se aplica a indivíduos. Na verdade, a existência de um
grupo eleito pressupõe eleição individual. Isto é, contrariamente a Shank e
Olson, eleição individual ou pessoal é primária e eleição corporativa é
secundária.
C. A Finalidade da Predestinação
A próxima questão diz respeito ao objetivo ou finalidade da
predestinação: para que fim específicoindivíduos estão
predestinados? Como responder a esta questão constitui uma diferença
fundamental entre Calvinistas e Arminianos. Para os Calvinistas, tudo sobre uma
salvação individual é determinado por Deus: não apenas o dom final da vida
eterna, mas também os meios necessários, através dos quais, o dom é recebido.
Deus escolhe, de dentre a massa dos incrédulos os que ele quer salvar, então
ele predestina os escolhidos a se tornarem crentes e, assim, a
receberem a salvação eterna. Os que ele não escolhe estão predestinados a
permanecer em sua incredulidade e assim, a estarem eternamente perdidos.
Os Arminianos insistem, porém, que Deus predestina apenas os
fins e não os meios. Ou seja, ele predetermina dar a salvação a todos os
crentes, mas ele não predestina certos incrédulos a se tornarem crentes e os
demais a permanecerem em sua incredulidade. Aqueles que aceitam a Cristo
através da fé o fazem de sua livre escolha. Sua escolha de Jesus Cristo não é
predestinada. Essa escolha, porém, é conhecida de antemão e como resultado, os
que escolhem a Cristo, tornam-se os escolhidos, os quais são então,
predestinados a receber as bênçãos da salvação.
A própria Escritura não diz nada sobre indivíduos sendo
predestinados a crer. Como Watson diz: “Nós não temos tal doutrina na Escritura
semelhante à eleição de indivíduos para a fé.” Ele acrescenta:
“Esta predestinação, então, não é de pessoas ‘PARA a fé e obediência’, mas de
pessoas crentes e obedientes PARA a glória eterna.” [54] Como
Forster e Marston observam, a predestinação “não diz respeito a quem deve, ou
não, tornar-se cristão, mas sim ao seu destino como cristão.” [55] Eles
ressaltam que Efésios 1:4 diz que Deus nos escolheu em Cristo,
não para ser colocado em Cristo. [56]
O mesmo é visto em 2ª Tessalonicenses 2:13, onde Paulo diz
que “Deus vos escolheu -crentes tessalonicenses- desde o início para a
salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade.” O fim da eleição é a
própria salvação, os meios pelos quais a salvação se realiza – santificação e
fé – em si não são predestinados. Em 1ª Pe 1:1-2 esta salvação realizada é
vista incluindo a cura dupla da graça: uma vida de boas obras e justificação
pelo sangue de Jesus (“escolhidos… para obediência e aspersão do sangue de
Jesus Cristo”). Baugh tenta igualar essa obediência a Cristo com a própria fé,
o que implicaria que Pedro está dizendo que somos de fato escolhidos “para a
fé” ou escolhidos para nos tornarmos crentes.[57] Entretanto,
não há nenhuma boa razão para pensar que esta obediência é outra coisa senão a
santificação dirigida pelo Espírito de 2ª Tessalonicenses 2:13 ou as “boas
obras” de Efésios 2:10.
Romanos 8:29 afirma claramente que aqueles a quem Ele
conheceu foram “predestinados para serem conformes à imagem de Seu Filho, para
que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. Alguns erroneamente tomam isto
como uma referência à recriação espiritual dos pecadores na imagem moral de
Jesus, ou talvez a “maioridade” quando a uma criança é dado o status de
filiação completa (como em Gal 4:1-7). [58] Mas
o contexto de Romanos 8 mostra que esta predestinação conforme a imagem de
Cristo é uma referência à nossa herança final, o corpo glorificado e redimido
que receberemos na ressurreição final (Rm 8:11, 23). “A imagem de Seu Filho”
refere-se ao fato de que os corpos da nossa ressurreição serão como o de Cristo
(Fp 3:21, 1ª Coríntios 15:29, 2ª Coríntios 3:18). Assim, nós como crentes somos
escolhidos para nos tornarmos filhos glorificados de Deus (Rm 8:30), com Cristo
sendo o “primogênito entre muitos irmãos” porque ele foi “o primogênito dentre
os mortos” (Col 1:18; Ap 1:5), isto é, o primeiro a ressuscitar em um corpo
glorificado (Atos 13:34, 26:13, Rm 6, 9, 1ª Coríntios 15:20).[59]
Predestinação para a glória é da mesma forma o ponto de
Efésios 1:5, que diz que Deus “nos predestinou para a adoção de filhos”, bem
como o ponto de Efésios 1:4, que diz: “Ele nos escolheu nele antes da fundação
do mundo, para fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele”. Tanto a “adoção
de filhos” quanto “santos e irrepreensíveis” referem-se ao nosso estado de
glória futura (cf. Col 1:22).
Este, então, é o fim ou objetivo da predestinação: “nossa
adoção de filhos; a redenção do nosso corpo” (Rm 8:23). “Esta é a ÚNICA
PREDESTINAÇÃO ensinada nestas passagens”, diz Kirk; e tentar fazê-las ensinar
“a predestinação de alguns para serem convertidos, é, de fato, o mais
desesperador.” Em vez disso, encontramos nelas que o crente “está predestinado
a ficar no corpo glorificado da ressurreição, e para partilhar a glória do seu
abençoado Senhor. Essa é a doutrina da predestinação como ensinada na
Bíblia.” [60] Isto
é, Deus predestina os fiéis a ir para o céu, assim como ele predestina
incrédulos para o inferno. Mas ele não predestina ninguém para se tornar e
permanecer um crente, ou para se tornar e permanecer um incrédulo. Esta escolha
é feita por cada pessoa, e quando pré-conhecida por Deus é o fator que
condiciona a predestinação do destino eterno de um indivíduo.
D. O Modo da Predestinação
Voltamo-nos agora para o modo, pelo qual, Deus
predestina os eleitos à salvação. Como isso acontece? Por que certas pessoas
são predestinadas ao céu e as outras ao inferno? Aqui reside uma das diferenças
mais acentuadas entre os Calvinistas e os pontos de vista Arminianos. Os
conceitos-chave são de que, a predestinação é condicional e que ela é baseada
no Pré-conhecimento de Deus.
1. A Predestinação é Condicional
A visão calvinista está resumida na frase “eleição
incondicional”. Isto significa que a escolha de Deus de certas pessoas para a
salvação é puramente uma questão de sua soberania e incondicional boa vontade;
não há absolutamente nada nos escolhidos, que influencia a Deus a escolhê-los
em detrimento de outros. A visão clássica Arminiana diz o contrário, afirmando
que a eleição é condicional, porque se baseia no Pré-conhecimento de Deus
daqueles que livremente reunirão as condições designadas por Deus para receber
salvação. Hunt diz que a eleição incondicional é o “coração do calvinismo”, e
Picirilli declara que a visão da eleição condicional “é o principal ponto de
partida Arminiano à parte do Calvinismo.” [61] Esses
julgamentos podem ser um pouco extremos, mas eles realmente refletem a
seriedade da escolha entre a eleição incondicional e condicional.
O conceito de condicionalidade aplica-se tanto a eleição
quanto à predestinação, e nesta discussão ambos estão incluídos, mesmo que às
vezes apenas uma seja especificamente mencionada. Existe na verdade, uma
diferença técnica entre eles. Ou seja, na eleição de Deus
escolhe alguns indivíduos específicos em detrimento de outros para a salvação;
aqueles assim escolhidos são então predestinadospara receber as
bênçãos da salvação. Ambos, no entanto, são atos de Deus, e ambos são
condicionais uma vez que apenas aqueles que preenchem as condições anunciadas
serão escolhidos e predestinados. Eles são o resultado da presciência, desde
que, por natureza, Deus conhece de antemão antes do evento da Criação quem vai
e quem não vai reunir as condições.
Para os Calvinistas a predestinação (como todo ato de Deus)
não é e não pode ser condicionada a nada na criatura / pecador. Para os
Arminianos, no entanto, o ato da predestinação de Deus está condicionado às
escolhas originadas do livre-arbítrio realizadas pelas criaturas / pecadores,
em resposta à lei de Deus e a graça de Deus. Ou seja, é condicionado às
decisões humanas: em primeiro lugar, à decisão de pecar contra a lei de Deus, e
em seguida à decisão de aceitar ou rejeitar a oferta de salvação de Deus.
Aqueles que tomam as decisões corretas são escolhidos por Deus para serem parte
de sua família e são predestinados para a vida eterna, aqueles que tomam as
decisões erradas, são rejeitados por Deus e são predestinados à condenação
eterna.
A razão por que a predestinação é condicional é porque a
própria salvação é condicional. [62] Aqueles
que aceitam a realidade de significativo livre-arbítrio não têm nenhuma
dificuldade em aceitar tal condicionalidade, na verdade, é inconsistente para
qualquer Arminiano falar de “graça incondicional” ou “salvação incondicional”.
A Graça salvadora de Deus é condicional. Ele tem, livre e incondicionalmente, a
disponibilizado através de Jesus Cristo, mas ele a dá apenas àqueles que
cumprem determinadas condições graciosas especificadas soberanamente. Da mesma
forma, se Deus predestina ou não um indivíduo em particular para o céu, está
condicionado ao seu conhecimento de que a pessoa vai reunir estas condições. A
eleição é, dessa forma, condicional. [63]
2. A Predestinação é o Resultado do Pré-conhecimento.
O segundo elemento-chave no conceito Arminiano do modo da
predestinação é o papel do conhecimento prévio. Deus predestina e elege como o
resultado de seu Pré-conhecimento antes da criação das futuras escolhas
originadas do livre-arbítrio de todos os seres humanos. [64] É
claro que a salvação poderia ser totalmente condicional a
parte da presciência e predestinação. Antes da criação, Deus poderia ter
especificado certas condições de se receber a salvação, planejando salvar
qualquer um que finalmente reuniria essas condições (como na visão predestinação
corporativa). Ele, então, poderia apenas esperar para ver quais decisões seriam
feitas e, em seguida, selado o destino eterno de cada pessoa com um
decreto post facto. Então, depois de todo o curso da história ser
executado, a lista final dos salvos e dos perdidos poderia ser emitida.
Mas esta não é a forma como isso aconteceu. Na verdade
(figuradamente falando) a lista inteira dos salvos e dos perdidos já está
emitida, e tem sido desde antes da fundação do mundo. Com efeito, dado que o
ensino bíblico a respeito de como o conhecimento de Deus transcende o fluxo do
tempo, não poderia ter sido de outra maneira. Presciência é um resultado
necessário da natureza infinita de Deus. Antes que ele criou este mundo sabia
– pré-conhecia – todas as decisões humanas, incluindo aquelas
relacionadas com a salvação de cada indivíduo. Como resultado deste
conhecimento, “desde toda a eternidade”, Ele predestinou alguns para o céu e os
demais para o inferno.
Erickson, com razão, observa que “o papel do conhecimento prévio
na eleição de pessoas para a salvação” é um conceito básico do
Arminianismo. [65] É
o coração da visão clássica Arminiana de predestinação. O próprio Armínio
declarou que o decreto de Deus para salvar e condenar certas pessoas “tem seu
fundamento no pré-conhecimento de Deus, pelo qual ele sabia desde toda a
eternidade”, que iria crer e perseverar, e que não iria. [66] Como
afirma Dave Hunt, Deus “dá o pré-conhecimento como a razão para a
predestinação. A Eleição/Predestinação são sempre explicadas na Bíblia como
resultantes do pré-conhecimento de Deus”.[67]
Esta visão correta da predestinação com base na presciência
é diretamente afirmada em dois textos do Novo Testamento. Romanos 8:29 diz:
“Pois aqueles a quem Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem
conformes à imagem de Seu Filho.” Em sua primeira epístola Pedro escreve para
aqueles “que são escolhidos segundo a presciência de Deus Pai” (1ª Pe 1:1-2). Estes
versos dizem apenas que Deus pré-conheceu determinadas pessoas,
eles não dizem especificamente o que ele conheceu sobre eles.
Mas tendo em vista o ensino da Bíblia sobre a natureza condicional da salvação,
como tal, os Arminianos razoavelmente inferem que o que Deus pré-conhece é a
nossa decisão de reunir essas condições, especialmente a condição de fé. [68] Como
diz Godet de Rm 8:29, “Com respeito a que é que Deus, assim, os conheceu?…
Existe, porém, uma resposta: Pré-conheceu como certo o cumprimento da condição
da salvação, a saber, Fé; assim: Pré-conhecidos como Seus pela
fé.”[69] Forlines
concorda: “Baseado em sua presciência Ele sabe quem vai crer em Cristo e os
escolheu em Cristo (Ef 1:4).”[70] A
referência à chamada e justificação em Rm 8:30 pode implicar que a fé é o
objeto do pré-conhecimento sobre o qual se baseia a predestinação. No Novo
Testamento, tanto a chamada quanto a justificação estão ligadas à decisão de crer:
o chamado de Deus deve ser respondido pela fé, e justificação é dada somente à
fé. Assim, a decisão de crer pode estar implicitamente incluída aqui como
objeto do pré-conhecimento, pelo qual Deus nos predestina para a glória.
Um objeto, muitas vezes, negligenciado da presciência
divina, possivelmente, intencionado por Rm 8:29 e sugerido, pela própria Rm
8:28, a saber, é o amor de Deus.[71] Não
podemos ignorar a ligação entre estes dois versos, como se o verso 29 existisse
fora de qualquer contexto. O versículo 29 começa (depois da conjunção) com o
pronome relativo “quem” (ou “aqueles”). O antecedente deste pronome está no
verso 28, ou seja, “aqueles que amam a Deus”. Deus pré-conheceu àqueles que o
amam, ou seja, Ele pré-conheceu que, em algum momento de suas vidas, eles
viriam a amá-lo e continuariam a amá-lo, até o fim. Veja o paralelo em 1ª
Coríntios 8:3, “Mas se alguém ama a Deus, esse é conhecido por Ele.” [72] Essa
é, exatamente, a mesma idéia de Rm 8:29, o primeiro verso referindo-se ao
conhecimento e este último, ao pré-conhecimento.
Devemos também observar que Rm 8:29 começa com a conjunção
causal hoti, “pois, por que”. Isso, provavelmente, combina com
“sabemos” no verso 28. Assim, o pensamento é muito simples: Nós sabemos que
Deus opera todas as coisas para o bem daqueles que o amam e são chamados para a
sua família eterna segundo o seu propósito. Como sabemos isso? Porque, tendo
pré-conhecido desde a eternidade que eles o amariam, ele já os predestinou a
este estado de glória eterna! Assim, podemos ter certeza de que os julgamentos
temporários desta vida, não são capazes de anular o que o Próprio Deus,
Todo-Poderoso, já predestinou que irá ocorrer! Ao contrário, Ele os usa de
forma a nos preparar para desfrutar a eternidade ainda mais.
É claro que Calvinistas rejeitam essa conexão simples entre
pré-conhecimento e predestinação. A razão, dizem, é o significado da palavra
“pré-conhece” (proginosko). Desde que ginosko significa
“conhecer”, e “pró” significa ”antes”, parece óbvio que proginosko significa
“conhecer de antemão”, no sentido de consciência cognitiva prévia. Deus
certamente tem tal precognição. Por causa da sua relação singular com o tempo,
seu conhecimento não se limita ao agora, ele conhece o passado e o futuro,
assim como ele conhece o presente. [73] O
verbo “pré-conhece” é usado em Romanos 8:29 e em quatro outros lugares do Novo
Testamento: Atos 26:5, Rm 11:2; 1 Pe 1:20; 2 Pedro 3:17. (O substantivo é
utilizado duas vezes: Atos 2:23; 1 Pe 1:2.) Todos concordam que em Atos 26:5 e
2 Pedro 3:17, onde ele se refere a pré-conhecimento humano, tem este
significado simples de precognição ou presciência.
Mas os calvinistas afirmam que nos textos onde Deus é o
sujeito, tanto o verbo quanto o substantivo têm conotações que são,
completamente, diferentes de presciência. A nuance básica, dizem eles, é essa
de amor e carinho: “a quem ele pré-amou.” [74] Como
explica Murray, uma vez que a própria palavra “conhecer”, por vezes, é
“praticamente sinônimo de ‘amor’, como definido acima, conhecer com interesse
peculiar, prazer, afeto e ação”, pré-conhecimento em Rom 8:29 (e em 1ª Pe1:1-2)
deve significar “a quem Ele conheceu desde a eternidade com distinção de afeto
e prazer”, ou “a quem Ele pré-amou.”[75]
Outra conotação calvinista incluída em proginosko no
contexto da predestinação é a idéia de selecionar ou escolher, ou seja, é
equiparado a própria eleição. Como mencionado acima, Murray a chama “afeição
distintiva” de Deus. A palavra grega, diz ele, “não é a previsão de diferença,
mas o conhecimento que faz existir a diferença… Ele é um amor distintivamente
soberano”. [76]
A palavra chave aqui é “distinguir”. Para os Calvinistas o
pré-conhecimento de Deus é o ato pelo qual ele (incondicionalmente) faz
distinções entre as pessoas, escolhendo alguns da massa da
humanidade futura para serem os únicos beneficiários da Sua graça salvadora. Ou
seja, pré-conhecimento é o mesmo que eleição. Como Moo resume tudo: “A
diferença entre ‘conhecer ou amar de antemão’ e ‘escolher de antemão’
praticamente deixa de existir.” [77] Para
Rm 8:29 um léxico grego define proginosko como “escolher de
antemão.” [78] Erickson
concorda que “pré-conhecimento como usado em Romanos 8:29 traz consigo a idéia
de disposição favorável ou seleção, bem como conhecimento prévio.” [79] Ele
tem “a conotação de eleição graciosa”, diz F. F. Bruce. [80] Ela
pode significar “Ele escolheu”, diz Baugh,[81] ou
“a quem ele escolheu de antemão”, diz Jewett.[82]
Como muitos calvinistas o vê, então, em última análise, o
pré-conhecimento de Deus é realmente equivalente à própria predestinação. Como
Jewett diz, “Nós somos eleitos de acordo com o pré-conhecimento (pré-ordenação)
de Deus Pai.” [83] Baugh
aprova traduzir proginosko (proegno) como “Ele
predestinou”. [84]
Que evidência os Calvinistas dão para essa definição
peculiar de pré-conhecimento? Eles referem-se, principalmente, a um pequeno
grupo de usos bíblicos dos verbos para “conhecer”, nos quais, eles tentam
encontrar as conotações de “escolher” e/ou “amor”. No velho Testamento, estes
incluem os lugares onde “conhecer” é um eufemismo para relações sexuais, além
de alguns outros usos de yada(“conhecer” em Hebraico), geralmente
Gen 18:19, Ex 2:25, Jer 1:5, Os 13 : 5; e Amós 3:2. Também são citados os
textos do Novo Testamento: Mt 7:23, João 10:14, 1 Coríntios 8:3; 13:12, Gal 4:9
e 2 Tm 2:19. Desde que “conhecer” em todas estas passagens, supostamente,
significa muito mais do que simples cognição, eles concluem que “pré-conhecer”
em Romanos 8:29 e em outros lugares também significa muito mais, isto é, “amor
distintivo, outorgado de antemão.” Assim, “a quem Ele escolheu de
antemão, Ele também predestinou.”
Como podemos responder a isso? Primeiramente, por uma
análise profunda de como a Bíblia usa as palavras para “conhecer” e
“pré-conhecer”. Tal análise pode ser resumida da seguinte forma. Primeiro,
conotações não-cognitivas para ginosko são, praticamente,
inexistentes no grego secular. Moo admite que a definição calvinista de
pré-conhecimento soa “um pouco estranha diante do contexto de uso amplo no
grego.” [85]
Em segundo lugar, o uso de “conhecer” como um eufemismo para
relações sexuais em nada contribui para esta visão Calvinista, pois se refere
especificamente ao ato sexual e não a um amor que pode ser associado a ele.
Além disso, o ato de “conhecer”, sexualmente, de nenhuma maneira inclui a
conotação de escolher, mas pressupõe que a escolha distintiva já foi feita
(através do casamento). Finalmente, o uso de “conhecer” para este ato – sexual
– está muito mais próximo de cognição do que amar ou escolher, que conota
conhecimento cognitivo no nível mais íntimo.
Terceiro, os textos bíblicos em que “conhecer” e
“pré-conhecer” parecem ter uma conotação de amor ou afeto (por exemplo, Ex
2:25; Os 13:5) nada provam, porque eles normalmente não especificam a razãopara
o amor-conhecimento de Deus, e eles certamente não sugerem que foi
incondicional. Na verdade, 1 Coríntios 8:3 parece dizer que é condicional: “O
homem que ama a Deus é conhecido por Deus”.
Em quarto lugar, uma análise dos textos do Novo Testamento
onde as palavras para “conhecer” têm pessoas como seus objetos, ou seja, onde a
ação de conhecer é especificamente dirigida às pessoas e não fatos como tais,
mostram que, nesses casos, essas palavras nunca têm a conotação de “escolha” ou
“imposição de uma distinção”. Isso se aplica a ginosko (usado
cerca de 52 vezes, deste modo), epiginosko(cerca de 15 vezes),
e oida (cerca de 43 vezes).
Essa análise nos dá informações muito úteis sobre o
significado do pré-conhecimento de Deus. A fim de aumentar a especificidade, as
três conotações básicas de “conhecer uma pessoa” são as seguintes:
(1) Identificação. Neste caso, “conhecer”
significa identificar alguém, para saber quem ele é, saber a sua identidade ou
sua verdadeira identidade, ser capaz de identificá-lo pelo que ele é, ser
íntimo com ele, se familiarizar com ele, compreendê-lo, saber sua verdadeira natureza.
Esta é de longe a conotação mais comum. [86] É
um ato puramente cognitivo. Não impõe uma identidade a alguém, mas percebe essa
identidade. Isso inclui a idéia de identificar alguém como pertencente a um
grupo específico, diferente daqueles que não pertencem. Este é o sentido em que
Jesus “conhece” Suas ovelhas (João 10:14, 27), da mesma forma quando Suas
ovelhas o conhecem (João 10:14; ver 2 Tm 2:19). Esta é a conotação de
“conhecer” que se aplica a “pré-conheceu” em Rm 8:29 e 1 Pe 1:1-2.
2) Reconhecimento. Aqui “conhecer” não significa
apenas ter um conhecimento cognitivo da identidade de alguém, mas também
reconhecer essa identidade. Como tal, é um ato de vontade, embora ele
pressuponha um ato de cognição. O aspecto mais importante é que este
reconhecimento não impõe uma identidade particular a ninguém, mas simplesmente
a confessa. Ver Marcos 1:24, 34, Atos 19:15, 1 Coríntios 1:21, 16:12, 1
Tessalonicenses 5:12.
3) Experiência. A terceira e mais intensa
conotação de “conhecer” quando uma pessoa ou pessoas são o seu objeto é
conhecer experimentalmente, experimentar um relacionamento com alguém. Mais uma
vez ela pressupõe cognição, mas vai além dela. Mais significativamente, tal
conhecimento não é um ato que inicia um relacionamento, mas simplesmente o
experimenta. Essa conotação é encontrada principalmente em 1 João. [87] Mateus
7:23; 1 Coríntios 8:3; e Hebreus 8:11 poderia ser tanto (1) quanto (3).
Em cada caso, o ato de conhecer não cria identidade pessoal
ou a sua distinção de outra pessoa. Pelo contrário, pressupõe uma identidade ou
distinção já existente, o ato de conhecer percebe e em alguns casos, reconhece
essa identidade ou distinção. Estas conotações para conhecer encaixam muito bem
o termo “pré-conhecimento” como é usado em Rm 8:29 e outros lugares. Aqueles a
quem Deus desde o princípio identificou e reconheceu como seus, os predestinou
para serem membros de Sua família glorificada no céu. (A conotação de
experimentar um relacionamento não transmite bem o conceito depré-conhecimento,
desde que pré-conhecimento, como tal, precede a existência do seu objeto,
impedindo um relacionamento experimentado)
Em qualquer caso, uma análise de todos os usos de “conhecer”
com pessoas como o objeto enfraquece a noção de que ele significa “predestinar”
ou “escolher”, e, portanto, não apóiam a idéia calvinista de que o
pré-conhecimento é o mesmo que eleição ou escolher antemão. Olson é inflexível
sobre isso: “É a minha tese de que um estudo lexical dos usos de yada, ginoskein e proginoskein não
revela o menor vestígio de prova irrefutável de que há tal conotação
seletiva.” [88] Forster
e Marston concordam, declarando que eles não encontraram nenhum texto Bíblico
em que “o sentido pretendido pelo autor não seria radicalmente alterado,
colocando “escolhidos” no lugar de yada ou ginosko.” [89] Olson
observa com razão que se pré-conhecimento é basicamente o mesmo que
predestinação, então o uso de Paulo de ambos os termos (pré-conhecimento e
predestinação) em Romanos 8:29 não faz sentido: “Assim, qualquer definição
de proginoskein que o torne de algum modo sinônimo de proorizein seria
absolutamente destruir a lógica da seqüência de Paulo (e do Espírito Santo).
Isto seria reduzi-la a uma mera redundância e desfazer totalmente a simetria do
desenvolvimento. Acredito que esta é a refutação final de qualquer conotação
pré-concebida para proginoskein.” [90]
A quinta conclusão a partir de nossa análise é que os vários
usos no Novo testamento de “pré-conhecer” e os dois usos de “pré-conhecimento”
não sustentam confortavelmente as conotações de “pré-amar” e “escolher de
antemão.” Atos 26:5 e 2 Pe 3:17 não se referem ao pré-conhecimento de Deus, mas
eles claramente se referem à precognição. Romanos 11:2 refere-se ao pré-conhecimento
de Deus de Israel como uma nação e não a quaisquer indivíduos dentro dela, e
nem mesmo para o remanescente salvo dentro da nação étnica como um todo. O
contexto sugere que a precognição Divina de Israel incluiu um pré-conhecimento
de sua persistente rebelião e idolatria, assim como um pré-conhecimento de que
um remanescente permanecerá fiel. Porque ele pré-conheceu que sempre haveria um
remanescente obediente identificado como o verdadeiro Israel espiritual (Rm
9:6), ele não abandonou seu povo étnico, embora ele tenha pré-conhecido que a
maioria deles nunca responderia à sua oferta de graça (Rm 10: 21).
A conotação cognitiva de proginosko é
encontrada também em outros textos do Novo Testamento que usam o termo. Em 1 Pe
1:20 Cristo é o único pré-conhecido desde a fundação do mundo; e no contexto
precognitivo, não escolhido, é o sentido preferido. O contraste é entre o
oculto e o revelado. Mesmo o Pai sabendo desde a fundação do mundo que Cristo,
o Filho seria o nosso Redentor, ele não o revelou até os últimos dias.
O uso do substantivo “pré-conhecimento” em 1 Pe 1:1-2 é
coerente com o entendimento não-calvinista de “pré-conhecer”. Este texto fala
daqueles que são escolhidos de acordo com o pré-conhecimento.
Assim, uma clara distinção é feita entre pré-conhecimento e escolha, e não há
nenhuma razão para ver no pré-conhecimento outra coisa senão o seu significado
básico de precognição. Assim, o relacionamento entre pré-conhecimento e eleição
aqui é exatamente o mesmo quanto aquele entre pré-conhecimento e predestinação
em Romanos 8:29.
Atos 2:23 também se refere ao pré-conhecimento de Deus, o
Pai, o seu objeto é Jesus Cristo e as circunstâncias de sua morte. Jesus foi
entregue “pelo plano predeterminado e pré-conhecimento de Deus”. “Plano
predeterminado” é equivalente à predestinação. Isto é, Deus já tinha
determinado desde a eternidade que Cristo morreria pelos nossos pecados. Que
ele foi entregue “pelo pré-conhecimento” significa que Deus previu todos os
atos humanos de participação na traição e morte de Cristo, como as de Judas e
Herodes. Deus não predeterminou estes atos, mas os conheceu previamente e,
portanto, poderia trabalhar o seu plano juntamente com eles e através deles.
Às vezes, os exegetas calvinistas tentam igualar o
pré-conhecimento e plano pré-determinado em Atos 2:23, invocando uma regra da
gramática grega. Veja como MacArthur[91] argumenta:
“De acordo com o que os estudiosos gregos se referem como regra de Granville
Sharp, se dois substantivos do mesmo caso (neste exemplo,” plano “e”
pré-conhecimento”) são conectadas por kai (“e”) e têm o artigo
definido (o) antes do primeiro substantivo, mas não antes do segundo, esses
substantivos se referem à mesma coisa… Em outras palavras, Pedro iguala plano
predeterminado de Deus ou preordenação ao Seu pré-conhecimento. ”
Wuest[92] coloca
quase exatamente da mesma maneira, que, em tal caso, o segundo substantivo
“refere-se à mesma coisa” que o primeiro, portanto, Atos 2:23 mostra que a
predestinação e pré-conhecimento “referem-se à mesma coisa.”
Este argumento, no entanto, é seriamente defeituoso. Ambos
MacArthur e Wuest citam erroneamente a regra de Sharp. A regra não diz que os
dois substantivos na construção acima descrita “referem-se à mesma coisa.” Diz
apenas que, nesse caso, o segundo substantivo “relaciona-se sempre a mesma
pessoa que é expressa ou descrita no primeiro substantivo.” Há uma diferença
enorme entre relativos à mesma pessoa (ou coisa), e referindo-se à
mesma pessoa (ou coisa). Carson diz que é uma falácia exegética supor que a
última ou estrita forma da regra da Sharp tem validade universal. Ele diz: “Se
um artigo regula dois substantivos unidos por Kai, não implica
necessariamente que os dois substantivos referem-se à mesma coisa, mas apenas
que os dois substantivos são agrupados em função de alguns aspectos, como uma
única construção.” [93] Além
disso, Sharp afirma que sua regra se aplica apenas a pessoas, não para as
coisas. Como diz um erudito grego, “Substantivos impessoais desqualificam a
construção”, ele cita Atos 2:23 como um exemplo concreto disso. [94]
A preponderância da evidência, portanto, mostra que
“pré-conhecimento” não é equivalente a eleição ou escolha, e que em Rm 8:29 e 1
Pe 1:1-2 ele refere-se a nada mais do que o ato cognitivo pelo qual Deus
conheceu ou identificou os membros da sua família (como distinto de todos os
outros) antes mesmo da fundação do mundo. Ele os identificou pelo fato de que
eles foram (serão) os únicos que reuniram (reunirão) as condições necessárias
para a salvação. Conhecendo através de sua divina onisciência o que estes
indivíduos seriam, nesse momento os predestinou para serem parte da sua família
celeste glorificada pela ressurreição dos mortos após o padrão estabelecido
pelo irmão primogênito, Jesus Cristo.
Embora desprovido de base bíblica, anexar um elemento
afetivo ao conceito de pré-conhecimento[95]não
é destrutivo para o ponto de vista Arminiano, contanto que esses cuidados sejam
observados: (1) o elemento de afeto nunca deve ser igualado com escolher ou
preordenar[96] e
(2) o significado primário de proginosko deve sempre ser
entendido como conhecimento cognitivo ou presciência. Hunt provavelmente
está certo: “Pré-conhecer é simplesmente saber com antecedência e não pode ser
legitimamente transformada em outra coisa.” [97] Mas
se alguém quiser pensar como Picirilli faz, que na Bíblia pré-conhecimento “é,
pelo menos em algum momento, algo mais do que mera presciência” – tal como
“amado previamente e carinhosamente considerado como Sua propriedade” [98] –
ele deve lembrar-se de que tal “pré-amor” é secundário e realmente o resultado do
pré-conhecimento como presciência, que é o primário e único
solidamente-fundamentado significado da palavra. O arremate encontra-se nesta
declaração: “A predestinação para a vida eterna está, claramente, condicionada
ao pré-conhecimento de Deus… O que quer que ‘pré-conhecer’ possa significar,
ela significa pré-conhecer.”[99]
Em resumo, a Bíblia ensina que Deus predestina ou escolhe
pelo nome determinados indivíduos para a salvação eterna, mas ele faz isso
apenas com base no seu pré-conhecimento ou precognição/presciência de que estes
indivíduos reunirão as condições para a salvação, tal como enunciado em sua
Palavra. [100]
II. A HISTÓRIA DA VISÃO ARMINIANA
A visão Arminiana Clássica da predestinação, em essência,
diz que o Deus onisciente pré-conheceu todos aqueles que confiariam em sua
graça salvadora de sua própria livre escolha; e com base nesse pré-conhecimento
ele os predestinou para a vida eterna. Da mesma forma Ele pré-conheceu todos
aqueles que não confiariam nele para a salvação, e justamente os predestinou
para a condenação eterna. Embora esta seja chamada de “a visão arminiana”, ela
tem estado realmente presente no pensamento Cristão, quase desde o início.
Philip Schaff observa que até Agostinho, todos os Pais
Gregos “só tinham ensinado uma predestinação condicional, e que a faziam
dependente do pré-conhecimento dos atos livres dos homens.” [101] Alguns
pais do século reconheceram o pré-conhecimento de Deus[102],
com “O Pastor de Hermas”, relacionando-o com a predestinação de uma forma
geral. Ao explicar por que todos não se arrependem, ele diz que, para aqueles
cujos corações Deus “viu que estavam prestes a tornarem-se puros, e que estavam
prestes a servi-lo com todo seu coração, ele deu o arrependimento; mas para
aqueles cuja falsidade e maldade previu, e que estavam prestes a se
arrependerem, hipocritamente, não deu arrependimento.” [103] Na
mesma época Justino, o Mártir fala do fim dos tempos como o momento em que “o
número daqueles que são pré-conhecidos por Ele como bons e virtuosos está
completo.” [104]Igualando
as Escrituras com a mente de Deus, Justino diz, “Mas se a palavra de Deus diz
que alguns anjos e homens serão certamente punidos, ela diz isso, porque Ele
pré-conheceu que seriam imutáveis – perversos -, porém, não porque Deus os
tivesse criado assim.“[105]
No século III d.C., Orígenes defende fortemente a
presciência de Deus, em referência à profecia preditiva, dizendo que ela não
afeta o livre-arbítrio, uma vez que não é causal e implica apenas a futuridade
simples de um evento, não a sua necessidade. [106] Ele
diz que Romanos 8:29 mostra que “aqueles que Deus pré-conheceu se tornariam o
tipo a conformarem-se a Cristo, por seus sofrimentos, ele até os predestinou
para serem conformes e semelhantes à sua imagem e glória. Portanto, precede um
pré-conhecimento deles, através do qual é conhecido o esforço e virtude que
eles possuem em si mesmos e, portanto, segue a predestinação, embora o
pré-conhecimento não deve ser considerado a causa da predestinação.”[107]
Escritores do quarto século afirmando esta visão incluem
Ambrosiaster, que diz: “Aqueles que são chamados segundo a promessa são aqueles
a quem Deus sabia que iriam crer no futuro.” [108] [109] No
que diz respeito a Esaú e Jacó, em Romanos 9:11, Ambrosiaster diz: “Portanto,
conhecendo o que cada um deles viria a ser, Deus disse: “O mais moço será
digno e o mais velho indigno. No seu pré-conhecimento ele escolheu um e
rejeitou o outro. “[110] Além
disso, “Aqueles a quem Deus pré-conheceu que iriam crer nele, ele os escolheu
para receber as promessas.”[111] Outro
escritor do século IV, Diodoro de Tarso, diz que Deus não mostra misericórdia
para um e endurece o outro “por acidente, pois era de acordo com o poder de seu
pré-conhecimento que ele deu a cada um o que era devido.”[112]
Como observa Harry Buis, [113] até
Agostinho, em seus escritos antigos compartilha desse pensamento antes dele
chegar ao que viria a ser conhecido como o ponto de vista Calvinista. Pelágio e
seus discípulos continuaram a enfatizar a visão da predestinação – pelo –
pré-conhecimento. Pelágio diz, “Aqueles a quem Deus conheceu de antemão que
creriam, ele chamou.” [114] Ele
diz que Romanos 9:15 significa: “Terei misericórdia daquele de quem eu tenho
pré-conhecido que será capaz de merecer a compaixão.”[115] Nos
anos seguintes ao abismo entre Agostinho e Pelágio, os semi-Pelagianos
rejeitaram a nova visão determinista de Agostinho da predestinação e
continuaram a enfatizar “uma predestinação para a salvação condicionada ao
pré-conhecimento da fé.” [116] Por
exemplo, João Cassiano ensinou que “a predestinação de Deus deve ser em função
daquilo que Ele prevê que será a qualidade de nosso comportamento”, como Kelly
resume. [117] Comentando
Romanos 8:29-30 Teodoreto de Ciro († 466) diz, “Deus não apenas predestina; Ele
predestinou aqueles que ele pré-conheceu.” Ou seja, “aqueles cuja intenção Deus
pré-conheceu Ele predestinou desde o início.”[118]
Durante a Idade Média esta visão foi sustentada ao lado da
visão Agostiniana; ela “reaparece novamente e de novo”, como observa Buis, por
exemplo, em Duns Scotus, em William de Ockham e os Occamists.[119] Embora
os principais reformadores tenham se apoiado em Agostinho, a maioria deles
identificados com a “reforma radical”, ou abandonaram ou revisaram essa visão e
ensinaram a restauração do livre-arbítrio através da graça preveniente
universal.[120]
Embora a visão Arminiana clássica da predestinação,
obviamente, não tenha começado com Armínio, é claro que ele sustentou esta
visão. Ele resume sua doutrina da predestinação assim: que desde a eternidade
“Deus decretou salvar e condenar certas pessoas em particular. Este decreto tem
o seu fundamento no pré-conhecimento de Deus, pelo qual ele conheceu desde toda
a eternidade aqueles indivíduos que, através de sua graça preventiva, creriam,
e através de sua graça subseqüenteperseverariam, [121] de
acordo com a antes descrita administração desses meios, os quais são adequados
e apropriados para conversão e fé, e pelo mesmo pré-conhecimento, ele da mesma
forma conheceu aqueles que não iriam crer e perseverar.” “Esta
doutrina da Predestinação“, diz ele, “sempre foi aprovada pela grande
maioria dos cristãos professos, e até agora… ela goza o
mesmo patrocínio extensivo.” [122]
No que diz respeito ao pré-conhecimento de Deus, Armínio é
rápido para admitir que ele não “compreende o modo pelo qual Ele conhece as
contingências futuras, e especialmente aqueles que pertencem ao livre-arbítrio
das criaturas.” [123] Mas
Deus tem tal previsão, no seu verdadeiro sentido de presciência. Alguns de seus
decretos são ocasionados “pela previsão dos atos livres das criaturas
racionais”, por exemplo, o decreto de enviar Cristo ao mundo “depende da
previsão de queda.” [124] Da
mesma forma: “Deus pela Sua própria presciência, conhece quem, pela sua graça,
vai crer, e quem, por sua própria falta, permanecerá na incredulidade.” [125] Assim
como Deus predetermina punir alguns por causa “da previsão do pecado
futuro,” [126] do
mesmo modo Ele predestina para a salvação aqueles que são previstos a crer, de
acordo com estas três afirmações: “(1.) ‘A fé não é um efeito da eleição. ‘
(2.) ‘A fé é uma requisito necessário naqueles que são eleitos ou salvos. ’
(3.) ‘Este requisito é previsto por Deus nas pessoas eleitas. ’” [127]
O ponto principal, como Bangs diz, [128] é
que “Armínio inverteu a relação entre o pré-conhecimento e a predestinação “que
era característica da visão Agostiniana a qual ele aprendeu com os principais
reformadores protestantes, e retornou à visão dos antigos Pais da Igreja”“.
Armínio e seus seguidores tinham uma considerável influência.
Este foi especialmente o caso na Inglaterra, onde a doutrina Arminiana afetou
as crenças e os ensinamentos de John Wesley. [129] Em
um sermão sobre a predestinação com base em Romanos 8:29-30, Wesley afirma que
“Deus pré-conheceuaqueles em cada nação, que creriam, desde o
início do mundo até a consumação de todas as coisas.” Para Deus não é um
pré-conhecimento literal, já que todas as coisas estão presentes diante Dele em
um eterno agora, mas na nossa perspectiva, é um verdadeiro pré-conhecimento.
“Em uma palavra, Deus, olhando para todas as épocas, desde a criação até a
consumação, como um momento, e vendo de uma só vez o que está no coração de
todos os filhos dos homens, conhece cada um que irá crer ou não, em cada época
ou nação. Entretanto, o que ele sabe, se a fé ou incredulidade, não é de forma
sábia causada por seu conhecimento. Os homens são tão livres para crer ou não
crer, como se Ele não conhecesse o todo.” [130] O
próximo passo, após o pré-conhecimento é a predestinação. “Em outras palavras,
Deus decreta, de eternidade a eternidade, que todo aquele que crê no Filho do
seu amor, será conformado à sua imagem.” [131] Wesley
diz: “Como todos os que são chamados foram predestinados, assim também, todos a
quem Deus predestinou, ele pré-conheceu. Ele conheceu, Ele os viu como crentes,
e como tal os predestinou para a salvação, segundo o seu decreto eterno,
‘Aquele que crê será salvo.”… Quem são predestinados? Ninguém, a não ser
aqueles a quem Deus pré-conheceu como crentes. “[132]
Wesley especificamente explica Romanos 8:29 assim: “Pois a
quem Ele pré-conheceu, “como crentes“, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho. “[133] Isso
sintetiza bem a visão da maioria dos Arminianos hoje, seja eles Wesleyanos ou
não em sua teologia geral.
Assim, é evidente que a visão da predestinação hoje conhecida como Arminianismo
clássico tem uma história longa e consistente.
III. PRESSUPOSTOS TEOLÓGICOS DA VISÃO ARMINIANA CLÁSSICA DA
PREDESTINAÇÃO
A visão Arminiana clássica da predestinação não existe num
vácuo, é um elemento de um consistente sistema doutrinário. O objetivo desta
seção é resumir os pressupostos teológicos que constituem o quadro geral para
ela. Ou seja, a visão Arminiana clássica da predestinação pressupõe certa
interpretação dos conceitos a seguir.
A. A Vontade de Deus ou Propósito
A visão Calvinista da vontade de Deus ou o propósito é
enunciado em sua doutrina do decreto eterno, eficaz, abrangente e
incondicional. Arminianos acreditam que Deus também tem um decreto eterno, mas
eles geralmente falam dele como seu propósito eterno. Mais importante, os
arminianos não acreditam que este propósito eterno é abrangentemente eficaz e
incondicional.
A Escritura certamente ensina que Deus tem uma vontade
intencional pela qual Ele decreta que certas coisas absolutamente acontecerão.
Este propósito eficaz é representado pelos termos Gregos boule(Atos
2:23, 4:28, 13:36, Ef 1:11, 6:17), boulomai (1 Coríntios
12:11; Tg 1:18), Thelema ( Mat 26:42, João 6:40, Efésios 1:5,
9, 11; Ap 4:11), thelo (Rm 9:18), protesis (Rm 8:28, 9:11, Ef
1:11; 3 : 11), e protithemi (Ef 1:9).
Ao contrário do calvinismo, no entanto, a própria Bíblia
mostra claramente que o propósito de Deus (eficaz) não inclui todas as coisas.
Ele não é todo-abrangente; ele não inclui “tudo que acontece.” Isto é visto no
fato de que, por vezes, as palavras acima, que falam do propósito determinativo
de Deus são usadas para representar o desejo de Deus para que
certas coisas aconteçam, as quais na verdade não acontecem. Jesus queria (thelo)
que os habitantes de Jerusalém viessem até Ele, mas eles se recusaram (Mt
23:37). Deus deseja (thelo) que todos os homens sejam salvos e cheguem
ao conhecimento da verdade (1 Tm 2:4), mas isso não acontece. As mesmas
palavras, por vezes, referem-se às contingências que ocorrem contrariamente ao
desejo e vontade do próprio Deus. Algumas poucas crianças se perderão, muito
embora não seja a vontade do Pai (thelema, Mateus 18:14). Embora seja
contrário ao propósito de Deus (boulomai), alguns nunca vão se
arrepender e, portanto, perecerão (2 Pe 3:9).
O aspecto mais fundamental da vontade proposital de Deus é
que ele tem determinados propósitosgerais que ele vai
infalivelmente realizar através de seu poder soberano. Por exemplo, é o eterno
propósito de Deus glorificar a si mesmo, compartilhar sua bondade com os outros
seres pessoais e proporcionar salvação aos pecadores. Então, a fim de realizar
estes propósitos gerais, Deus também determinou causar quaisquer meios
específicos necessários para realizá-las. A fim de manifestar a sua
glória, Deus determinou criar todas as coisas (Ap 4:11); a fim de partilhar a
sua bondade, ele criou pessoalmente, seres com o livre-arbítrio que são capazes
de honrá-lo e dar-lhe graças (Rm 1:21).
Tendo pré-conhecido a entrada do pecado em sua criação, a
fim de proporcionar a salvação aos pecadores, Deus determinou se encarnar como
Jesus de Nazaré e morrer pelos pecados da humanidade (Atos 2:23, 4:27-28, Ef
1:4 -10; 1 Pe 1:20, Ap 13:8). A fim de cumprir o seu propósito através de Jesus
de Nazaré, Deus determinou usar uma determinada nação (Israel) para preparar o
caminho para sua vinda. Grande parte do ensino bíblico sobre a vontade
intencional de Deus se refere à sua criação e utilização de Israel como nação
(Dt 7:6-8), o uso de outras nações relacionadas com Israel (Isaías 14:24-27;
37:26; 46 :9-11), e sua eleição e uso de indivíduos dentro e relacionados com
Israel (por exemplo, Abraão, David, Ciro, Faraó; cf. Rm 9:7-18). Uma vez que o
seu propósito para Israel e o seu propósito inicial redentor por Jesus tivesse
sido atingido; foi o plano eterno de Deus, através do trabalho de preparação
dos apóstolos escolhidos (João 15:16; Gl 1:15), trazer a igreja à existência
mediante a combinação de crentes judeus e gentios juntos em seu novo “povo
escolhido” (Rm 11:17-24; Ef 3:1-11). Foi então o seu plano pré-determinado usar
a igreja como o local de salvação e os meios de evangelização até o fim dos
tempos (Ef 1:10).
Em referência ao seu desejo de salvar os indivíduos dos seus
pecados (1 Timóteo 2:4; 2 Pe 3:9), Deus pré-determinou, não só o fornecimento
de salvação através da obra de Cristo, mas também os termos segundo os quais
Ele realmente outorgaria esta salvação sobre certos pecadores (Rm 8:28; 11:5; 2
Tm 1:9).
Em todas essas questões a vontade ou propósito de Deus é
eficaz, causal ou determinativo. Uma vez que a determinação divina para
trazê-los à existência ocorreu antes da criação, a vontade intencional de Deus
é essencialmente equivalente à predestinação. A principal diferença entre a
vontade intencional Arminiana e decreto eterno Calvinista é que o último é
todo-abrangente, enquanto o primeiro não é.
B. A Natureza da Realidade Criada
A principal razão por que os arminianos não vêem a vontade
intencional de Deus como todo-abrangente, é porque eles têm uma certa visão da
natureza da realidade criada. Por decisão soberana do próprio Deus, o tipo de
mundo que ele escolheu criar é capaz de operar e de progresso, de tal forma que
Deus não precisa ser a causa direta de todas as coisas. Na verdade, a maioria
das coisas específicas que acontecem no mundo não são causadas por Deus.
Deus certamente poderia criar muitos tipos diferentes de
realidade, mas no nosso caso, Ele, na verdade, optou por criar um mundo dotado
de relativa independência. [134] Nosso
mundo inclui duas grandes forças com o seu próprio poder relativamente
independente aos eventos iniciais, ou seja, duas forçascausais além
do próprio Deus: a lei natural e livre-arbítrio. A existência dessas forças
causais é uma parte do decreto intencional do próprio Deus.
Especialmente importante é a existência de seres que possuem
uma forma significativa de livre-arbítrio. Este tipo de livre-arbítrio (o qual
é o único tipo que é genuinamente livre) é chamado às vezes: o poder da escolha
contrária. Como Geisler diz: “No mínimo, liberdade significa o poder de escolha
contrária, isto é, um agente é livre somente se ele poderia ter feito de outra
forma.” [135] Além
disso, uma vontade é livre de forma significativa se as escolhas que ela faz
não são causadas ou determinadas, quer direta ou indiretamente, por uma força
externa. Assim, podemos dizer que o verdadeiro livre-arbítrio é a capacidade de
escolher entre opostos, sem que a própria escolha seja fixa ou determinada por
algum poder fora da vontade da própria pessoa. Isso se aplica especialmente a
capacidade do pecador, ou de crer ou de rejeitar o evangelho. Como Forlines
diz: “No Arminianismo existe um acordo de que os seres humanos têm liberdade de
escolha. Isto inclui a liberdade de colocar sua fé em Cristo, após ouvir o
evangelho, ou, inversamente, eles podem recusar-se a colocar a sua fé em
Cristo”. [136]
Calvinistas e outros deterministas geralmente são relutantes
em abandonar o conceito de livre-arbítrio, mas caso eles o conservem geralmente
eles o redefinem para que ele seja compatível com o decreto todo-abrangente e
eficaz. De acordo com o compatibilismo, a vontade é considerada livre porque
suas decisões são diretamente determinadas por suas próprias motivações e
desejos internos da própria pessoa. Ou seja, é uma escolha consciente de fazer
o que ele quer fazer. A razão pela qual isto não é verdadeiramente livre-arbítrio,
porém, é que (de acordo com o compatibilismo) Deus implanta dentro de nós as
motivações e os desejos específicos que, inevitavelmente, nos levará a fazer
apenas as escolhas que Deus determinou que nós fizéssemos. No entanto, nessa
visão, a vontade é ainda chamada “livre” desde que ela não é consciente de
ser causada ou compelida a fazer essas escolhas. A pessoa está apenas fazendo o
que ele quer fazer, diz Feinberg, mesmo que ela “não pudesse ter feito de outra
forma, dadas às influências causais predominantes.” Portanto, este é “um
sentido genuíno da ação humana livre, mesmo que tal ação seja causalmente
determinada.” [137]
Arminianos corretamente rejeitam este conceito como um falso
ou espúrio conceito do livre arbítrio. O sentimento psicológico de liberdade
não pode substituir a verdadeira capacidade interior de fazer uma escolha
genuína entre opostos.
Ao mesmo tempo arminianos corretamente rejeitam todas as
caricaturas calvinistas do verdadeiro livre-arbítrio, como a chamada “liberdade
de indiferença”, segundo a qual, todas as escolhas são vistas como arbitrária,
imprevisíveis, caprichosas, e aleatórias. [138] Um
exemplo é a descrição de Erickson do livre-arbítrio Arminiano como “totalmente
espontâneo; escolha aleatória.”[139] Esta
não é propriamente uma caracterização responsável. A capacidade da vontade para
escolher entre opostos não requer influência igual para ambos os lados, às
vezes, a vontade opta por uma certa escolha em oposição às influências
esmagadoras no sentido contrário (ver Amós 4:6-11; Ag 1:1-11).
A realidade da vontade verdadeiramente livre é um
ingrediente-chave no sistema Arminiano e um pressuposto necessário da visão
arminiana da predestinação. Tal livre-arbítrio é incompatível com o conceito de
um decreto eficaz e todo-abrangente ou o propósito todo-inclusivo de Deus. De
fato, um mundo que contém forças com a capacidade imbutida de iniciar de forma
independente (“criar”) eventos torna necessário falar “da vontade de Deus” em
dois outros sentidos, além de sua vontade intencional.[140] Uma
delas é a vontade permissiva de Deus, segundo a qual Deus
simplesmente permite que aconteça a maioria dos eventos físicos produzidos pela
lei natural e a maioria das decisões produzidas pelos seres de vontade livre.
Ele pode, é claro, decidir evitar que aconteça qualquer evento
planejado ou projetado (Tg 4:15), o que seria um exemplo de sua vontade
intencional. As vontades intencional e permissiva de Deus são todo-abrangentes
(embora só a primeira seja eficaz), englobando “tudo que acontece.” Não devemos
permitir que esses dois tipos de vontade divina, se sobreponham, no entanto – é
um erro Calvinista que resulta na perda de genuína permissão. [141]
O terceiro sentido em que podemos falar “da vontade de Deus”
não tem a ver com acontecimentos reais, mas com eventos potenciais. Estas são
as escolhas e ações que Deus quer ou deseja que sejam feitas através do
livre-arbítrio das suas criaturas, mas que podem ser rejeitadas ou deixadas sem
fazer por parte delas. Esta é às vezes chamada de vontade preceptiva ou
preceitual de Deus, porque ela inclui os preceitos e mandamentos de
Deus que nós iremos obedecer ou desobedecer (por exemplo, Mateus 7:21, 12:50,
Rm 2:18; 1ª João 2:17). Este aspecto da vontade de Deus também inclui os
desejos de Deus para nós, especialmente o seu desejo de que ninguém se perca,
mas que todos sejam salvos (por exemplo, Mateus 18:14; 1ª Tm 2:4; 2 Pe 3:9). A
vontade de Deus, nesse sentido, nem sempre é realizada (Mateus 23:37 e Lucas
7:30). Assim, este aspecto da vontade de Deus não é eficaz, nossa conformidade
com ela, é escolha da nossa vontade livre. Esta é simplesmente a natureza da
realidade que o próprio Deus livremente escolheu fazer.
C. A Soberania de Deus ao Lidar com a Criação
Como se compreende a soberania de Deus diretamente relaciona
à sua visão de predestinação. Se alguém começa com um conceito de soberania que
exige que Deus seja a causa final de todas as coisas e não permite que qualquer
coisa a respeito de Deus seja condicionada por qualquer coisa fora de Dele, ele
não pode evitar o conceito calvinista da predestinação incondicional. O
Arminianismo, no entanto, rejeita tal conceito de soberania como arbitrária e
sem base bíblica. Para os Arminianos as palavras-chaves para a soberania divina
são controle, não causalidade; e condicionalidade,
não incondicionalidade.
Deus poderia ter criado um universo em que ele seria a única
causa de todos os eventos, mas Ele preferiu criar seres com livre-arbítrio que
eles próprios tivessem o poder de escolher e dar início a eventos. Como
resultado Deus não é a única causa de tudo que acontece neste
universo. Como observa Picirilli, “O homem é, portanto, um ator no
universo.” [142] Isto
em nada contradiz a soberania de Deus, porque ele livre e soberanamente
escolheu fazer esse tipo de mundo. Isto não é uma limitação imposta de fora
Dele sobre Ele, é uma Auto-limitação livremente escolhida, uma expressão de
Sua soberania.[143]
Mas como Deus pode manter a sua soberania em tal universo,
se ele próprio não é causa a tudo? A resposta está na palavra controle:
através de seu poder infinito e conhecimento, Deus mantém o controle completo
sobre tudo o que acontece. A palavra “controle” não deve ser equiparada aqui
com causalidade, como se Deus estivesse operando um painel de controle
universal que manipula e micro-gerencia cada evento. Pelo contrário, Deus
controla todas as coisas no sentido de que ele está “no total controle de”
todas as situações: ele controla, fiscaliza, planeja, autoriza, intervém, e
evita como lhe apraz com seu infinito conhecimento e poder.
Deus exerce seu controle soberano especialmente através de
sua vontade permissiva, o que pressupõe o pré-conhecimento divino das futuras
escolhas pelo livre arbítrio. Tal pré-conhecimento dá a Deus a verdadeira opção
de permitir ou impedir escolhas planejadas dos homens, e o impedimento é o
controle final. Tiago 4:13-15 castiga o homem que alegremente diz: “Hoje ou
amanhã iremos a tal e tal cidade, e passaremos um ano lá e nos envolveremos nos
negócios e teremos lucro.” Mas espere um minuto, diz Tiago. Você não está
levando em conta a soberania de Deus. “Em vez disso, você deveria dizer: ‘Se o
Senhor quiser, viveremos e também faremos isto ou aquilo’.” Em outras palavras,
não é errado fazer planos, mas sempre devemos reconhecer o poder de Deus para
impedi-los (como em Lucas 12:19-20). Este é o significado de Pv 19:21: “Muitos
planos estão no coração do homem, mas o conselho do SENHOR permanecerá” (veja
Pv 16:9).
Isso ressalta o fato de que ter o livre arbítrio dá aos seres
humanos apenas uma independência relativa, uma vez que o Deus
soberano mantém o direito e o poder de intervir em situações do mundo da
maneira que ele escolhe. Através de sua providência especial, ele pode intervir
e influenciar as leis da natureza sem realmente violá-las, e assim utilizar os
eventos naturais para influenciar as decisões humanas. [144] A
realidade do livre-arbítrio significa que tal influência pode ser resistida
(Amós 4:6-11; Ag 1:1-11); assim, às vezes Deus exerce o seu direito de intervir
nos acontecimentos naturais e humanos de forma direta. Isto significa que, por
vezes, suspende a lei natural e faz milagres; [145] mas
também significa que ele é capaz de suspender o próprio livre-arbítrio, se seus
propósitos assim exigirem (como aconteceu com Balaão Nm 23-24). [146]
Que Deus tem tal controle soberano significa que, embora a
criação tenha sido dotada de autonomia, essa independência é apenas relativa. Controle
verdadeiro não exige causalidade, predeterminação, ou pré-ordenação de todas as
coisas, mas ele implica intervenção causal, quando necessário. Criaturas livres
são normalmente autorizadas a seguir seu próprio caminho, mas Deus pode e deve
intervir quando os seus propósitos o exigirem.
A outra palavra-chave para o conceito Arminiano de soberania
é condicionalidade. Tal concepção é contrária à doutrina calvinista
de um decreto incondicional, que diz que em nada Deus pode ser condicionado
pela criatura. Deus não pode reagir ou responder a qualquer coisa fora de si e
ser soberano, ao mesmo tempo. A. A. Hodge diz claramente: “Um decreto
condicional seria subverter a soberania de Deus”. [147]
A idéia de que a soberania exige incondicionalidade, porém,
é um pressuposto injustificado, uma vez que necessita da redefinição
compatibilista inaceitável de “livre arbítrio”. Este pressuposto está em contradição
direta com a escolha soberana de Deus de criar seres com um genuíno
livre-arbítrio. Se nós somos verdadeiramente livres, então as decisões e ações
do próprio Deus são, às vezes, reações, ou seja, estão
condicionadas pelas circunstâncias iniciadas pelas criaturas.
Na verdade, a maioria das obras de Deus neste mundo, é a sua
reação ou resposta ao pré-conhecimento dos atos humanos. Esta é a maneira que a
Bíblia o retrata. Praticamente todas as grandes ações de Deus registradas na
Bíblia depois de Gênesis 3:1 é uma resposta ao pecado humano. A aliança com
Abraão, a criação de Israel, a encarnação de Jesus, sua morte e ressurreição, o
estabelecimento da igreja, a própria Bíblia – todas fazem parte da reação
divina ao pecado do homem. Da mesma forma o ato de Deus de outorgar a salvação
aos indivíduos, e o ato de predestinar que isso aconteça, é a resposta ou
reação de Deus às decisões de fé do homem. Da mesma maneira, o ato de Deus de
condenar alguns ao inferno, está condicionado ao seu pecado e à sua recusa em
se arrepender.
Alguns dos conceitos mais importantes para o controle
soberano de Deus sobre sua criação são na verdade de natureza reativa.
Isto é verdadeiro da permissão genuína em eventos específicos, bem como
qualquer intervenção divina preventiva para impedir tais acontecimentos. Tais
decisões permissivas e preventivas são condicionadas pelas intenções das
criaturas quando pré-conhecidas por Deus. Os Calvinistas na tentativa de
absolver Deus da responsabilidade pelo pecado, declaram que o seu eterno
decreto sobre o pecado é permissivo e não eficaz. Mas isto contradiz o conceito
calvinista da soberania, a essência do qual é a incondicionalidade (“Deus age
sempre, nunca reage”). Como Erickson descreve, o Calvinismo declara que a
natureza do decreto soberano de Deus significa que “os seres humanos não
tiveram qualquer participação no que Deus planejou”; Deus não é dependente
daquilo que os homens decidem. [148] Ou
seja, o trato de Deus com o homem, é incondicional. Permissão real, no entanto,
é simplesmente incompatível com tal incondicionalidade; e os Calvinistas que
entendem isso, são obrigados a falar de um oxímoro: “permissão eficaz”.[149]
Outro conceito fundamental que é condicional pela sua
própria natureza, é o próprio pré-conhecimento. O conteúdo da mente de Deus,
que é chamado de “pré-conhecimento” é condicionado pelos eventos que acontecem
no mundo, quando previstos por Deus antes mesmo de existirem. Os Calvinistas
rejeitam tal noção de conhecimento passivo, declarando que ele é indigno para
Deus e contrário à sua soberania. Conhecimento condicionado, Chafer diz:
“coloca Deus na posição indigna de ser dependente das Suas criaturas.” [150] Se
o pré-conhecimento de Deus não é, portanto, dependente de suas criaturas, o que
ele faz? “Seu conhecimento das coisas futuras… Descansa em seu decreto”, diz
Berkhof. [151] Um
problema com essa idéia, é claro, é que tal conhecimento incondicional não é
verdadeiro conhecimento do que as criaturas vão fazer; ele é, na verdade, o
simples conhecimento de Deus do que Ele pretende fazer.
Todos esses conceitos antinaturais e forçados dentro do
calvinismo (compatibilismo, “livre” – arbítrio, permissão eficaz,
pré-conhecimento não-dependente) podem ser evitados simplesmente rejeitando a
noção arbitrária de que a soberania divina exige incondicionalidade, como faz o
Arminianismo. Os Arminianos livremente afirmam que muito do conhecimento de
Deus e muitas das ações de Deus são condicionadas por suas criaturas, mas eles
insistem que isto em nada afeta a sua soberania desde que este é o tipo de
universo que ele escolheu soberanamente criar. Um arranjo onde Deus reage às
escolhas do homem seria uma violação da soberania só se Deus fosse forçado a
isso, só se fosse uma necessidade externa imposta a Deus. Mas este não é o
caso. Foi a escolha soberana de Deus criar um universo habitado por seres com
livre-arbítrio, cujas decisões determinariam, em grande medida, o curso de suas
próprias ações. É arbitrário e falso dizer que essa situação nega a soberania
divina, quando a própria situação é o resultado de sua
soberania.
O ponto é que um Deus realmente soberano não necessita causar
ou predeterminar todas as coisas de forma a manter o controle completo sobre
sua criação; sua soberania é maior do que isso! Nem um
universo livremente escolhido por Deus no qual Suas ações são, às vezes,
condicionados por suas criaturas diminuem sua soberania; isso, na verdade,
a engrandece e magnifica! O que está em jogo aqui não é apenas a
liberdade do homem, mas a liberdade de Deus também. Um Deus soberano é um Deus
que é livre para se Auto-limitar no que diz respeito às suas obras; um Deus que
é livre para decidir nãodeterminar se ele assim o desejar; um Deus
que é livre para conceder o dom da relativa independência às suas criaturas,
sem perder o controle sobre eles. Esta é a verdadeira soberania.
D. O Pré-conhecimento de Deus
O quarto pressuposto da visão Arminiana de predestinação é
um conceito particular do pré-conhecimento de Deus. Afirma-se que Deus
teve um completo pré-conhecimento de toda a história do universo criado, antes
do ato da própria criação. Alguns falam de tal pré-conhecimento como eterno:
Deus, “previu o futuro desde toda a eternidade”, diz Forlines. [152] “Desde
a eternidade passada Deus conheceu tudo o que iria acontecer no universo e nas
mentes e nos assuntos dos homens”, diz Hunt.[153] Se
este pré-conhecimento tem estado presente na mente de Deus, literalmente, pela
eternidade não é o ponto crucial, o que importa é que ele estava lá antes de
qualquer parte deste universo vir à existência.
As afirmações bíblicas do pré-conhecimento divino são
abundantes e inatacáveis. Deus nos diz que a marca segura da divindade é a
possibilidade de declarar o que vai acontecer; anunciar o que está por vir
(Isaías 41:21-23). Isto foi exatamente o que Deus fez: “Eu sou Deus, e não há
outro, eu sou Deus, e não há ninguém como eu, que declara o fim desde o
princípio, e desde os tempos antigos as coisas que não foram feitas” (Isa
46:9-10; ver Isa 42:8-9, 44:7-8, 45:20-21, 48:3-7). Em todos estes textos Deus
afirma sua posse exclusiva do conhecimento do futuro
A possibilidade de toda a profecia preditiva depende
largamente do genuíno pré-conhecimento de Deus. A marca de um verdadeiro
profeta, diz o Senhor, é se a coisa que ele prediz vão se cumprir (Dt
18:20-22). Depois que Daniel interpretou o sonho de Nabucodonosor sobre a
estátua, ele disse: “O grande Deus fez saber ao rei o que acontecerá no futuro”
(Dan 2:45). Pouco antes da morte de Moisés, Deus lhe falou sobre a futura
apostasia dos israelitas (Dt 31:16-21). Nesses e em outros casos, Deus não está
apenas declarando aquilo que ele próprio pretende fazer no futuro, mas também
está predizendo o que os seres humanos estarão fazendo pelo seu próprio
livre-arbítrio.
Outras referências específicas ao pré-conhecimento inclui Rm
11:2, a qual diz que Deus pré-conheceu seu povo Israel. Além disso, ele pré-conheceu
a justificação dos gentios (Gálatas 3:8). No Salmo 139:4 Davi menciona como
Deus sabe as suas palavras antes mesmo que ele (David) as pronunciasse; no v.
16 diz que Deus conhecia todos os dias da sua vida (de David), antes mesmo de
terem começado. Deus conheceu Jeremias antes de ele ser formado no ventre
materno (Jr 1:5). Ele sabia que Ciro, rei da Pérsia, libertaria Israel do
cativeiro Babilônico e os ajudaria a reconstruir Jerusalém (Isaías
44:28-45:13). O fato de que nomes foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro
desde a fundação do mundo é uma clara indicação do pré-conhecimento de Deus (Ap
13:8; 17:8).
De grande importância é o fato de que o Novo Testamento
especificamente relaciona Pré-conhecimento à predestinação de indivíduos para a
salvação (Rm 8:29; 1ª Pe 1:1-2). A morte de Jesus envolvia igualmente uma
combinação de pré-conhecimento e predestinação (Atos 2:23; 1ª Pedro 1:18-20).
Nós não devemos nos surpreender por que a Bíblia de modo
livre e abundantemente afirma o pré-conhecimento divino; este é simplesmente um
aspecto da onisciência de Deus, que “conhece todas as coisas” (1ª João 3:20).
“Ele sabe o que vai acontecer, porque Ele é onisciente e, portanto, o futuro
está tão claro para ele quanto o passado.” [154]
A aceitação deste testemunho bíblico do pré-conhecimento de
Deus é uma das coisas principais que distinguem o Arminianismo clássico da
teologia da abertura. A rejeição do pré-conhecimento pelo último, não é novo
nas fileiras Arminianas. Em 1890, o Arminiano D. Fisk Harris, em sua polêmica
obra contra o Calvinismo, chamou a atenção para um número de companheiros
Arminianos que “negam esse pré-conhecimento divino sobre o fundamento de que
sua aceitação implica a negação da liberdade e responsabilidade humanas.” [155] Mas
o próprio Harris, como contemporâneo dos Arminianos clássicos, encontrou o
testemunho conclusivo da Bíblia. Ele afirmou, com razão, “É esta firme adesão à
Bíblia, que tem me obrigado a discordar de forma tão enfática daquela classe de
pensadores Arminianos que negam o pré-conhecimento divino.” [156]
Quanto ao pré-conhecimento, os Arminianos clássicos também
diferem do Calvinismo de duas maneiras distintas. Primeiro, os Arminianos acreditam
que muito do que Deus predestina está em um sentido real baseado em seu
pré-conhecimento de certas coisas. Isto é especialmente verdade de sua
predestinação de alguns indivíduos para o céu e outros para o inferno. Porque
ele pré-conheceu que alguns livremente aceitariam a oferta livre da graça e
reuniu as condições para recebê-la, Deus os predestinou para a vida eterna (Rm
8:29). Em contraste com isso, o Calvinismo consistentemente diz que o
pré-conhecimento de Deus de todas as coisas é baseado em sua predestinação ou
predeterminação de todas as coisas através de seu decreto, eficaz e
incondicional. De fato, de acordo com essa visão, a única maneira em que Deus é
capaz de conhecer o futuro é porque ele o predestinou – uma
limitação sobre a onisciência de Deus sobre o qual os calvinistas e os teólogos
da abertura estranhamente concordam.
Calvinistas claramente afirmam esta alegada dependência do
pré-conhecimento em relação à predestinação. Shedd diz, “o decreto Divino é a
condição necessária do pré-conhecimento Divino. Se Deus não decide o que
primeiro deve acontecer, ele não pode saber o que vai acontecer.” [157] Strong,
concorda: “Nenhum evento não-decretado pode ser previsto.” Assim, “Deus não
pode pré-conhecer realidades a menos que Ele tenha por seu decreto as tornado
em certezas do futuro… Ele pré-conhece o futuro o qual ele decretou, e ele o
pré-conhece porque Ele o decretou.” [158] Pink
diz enfaticamente: “Não está claro que Deus pré-conhece o que será porque
Ele decretou o que será?… O pré-conhecimento de eventos futuros, então,
está fundamentado sobre os decretos de Deus, portanto, se Deus pré-conhece tudo
o que será, é porque Ele Próprio determinou, desde toda a eternidade, tudo o
que será.” [159] Comentando
sobre Atos 2:23, Baugh diz “que Deus tinha clara presciência de tudo o que
cercava a morte de Cristo… Porque Ele tinha determinado realizar.” Além disso,
“era certo e pré-conhecido, porque Deus tinha determinado realizá-lo.” [160]
Dificilmente poderia haver um contraste maior entre
Calvinismo e Arminianismo do que este. Para o primeiro, a predestinação sempre
precede o pré-conhecimento; para último, pelo menos quanto ao destino e aos
feitos humanos, o pré-conhecimento precede a predestinação.
A segunda maneira na qual as visões Calvinista e Arminiana
do pré-conhecimento diferem é na sua própria definição. Para os Arminianos
pré-conhecimento é quase sempre entendido em um sentido cognitivo, ou seja, é
principalmente presciência, um conhecimento prévio real ou a
consciência mental de eventos futuros. Os Calvinistas, entretanto, geralmente
insistem em que “pré-conhecimento” é algo além do que conhecimento como tal. Em
sentido geral, “pré-conhecimento” é predestinação. “’O
pré-conhecimento de Deus’ é de uma natureza tal que o seu objeto é
pré-conhecido, com absoluta certeza, e então ele é idêntico à predestinação.” [161] Como
Harris com perspicácia observa: “A doutrina calvinista do pré-conhecimento de
Deus não é pré-conhecimento. É simplesmente pré-ordenação”. [162]
Além disso, em um sentido mais específico, quando o
pré-conhecimento dos seres humanos é citado na Escritura como base para a sua
predestinação para a salvação (Rm 8:29; 1ª Pe 1:1-2), o Calvinista quase sempre
o redefine como pré-amar ou pré-escolher (como vimos acima). Esta
reinterpretação forçada do pré-conhecimento é necessária a fim de reconciliá-la
com o decreto incondicional e eficaz do Calvinismo.
Uma das objeções mais comum para o entendimento Arminiano do
pré-conhecimento de Deus como um pré-conhecimento real e simples das futuras
escolhas oriundas do livre-arbítrio humano é que tal noção é realmente
incompatível com o livre-arbítrio. A alegação é que, se Deus pré-conheceu,
desde a época antes da criação, cada escolha que cada um fará, então todas as
escolhas humanas são fixas ou determinadas e, portanto, não podem ser livre.
Pré-conhecimento, portanto, exclui o livre arbítrio.
Esta é uma crítica Calvinista comum. Baugh lhe chama “um
calcanhar de Aquiles para o Arminianismo. Se Deus infalivelmente conhece as
escolhas livres dos humanos, então, essas escolhas devem ser certas de uma
maneira que exclui a concepção (libertariana) [163] Arminiana
do livre-arbítrio.” [164] Como
Westblade coloca, “pré-conhecimento infalível de um evento pressupõe a
necessidade daquele evento e, portanto, exclui a sua liberdade real”. [165] Teólogos
da Abertura costumam construir o mesmo ponto. Richard Rice declara: “Apesar das
afirmações de que o pré-conhecimento absoluto não elimina a liberdade, a
intuição nos diz o contrário. Se o pré-conhecimento de Deus é infalível, então
o que ele vê não pode deixar de acontecer… E se o futuro é inevitável, então a
aparente experiência de livre escolha é uma ilusão.” [166] Como
Hunt resume o problema: “Se Deus sabe o que cada pessoa vai pensar ou fazer, e
se nada pode impedir o que Deus pré-conhece de acontecer, então como pode o
homem ser um agente moral livre?” [167]
Arminianismo clássico sempre negou a validade desta crítica,
e sempre tomou muito cuidado para mostrar que o pré-conhecimento, de modo algum
nega a gratuidade ou contingência das escolhas oriundas do livre-arbítrio. Este
ponto de vista, “afirma que o futuro é perfeitamente pré-conhecido por Deus e
ainda é, em princípio e prática, “aberto” e “indeterminado.” [168] O
pré-conhecimento não causa ou determina qualquer dos eventos assim
pré-conhecidos, não mais que um testemunho de eventos presentes por um
observador, que estão se revelando diante dele teria qualquer influência causal
sobre esses eventos. Pelo contrário, são os eventos que causam o conhecimento,
seja ele o conhecimento presente ou pré-conhecimento.
Além disso, uma vez que um evento ocorreu, ele torna-se um
acontecimento passado e, portanto, torna-se “fixo” ou “certo” no sentido de que
não pode ser mudado. Mas isso não significa que todas as escolhas originadas do
livre-arbítrio, envolvidas neste caso, são de alguma forma, roubadas de sua
liberdade, só porque o evento assumiu a característica de certeza. Conforme Harris
(citando Moisés Stuart) corretamente pergunta: “‘Será que o conhecimento certo
que temos agora de um evento passado, destrói a livre agência daqueles que
estavam preocupados em realizar esse evento? Será que algum conhecimento prévio
do mesmo, necessariamente interfere com a sua livre agência?” [169] A
resposta é, obviamente, não. Portanto, como R. A. Torrey conclui,
“pré-conhecimento não mais determina as ações de um homem do que o
pós-conhecimento. O conhecimento é determinado pelo fato; não o fato pelo
conhecimento.” [170]
É verdade, então, que todos os eventos futuros, incluindo as
escolhas originadas do livre-arbítrio, são certos de acontecer quando
pré-conhecidos; mas o pré-conhecimento não é o que os tornam certos.
Raymond diz: “Tudo o que o pré-conhecimento faz é provar a
certeza dos eventos futuros e que devem ser admitidos sem prova; todas as
coisas serão conforme elas serão, se conhecidas ou não, se decretadas ou não; a
história futura do universo será em um único caminho e não dois.” [171] Mas
se isso for verdade, então como é que o pré-conhecimento é diferente da
predestinação? Difere em relação àquilo que torna certo, os
futuros atos do homem. O que os torna certo? O próprio pré-conhecimento? Não,
isso não os torna certo; isso somente significa que eles são certos.
Então, o que os torna certo? Os próprios atos, tal
como vistos por Deus, a partir da sua perspectiva da eternidade. Todos
concordam que os acontecimentos passados são certos. O que os faz assim? O
simples fato de que eles já aconteceram da maneira como aconteceram. Os
próprios atos os têm feito assim – certos. Este mesmo princípio estabelece a
certeza dos eventos futuros pré-conhecidos.
Mas ainda assim o crítico pergunta, se as futuras escolhas
são certas, como elas podem ser livres? A origem da confusão parece ser que
tanto o Calvinismo quanto a Teologia da Abertura estão lendo demais no conceito
de certeza; erroneamente o igualando à necessidade.
Westblade e outros estão errados em pensar que “o pré-conhecimento infalível de
um evento, pressupõe a necessidade daquele evento.” [172] Há
muito tempo, Agostinho argumentou que o pré-conhecimento não nega o
livre-arbítrio, chamando tal idéia uma “estranha loucura!” Que o
pré-conhecimento torna nossas escolhasnecessárias, disse ele, é uma
“afirmação monstruosa.” [173] Armínio
também faz uma distinção entre a certeza e a necessidade: “A certeza diz
respeito ao pré-conhecimento de Deus; a necessidade de um evento, à vontade e
ao decreto de Deus.” [174] Novamente
ele diz: “pois a palavra ‘certeza‘ é usada em relação à presciência
divina, mas “necessariamente “em relação ao decreto de Deus.” [175] Harris
diz: “Com a grande massa de Arminianos eu prontamente admito que as ações
previstas dos agentes livres são absolutamente certas, no sentido de que elas
vão ocorrer como Deus as previu, mas isto não prova que elas devem ocorrer
assim – foram decretas.” [176]
A distinção apropriada é entre “certamente ocorrerá” e “deve
ocorrer”. Como Forlines, corretamente, observa, [177] Robert
Picirilli “tem um excelente tratamento sobre este assunto”, quando ele explica
as relações entre certeza, contingência e necessidade. Picirilli mostra que um
evento contingente pode ser certo, sem ser necessário: “’Será’ (certeza) não é
o mesmo que ‘deve ser’ (necessidade)”. “A certeza não é necessidade”, é
“simplesmente futuridade – presciência do futuro” [178]
Em conclusão, de acordo com os Arminianos, antes mesmo da
criação Deus tinha verdadeiro pré-conhecimento (conhecimento prévio,
presciência) de todos os eventos futuros, incluindo todas as escolhas
originadas do livre arbítrio. Este pré-conhecimento não foi determinado pela,
nem equivalente à predestinação, mas, pelo contrário, em muitos casos, foi a
base desta (como em Rm 8:29). Não obstante, este pré-conhecimento signifique
que cada acontecimento futuro era, na verdade, evento certo de acontecer quando
pré-conhecido, em si mesmo, o pré-conhecimento não torna qualquer acontecimento
futuro necessário e, portanto, não nega o livre-arbítrio.
E. Deus e o tempo
O próximo pressuposto teológico da visão Arminiana da
predestinação, é uma certa visão de como Deus está relacionado como o tempo. Os
Arminianos acreditam que a predestinação baseia-se no verdadeiro
pré-conhecimento. Mas isto levanta a questão: como é possível o
pré-conhecimento? Como é possível para Deus, em sua existência anterior à
criação, pré-conhecer um futuro que nem mesmo ainda aconteceu? A resposta: é
possível porque ele é infinito ou ilimitado em relação ao tempo, ele é o “Deus
eterno” (Rm 16:26), o Rei eterno e imortal (1ª Tm 1:17). Como Deus eterno, Ele
transcende as limitações de tempo em dois sentidos: quantitativo e qualitativo.
Embora alguns neguem, os dados bíblicos apóiam o conceito de
eternidade de Deus no sentido de duração quantitativa sem princípio e sem fim:
ele sempre existiu no passado eterno e sempre existirá no futuro eterno. Ele
existiu, “desde a eternidade” (Sl 93:2), e ele “vive para sempre” (Is 57:15;
ver Ap 4:9-10; 10:6; 15:7). Ele é “de eternidade a eternidade” (Sl 41:13).
“Antes que os montes nascessem ou Tu formasses a terra e o mundo, mesmo de
eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90:2; ver Salmo 102:25-27). Deus é o
“que é, que era e que há de vir” (Ap 1:4, 8; 4:8). Ele é o primeiro e o último,
o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim (Is 44:6, Ap 1:8, 21:6). É por isso que
“para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia” (2ª Pe 3:8; ver
Salmo 90:4). Isso não significa que todos os instantes de tempo são os mesmos
ou simultâneos para Deus. Significa apenas que, para Aquele que é eterno, um
período finito de tempo não é mais significativo do que qualquer outro período
finito.
Nessa linha, no entanto, o sentido quantitativo da
eternidade de Deus não é o ponto crucial para o pré-conhecimento. O que torna
possível o pré-conhecimento é que Deus também é eterno em um sentido
qualitativo. Ou seja, de uma forma significativa, ele está fora do fluxo do
tempo e não está vinculado às suas limitações. Isso não significa que Deus está
fora do fluxo do tempo em todos os sentidos. Como indicado acima, Deus existe em
uma duração eterna de momentos sucessivos, o que significa que, em certo
sentido, a passagem do tempo é parte na e da própria
natureza Divina, totalmente à parte de criação. Isto é, com efeito, a negação
do conceito Teísta clássico da atemporalidade de Deus, ou a
simultaneidade eterna da natureza divina. Esta última é a idéia de que com Deus
não há sucessão de momentos ou até mesmo uma consciência da sucessão de
momentos. O Ser de Deus, todos os seus atos, e todo o seu conhecimento
co-existem como um eterno AGORA, em um simples e simultâneo presente. Não há
passado nem futuro, nem antes ou depois, com Deus. Não obstante, seus atos
apareçam em um contínuo histórico, a partir da nossa perspectiva, para o
próprio Deus, todos os seus atos, bem como o conteúdo de sua consciência, estão
congelados em uma única, invariável e eterna simultaneidade.
Em minha opinião, esta idéia de eternidade de Deus é uma
visão extrema, baseado em uma filosofia não-bíblica, contrária ao ensino
bíblico. Toda a Escritura nos fala de Deus, como indicando que Ele experimenta
a passagem do tempo em uma eterna sucessão de momentos. Ele existe e age no
momento presente. Da perspectiva do próprio Deus alguns de seus atos (como a
criação) estão no passado inalterável, embora alguns (como o julgamento final)
ainda estão por vir e até mesmo Deus deve aguardar o seu momento chegar.
O que significa, então, dizer que Deus é eterno
em um sentido qualitativo? Em que sentido ele está fora do
fluxo do tempo e, portanto, não vinculado às suas limitações? O ensino bíblico
mostra que isso é verdade, no sentido de que a sua consciência (seu
conhecimento) não está limitada pelo tempo. Embora Ele exista
e aja no presente em curso (não em um único e eterno presente), e embora Esteja
consciente de existir e de agir no presente em curso, em sua consciência, ele
está acima do fluxo do tempo e vê o passado e
o futuro das suas criaturas de forma tão clara e certa, que é como se
eles fossem presentes. Isto é como seu pré-conhecimento é
possível.
É importante ver que a realidade do pré-conhecimento não
exige a visão teísta clássica da atemporalidade ou simultaneidade divina. Isto
é contrário aos teólogos tais como Geisler, cuja completa teologia é baseada no
teísmo clássico e que defende o pré-conhecimento sobre as bases da
atemporalidade divina: “nada é o futuro a Deus.” [179] Geisler
diz que esta “visão clássica de Deus” tem sido sustentada por todos os
“Arminianos tradicionais,” [180] mas
isso é questionável. Alguns Arminianos clássicos contemporâneos aceitam tal
visão. Hunt, por exemplo, diz que Deus está “pela própria definição, fora do
tempo e, portanto, o tempo não está relacionado a ele”, “Deus, sendo eterno,
vive em um eterno agora”; “para Deus não há tempo”, tudo é “um eterno presente”
para ele. [181] Por
outro lado, nem todos os Arminianos clássicos contemporâneos aceitam este ponto
de vista de Deus. Forlines, por exemplo, diz que a consistente “visão do eterno
agora… não pode permanecer”, é “sem mérito.” [182] Concordo
com Forlines.
O Arminianismo clássico diz que a predestinação de Deus de
indivíduos para a salvação é baseada em seu pré-conhecimento (presciência) das
suas futuras escolhas originadas pelo livre-arbítrio, ele diz que esse pré-conhecimento
é possível porque o eterno conhecimento ou consciência de Deus não é limitado
pelo tempo, ele vê o futuro como se ele fosse presente. Mas
como é possível para Deus para ver o futuro, se ele não tem
uma realidade objetiva? Talvez nunca cheguemos a conhecer a resposta a essa
pergunta, simplesmente, por causa da diferença qualitativa entre a natureza do
transcendente e infinito Criador e nós criaturas finitas. A verdadeira piedade
há muito tempo, afirmou que “o finito não pode conter o infinito”; mentes
finitas não podem apreender todas as implicações da existência ilimitada de
Deus. [183]
Dessa forma, Forlines está correto ao deixar o “como” do
pré-conhecimento no reino do imperscrutável mistério. [184] Não
podemos negar o pré-conhecimento de Deus, simplesmente porque não o entendemos.
Há muito tempo atrás, John Kirk nos advertiu para não tentar reduzir o
conhecimento de Deus ao nosso nível humano. Ele declara que “não tivesse o
homem presumido limitar ou podar o poder do conhecimento de Jeová ao nível do
padrão do nosso próprio conhecimento, ele jamais teria afirmado que Deus não
poderia pré-conhecer um evento que está na sua natureza perfeitamente contingente.”[185] Devemos
simplesmente aceitar o que Kirk chama de “a glória divina do
pré-conhecimento,” [186]sem
declarar que ele deve ser explicado ou negado. Nós devemos aceitá-lo como
verdadeiro, simplesmente, porque a Bíblia o afirma. Como diz Harris, a Bíblia
“ensina claramente que Deus conhece as futuras ações livres dos homens, sem
explicar o modus operandi“. A incapacidade de compreender o “como”,
não nos dá o direito de “inventar uma teoria que está, inequivocamente, em
conflito com os ensinamentos simples da Palavra”; nem queremos ter um Deus que
pode ser plenamente compreendido. [187]
Na análise final, Harris tem razão: “dizer que ele não pode
ser verdadeiro, porque não podemos ver como Deus pode, assim, pré-conhecer, é
substituir a ignorância pela argumentação.” [188]
F. O Plano de Deus para a Salvação
A visão Arminiana de predestinação pressupõe também certa
visão da natureza da salvação. Isso é verdade porque todos os elementos do
plano de salvação de Deus tinham de estar no lugar a partir do momento em que
Ele determinou criar este mundo de seres com livre-arbítrio e,
conseqüentemente, pré-conheceu que todos iriam cair no pecado e necessitariam
de redenção. Assim, mesmo antes da criação de Deus já havia determinado como
Ele infalivelmente elaboraria seu plano de salvação no contexto do nosso
universo com livre-arbítrio. Este plano de redenção é o coração do “eterno
propósito” ou vontade intencional de Deus; tudo associado a ele foi desde o
início predestinado a ocorrer. Exatamente o que Deus predeterminou fazer?
1. Como a Salvação Seria Realizada?
A primeira coisa que Deus predestinou em relação à salvação
foi a maneira ou método pelo qual ela seria realizada e disponibilizada aos
pecadores. Aqui está um elemento incondicional da predestinação: Deus propôs
realizar a salvação através da encarnação da segunda pessoa da Trindade, como
Jesus de Nazaré, e através da morte expiatória e ressurreição do próprio
Unigênito Encarnado. Ele propôs isto, em consonância com o seu pré-conhecimento
das ações dos participantes humanos no drama, contudo, os eventos estavam
certos de acontecer de acordo com o “plano predeterminado” de Deus (Atos 2:23);
aqueles que crucificaram a Jesus, estavam apenas fazendo o que a mão e
propósito de Deus tinha “predestinado a ocorrer” (Atos 4:28). Nesse sentido,
Cristo, como nosso sacrifício redentor, “foi pré-conhecido antes da fundação do
mundo” (1ª Pe 1:20), com um pré-conhecimento que estava, na verdade, baseado na
predestinação.
Ao predeterminar como a salvação seria realizada, o objeto
principal da predestinação foi o próprio Jesus Cristo. Mas, a fim de realizar
sua obra de salvação, era necessário para Deus, secundariamente, preordenar
todos os meios essenciais de conseguir isso. Isto se refere
principalmente à escolha (eleição) de certas nações e indivíduos, para serem
usados como instrumentos para levar Cristo ao mundo e, em seguida, iniciar o
processo de aplicação dos resultados salvíficos da sua obra de redenção ao
mundo. Esta é a predestinação para serviço, não para a salvação.
O exemplo mais evidente desta predestinação para o serviço é
a escolha incondicional de Deus da nação de Israel para ser o contexto e para
trazer o Salvador ao mundo. Para este propósito, Deus escolheu os judeus “para
ser um povo para Sua própria possessão dentre todos os povos que há sobre a
face da terra” (Dt 7:7). Para este fim, ele lhes disse: “Tu és meu servo, eu te
escolhi e não te rejeitei” (Isaías 41:9). Como resultado, a nação de Israel foi
abençoada em abundância, com a distribuição de privilégios especiais (Rm 3:2;
9:4-5). Tal predestinação para serviço não inclui, porém, uma eleição
semelhante para salvação. (Veja a próxima seção principal).
De maneira semelhante, Deus na pessoa de Jesus Cristo
escolheu certos indivíduos para serem apóstolos que o ajudaria a estabelecer as
bases para a igreja – também um papel de serviço, que não garantia a salvação
(Lucas 6:13, João 6:70, 13: 18; 15:16, 19). Como diz Olson, nenhum desses
textos, “diz alguma coisa sobre a doutrina da eleição para a salvação,” [189] e
o fato de que Judas estava entre os escolhidos, mostra que o objetivo para esta
escolha não foi para a salvação (João 6:70).
Grande parte dos dados bíblicos sobre predestinação e
eleição (por exemplo, Romanos 9) se referem a essa predestinação utilitarista,
que faz parte do propósito eterno de Deus a respeito de como a salvação seria
realizada, não como seria aplicada aos indivíduos. A principal fonte do erro
Calvinista sobre este assunto é sua incapacidade de distinguir corretamente
entre a predestinação utilitária e a redentora. Veja, por exemplo, a má aplicação
de Romanos 9 e João 15:16 por Erickson. Surpreendentemente, ele aplica o último
texto à iniciativa de Jesus “na seleção de seus discípulos para a vida
eterna.” [190]
2. Como a Salvação será Aplicada
O plano redentor predeterminado por Deus incluía não só a
sua predestinação da maneira pela qual a salvação seria realizada,
mas também a sua predestinação quanto à forma pela qual ela seria aplicada.
Do início ao fim o meio de salvação é decidido e especificado
unicamente por Deus. Isso preserva a soberania de Deus, na questão da salvação,
sem que Ele tenha que escolher, incondicionalmente, quais indivíduos irão,
realmente, recebê-la.
Primeiro de tudo, em seu eterno propósito, Deus
pré-determinou aplicar a salvação condicionalmente.[191] Como
Miley explica, “A verdadeira salvação da alma não é um benefício imediato da
expiação, nem através de uma operação irresistível da graça divina, mas é
atingível somente em um acordo com seus termos adequados”. Ou seja, “a nossa
salvação real” é “um benefício condicional da expiação.” [192] A
essência de tal condicionalidade, é claramente vista no lamento de Deus sobre
Israel, em Isaías 65: “Eu Me permiti ser procurado por aqueles que não perguntavam
por mim; eu Me permiti ser encontrado por aqueles que não me procuravam. Eu
disse: ‘Aqui estou eu, aqui estou eu’, para uma nação que não pronunciava o Meu
nome. Estendi as minhas mãos, todos os dias, a um povo rebelde” (vv. 1-2). Deus
está tão ansioso para receber de volta os pecadores que ele, com efeito, pula
em seus caminhos, abre seus braços, e grita: “Aqui estou!” Mas o povo o
ignorou, assim Ele declara: “Vou destinar-lhe à espada e todos vocês se
curvarão para o abate. Porque Eu chamei, mas vocês não responderam; Eu
falei, mas vocês não ouviram” (verso 12, grifo nosso).
Essa maneira da salvação de Deus ser condicional é
consistente com nossa natureza como seres com livre-arbítrio. O livre-arbítrio
humano e a condicionalidade da salvação caminham juntos. Miley justamente
salienta que muitos textos Novo Testamento oferecem a salvação aos pecadores na
base de que certas condições devam ser reunidas e, por outro lado, excluem da
salvação aqueles que se recusam a cumprir as condições. Ele cita Marcos 1:15;
16:15-16, João 3:16, 18, 36, e Atos 2:38. [193] O
próprio fato de que a salvação é oferecida condicionalmente presume que os
indivíduos, mesmo em seu estado pecaminoso, têm a capacidade, pelo
livre-arbítrio, de atender a essas condições. “Se nenhuma ação livre e pessoal
de nós próprios tem qualquer relação condicional para nossa salvação, porque
deve tal ação ser imperiosamente necessária, como se tivesse a relação?”
pergunta Miley. [194] O
lamento de Jesus sobre Jerusalém revela que os seus habitantes estavam perdidos
por causa de um ato de seu próprio livre-arbítrio, não por causa da vontade
seletiva de Deus: Jesus queria (thelo) recebê-los, mas eles não estavam
dispostos ou querendo (ou thelo).
Essa maneira da salvação de Deus ser condicional também é
consistente com a soberania de Deus, desde que o próprio Deus é o único que
determinou que devesse ser assim e desde que o próprio Deus é o único que
determinou, quais são as condições. Ninguém impôs este plano sobre Deus, foi
sua própria escolha soberana e incondicional. Como Picirilli diz: “Se o Deus
soberano, incondicionalmente, estabeleceu a fé como condição para a salvação
(e, portanto, para a eleição), então sua soberania não é violada quando Ele
exige a condição.” [195]
Como isso se relaciona à predestinação? O ponto principal é
que, se a própria salvação é condicional, então predestinação e a eleição para
a salvação, também deve ser condicional. A salvação condicional seria
completamente incompatível com a eleição incondicional. Os Arminianos vêem
condicionalidade em ambos os níveis: a predestinação de Deus uns para a vida
eterna está condicionada ao seu pré-conhecimento que eles irão reunir as
condições específicas para receber a salvação.
Em segundo lugar, o plano predeterminado de Deus para a
aplicação da salvação incluía a sua decisão de outorgá-la aos indivíduos apenas
com base na graça. Ou seja, o seu eterno propósito é que o evento
de receber a salvação será tanto condicional quanto gracioso. Alguns pensam que
estas duas características são incompatíveis, eles supõem que a graça, pela sua
própria natureza deve ser incondicional. John Murray diz: “Se a graça é, de
algum modo, condicionada pelo desempenho humano ou pela vontade do homem que o
impulsiona a agir, então, a graça deixa de ser graça.” [196] Este
é um erro grave, por vezes com base em uma equação falsa de incondicionalidade e imerecimento.
Entretanto, nem todas as condições são meritórias. Às vezes o erro de ver,
condições e graça, como incompatíveis, está baseado em uma confusão, entre a
realização da salvação e a sua aplicação. A realização da salvação por Deus,
através de Jesus Cristo, é realmente incondicional, como são o amor e a graça
que O motivaram a fazer essa provisão em primeiro plano, mas a graciosa
aplicação ou outorga dessa salvação aos indivíduos é condicional. Às vezes, o
erro é, simplesmente, o produto da visão de soberania do Calvinismo como tal, a
qual não permite que Deus faça qualquer coisa, condicionalmente.
Ou seja, se o decreto eterno é necessariamente todo-abrangente e incondicional,
então não há nenhuma maneira, pela qual, a salvação pode ser considerada como
condicional. [197] Mas,
como nós vimos, esta é uma falsa visão de soberania.
Em última análise, não há razão para pensar que a salvação
graciosa não pode ser uma salvação condicional. O próprio fato de que a Bíblia
a apresenta como tanto condicional quanto graciosa, mostra que essas
características são compatíveis.
Que esse plano de Deus para a aplicação da salvação é tanto
condicional e gracioso, significa que as condições particulares que
Ele especificou para receber a salvação são consistentes com a graça. Isso é
verdadeiro, é claro, da condição principal, ou seja, a fé. O próprio Paulo
afirma especificamente a complementaridade da graça e da fé em Romanos 4:16 e
Efésios 2:8. [198] Como
condição para a salvação, nada poderia ser mais natural do que a fé e mais
compatível com a natureza da graça como um dom. Desde que a nossa salvação é
realizada pelo trabalho de outra pessoa (Jesus), e uma vez que nos é oferecida
como um dom gratuito, a única coisa que podemos fazer é aceitar (crer) a palavra
de Deus que assim define, e estender a mão vazia para receber o dom. A fé é
freqüentemente identificada com esta mão vazia. É exatamente o oposto do
mérito. [199]
Dizer que a fé é a condição essencial para a salvação, não
significa dizer que ela é a única condição, ao contrário da crença de
muitos. [200] A
maioria dos Arminianos não teria nenhum problema em adicionar o arrependimento
como uma condição; e uma compreensão correta de Romanos 10:9-10 sugere que a
confissão de fé em Jesus Cristo é também uma condição, uma vez que no texto a confissão
é paralela em todos os sentidos com a própria fé.[201] Outros
vêem o batismo como uma condição para a salvação, perfeitamente consistente com
a graça.[202] Para
o nosso propósito presente, contudo, não é necessário para os Arminianos chegar
a um acordo sobre a lista completa. Dado que a salvação é tanto condicional
quanto graciosa, a única questão aqui é saber se as condições especificadas são
consistentes com a graça.
Para dizer isso de outra forma, nós não podemos incluir
qualquer coisa nas condições para salvação, que é uma obra no
sentido Paulino da palavra (Rm 3:20, 28; 11:6; Gl 2:16, Ef 2:8-9; Tito 3:5).
Uma obra no sentido de Paulo, não pode ser definida simplesmente como “algo que
você faz”, já que Jesus chama a própria fé, uma obra neste sentido genérico
(João 6:28-29). Pelo contrário, no sentido Paulino, uma obra não graciosa ou
meritória é especificamente uma “obra da lei” (Rm 3:28), isto é, um ato de
obediência a uma lei-mandamento dada por Deus, como o Criador, aos homens, como
criaturas. Tais “obras da lei” meritórias não incluem as instruções graciosas
do Redentor aos pecadores sobre como receber a salvação (por exemplo, Lucas
3:3, João 3:16, Atos 2:38, 16:31, Rm 10:9-10). Se um ato, como o arrependimento
ou confissão, fosse uma condição meritória (uma “obra da lei”) que está em
conflito com a graça, podemos supor, em primeiro lugar, que Deus, nosso
Redentor, nunca o teria especificado como uma condição para a salvação.
Quaisquer condições que Deus tenha soberanamente exigido são condições
graciosas.
Estou enfatizando esse ponto mais contra os Calvinistas que
fazem uma caricatura da visão Arminiana da eleição condicional, como uma
predestinação baseada em obras previstas ou mérito previsto,
como se a predestinação baseada no pré-conhecimento de quaisquer condições
reunidas pelos homens, mesmo a própria fé, seria contrária à graça. Essa é a
implicação dessa afirmação de Calvino: “Porém, ela é um pedaço de fútil astúcia
para a prenderem ao termo pré-conhecimento, e, assim, usar isso para fixar a
eterna eleição de Deus sobre o mérito dos
homens, qual eleição o apóstolo em toda parte atribui ao propósito único de
Deus.” [203] Berkouwer,
da mesma forma, afirma que “eleição não encontra a sua base nas obras humanas
e, portanto, não na sua fé prevista.” [204] Tal
crítica da visão Arminiana da predestinação é manifestamente injusta e
equivocada, tendo em vista o ensino bíblico sobre as condições da salvação e,
portanto, da eleição.
Em conclusão, o plano predeterminado de Deus para a
realização e aplicação de salvação, como descrito aqui é parte de seu eterno
propósito; o propósito, segundo o qual ele predestina, chama, justifica e
glorifica àqueles a quem Ele pré-conheceu que responderão ao seu apelo (Rm
8:29-30).
G. A Pecaminosidade Humana
A pressuposição teológica final para a doutrina Arminiana da
predestinação é a visão da natureza do homem como um pecador. A visão
Calvinista da eleição incondicional, necessariamente, decorre da doutrina da
depravação total. A essência da depravação total é que a natureza espiritual do
pecador é tão corrupta, que ele é totalmente incapaz de responder positivamente
ao chamado geral evangelho. É por isso que Deus deve escolher quem ele vai
salvar, o que Ele faz incondicionalmente, como parte de seu eterno decreto.
Então, em um tempo determinado por Deus, ele seletivamente emite aos seus
eleitos, uma chamada interna especial do evangelho, que eficazmente e
irresistivelmente, regenera sua natureza pecaminosa e implanta dentro deles o
dom da fé.
O Arminianismo clássico tem uma visão diferente da natureza
do homem como um pecador. Embora existam variações na explicação do por que
isto é assim, todos os Arminianos acreditam que, no momento em que ouve a
chamada geral do evangelho, todo pecador tem o livre-arbítrio ou para aceitá-la
ou rejeitá-la. Esta é, em essência, a negação da doutrina Calvinista da
depravação total. Alguns Arminianos acreditam que nenhum pecador nunca é
totalmente depravado, outros acreditam que todas as pessoas são inicialmente
afetadas com a depravação total, mas que Deus por meio de uma graça universal
preparatória atenua a depravação e restaura uma medida de liberdade. De
qualquer forma o resultado é o mesmo: quando o momento da escolha vem, os
pecadores têm uma liberdade da vontade para reunir ou não reunir as condições
para a salvação. Este é um pré-requisito para o conceito Arminiano de eleição
condicional.
Assim, para os Calvinistas, a presença universal da
depravação total significa que única chamada do evangelho que alguém pode
responder deve ser seletiva e irresistível. Para os Arminianos, a ausência da
depravação total universal (seja por natureza ou por graça) significa que a
única chamada do evangelho, que Deus emite, é universal e resistível. Para os
Calvinistas, a depravação total determina que a decisão final, de quem é salvo
e quem não é, deve ser feita por Deus. Para os Arminianos, a decisão final
pertence a cada indivíduo.
No sistema Arminiano, não importa realmente se esta
capacidade de livre-arbítrio para aceitar ou rejeitar o evangelho é
considerada natural (como no pelagianismo), ou como restaurada para
todos na concepção via graça original, [205] ou
como restaurado para todos em um último momento, através da intervenção do
Espírito Santo em um ato de graça preveniente. [206] O
que importa é que quando a mensagem do Evangelho alcança o pecador, ele não está em
um estado de total depravação irremediável e, portanto, de total incapacidade
de crer em Jesus, sem um ato incondicional, seletivo e irresistível do Espírito
Santo. Ao contrário, todo pecador é capaz de fazer sua própria decisão de crer
ou não. Erickson tem razão, de que “um grande dogma do Arminianismo é que todas
as pessoas são capazes de crer ou reunir as condições de salvação… Mas há
espaço nesta teologia para o conceito de que todas as pessoas são capazes de
crer? Existe, se nós modificarmos ou eliminarmos a idéia da depravação total
dos pecadores.” [207]
Alguns Arminianos basicamente aceitam a visão descrita
acima, mas ainda afirmam crer na depravação total. Por exemplo, Fisk diz que
acredita que o homem é totalmente depravado, mas que isso não acarreta a
incapacidade total. [208] Esta
visão é auto-contraditória, no entanto, já que a última é a essência da
primeira. Outro exemplo é Picirilli, que diz (como Calvino e Armínio) aceitar a
depravação total, incluindo a incapacidade total. [209] Mas
quando ele acrescenta que essa depravação total é universalmente cancelada a
tal ponto que todos os que ouvem o evangelho tem a capacidade de resistir a
ele; [210] ele,
na verdade, nega a principal conseqüência da depravação total, ela não é mais
“total”. Embora, se autodenomine, um “calvinista moderado” e afirme acreditar
na depravação total, Norman Geisler, da mesma forma, despe a doutrina de sua
essência (incapacidade total). [211] Abordagens
como estas, creio eu, são confusas e enganosas. Reter o termo, enquanto se nega
o tradicional coração da doutrina que ela representa, obscurece a distinção
entre Calvinismo e Arminianismo em um ponto crucial.
IV. A PREDESTINAÇÃO EM ROMANOS 9
Esta seção apresenta uma interpretação Arminiana de Romanos
9. Esta é uma passagem fundamental para a nossa discussão, já que normalmente
ela serve como um importante texto-prova para a visão Calvinista da
predestinação. É o “alicerce” [212] e
“eixo” [213] para
o conceito da eleição incondicional dos indivíduos para a salvação. Assim, é
fundamental mostrar que esta doutrina não é ensinada neste capítulo. [214]
A. O Propósito Geral de Romanos 9.
Há um considerável acordo de que a questão a ser abordada em
Romanos 9 é a justiça de Deus, tal como indicado na pergunta levantada por
Paulo em Romanos 9:14, “Não existe injustiça com Deus, existe?”
Especificamente, Deus tem sido injusto nas suas relações com Israel? Esta
questão foi suscitada, nos dias de Paulo, pela conjunção de três estados,
inter-relacionados, de coisas. O primeiro é o fato, inquestionável, de que Deus
havia escolhido Israel como seu povo especial, começando com Abraão e os tinha
regado com incomparáveis bênçãos sobrenaturais, a partir desse momento (Rm
9:4-5). O segundo é a suposição dos próprios judeus de que, a sua relação
especial com Deus, incluía uma promessa implícita de salvação para,
praticamente, todo israelita, individualmente. Sua atitude parece ser: “Deus
nos escolheu para ser o seu próprio povo especial, por isso ele é obrigado a
nos salvar”. Como Picirilli diz: “Os judeus afirmam que Deus tinha prometido
incondicionalmente salvar todo o Israel e, por conseguinte, seria injusto se
Ele falhasse em cumprir essa promessa.” [215] O
terceiro estado de coisas é o ensino enfático de Paulo em Romanos 1-8, de que a
maioria dos judeus estava, de fato, perdida (por exemplo, Romanos 3:9). Esse
fato foi a fonte de “grande tristeza e incessante dor” de Paulo (Rm 9:2), mas
para os próprios judeus tal afirmação implicava que Deus estava tratando de
forma injusta com eles. Se as massas de judeus estavam perdidas, seguramente as
promessas de Deus para eles tinham falhado, e Ele é, portanto, injusto.
Paulo sabe que, levando em conta estes três fatos, surgirá a
questão da justiça de Deus em seu tratamento dos judeus. Deus é injusto quando
Ele não salva automaticamente os judeus? Como pode Deus rejeitar àqueles a quem
ele elegeu? Será que a perdição dos judeus significa que ele tenha quebrado o
seu pacto prometido a eles? “De maneira nenhuma!” diz Paulo enfaticamente (Rm
9:14). Na verdade, “não é como se a palavra de Deus falhado” (Rm 9:6).
Embora a maioria concorde que tudo o que Paulo está fazendo
em Romanos 9-11 é projetado para estabelecer este ponto, há forte discordância
a respeito de COMO esses capítulos mostram que as promessas de Deus a Israel
não falharam. Todos concordam que o tema da eleição divina é o ponto principal,
mas a discordância é sobre a natureza desta eleição.
Especificamente, Paulo está falando sobre a eleição para a salvação,
ou eleição para o serviço?
A abordagem Calvinista é que em Romanos 9, Paulo está
ensinando a eleição incondicional de alguns indivíduos para a salvação (e para
muitos, a reprovação incondicional de todos os outros para o inferno). A
questão é enquadrada assim: porque é que alguns (Judeus) são salvos e outros
perdidos? A resposta é que ela é simplesmente uma questão de escolha
incondicional e soberana de Deus. Um exemplo disto é John Piper, que pergunta:
“Será que a eleição em Rm 9:1-23 diz respeito a nações ou a indivíduos? E será
que ela diz respeito a papéis históricos ou destinos eternos?” Sua resposta: “A
evidência é esmagadora em favor da opinião de que a preocupação de Paulo é com
o destino eterno daqueles dentro da nação de
Israel, que são salvos e daqueles que são amaldiçoados.” [216] Thomas
Schreiner concorda: “Os Calvinistas geralmente apelam para Romanos 9, para
apoiar a sua teologia da eleição divina. Em particular, eles afirmam que
Romanos 9 ensina que Deus elege pessoas incondicionalmente para salvação.”[217]
Alguns Arminianos realmente concordam com essa visão até
certo ponto. Eles, também, compreendem que Paulo está explicando por que alguns
(Judeus) estão salvos e alguns estão perdidos. Ou seja, eles vêem Paulo falando
de eleição para a salvação. Por exemplo, diz Picirilli de Romanos 9, “O
propósito dos versos 14-24 é argumentar que o Deus soberano é aquele que
determina quem será salvo… Deus ainda salva quem Ele quer e condena quem Ele
quer, Judeus ou não-Judeus.” [218] Como
isso é diferente da visão Calvinista? É diferente em que os Arminianos que lêem
Romanos 9, em termos de eleição para a salvação, supõem e afirmam que esta
eleição é condicional, ou corporativa, ou de acordo com o pré-conhecimento. Em
minha opinião, embora essas qualificações sejam muito difíceis de sustentar,
levando em conta o próprio ensino de Romanos 9. Mas este não é um problema,
pois em última análise, não é necessário aos Arminianos tentar aplicar tais
qualificações a esta eleição, desde que, ela, afinal, não é uma eleição para a
salvação, mas uma eleição para serviço.
Quer seja ela apresentada pelos Calvinistas ou Arminianos,
esta interpretação soteriológica da eleição em Romanos 9 é errada, porque ela
realmente não aborda a questão da justiça de Deus; pelo contrário, a
intensifica. Ela não aborda a questão, pois não lida com o papel de Israel
étnico como um todo, o que realmente é o problema que está em foco. Na mente
dos Judeus, o problema era simplesmente este: “Por que tantos judeus perdidos,
quando Deus prometeu salvar a todos?”
Segundo a maioria dos Calvinistas, a resposta de Paulo a
esta questão é algo assim: “É verdade que Deus fez uma aliança com Abraão e com
Israel, que inclui promessas de salvação. Então, porque todos os Judeus não são
salvos? Porque Deus nunca pretendeu dar esta salvação a todos os
judeus, em primeiro plano. Em todo o tempo, Ele tinha planejado fazer uma
divisão dentro de Israel, incondicionalmente, outorgando a salvação a alguns e
incondicionalmente a retendo do restante.”
Mas como isto responde à acusação de que Deus é injusto ou
desleal nas suas relações com os Judeus? Em minha opinião, isto, absolutamente, não
responde à pergunta principal! Se isso é tudo o Paulo pode dizer,
então Deus é revelado ainda mais perverso e injusto do que nunca.
A única abordagem de Romanos 9 que realmente resolve o
problema da justiça de Deus, no que se refere ao Israel étnico, é que a eleição
falada nos versículos 7-18 é a eleição para serviço. A tese de Paulo é que a
palavra da promessa de Deus a Israel não falhou (Rm 9:6 a). Por que não? A
resposta esta em Rom. 9:6 b, “Porque não são todos Israel os que descendem de
Israel”. Aqui Paulo não está fazendo a distinção entre dois grupos dentro de
Israel, os salvos e os perdidos, com o debate que se seguiu focando em como
Deus incondicionalmente fez a distinção. Em vez disso, o contraste é de um tipo
completamente diferente. Há dois grupos, mas eles não são
completamente distinto um do outro. Um deles está realmente dentro do
outro, como um pequeno corpo dentro de um corpo maior. Ambos os grupos são
chamados de Israel, mas eles são diferentes tipos de Israel. O grupo maior é o
Israel étnico, a nação física como um todo; o grupo menor pertence a este
grupo, mas também é distinguido como uma entidade separada, ou seja, como o
verdadeiro Israel espiritual, o remanescente dos verdadeiros crentes que
apreciam as bênçãos da eterna salvação.
Mas o contraste entre esses dois Israéis não é que um está
salvo enquanto o outro está perdido. Isso não pode ser, uma vez que o grupo
menor (salvo) é também uma parte do corpo maior. Qual é a diferença entre estes
dois povos de Israel, e porque é que até Paulo a destaca aqui? A diferença
fundamental é que as promessas da aliança de Deus a estes dois grupos
não são as mesmas. As promessas de Deus feitas ao Israel étnico são
diferentes das promessas que ele fez ao Israel espiritual. Paulo está dizendo,
com efeito, “Vocês pensam que Deus foi desleal para com o Israel étnico, só por
que todos os judeus não são salvos? Vocês não sabem que existem DOIS Israéis,
cada um com um conjunto diferente de promessas? Vocês realmente estão confundindo esses
dois Israel. Vocês estão tomando as promessas de salvação que se aplicam apenas
ao grupo menor e estão tentando erroneamente aplicá-las a Israel como um todo.”
Aqui está o ponto: há dois “povos escolhidos”, dois Israel,
mas somente o Israel remanescente foi escolhido para a salvação. Contrariamente
ao que os judeus comumente pensavam, o Israel étnico como um todo não foi
escolhido para salvação, mas para serviço. As promessas da aliança de Deus ao
Israel físico, como tal, tinham a ver apenas com o papel do país no plano de
redenção histórico de Deus. Sua eleição foi utilitarista, não redentora. Deus
os escolheu para servir a um propósito. Os próprios Judeus pensavam que esta
eleição envolveu a promessa de salvação para os indivíduos, mas eles estavam
simplesmente enganados. Este mesmo erro permanece na raiz da visão Calvinista
de que a eleição em Romanos 9 é a eleição para a salvação. Este é o erro
exegético de Piper, quando ele poderosamente força para ler um conteúdo de
salvação nas bênçãos descritas em Romanos 9:4-5. [219] Ele
conclui que “cada um dos benefícios enumerados em Romanos 9:4-5 tem implicações
escatológicas e salvíficas para Israel,” [220] e
então começa a tentar explicar por que esses benefícios não foram desfrutados
por todos os judeus. Sua resposta é que Deus faz uma distinção dentro de
Israel, incondicionalmente, a escolha de aplicar estes benefícios salvíficos
apenas para salvar alguns judeus. Schreiner tem uma abordagem semelhante,
dizendo que a tese de Paulo em Romanos 9-11, como declarou em Romanos 9:6 – que
“a palavra de Deus não falhou” – refere-se às promessas de Deus para salvar seu
povo de Israel. [221]
Até Forlines, um Arminiano, interpreta as promessas da
aliança de Deus a Abraão e à sua descendência (como em Gn 13:14-15; 17:8) como
incluindo “a promessa de vida eterna.” [222] Mas
isso simplesmente não é verdade. Os termos da aliança que Deus fez com Abraão e
mais tarde com Israel como um todo não incluem uma promessa de salvar ninguém,
simplesmente porque ele ou ela era um membro do povo da aliança. A promessa
chave que Deus fez a Abraão e sua descendência foi esta: “Em ti todas as
famílias da terra serão abençoadas” (Gn 12:3), uma promessa que foi cumprida
quando o “Cristo segundo a carne” finalmente veio a Israel (Rm 9:5). Todas as
outras promessas e bênçãos eram subordinadas a esta e foram concebidas para
ajudar na sua realização. Nenhuma envolveu uma promessa de salvação eterna para
os membros individuais do povo da aliança. As bênçãos enumeradas por Paulo em
Romanos 9:4-5 não incluem conteúdo de salvação. [223]
O principal ponto de discussão de Paulo em
Romanos 9 é que Deus tem o direito soberano de fazer essa distinção entre a
eleição para serviço e eleição para a salvação, e para escolher os indivíduos
ou nações para preencher determinadas funções no seu plano, sem também
salvá-los. Isto é exatamente o que Deus fez com o Israel étnico. Esta nação foi
escolhida para serviço de forma incondicional, mas esta eleição não outorgaria
incondicionalmente, e ao mesmo tempo, a salvação a todos os eleitos. A Escolha
dos doze apóstolos por Jesus (João 15:16) é quase um paralelo exato, como é a
escolha do Faraó (Rm 9:17-18). O fato de que Deus usou Faraó para seus
propósitos redentores não exige que este seja salvo, e o mesmo é verdade para
Israel. Se Deus quer usar os judeus em seu serviço, e ainda negar-lhes a
salvação por causa da sua incredulidade, isso é perfeitamente consistente com
sua natureza justa e suas promessas decorrentes da aliança.
Onde é que a salvação entra em cena? A salvação é outorgada
unicamente ao Israel espiritual – os “vasos de misericórdia” (Rm 9:23) ou o
remanescente (Rm 9:27-29;11:5), aqueles Judeus que encontraram a fé graciosa –
condição para recebê-la como descrita em Romanos de 1-8 e 9:30-10:21. Schreiner
está seriamente errado quando ele afirma que a visão eleição-para-serviço de
Romanos 9, não aborda a questão da salvação de Israel. [224] A
questão com a qual Paulo está tratando é a questão do porquêtodos os
Israelitas não são salvos. Sua resposta não tem nada a ver com uma suposta
eleição incondicional para a salvação, mas com o fato de que a promessa de
salvação nunca foi feita para anação em primeiro plano. O ponto
inteiro de Romanos 9 é que não se deve equiparar a eleição para serviço com a
eleição para a salvação.
B. A Estrutura de Romanos 9 e 10
A interpretação acima de Romanos 9 é claramente corroborada
pela estrutura geral de Romanos 9 e 10. Após o levantamento do problema e sua
resposta básica para ele (9:1-6), Paulo discute primeiro a eleição
incondicional para serviço (9:7-18), depois da eleição condicional para a
salvação (9:19-10:21).
1. Romanos 9:7-18
Nesta primeira seção, Paulo afirma o direito soberano de
Deus para escolher e usar (por serviço) qualquer um que lhe apraz em seus
próprios termos. Ele é livre para eleger os indivíduos ou grupos para servir a
seus propósitos sem salvá-los. O ponto que Paulo estabelece nestes versos se
aplica ao Israel étnico, não ao Israel espiritual.
a) Versos 7-13
A compreensão comum desses versos é que eles mostram como
Deus escolheu incondicionalmente para salvar alguns israelitas
em detrimento de outros. Por exemplo, Baugh diz que estes versos revelam que “a
graça salvadora depende de predestinação.” [225] Como
Forlines vê, assim como Deus estabeleceu uma distinção entre Isaque e Ismael, e
entre Esaú e Jacó, assim “não há razão para crer que todos do Pacto da Semente
de Abraão (aqueles que descendem de Abraão através de Jacó) estão salvos.”[226] Tal
explicação pressupõe que estes versos são acerca da forma como Deus escolhe o
remanescente de Israel para a salvação e rejeita o restante para a condenação,
ou seja, sobre como o grupo menor em Rm 9:6b está separado do
grupo maior. Meu entendimento, entretanto, é que os versículos 7-13 estão
falando sobre o próprio grupo maior, ou seja, Israel étnico como um todo, e
como ele surgiu em primeiro plano.
A progressão do pensamento é assim: Nem todos os membros do
Israel físico também são membros do Israel espiritual (9:6 b), nem são
chamados filhos de Abraão, apenas porque eles são fisicamente descendentes de
Abraão (9:7 a). Assim, o verso 7 começa um pensamento distinto. O parágrafo
através do verso 13 se concentra sobre a origem e o papel do Israel étnico como
tal, explicando a maneira pela qual Deus os chamou para o seu serviço. O ponto
principal é que isto é diferente da forma como ele chama os
indivíduos à salvação. Somente quando os dois são confundidos se questiona
sobre a fidelidade de Deus a Israel.
Os Calvinistas estão certos de que a eleição descrita em
9:7-13 é incondicional; eles estão errados em supor que ela é uma eleição para
a salvação, ao invés de eleição para serviço. A principal razão por que Paulo
cita a “distinção Divina” entre Isaque e Ismael, e entre Esaú e Jacó, é para
salientar a forma unilateral e soberana pela qual Deus estabeleceu a nação de
Israel e a alistou para o seu serviço. Isaac e Jacó, assim, representam o
Israel étnico como um todo, e não os eleitos dentro da nação. O Israel étnico
existiu apenas pela escolha e promessa graciosa de Deus. Deus sozinho controla
o processo e os termos da seleção. Os não escolhidos (Ismael e
Esaú) não são, assim, condenados ao inferno, são, simplesmente, excluídos de
ter um papel na elaboração do plano redentor de Deus.
Tudo isso foi feito para que “o propósito de Deus na
eleição” (Rm 9:11, Nova Versão Internacional) não falhasse, ou seja, o seu
propósito de trazer “o Cristo segundo a carne” (Rm 9:5) ao mundo. Deus deixou
claro desde o início que ele realizaria este propósito através desta família em
particular, independentemente das suas decisões individuais e direcionamento da
sua piedade pessoal. Ele mostrou isso, da mesma forma, quando escolheu Isaac a
Ismael e Jacó a Esaú; e este é o propósito, segundo o qual ele escolheu e lida
com a nação Israelita como um todo. Assim, como “o propósito de Deus na
eleição” não depende do status espiritual do irmão gêmeo que
Ele escolheu desde o ventre de Rebeca; do mesmo modo, não depende do status de
salvação dos Judeus nos dias de Paulo.
O ponto principal e global desta seção é a liberdade
soberana de Deus para definir o seu plano de redenção como ele escolhe. Ele
pode escolher quem ele quiser, sejam indivíduos ou nações, para realizar seus
propósitos redentores, independentemente das suas próprias escolhas ou
cooperação, se necessário. Seus servos escolhidos não precisam fazer parte do
Israel espiritual para servi-lo, e Ele não está obrigado a recompensá-los com a
vida eterna, só porque eles desempenharam o seu papel no drama messiânico. Não
há conexão inerente entre serviço e salvação.
b) Versos 14-16
Em seguida, Paulo explicitamente levanta a questão da
justiça ou fidelidade de Deus e, implicitamente, refere-se ao Seu tratamento de
Israel étnico como um todo: “Que diremos, então? Não há nenhuma injustiça com
Deus, existe? De modo nenhum!” (v. 14). Deus tem o direito soberano de escolher
para serviço sem o acompanhamento de uma promessa de salvação. Mas alguém
poderia perguntar: como é que sabemos que Deus tem esse direito? Aqui está o
ponto da citação de Paulo da declaração de Deus a Moisés: “Eu serei gracioso
para quem hei de ser gracioso, e mostrarei compaixão a quem eu mostrar
compaixão” (Êxodo 33:19; cf. Rm 9:15). Ou seja, Paulo não fornece qualquer
defesa lógica ou racional do direito de Deus para escolher para serviço que lhe
apraz, pelo contrário, ele estabelece esse direito pela simples citação das
palavras autorizativas de Deus como registradas nas Escrituras inspiradas.
A compreensão comum desses dois versículos (Ex 33:19 e Rm
9:15) é que eles devem se referir à salvação por causa dos termos usados:
graça, misericórdia, compaixão. Este não é o caso, no entanto. Os termos usados
nestes versos não significam inerentemente graça salvadora e misericórdia, no
sentido de salvação eterna; na verdade, eles são muitas vezes utilizados para
graça ou favor não-soteriológicos, e compaixão e misericórdia temporal. O
primeiro verbo utilizado em Êxodo 33:19 é Chanan, que muitas vezes
se refere às bênçãos materiais de Deus. Basicamente, isso significa “fazer um
favor a alguém, mostrar favor, ser misericordioso e bondoso, conceder uma
bênção”. Por exemplo, em Gn 33:11 Jacó disse a Esaú: “Deus tem sido bondoso
comigo”, isto é, dando-lhe a riqueza material. Além disso, em 2ª Sm 12:22 Davi
diz: “O SENHOR seja gracioso comigo e que a criança possa viver”. Isto é, Deus
pode conceder o meu pedido para poupar a vida do filho de Bate-Seba. Nos Salmos
de David, muitas vezes orou a Deus para ser “gracioso” para ele, dando-lhe a
força para superar seus inimigos físicos (por exemplo, Salmo 31:9; 41:10;
56:1).
O segundo verbo usado em Êxodo. 33:19 é racham,
que juntamente com seus cognatos, muitas vezes refere-se à atitude de
compaixão, misericórdia, ou piedade sobre alguém em qualquer tipo de
necessidade. Quando usado como a compaixão de Deus, estas palavras geralmente
se referem às suas bênçãos temporais sobre a nação de Israel. Por exemplo,
porque Deus é misericordioso, ele não vai destruir o seu povo (Dt 13:17; Ps.
78:38). Uma idéia comum é que por causa de sua compaixão, Deus restaura o seu
povo do cativeiro. Ex.: “Portanto, assim diz o SENHOR DEUS, ‘Agora eu
restaurarei a sorte de Jacó, e terei misericórdia de toda a casa de Israel” (Ez
39:25). “Eu terei… compaixão dos seus locais de habitação” (Jr 30:18). Ver
também Dt 30:3; Isa. 14:1; 49:10, 13; 54:7-8, 10; Jer 31:20, 33:26, Zc 10:6.
Como em Êxodo 33:19, estas duas palavras (chanan e racham)
e seus cognatos são muitas vezes combinados no Antigo Testamento para descrever
a natureza do trato de Deus com seu povo como nação. Eles são a base para a
decisão de Deus para abençoar o seu povo, para poupá-los, para livrá-los,
mantê-los intactos como o povo, através do qual, Ele iria trabalhar o seu plano
de redenção. Por exemplo, “o SENHOR foi bondoso com eles e teve compaixão
deles” e não permitiu à Síria destruí-los (2 Reis 13:23). Ver também 2 Crônicas
30:9, Isaías 30:18, Salmo 102:13.
A citação de Paulo em Êxodo 33:19 em Romanos 9:15 é tomada
diretamente da Septuaginta, que usa as palavras Gregas eleeo e oiktiro,
que são muito próximas em significado. O verbo eleeo (“ter
misericórdia, ser misericordioso”, confira o substantivo eleos,
“misericórdia”) é usado em Romanos 9:15, bem como em 9:16 e 9:18. Às vezes ele
se refere à misericórdia salvadora de Deus (por exemplo, Rm 9:23; 1ª Tm 1:13,
16; 1 Pe 2:10), porém mais freqüentemente é usado no sentido temporal de
mostrar compaixão para com os pobres, doentes, ou necessitados (Rm 12:8;
Filemom 2:27). Assim, ele é usado como um prelúdio para um pedido de
misericórdia, como: “Tem piedade de mim, e socorre-me” (por exemplo, Mateus
9:27, 15:22, 17:15, 20:30-31, Lucas 16:24 ). Mais significativamente, às vezes
é usado para se referir à escolha ou chamada de Deus de alguém para serviço,
especificamente, a chamada de Paulo para ser apóstolo: 1 Coríntios 7:25, 2
Coríntios 4:1.
Em vista da ampla gama de significados para todas as
palavras aqui envolvidas, incluindo muitas que não estão relacionados à
salvação, é presunçoso afirmar que Paulo está usando-as em Romanos 9:15 para se
referir à eleição para a salvação. Diante dos muitos usos dos termos hebraicos
para se referir à preservação de Israel por Deus como nação, e uso de eleeo por
Paulo para se referir ao seu chamado para ser apóstolo, é razoável interpretar
os termos aqui em Rom 9:15 como se referindo a escolha da nação de Israel por
Deus para desempenhar um papel crucial em seus propósitos e aliança. As
palavras implicam que, quando Deus escolhe alguém para serviço, tal como
Israel, Ele está concedendo grande favor a essa pessoa ou nação, seja essa
pessoa ou nação, salva ou não.
Até agora nós mostramos que as palavras “misericórdia” e
“compaixão”, em Êxodo 33:19 e Rm 9:15 não se refere necessariamente à
misericórdia salvadora, desde que elas têm outros usos legítimos compatíveis
com a eleição para serviço. Mas como sabemos que a última é conotação
intencionada aqui? A única maneira de decidir isso é analisá-las em referência
a seus contextos, especialmente o contexto de Êxodo 33:19 (conforme a narrativa
de 32:9 a 34:10). Tal análise mostra que, quando Deus diz no texto que ele será
gracioso e mostrará compaixão sobre quem ele escolhe, sua afirmação não tem
nada a ver com a escolha de alguém para a salvação, temporal ou eterna. Ao
contrário, ele está declarando o seu direito de fazer o que ele decide
com a nação de Israel. Nesse caso, ele está exercendo o seu direito de
escolher soberanamente poupá-los como uma nação e continuar a usá-los em seu
plano redentor. [227]
Paulo está aplicando essa declaração de maneira semelhante
em Romanos 9:15. Ou seja, é uma questão de misericórdia soberana de Deus, que Ele
escolheu esta nação para seus propósitos, em primeiro lugar e, certamente,
ainda mais que ele os tem poupado e os conservado até este tempo,
permitindo-lhes finalmente ser a fonte física da presença no mundo do Salvador
(Rm 9:5).
Romanos 9:16, penso eu, expressa o conceito de eleição
incondicional; mas Paulo o está aplicando apenas a eleição para serviço e não a
eleição para a salvação.
c) Versos 17-18
Como o exemplo de Faraó se encaixa na progressão do
argumento de Paulo? O apóstolo demonstrou que o tratamento dos Judeus por Deus
não é injusto, porque ele tem soberania completa na maneira como ele escolhe
aqueles que irão servir a seus propósitos. Por exemplo, a maneira como ele
escolheu Isaque e Jacó demonstra isso e é confirmada pela citação do princípio
geral de Êxodo 33:19. Tudo isto mostra que Deus é livre para escolher quem quer
que lhe apraz para papéis de serviço.
Mas isso em si não resolve completamente a questão dos
Judeus. Especificamente a questão é se Deus é injusto, porque ele chamou a nação
de Israel para o seu serviço e, ao mesmo tempo, condena a muitos, se não a
maioria dos judeus individuais para o inferno. Se Deus vai usá-los, não é ele,
assim, obrigado a salvá-los? Este é o ponto abordado nos versículos 17-18. Aqui
Paulo mostra a partir do Velho Testamento que a soberania de Deus na eleição
para serviço inclui a prerrogativa de escolher e usar alguns sem salvá-los. Seu
exemplo inicia com Faraó. Não somente foi ele escolhido através da soberana
misericórdia de Deus, como também foi endurecido ou confirmado na sua
incredulidade.
É comum tomar o verso 18 como se referindo a eleição para a
salvação e rejeição para o inferno, com a primeira se aplicando a Moisés e a
última se aplicando a Faraó. Nada poderia estar mais longe da verdade. Em primeiro
lugar, não existe nada neste verso sobre destinos eternos, ou céu ou inferno.
“Misericórdia”, aqui, significa o mesmo que a misericórdia e a compaixão do
verso 15, isto é, o favor que Deus mostra quando ele concede a alguém o
privilégio de desempenhar um papel no drama da redenção. Em segundo lugar, não
há nenhuma referência a Moisés neste versículo, absolutamente. Paulo nada disse
especificamente sobre Moisés, nesta passagem, exceto que Deus lhe revelou o
grande princípio em Rm 9:15. No máximo, esse princípio aplicado a ele no
contexto, tem o sentido de que Deus escolheu responder a sua oração. Porém, ele
(Moisés) não é declarado aqui como contrapartida de Faraó, como o objeto da
misericórdia de Deus em contraste com o Faraó, como o objeto endurecimento da
parte de Deus.
Em vez disso, o todo do versículo 18 refere-se ao Faraó.
Neste contexto, Paulo deliberadamente escolheu apresentá-lo como um exemplo,
porque ele (Faraó) é um paradigma perfeito para o tratamento de Israel por Deus
como alguém escolhido para significativo serviço no plano redentor de Deus.
Neste sentido Deus “teve misericórdia” sobre Faraó, assim como teve
misericórdia de Israel escolhendo Abraão, Isaac, Jacó e toda a nação para
cumprir os propósitos de sua aliança. Mas Deus não somente exerceu o seu
direito soberano de levantar Faraó para um propósito específico (verso 17); ele
também optou por usá-lo para este propósito, sem salvá-lo. Neste sentido, o
Faraó é um paralelo exato com Israel no que diz respeito ao ponto-chave de todo
este capítulo: o direito de Deus de escolher para serviço (“ter misericórdia”),
sem também escolher para a salvação.
É importante notar que o verso 18b (“endurece a quem ele
quer”) não significa que Deus endureceu o coração de Faraó de tal forma que ele
estava, assim, destinado a ser um incrédulo. Os relatos dos acontecimentos, no
Velho Testamento, que precederam o êxodo do Egito, deixam claro que o Faraó já
tinha endurecido o seu próprio coração contra Deus. Os sentidos principais nos
quais Deus endureceu o coração do Faraó foram em estender ou prolongar o
auto-endurecimento do próprio Faraó e em focá-lo sobre uma situação particular.
Ao fazer isso, Deus levou Faraó a prolongar a sua última e inevitável decisão
de deixar o povo ir, até que todas as pragas pudessem ser infligidas (cf. Ex
4:21, 7:3, Rm 9:17). Desta forma, Deus usou Faraó tanto a despeito de seu
estado perdido quanto por causa de seu estado de perdição, mas sem, de forma
alguma, provocar o seu estado perdido.
Esse é o exato padrão das relações de Deus com Israel étnico
como um todo. Em sua misericórdia, ele os escolheu para serviço, e Ele os usou
para seu propósito, tanto apesar do fato de que muitos (a maioria) deles
estavam perdidos, quanto até mesmo porque eles estavam
perdidos. Como no caso do Faraó, os Judeus que tinham endurecido seus corações
a Deus, por sua vez foram endurecidos por Deus no início da era do Novo Pacto,
de tal maneira, que Deus realizou um propósito específico através desse
auto-endurecimento (Rm 11:7-11 , 25).
O fundamental é que o tratamento de Israel por Deus é
perfeitamente justo e equitativo. Ele os escolheu incondicionalmente e os usou
para seus propósitos, mas isso não significa, entretanto, que eles tinham
qualquer direito sobre a graça salvadora de Deus. Eles foram tanto escolhidos quanto endurecidos ao
mesmo tempo. Assim, não existe nenhuma conexão inerente entre serviço e a
salvação, como mostra o exemplo de Faraó.
2. Romanos 9:19 – 10:21
Em Romanos 9:19 -10:21 Paulo volta-se para o assunto da
salvação, quando ele discute o que distingue o remanescente salvo dentro de
Israel dos judeus não salvos. Aqui fica claro que a escolha de Deus do
remanescente é condicional, em conformidade com o princípio já estabelecido da
justificação pela fé. Deus separa o Israel espiritual da massa não-salva de
Judeus (9:19-29), porém o agente de separação é a fé, e não a eleição
(9:30-10:21). Na última seção não há nenhum indício da eleição incondicional
para a salvação ou condenação; pelo contrário, está claro que a separação entre
os Israelitas salvos e os Israelitas perdidos é resultado das suas próprias
escolhas, quais sejam crer ou não crer. Os judeus que estavam perdidos não
tinham a ninguém para culpar, senão a si mesmos e à sua própria teimosia. O
próprio Deus é retratado, não como soberanamente decidindo em sua própria
vontade secreta, quem será salvo e quem se perderá, mas como um Deus amoroso,
que convida a todos a serem salvos: “Mas, quanto a Israel Ele diz: ’TODOS OS
DIAS, EU ESTENDI AS MINHAS MÃOS A UM POVO REBELDE E OBSTINADO ‘“ (10:21).
Esta é a forma como esta seção principal termina. O estado
perdido de Israel é uma reflexão sobre o caráter de Deus, a prova de sua
infidelidade, uma indicação de que Ele não cumpriu sua palavra (9:6)? Não, Deus
tem mantido a sua palavra a Israel em todos os sentidos. Ele manteve todas as
promessas que Ele fez à nação, com relação aos propósitos e privilégios do seu
pacto (9:1-29). Ele enviou o Messias e deu-lhes todas as oportunidades para
confiar Nele para a salvação pessoal (9:30 – 10:21). Sua recusa em aceitá-lo é
sua própria culpa.
CONCLUSÃO
Em conclusão, podemos notar duas maneiras em que uma
compreensão adequada da predestinação condicional Arminiana deve nos afetar.
Primeiro, ela deve nos dar um senso de responsabilidade pessoal. Ela diz respeito
ao nosso livre-arbítrio dado por Deus e à nossa capacidade de chegar a nossa
própria decisão a respeito da fé em Cristo. Ele faz a culpa repousar somente
sobre nós, se não reunir-mos as condições graciosas para a eleição à glória.
Ela alivia a Deus do estigma aparentemente terrível de algum Ser arbitrário e
injusto, o qual escolhe alguns e rejeita outros. Ela obriga o incrédulo a
enfrentar o problema do seu próprio destino, diretamente e sem desculpa. Ele, o
incrédulo, não pode dizer, “qual é a sua utilidade? Meu destino está selado de
qualquer maneira.” A eleição condicional também adverte o crente, de que ele
deve “procurar fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição” (2ª Pedro
1:10, corrigida, fiel ao texto original).
Em segundo lugar, a doutrina da predestinação condicional
deve nos dar uma sensação de paz pessoal. Geralmente são os Calvinistas que
fazem tal afirmação. Saber, dizem eles, que a nossa salvação em nada depende do
nosso próprio eu, pecaminoso e inconstante, mas depende inteiramente da
soberana graça de Deus, daria ao crente uma grande paz de espírito. Mas, na
realidade, a idéia da eleição incondicional tem sido fonte de grande angústia
para muitos. “Desde que eu nada posso fazer, senão esperar”, dizem eles, “Como
posso saber se Deus me escolheu?” Se a razão para a escolha de uma pessoa e não
de outra, jaz totalmente dentro do conselho secreto de Deus, uma pessoa
pode sempre estar insegura quanto ao seu status. Mesmo se ela
conhece a si mesmo como um crente, ela pode sempre perguntar se a sua fé é um
genuíno dom de Deus ou uma imitação temporária e ineficaz confirmada por sua
própria vontade enganosa (ver Mateus 13:5-7, 20-22).
A visão Arminiana clássica da eleição condicional, no
entanto, é uma fonte de grande conforto. Como alguém pode estar certo de que
ele está entre os eleitos de Deus? Deus revelou as condições que nós devemos
reunir para receber esse status, e cada um pode saber se ele ou ela reuniu as
condições ou não. Não há mistério. Se uma pessoa não reuniu as condições, então
ele deve ser advertido de que a doutrina da predestinação não se destina a ser
um conforto para os incrédulos. Se ele ou ela as reuniu e continua a reuni-las,
então ele pode cantar com confiança, “Bendita Segurança, Jesus é meu; Oh que
antegozo da glória divina!”
Tradução: Cloves Rocha dos Santos
Fonte: Perspectives on election: five views, pp. 70-134
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Notas do editor do site
* Com a afirmação de que todas as variações de arminianismo
rejeitam o conceito da “verdadeira depravação total”, Cottrell infelizmente cai
no erro da generalização e despreza justamente a teologia que ele pretende
apresentar no texto. O arminianismo clássico assina em baixo as mais fortes
declarações agostinianas/calvinistas sobre a depravação total. Não há nenhuma
diferença teológica entre calvinistas e arminianos clássicos nesse ponto. A
diferença está no entendimento de como Deus lida com essa depravação. Para
maiores detalhes, ver os seguintes artigos: LINK_1, LINK_2 e LINK_3.
** Mais uma vez Cottrell despreza as convicções da teologia
arminiana clássica. Afirmar a graça universal e resistível não implica em negar
o significado prático da depravação. Em primeiro lugar, não está claro como a
extensão da graça pode afetar o significado prático de depravação. Se Deus
resolver lidar com a depravação de metade da humanidade, ou com a de toda
humanidade, que diferença prática isso faria com respeito à depravação? Em
segundo lugar, a resistibilidade da graça não tem nada a ver com a depravação
total em si, mas com a medida de graça que Deus derrama sobre cada um. O fato
dela ser resistível demonstra que Deus não quis coagir, mas não diz nada sobre
a gravidade prática da depravação.
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[1] Nota do tradutor: Este artigo é uma
exposição de Jack Cottrell sobre a Eleição, intitulado: THE CLASSICAL
ARMINIAN VIEW OF ELECTION – A VISÃO ARMINIANA CLÁSSICA DA
ELEIÇÃO, que se encontra no capítulo 3 (páginas 70-134) do livro: PERSPECTIVES
ON ELECTION: FIVE VIEWS – PERSPECTIVAS SOBRE A ELEIÇÃO: CINCO PONTOS DE VISTA,
B&H PUBLISHING GROUP, editado por CHAD OWEN BRAND, para o qual o autor foi
colaborador. Este capítulo foi originalmente escrito – e submetido à editora –
sob um título ligeiramente diferente: THE CLASSICAL ARMINIAN VIEW OF
PREDESTINATION – A VISÃO ARMINIANA CLÁSSICA DA PREDESTINAÇÃO,
que no momento da publicação e de acordo com o tema do livro, foi alterado e
adaptado para o título constante do livro. Se o leitor observar, este ensaio,
ora traduzido, também difere um pouco do apresentado no livro, pois ele é
completo, conforme foi entregue pelo autor, à editora para publicação e que,
por motivo espaço, não o publicou na íntegra.
[2] Nota do tradutor: Dr. Jack Warren Cottrell é um Kentuckyano de nascimento e de coração.
Ele cresceu na Igreja Cristã de Minorsville, perto de Stamping Ground,
Kentucky. Seus primeiros anos de envolvimento na igreja, duas semanas de
reuniões de avivamento e a Assembléia Cristã do Norte o colocaram em contato
com pregadores fiéis como R.J. Kidwell, Wayne Smith, Bob Shannon e E. Ray
(Cotton) Jones. Após autorização para o serviço vocacional cristão, Dr.
Cottrell recebeu os títulos de Bacharel em Artes (BA) e de Bacharel em Teologia (ThB) da Faculdade Bíblica de Cincinnati, seguido pelo título de
Bacharel em Artes (BA) em
Filosofia da Universidade de Cincinnati. Após ser recrutado para o cargo de
professor de teologia na escola de pós-graduação no Seminário Bíblico de
Cincinatti (SBC), ele
recebeu do Seminário Teológico de Westminster o título de Mestre em Divindade (Mdiv). Isso lhe deu um importante
contato de primeira-mão com a estrita Teologia Calvinista. Ele completou sua
educação formal quando recebeu o título de Doutor em Filosofia (PhD) em história de doutrina do
Seminário Teológico de Princeton em 1971; prega quase todos os domingos, ao
longo da carreira. Ele ensina teologia na escola de pós-graduação do Seminário
Bíblico de Cincinnati (SBC) desde
1967. Durante este tempo ele também escreveu 18 livros, o último sendo Headship, Submission, and the Bible –Liderança,
Submissão e a Bíblia (lançado no início de 2008). Este livro sucede
seu importante estudo sobre o Espírito Santo, entitulado: Power from on High – What the Bible Say About
Holy Spirit –Poder do Alto – O que a Bíblia diz sobre o Espírito Santo;
e a sua Teologia Sistemática de 608 páginas, entitulada: The Faith Once for All: Bible Doctrine for
Today – A Fé de uma Vez por Todas: Doutrina Bíblica para Hoje.
Seus trabalhos anteriores incluem um grande comentário de dois volumes sobreRomans – Romanos, e sua
trilogia: What the Bible Say
About God The Creator – O que a Bíblia diz sobre Deus, o Criador; What the Bible Say About God The Redeemer – O
que a Bíblia diz sobre Deus, o Redentor e What the Bible Say About God The Ruler – O
que a Bíblia diz sobre Deus, o Soberano. Dr. Cottrell mora na cidade de
Lawrenceburg, no estado de Indiana e é um membro ativo da Igreja Cristã da
cidade de Bright, no estado de Indiana, onde ele atua como um “ministro de
ensino” de tempo parcial; ensina regularmente aos domingos e quartas-feiras e
prega ocasionalmente. Seu tema favorito, seja escrevendo para publicação, seja
ensinando na igreja local ou ensinando em sala de aula no Seminário, é a Graça de Deus. Ele é casado com sua
adorável esposa, Barbara Gordin, desde 1958 e tem três filhos e quatro netos.
(fontes:http://mcconvention.org/2007/Jack.html; http://copanews.org/index.php?option=com_content&task=view&id=45; http://www.facebook.
com/pages/Jack-Cottrell/48880983223#/pages/Jack-Cottrell/48880983223?v=info,
acesso em 21/01/2010)
[3] Millard J. Erickson, Christian Theology,
second edition – Teologia Cristã , segunda edição
(Grand Rapids: Baker, 1998), 931.
[4] Veja Roger T. Forster e V. Paul Marston, God’s
Strategy in Human History – A Estratégia Divina na História
Humana (Wheaton: Tyndale House, 1974), 243-257.
[5] Veja Eugene Portalie, A Guide to the Thought
of Saint Augustine, tradução Ralph J. Bastian – Um Guia
para o Pensamento de Santo Agostinho (Chicago: Henry Regnery
Co., 1960), 196-198; Norman Geisler,Chosen But Free – Eleitos,
Mas Livres (Minneapolis: Bethany House, 150-151.
[6] Aurélio Agostinho, “On the Spirit and the Letter –
Sobre o Espírito e a Letra,” 58, em The Works of Aurelius Augustine –
As Obras de Aurélio Agostinho, edição Marcus Dods, volume IV, Anti-Pelagian
Works – Obras Anti-Pelagianas, volume I, tradução Peter Holmes, (Edinburgh:
T. & T. Clark, 1872), 219-220.
[7] Por exemplo. Desiderius Erasmus, Discourse on
Free Will – Discurso sobre o Livre-arbítrio (New York: Ungar,
1961).
[8] “Arminianismo também inclui o Catolicismo Romano
convencional” (Erickson, 932). Veja “The Canons and Dogmatic
Decrees of the Council of Trent,” – “Os Canons e os Decretos Dogmáticos do
Concílio de Trento” – em Philip Schaff, The Creeds of
Christendom – Os Credos da Cristandade, volume II (New York: Harper
and Brothers, 1919), 92, 111.
[9] George H. Williams, The Radical Reformation –
A Reforma Radical (Philadelphia: Westminster, 1962), 839; Carl
Bangs, Arminius: A Study in the Dutch Reformation – Arminio: Um Estudo
na Reforma Holandesa (Nashville: Abingdon, 1971), 169-170.
[10] Bangs, 138, 141.
[11] James Arminius, “Public Disputations,” – “Debates
Públicos” XI:7, em The Writings of James Arminius, 3 volumes
– Os Escritos de Tiago Armínio (Grand Rapids: Baker, 1956),
I:526.
[12] Armínio, “A Declaration of the Sentiments of Arminius,
on Predestination,” – “ Uma Declaração dos Sentimentos de Armínio sobre a
Predestinação” , IV, em Writings, – Escritos, I:253-254.
Veja Bangs, 343.
[13] G. Gordon Olson, Beyond Calvinism and
Arminianism: An Inductive, Mediate Theology of Salvation – Além do Calvinismo e
Armianismo: Uma Teologia da Salvação Mediata e Indutiva (Cedar Knolls,
NJ: Global Gospel Publishers, 2002), 30; Robert E. Picirilli, Grace,
Faith, Free Will, Contrasting Views of Salvation: Calvinism and Arminianism – Graça,
Fé e Livre-Arbítrio, Contrastando Visões da Salvação: Calvinismo e
Arminianismo (Nashville: Randall House, 2002), i, ii; Stephen M.
Ashby, “A Reformed Arminian View,” – “ Uma Visão Arminiana Reformada”
em Four Views on Eternal Security – Quatro Visões sobre a Segurança
Eterna, edição J. Matthew Pinson (Grand Rapids: Zondervan, 2002),
137-143.
[14] F. Leroy Forlines, The Quest for Truth:
Answering Life’s Inescapable Questions – Em Busca da Verdade – Respondendo às
Questões Inevitáveis da Vida. (Nashville: Randall House, 2001), xvii.
[15] Nota do tradutor: O socianismo ou socinianismo, precursor do moderno
Unitarianismo, foi um grupo radical da reforma. Suas ideias se desenvolvem na
Itália. Ao iniciar-se a Reforma Protestante noséculo XVI, numerosos
intelectuais começaram a publicar seus próprios pontos de vista acerca da
doutrina cristã, sem esperar o beneplácito de Roma,
dentro do espírito protestante de livre exame daBíblia. Um destes foi Miguel Serveto, médico e teólogo espanhol.
Em seus livros De Trinitatis Erroribus(1531), Dialogorum de Trinitate (1532) e Christianismi
Restitutio’ (1553),
questionou a base bíblica e racional da doutrina trinitária. Suas opiniões
heterodoxas e sua liberdade de espírito, fizeram-no ser perseguido como herege
pela Inquisição.
Em Genebra foi
preso pelos seguidores de Calvino e
condenado a morrer na fogueira por negar a Trindade e condenar o batismo infantil
(em 27 de outubrode 1553).
Lelio Sozzini (Socinus) de Siena (1525-1562) foi atraído ao
anti-trinitarianismo através da morte de Miguel Servetus (morto na fogueira por
ordem de Calvino em Genebra), ao afirmar que não encontrara a palavra Trindade nas
Sagradas Escrituras. Fausto Sozzini (1539-1604), seu sobrinho, mudou-se para a
Polônia em 1579 e permaneceu lá até a sua morte. Sozzini encontrou refúgio na
Polônia, onde foi recebido pelos Irmãos Poloneses, onde nunca chegou a ser
membro oficial do grupo, por negar-se a ser batizado de novo. Na cidade
de Rakow,
próximo à Cracóvia,
os Irmãos Poloneses desenvolveram um grande centro de estudos que atraiu
numerosos eruditos e intelectuais de diferentes países. O Socinianismo
desenvolveu-se rapidamente na Polônia, e Fausto deu o catecismo Racoviano, que
foi publicado em 1605, ao movimento. A doutrina sociniana é antitrinitária e
considera que em Deus há uma única pessoa e que Jesus de Nazaré é um homem. Os
socinianos se estabeleceram principalmente na Transilvânia, Polônia
e Países Baixos. Suas crenças, resumida no Catecismo Racoviano, são:
A Bíblia era a única autoridade, mas tem que ser interpretada pela
razão; Rejeição de mistérios; Unidade, eternidade, onipotência,
justiça e sabedoria de Deus; A razão é capaz de compreender Deus para a salvação humana, mas
sua imensidão, onipresença e ser infinito são além da compreensão humana,
portanto desnecessárias à salvação. Rejeição da doutrina do pecado original; Celebração do batismo e da santa ceia como
símbolos memorativos, sem serem eficazes meios de graça. De acordo com os
socinianos, Cristo deve ser adorado como homem que obteve a divindade por sua
vida superior. Sua morte teria sido simplesmente um exemplo de obediência que
Deus deseja de seus seguidores. O pecado original, a deidade de Cristo, a
Trindade, a predestinação, foram negados. Os Jesuítas foram capazes de suprimir
esse movimento na Polônia, mas as ideias Socinianas expandiram-se para a Holanda
e Inglaterra e finalmente para a América. A moderna Igreja Unitariana é
descendente dos socinianos da Polônia, que foram chamados unitarianos pela
primeira vez na Transilvânia em 1600, aproximadamente. (Fontes;
http://www.artigonal.com/religiao-artigos/desconhecimento-e-discriminacao-1697043.html; http://pt.wikipedia.org/wiki/Unitarismo, acesso em 21/01/2010)
[16] Geoffrey F. Nuttall, “The Influence of Arminianism in
England,” em Man’s Faith and Freedom: The Theological Influence of
Jacobus Arminius, – “A Influência do Arminianismo na Inglaterra”
em A Fé Humana e a Liberdade: A Influência Teológica de Tiago Armínio –
edição Gerald O. McCulloh (Nashville: Abingdon, 1962), 50.
[17] Nota do Tradutor: Nas idéias e
postulados o Unitarismo ou Unitarianismo é o moderno
sucessor do Socinianismo. O Unitarismo (ou Unitarianismo) é uma corrente de
pensamento teológico que
afirma a unidade absoluta de Deus. Há dois ramos principais do unitarismo, os
Unitários Bíblicos que consideram a Bíblia como única regra de fé e prática,
assemelhando as demais religiões cristãs evangélicas, exceto, claro, pela
concepção unitária de Deus, e os Unitários Universalistas, surgido recentemente
nos Estados Unidos, que pregam a liberdade de cada ser humano para buscar a sua
própria Verdade e a necessidade de cada um buscar o crescimento espiritual sem
a necessidade de religiões, dogmas e doutrinas. Os Unitários não devem ser
confundidos com os Unicistas. Os primeiros entendem que Deus é um e único, o
Pai de Jesus Cristo, I Co. 8:6, Jo. 17:3. Quanto ao Espírito Santo os unitários
divergem. Alguns acreditam que ele é um Espírito criado através de Cristo, Jo.
1:3, e subordinado a este, I Co. 15:27, outros o consideram, apenas, um outro
nome para designar a pessoa do Pai, Jo. 4:24, por vezes reconhecido como tal e
por vezes reconhecido como o Dom de Deus, At. 2:38. Já os Unicistas entendem
que o Pai, o Filho e o Espírito são apenas manifestações diferentes do mesmo Deus,
I Tm. 3:16 (na versão Almeida Corrigida Fiel), At. 20:28. Apesar de sua origem
em igrejas Cristãs, é geralmente identificado com as correntes de combate
ao Trinitarianismo, teve diversas manifestações ao longo da História, com
apoio por vezes parcial ou total com outros movimentos que compartilham seu
comum desacordo com o dogma da Trindade,
como o subordinacionismo, o arianismo, o serventismoou
o socianinismo.
Desde o século XIX,
uma ala do unitarismo contemporâneo, conhecido atualmente nos Estados Unidos como
unitarismo universalista, deixou de impor credos ou de fazer provas de doutrina
como critério de participação, enquanto a ala mais antiga, conhecido como
unitarismo bíblico ou restauracionista procura seguir os preceitos cristãos
conforme ensinados na Bíblia Sagrada. (fontes:http://pt.wikipedia.org/wiki/Socianismo;http://www.artigonal.com/religiao-artigos/desconhecimento-e-discriminacao-1697043.html; http://pt.wikipedia.org/wiki/Unitarismo, acesso em 21/01/2010)
[18] Idem, 48.
[19] Nota do tradutor: Quaker é o nome dado a um membro de um grupo
religioso de tradiçãoprotestante,
chamado Sociedade Religiosa dos Amigos (Religious Society
of Friends). Criada em 1652, pelo sapateiro inglês George Fox, a Sociedade
dos Amigos foi um grupo dessidente e que reagiu contra os abusos da Igreja Anglicana da
Inglaterra, colocando-se sob a inspiração direta do Espírito Santo.
Sua criação foi inspirada no texto do evangelho de João 15.24: ““Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos
mando”. Os membros desta sociedade, ridicularizados com o nome
de quakers: termo que é derivado do verbo inglês ‘to quake’ –
estremecer ou tremer – em alusão ao
que ocorria com os adeptos quando “tocados” pelo Espírito Santo em suas
reuniões – à semelhança do que acontece hoje com os modernos pentecostais
– rejeitam qualquer
organização clerical, viviam em recolhimento e pregam a prática do pacifismo,
da solidariedade e da filantropia. Com o objetivo de garantir sua pureza moral,
também defendiam atitudes, digamos, nada moderadas: recusavam-se a pagar
dízimos à igreja oficial, a prestar juramento diante dos magistrados nas cortes
ou a homenagear autoridades, incluindo o rei. Negavam-se ainda a prestar o
serviço militar e a tomar parte nas guerras. Devido a esse posicionamento radical,
os quakers sofreram perseguições na Inglaterrapor Carlos II, e emigraram
em massa para a América do Norte, principalmente aos Estados Unidos, onde,
em 1681,
criaram sob a égide de William Penn a colónia
da Pensilvânia (hoje,
estado americano). Os Quakers, apesar de rejeitarem um credo formal, crêem
em: Sentir Deus – um dos pilares da fé dosquakers é
a crença de que Cristo está presente sempre que os “amigos” se reúnem em
silêncio – todo indivíduo é capaz de sentir Deus diretamente,
sem intermediário algum. Todos têm uma Luz Interior: o Espírito Santo, que guia
o indivíduo quando este se converte e aceita essa voz.; Bíblia – tradicionalmente os
quakers aceitaram Cristo como a Palavra (Logos) Divina e a
Bíblia seria o testemunho dessa Palavra. Alguns quakers têm-na
como única influência.; Simplicidade –
os quakersadoptam modos de vidas simples: sem valorizar roupas
caras, distinção de classe social, títulos honoríficos ou gastos desnecessários; Igualdade – existe um forte senso
de igualitarismo, evitando discriminação baseada em sexo ou raça. (Os quakers foram
notáveis abolicionistas e feministas). As mulheres tiveram direitos iguais e
participação dos cultos quakers desde o século XVIII; Honestidade – recusam jurar,
conduzir negócios obscuros, actividades anti éticas; Ação Social – organizações como oGreenpeace e
a Anistia Internacional foram fundadas pelos quakers e são
influenciadas pela ideologia da Sociedade dos Amigos; Pacificismo – os quakers se
recusam a usar armas e violência, mesmo em defesa alheia. Em 1947, os comités ingleses e americanos
do Auxílio Quaker Internacional receberam oPrêmio Nobel da Paz.. Existem duas formas de culto nas
Reuniões da Sociedade Religiosa dos Amigos: OCulto Programado, que se
assemelha a qualquer outro culto protestante tradicional: conduzido por um
ministro, com hinos, orações e leituras da Bíblia; A outra forma é o
tradicional Culto Silencioso ou não-programado, em que os
quakers se reúnem e esperam que alguém se sinta guiado pelo Espírito Santo para
exortar, ler a Bíblia, dar um testemunho, orar, cantar. Às vezes um culto
não-programado pode passar sem ter manifestação alguma, sendo uma hora de
silêncio e meditação. Rejeitando qualquer forma exterior de religião, os
quakers não praticam o Batismo com águas
nem a Santa Ceia,diferentemente da maioria das
denominações cristãs. Crêem que o indivíduo seja baptizado “com fogo” (pelo
Espírito Santo), falando na consciência; e relembram a obra de Cristo dando
graças em toda refeição. Entre as personalidades históricas ligadas ao
movimento encontramos Richard Nixon (ex-presidente
dos Estados Unidos) e Frederick Wislow Taylor (Engenheiro mecânico
americano, Teórico e Pai da Administração Científica). (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Quaker;http://www.comunidadeespirita.com.br/curiosidades/o%20que%20sao%20quakers.htm, acesso em 21/01/2010)
[20] Nota do Tradutor: A comunidade
religiosa conhecida por Testemunhas
de Jeová assume-se como uma religião cristã não-trinitária. Segundo elas, adoram exclusivamente a Jeová e são seguidores deJesus Cristo. Crêem que a
religião é a restauração do verdadeiro cristianismo, mas rejeitam
a classificação de serem fundamentalistas no
sentido em que o termo é comumente usado.[3] Afirmam
basear todas as suas práticas e doutrinas no conteúdo da Bíblia. Possuem adeptos em 236 países e
territórios autónomos, ascendendo a mais de sete milhões e trezentos mil
praticantes, apesar de reunirem um número muito superior de simpatizantes.
Segundo o Anuário das Testemunhas de Jeová de2010 e A Sentinela publicada no site Oficial, Nos últimos dez anos, mais de 2,7 milhões de pessoas foram
batizadas, uma média de cinco mil por dia. Além disso, no ano de 2009,
18.168.323 pessoas assistiram àComemoração da Morte de Cristo (Ceia do Senhor) , constituindo um número bem superior
aos dos membros ativos, ou seja, cerca de outros onze milhões de simpatizantes
têm assistido às suas reuniões e/ou participado de seus cursos bíblicos
gratuitos semanais. As Testemunhas de Jeová são bem conhecidas pela sua
regularidade e grande persistência na obra de evangelização de casa em casa e nas ruas. Possuem um dos maiores parques gráficos do
mundo visando a impressão e distribuição de
centenas de milhões de exemplares da Bíblia e de publicações baseadas nela.
Como parte da sua adoração a Deus, assistem semanalmente a reuniões congregacionais e
a grandes eventos anuais, onde o estudo da Bíblia constitui a principal
temática. São ainda conhecidas por recusarem muitas das doutrinas centrais das
demais religiões cristãs, pelo apego a fortes valores que afirmam ser baseados
na Bíblia, nomeadamente quanto à neutralidade política, à moralidade sexual, à honestidade e
à recusa em aceitar transfusões de sangue. Alguns as chamam de propagandistas cristãos, de um
novo culto cristão,
de uma seita cristã influenciada pelo judaísmo ou de
fanáticos que rejeitam tratamento médico.
Todavia, a Associação Mundial das Testemunhas de Jeová refuta tais afirmações. Segundo as Testemunhas de
Jeová, não importa quanto lhes custe isso, dizem seguir à risca os
preceitos bíblicos.
Afirmam que não inventaram uma nova religião, mas apenas seguem o que está
escrito na Bíblia, e que não importa qual seja a situação, ela contém as
orientações e os conselhos para suas vidas. Afirmam que suas crenças, ensinos e
atividades são baseadas nela, e por isso incentivam a sua leitura diária.[11] Para
ajuda ao entendimento bíblico, suas publicações são produzidas e distribuídas
em muitas campanhasmissionárias ao
redor do mundo. Dentre outras, algumas crenças das Testemunhas de Jeová são: Há
um único Deus, em uma
pessoa, Make Sure of All Things – Certifique-se de todas as coisas, p
188; ATrindade não
existe, Let God be True – Seja Deus verdadeiro, p. 101-100;
Sua igreja é auto-proclamada
profeta de Deus, The Watchtower – A Sentinela, April 1, 1972, p.
197; Eles alegam ser o único
caminhopara o Deus verdadeiro, The Watchtower – A Sentinela,
Feb. 15, 1981, p. 19; Espírito
Santo é uma força ativa impessoal de Deus, The Watchtower –
A Sentinela, June 1, 1952, p. 24; Somente os membros da sua igreja serão salvos, The Watchtower –
A Sentinela, Feb, 15, 1979, p. 30; A primeira criação de Jeová foi
seu ‘Filho primogênito’…[ele]
foi usado por Jeová na criação de todas as outras coisas, Aid to Bible
Understanding – Ajuda ao entendimento da Biblia, pp. 390-39; Jesus foi um anjo que se tornou
um homem, The Watchtower – A Sentinela, May 15, 1963, p. 307; Jesus foi o único homem perfeito,
mas não Deus em carne, Reasoning from the Scriptures – Raciocínio à
base das Escrituras, 1985, pp. 306; Jesusnão voltou da morte em seu corpo físico, Awake!-
Despertai! July 22, 1973, p. 4; Jesus foi ressuscitado “não como criatura humana, mas um
espírito.” Let God be True – Seja Deus verdadeiro, p. 276; Jesus não morreu em uma cruz, mas
em um poste, Reasoning from the Scriptures – Raciocínio à base das
Escrituras, 1985, pp. 89-90; Jesus retornou
à terra, invisivelmente, em 1914, The Truth Shall Make You Free – A
Verdade vos libertará, p. 300; Espírito
Santo é uma força, não viva, Reasoning from the Scriptures
– Raciocínio à base das Escrituras, 1985, pp. 406-407; Boas obras são necessárias para a
salvação, Studies in the Scriptures – Estudos nas Escrituras, Vol.
1, pp. 150, 152.; A alma cessa
sua existência na morte, Let God be True – Seja Deus verdadeiro, p.
59, 60, 67; Não existe inferno de
fogo onde os ímpios serão punidos, Let God be True – Seja Deus
verdadeiro, p. 79, 80; Somente 144.000Testemunhas
de Jeová irão para o céu, Reasoning from the Scriptures –
Raciocínio à base das Escrituras, 1985, pp. 166-167, 361; Let God
be True – Seja Deus verdadeiro, p. 121; Somente 144.000 Testemunhas de Jeová nasceram
de novo. Reasoning from the Scriptures – Raciocínio à base das
Escrituras, 1985, p. 76.; Watchtower – A Sentinela 11/15/54, p. 681; Somente
144.000 Testemunhas de Jeová podem tomar comunhão (Ceia do Senhor); Transfusão de sangue é
pecado, Reasoning from the Scriptures – Raciocínio à base das
Escrituras, 1985, pp. 72-73. A cruz é um símbolo pagão e não deve ser
usada, Reasoning from the Scriptures – Raciocínio à base das Escrituras,
1985, pp. 90-92; O resgate
sacrificial de Jesus não incluiu Adão, Let God be True –
Seja Deus verdadeiro, p. 119; A Cruz é um símbolo pagão e não deve ser usado, Reasoning
from the Scriptures – Raciocínio à base das Escrituras, 1985, pp. 90-92; A salvação é pela fé e pelo que
você fizer, Studies in the Scriptures, Vol. 1, p. 150,152; É possível perder a
sua salvação, Reasoning
from the Scriptures – Raciocínio à base das Escrituras, 1985, pp. 358-359;
O universo tem bilhões
de anos de idade, Your will Be Done on Earth – Sua Vontade se cumprirá
sobre a Terra, p. 43; Cada um dos seis dias criativos de Deus em Gênesis 1, duraram 7.000 anos.
Portanto, o homem foi criado quando a terra tinha aproximadamente 42.000
anos, Let God be True – Seja Deus verdadeiro, p. 168; Foi
confiado a Satanás a
obrigação e o dever de fiscalizar a criação da terra, Children – Filhos
, p 55; Eles também rejeitam o voto, saudar a
bandeira, cantar os hinos
nacionais ou celebrar
o Natal e aniversários.
Também recusam-se a servir às
forças armadas. (The Watchtower – A Sentinela ; Awake!
– Despertai!) (fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Testemunhas_de_Jeov%C3%A1;http://www.jesussite.com.br/acervo.asp?id=92; http://www.monergismo.com/textos/seitas_heresias/tj_ensinam.htm, acesso em 21/01/2010)
[21] Erickson, 931.
[22] Nota do Tradutor: O Metodismo foi um movimento
de avivamento espiritual
cristão ocorrido na Inglaterra do século XVIII que enfatizou a relação íntima
do indivíduo com Deus,
iniciando-se com uma conversão pessoal e seguindo uma vida de ética e moral cristã.
O metodismo foi liderado por John Wesley, eclesiástico
da Igreja Anglicana, e seu irmão Carlos Wesley,
considerado um dos maiores expoentes da música sacra protestante. O metodismo
teve seu início nos meados do século XVIII naInglaterra. A vida
religiosa da Inglaterra,
após o Edito de Tolerância de 1689, apresentou um quadro triste de estagnação e
de indiferença generalizada por quase cinqüenta anos. Muitos ministros eram
homens de pouco fervor, mundanos, egoístas, simples ocupantes do ofício. Os
deveres episcopais eram em grande parte negligenciados. A pregação consistia em
discussões teológicas, sem valor prático. Por muitos anos, igrejas não foram
plantadas nem qualquer atividade missionária foi realizada. As Igrejas Livres, porém, eram mais vigorosas do que a Igreja da Inglaterra, mas, de uma forma geral, o espírito religioso inglês
estava formal e frio, com formas exteriores de religiosidade acentuadas. Os
vícios dominavam a alta sociedade desde a Restauração,
atingindo a todas as camadas sociais. No proletariado, a embriaguez e a imoralidade tornaram-se
comuns na primeira metade do Século XVIII, seguindo-se a elas a pobreza, que se
espalhou ainda mais. Entre 1714 e 1750 triplicaram os impostos. Os crimes e as
desordens tornaram-se comuns nas cidades, apesar da severidade das penas
legais. A classe alta da sociedade se caracterizava pela ignorância e pela
indiferença às classes menos favorecidas. Como fruto dessa frieza espiritual,
a Igreja Presbiteriana da Inglaterra desapareceu totalmente, enquanto que as outras Igrejas
Livres se apegaram a uma ortodoxia morta. Era uma época em que a sociedade
inglesa passava por rápidas transformações. Milhares de pessoas saíam da zona
rural, que era controlada por grandes proprietários, para procurar trabalho nas
novas indústrias das cidades. Nesse tempo o povo vivia na miséria
trabalhando longas horas e só ganhando o mínimo necessário para sua
sobrevivência. As pessoas moravam em cortiços, sem as mínimas condições e não
tinham acesso a médicos quando ficavam doentes. As crianças não iam à escola
porque em geral trabalhavam para ajudar seus pais. Havia grande número de
alcóolatras. O povo estava frustrado e desiludido. Em 1730 João e Carlos Wesley, William Morgan e Bob
Kirkham começaram a reunir-se em Oxford para estudar juntos,
organizando uma pequena sociedade, o chamado Clube Santo. Esforçavam-se por levar uma vida devocional
disciplinada e regularmente se dedicavam a ensinar os órfãos, visitar os
presos, cuidar dos pobres e idosos. Ali, foram eles, pela primeira vez,
chamados “metodistas”. Esse
nome foi decorrente do rigor com que desenvolviam suas práticas de vida e
de cristianismo, com muita disciplina e método. Na
realidade, João Wesley não
se propôs a fundar uma nova Igreja ou denominação, mas grupos de renovação na
Igreja da Inglaterra. As circunstâncias históricas, como a independência dos Estados
Unidos, obrigou o Metodismo a
constituir-se finalmente em uma denominação ou Igreja, tal fato sucedendo
contra os desejos e propósitos originais do reavivalista. Wesley sempre
considerou a si mesmo como um ministro da Igreja da Inglaterra (Igreja Anglicana). Não queria separar-se dela; queria, sim, reformá-la por
dentro. Por isso o nome que deu aos primeiros grupos metodistas foi o desociedades.
Não de Igrejas ou igrejas. Era a idéia de classes ou bands (guarda
similaridade com as modernas células de hoje) que, por seu intenso fervor e sua
atividade renovadora, fossem dentro do corpo da Igreja um novo e poderoso
elemento de vida. O avivamento espiritual promovido por João Wesley e seus cooperadores
visava a santidade de vida, a harmonização da vontade do homem com a vontade de
Deus. o Metodismo herdou muito da Reforma Inglesa, Wesley baseou os 25 Artigos
do Metodismo nos 39 Artigos de Religião Anglicanos. Existem diferenças
doutrinárias entre o Metodismo e as doutrinas da Reforma: 1) Autoridade – Ao invés do da idéia
calvinista de Sola Scriptura, o metodismo segue o princípio do Quadrilátero Wesleyano: Deve-se
imaginar um quadrilátero com as Escrituras no centro, por serem as principais
fontes de Revelação sobre Deus; As Escrituras devem ser interpretadas pela Fé,
pela Razão, Tradição e pela Experiência pessoal com Deus; Cada um destes itens
deve ser colocado em uma das extremidades do quadrilátero. As Escrituras são a
suprema autoridade. 2)Arminianismo – Deus elegeu toda a humanidade para a Salvação, cabe ao
indivíduo converter-se reconhecendo a Jesus como Salvador. Cristo não morreu
somente para os eleitos, mas para toda a humanidade. O Homem possui
Livre-Arbítrio para escolher entre o bem e o mal. O Cristão pode cair da Graça
e perder a Salvação. 3) Salvação –
é realizada em três passos: Graça Preveniente, Graça Justificadora, Graça
Santificadora; o alvo é a plena santificação e a perfeição cristã. Ser
santificado não é ser como Deus, e sim tornar-se mais humano, ou seja, obedecer
ao plano original que Deus tinha para o Ser Humano. Com o passar dos anos
outros movimentos e denominações emergiram do Metodismo: AIgreja Metodista Unida dos
Estados Unidos, (United Methodist Church) – segunda maior denominação
protestante dos Estados Unidos, organizada pela união de vários grupos
evangélicos pietistas e metodistas. A Igreja Metodista do Brasil possui comunhão com ela.; Igreja Metodista Episcopal Africana – ramo do metodisto
americano voltado à comunidade negra.; Igreja Metodista
Livre – ramo evangelicalista; Movimento de Santidade – (Holiness
Churches), como a Igreja do Nazareno; Exército de Salvação – organização que enfatiza a prática as doutrinas
sociais e crença da conversão pessoal do metodismo; A concepção ecumênica do
metodismo levaram a várias denominações a unirem em casos como a Igreja Unida do Canadá, Igreja Valdense-Metodista na Itália, Igreja Unida da Austrália,Igreja Unida do Sul da Índia; Igreja
Evangélica Metodista Portuguesa . Apesar da origem e ênfase Arminiana no
Metodismo, o movimento se expandiu e até uma ala calvinista emergiu do
movimento: Os Metodistas
Calvinistas que são historicamente um corpo de Cristãos que
formaram a Igreja Presbiteriana de
Gales (também conhecida como Igreja Metodista Calvinista Galesa) e que reivindicam ser a única
denominação de Ordem Presbiteriana em Gales que é puramente de origem
Galesa. Como fruto do trabalho e esforços do Rev. Thomas Charles (1755–1814), em Em 1823, aConfissão Metodista Calvinista foi publicada; ela é baseada na Confissão de Fé de Westminster como Calvinisticamente construída, e contém 44
artigos. A Ação Constitucional das Conexões foi oficialmente completada em
1826. (Fontes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Metodismo;http://pt.wikipedia.org/wiki/Metodismo_Calvinista, acesso em 21/01/2010)
[23] Nota do Tradutor: Holiness é o estado de ser santo,
santificado, separado ou consagrado. OMovimento Holiness – santificação ou santidade – no
cristianismo ensina que a natureza carnal da humanidade pode ser purificada
pela fé e pelo poder do Espírito Santo se os pecados foram perdoados através da
fé em Jesus Cristo. Os benefícios professados incluem poder espiritual e uma
capacidade de manter a pureza do coração (ou seja, pensamentos e motivos que
são atingidos pelo pecado). A doutrina é normalmente referida nas igrejas
Holiness como inteira santificação ou perfeição cristã, a qual é uma doutrina
cristã que sustenta que após a conversão, mas antes da
morte, uma alma cristã pode ser santificada do estado do pecado original.
Perfeição pode ser também chamada de total santificação. Isso está propriamente associado com os seguidores
de John Wesley,
fundador do Metodismo,
a compreensão de Wesley da graça santificadora. Perfeição pode ser definido
também como, jornada a perfeição ou o estado de perfeição. A perfeição cristã
está geralmente classificada como “caminho para a perfeição.” O movimento visa
promover a santidade de um cristianismo que é pessoal, prático, de mudança de
vida, e completamente reavivalístico. As crenças fundamentais do Movimento
Holiness são (1) regeneração pela
graça através da fé, com a certeza da salvação pelo testemunho do
Espírito Santo; 2) Inteira
santificação como uma segunda obra definitiva da graça, recebida
pela fé, pela graça, e realizada através do batismo e do poder do Espírito
Santo, através da qual o crente é habilitado a viver uma vida santa. No
contexto do Movimento Holiness, a primeira obra da graça é a salvação do
pecado, e sem ela, nenhuma porção de esforço humano pode alcançar a santidade.
As pessoas são salvas pela graça através da fé em Jesus Cristo, que fez a
expiação dos pecados da humanidade. A segunda obra da graça se refere a uma
experiência pessoal subseqüente à regeneração, na qual o crente é purificado da
natureza carnal, e é fortalecido pelo Espírito Santo para levar uma vida santa.
A maioria Holiness ensina que é ainda possível para o santificado pecar, e
obter um novo crescimento na graça depois dessa segunda experiência espiritual
e que se deve lutar pela perfeição. A experiência de santificação capacita o
crente a viver uma vida santa. A maioria dos Holiness interpreta isso como
viver uma vida livre do pecado voluntário ou da prática do pecado. O objetivo é
viver uma vida tal como Cristo viveu e ser conformado à Sua imagem e não à do
mundo. Desde que a santidade é uma obra sobrenatural em um coração transformado
pelo Espírito Santo, a maioria das igrejas Holiness têm o cuidado de seguir os
princípios morais e que eles percebem como a convicção do Espírito Santo. A
maioria dos seguidores do Movimento Holiness crê, como Cristo disse, que o amor
cumpre toda a lei de Deus. Grupos Pentecostais se identificam como parte do
movimento de santidade e acreditam que o poder santificador do Espírito Santo é
evidenciado por sinais visíveis exteriormente, como falar em línguas. Uma
posição que igrejas no movimento Holiness tradicional não aceitam. Quando o
movimento pentecostal começou na Rua Azuza, a prática de falar em línguas foi
fortemente rejeitada por muitas Igrejas Holiness. Alma White, o líder da Igreja
Coluna de Fogo, uma denominação Holiness, escreveu um livro contra o movimento
pentecostal, que foi publicado em 1936. O trabalho intitulado Demons
and Tongues – Demônios e Línguas,representou a rejeição inicial do novo
movimento pentecostal. White chamou os cristãos que falavam em línguas de
“tralha satânica” e às práticas pentecostais de “o clímax da adoração
demoníaca”. Grupos de Holiness ou Santidade tendem a se opor ao antinomianismo, que é uma estrutura teológica que afirma que a lei de Deus
está abolida. Grupos de Holiness ou Santidade acreditam que os aspectos morais
da lei de Deus são pertinentes para hoje, na medida em que a lei foi cumprida
em Cristo. Esta posição atrai a oposição de alguns evangélicos, que afirmam que
tal atitude refuta ou despreza os ensinos da Reforma (particularmente
Calvinista) nos quais os crentes são justificados pela graça através da fé e
não através de quaisquer esforços ou estados de espírito da sua parte, e de que
os efeitos da pecado original permanecem até mesmo no mais fiel das almas.
Batistas e Presbiterianos estão entre os mais fervorosos oponentes do conceito
Holiness de santificação, ao mesmo tempo grupos protestantes liberais modernos
(como a Igreja Metodista Unida) tendem a ignorar ou minimizar a doutrina em
favor de preocupações sociais e mais recentes expressões da teologia e prática.
(fonte:http://en.wikipedia.org/wiki/Holiness_movement, acesso em 21/01/2010).
[24] Olson, 30; Paul K. Jewett, Election and
Predestination – Eleição e Predestinação (Grand Rapids: Eerdmans,
1985), 17.
[25] Nota do tradutor: O Movimento de Restauração (também
conhecido como Movimento de Restauração Americano ou o Movimento
Stone-Campbell) é um movimento cristão que começou na fronteira americana,
durante o Segundo Grande Despertar do início do século 19 e que é caracterizado
e se identifica, preservando seus quatro lemas históricos: “No essencial, unidade; Nas opiniões,
liberdade; Em todas as coisas, o amor”; “Não somos os únicos cristãos, mas
somos unicamente cristãos”; “Nenhum credo além de Cristo; Nenhum livro além da
Bíblia”; “Onde a Bíblia fala, nós falamos; Onde a Bíblia cala, nós calamos”. O
movimento pretendia restaurar a igreja e “a unificação de todos os cristãos em
um único corpo modelado de acordo com a igreja do Novo Testamento.” O Movimento
de Restauração foi desenvolvido a partir de vários esforços independentes para
se retornar ao cristianismo apostólico, porém dois grupos, os quais
desenvolveram independentemente abordagens semelhantes à fé cristã, foram
particularmente importantes para o desenvolvimento do movimento. O primeiro,
liderado por Barton W. Stone, começou em Cane Ridge, Kentucky e chamavam-se
mutuamente e simplesmente “cristãos”. O segundo começou no oeste da Pensilvânia
e Virgínia (agora Virgínia Ocidental) e foi liderado por Thomas Campbell e seu
filho, Alexander Campbell, que usou o nome “Discípulos de Cristo”. Ambos os
grupos tentaram restaurar toda a igreja cristã sobre o padrão estabelecido no
Novo Testamento, e ambos acreditavam que os credos existentes mantinham o
cristianismo dividido. Em 1832, juntaram-se em comunhão com solene um aperto de
mão entre os lideres de então dos dois movimentos. Entre outras coisas, eles
estavam unidos na crença de que Jesus
é o Cristo, o Filho de Deus; que os cristãos deveriam celebrar a Ceia do Senhor no primeiro dia de cada semana; e que o
batismo de crentes adultos por imersão em água é uma condição necessária para a salvação. Por
causa do desejo dos fundadores dos movimentos em abandonar todos os rótulos
denominacionais existentes, eles usaram os nomes bíblicos para os seguidores de
Jesus (como Cristãos, por exemplo). Ambos os grupos promoveram um retorno aos
propósitos das igrejas do primeiro século como descrito no Novo Testamento. Um
historiador do movimento (Leroy Garrett, The Stone-Campbell Movement:
The Story of the American Restoration Movement – O Movimento Stone-Campbell: A
história do Movimento de Restauração Americano) alegou que esse era
essencialmente um movimento de unidade, com o motivo de restauração
desempenhando um papel subordinado. O Movimento de Restauração, desde a sua
origem e com o passar dos anos, dividiu-se em vários grupos distintos. Existem
três ramos principais, nos Estados Unidos: as Igrejas de Cristo, as Igrejas
Cristãs/Igrejas de Cristo Independentes e a Igreja Cristã (Discípulos de Cristo).
Alguns vêem as divisões no movimento, como resultado da tensão entre os
objetivos da restauração e do ecumenismo. Com as Igrejas de Cristo e as Igrejas
Cristãs/Igrejas de Cristo independentes resolvendo a tensão, com ênfase na
restauração; enquanto a Igreja Cristã (Discípulos de Cristo) resolvendo a
tensão, enfatizando o ecumenismo. Um certo número de grupos de fora dos
Estados Unidos também têm associações históricas com este movimento, como a
Igreja Cristã Evangélica do Canadá e as Igrejas de Cristo na Austrália. Somente
no fim da década de 1920 houve uma primeira tentativa de iniciar igrejas
Movimento Stone-Campbell no Brasil. No entanto, só a partir de 1948 com a
chegada do pastor David Sanders é que o movimento conseguiu se estabelecer com
êxito. Desde o princípio nos EUA, as igrejas locais são designadas como Igrejas
Cristãs e Igrejas de Cristo. No Brasil foi adotado usualmente o nome “Igrejas
de Cristo”. Dentre outras crenças, pode-se observar o “credo” do movimento aqui
no Brasil e no Mundo, o qual ajudará a entender a natureza desse movimento:
1) Somos Uma Igreja Cristã –
Nossa mensagem é que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo. Não exigimos
nenhum outro credo além deste: “Jesus é o Senhor e Salvador”;
2) Somos Uma Igreja de Cristo –
A Igreja pertence a Jesus. Não temos nenhum poder para mudar seus ensinos,
reescrever regras, propor novas condições para aceitar alguém como membro ou
usurpar sua autoridade; 3) Somos Uma Igreja que Busca a Unidade –
Assim como Barton W. Stone, Thomas Campbell, Alexander Campbell, Walter Scott,
David S. Burnet, Isaac Errett e outros pioneiros do “Movimento de Restauração”
no século XIX, além de milhares de crentes por toda a história da Igreja,
procuramos ser um em Cristo com todos aqueles que confessam Jesus como Senhor e
Salvador; 4)Somos Uma Igreja que
Busca a Restauração – Queremos imitar o máximo possível os precedentes
que temos no Novo Testamento. Por isso o nosso batismo é por imersão, a Ceia do
Senhor é celebrada todo domingo e até os nomes que nos identificam são uma
maneira de imitar os primeiros discípulos, que foram chamados cristãos em
Antioquia (At 11:26) e cujas congregações locais eram freqüentemente
denominadas como as Igrejas de Cristo (Rm 16:16); 5) Somos Uma Igreja
Apostólica – Tudo o que conhecemos acerca de Cristo e da Igreja
temos aprendido através dos ensinos e escritos dos companheiros mais próximos
de Jesus, os Apóstolos. Estudamos cuidadosamente o Novo Testamento porque ele
registra seus testemunhos e queremos edificar a nossa Igreja sobre este
fundamento (Ef 2:19-20); 6) Somos Uma Igreja que Pensa – A fé
cristã exige o melhor das nossas mentes (Ef 1:17-18), por isso queremos
conhecer o que a Bíblia ensina e como podemos aplicar inteligentemente seus
ensinos ao mundo de hoje; 7) Somos Uma Igreja que Sente – Não
somos uma igreja fria e intelectual. Pelo contrário, nos regozijamos no Senhor,
louvamos, oramos, amamos e servimos de coração. Não nos envergonhamos do
Evangelho nem de mostrar as nossas emoções ante os demais. Somos uma igreja
viva e o Espírito Santo tem liberdade para mover-se entre nós, assim como nas
igrejas do Novo Testamento e do “Movimento de Restauração” nas suas primeiras
décadas; 8) Somos Uma Igreja que Compartilha –
Devido a emoção que sentimos na presença de Deus em Cristo, compartilhamos
avidamente com os outros as Boas Notícias acerca de Jesus. Desejamos ganhar
para ele o maior número possível de pessoas. Assim compartilhamos a nossa fé.
Também compartilhamos as nossas posses. Nosso dinheiro, propriedades e vidas
pertencem ao Senhor. Queremos usar tudo que temos para ajudar a sua causa e a
todos quantos temos contato; 9) Somos Uma Igreja Livre – Como as
igrejas bíblicas somos independentes. Não temos papa, cardeais, arcebispos,
superintendentes denominacionais ou uma sede central para determinar as
políticas a seguir. Como congregação autônoma, elegemos nossos líderes e
decidimos para onde irá nosso dinheiro. No entanto, não nos recusamos a
cooperar com outras igrejas e nos associamos livremente com outras congregações
que compartilham as nossas heranças e convicções, para vivermos a mesma fé,
promovermos o reino de Deus, assumirmos o compromisso de fidelidade aos
princípios do “Movimento de Restauração” e cooperarmos umas com as outras na
execução dos programas missionários. Nossos Concílios e Convenções têm um
caráter extremamente de comunhão e não têm nenhum poder deliberativo sobre as
igrejas; 10) Somos Uma Igreja que Cresce –Queremos
crescer espiritualmente porque sabemos que ainda não alcançamos tudo o que
Cristo quer de nós. Acreditamos que o cristão que não está crescendo no seu
relacionamento pessoal com Deus, no amor por Cristo e não está envolvido no
serviço cristão perdeu o gozo da sua salvação. Queremos crescer numericamente
porque estamos debaixo da comissão de Cristo para fazer discípulos em todas as
nações. Não queremos perder a visão da Grande Comissão (Mt 28:18-20). Jesus
prometeu aos que verdadeiramente crêem nele que poderiam pedir o que quisessem
e receberiam. Queremos pedir muito e assim fazer muito e, por fim, ajudar a
fazer com que a vontade de Deus seja feita na terra assim como no céu (Mt
6:10). (fontes:http://en.wikipedia.org/wiki/Restoration_Movement;http://www.movimentoderestauracao.com/index.php?option=com_content&task=view&id=76&Itemid=65, acesso em 21/01/2010)
[26] Forlines, x, xvii, xviii.
[27] Jewett, 68-69
[28] Nas minhas seções deste livro, salvo indicação em
contrário, quando eu uso a expressão “Arminiano” e “Arminianismo” elas se
referem ao que estou chamando de “Arminianismo clássico”, e quando eu uso a
palavra “predestinação” ela irá se referir à visão arminiana clássica, tal como
definido aqui.
[29] Forlines, 394
[30] Olson (165) enfatiza isto e sugere que a palavra deva
ser traduzida como “pré-apontar” e não “predestinar”.
[31] Veja Picirilli, 48. O termo nunca é realmente usado
neste ultimo sentido
[32] Todas as citações da Escritura, salvo indicação em
contrário, são da New American Standard Bible – Nova Bíblia Americana Padrão
(1995).
[33] Veja Jack Cottrell, The College Press NIV
Commentary: Romans – Romanos, 2 vols. (Joplin, MO: College Press, 1996,
1998), II:73-97.
[34] Idem, II:97-106
[35] O principal ensinamento da Bíblia sobre a eleição de
Israel para serviço é Romanos 9, que será discutido em detalhes na parte IV,
abaixo.
[36] Em oposição a Dave Hunt, What Love Is
This? Calvinism’s Misrepresentation of God – Que Amor é
Este? Uma Deturpação Calvinista de Deus (Sisters, OR: Loyal
Publishing, 2002), 126.
[37] John Miley, Systematic Theology – Teologia
Sistemática, volume 2 (Peabody, MA: Hendrickson, 1989 reimpressão da edição
de 1893), 263-266.
[38] Picirilli, 48, 59
[39] Cottrell, Romans – Romanos, II:126
[40] A palavra é prographo,”escrito de
antemão.”
[41] Veja Cottrell, Romans – Romanos, II:
150-154.
[42] H. Orton Wiley et al., “The Debate over Divine
Election,” – “O Debate sobre a Eleição Divina”Christianity Today – Cristianismo
Hoje (Out. 12, 1959), 4:3, 5.
[43] Robert Shank, Elect in the Son: A Study of the
Doctrine of Election – Eleitos no Filho: Um Estudo da Doutrina
da Eleição (Springfield, MO: Westcott, 1970), 45, 48; veja 45-55, 131.
[44] Idem, 154-155
[45] Olson, 38
[46] Idem, 182
[47] Idem, 193-195.
[48] Idem, 189.
[49] Alister E. McGrath, Christian Theology: An
Introduction 2 edition – Teologia Cristã: Uma Introdução,
2a. edição (Cambridge, MA: Blackwell, 1997), 454.
[50] Tiago Armínio, “Declaration of Sentiments,” – “
Declaração de Sentimentos I.5.iv, em Writings – Escritos, I:248.
[51] Richard Watson, Theological Institutes – Institutas
Teológicas (New York: J. & J. Harper, 1830), 337.
[52] Forlines, 400.
[53] Picirilli, 48, 51.
[54] Watson, 340, 344
[55] Forster e Marston, 101.
[56] Idem, 97.
[57] S. M. Baugh, “The Meaning of Foreknowledge” – “O
Significado do Pré-Conhecimento”, em Still Sovereign: Contemporary Perspectives
on Election, Foreknowledge, and Grace – Ainda Soberano: Perspectivas
Contemporâneas sobre a Eleição, Pré-Conhecimento e Graça, edição Thomas R.
Schreiner e Bruce A. Ware (Grand Rapids: Baker, 2000), 196.
[58] Por exemplo, veja Picirilli, 67; Forlines, 393-394.
[59] Veja Cottrell, Romans – Romanos, II:481,
487-488, 502-503. Veja também Forster e Marston, 102.
[60] John Kirk, The Cloud Dispelled: or, the Doctrine
of Predestination Examined – A Nuvem Dissipada: ou, a Doutrina
da Predestinação Examinada (New York: N. Tibbals & Co., 1860),
253.
[61] Hunt, 190; Picirilli, 53.
[62] Veja Jack Cottrell, What the Bible Says About
God the Redeemer – O Que A Bíblia Diz Sobre Deus O Redentor (Joplin,
MO: College Press, 1987), 389-399.
[63] Embora a predestinação para a salvação seja sempre
condicional, a predestinação para determinadas funções de serviço no plano
histórico da salvação de Deus pode ser condicional ou incondicional.
[64] A semântica da relação entre presciência e
predestinação não é uma questão fundamental (em oposição a Geisler, 52-53, 68).
É aceitável dizer que a predestinação é o resultado de, seja contingente ou
dependente, e baseia-se, ou está de acordo com o pré-conhecimento.
[65] Erickson, 933.
[66] Arminius, “Declaration of Sentiments,” – “Declaração
de Sentimentos” I.5.iv, em Writings – Escritos, I:248.
[67] Hunt, 197.
[68] Podemos identificar outras condições especificadas
para receber a salvação, mas esta questão não precisa ser explorada aqui. Veja
Cottrell, The Faith Once For All: Bible Doctrine for Today – A
Fé de Uma Vez por Todas: Doutrina da Bíblia para hoje (Joplin, MO:
College Press, 2002), 346-374.
[69] F. L. Godet, Commentary on the Epistle to the
Romans – Comentário sobre a Epístola aos Romanos, tradução: A. Cusin e T.
W. Chambers (Grand Rapids: Zondervan, 1956 reimpressão da edição de 1883), 325.
[70] Forlines, 374.
[71] Watson (344) destaca a conexão entre esses dois versos
e diz: “Aqueles ‘a quem Ele pré-conheceu’ são manifestamente os crentes de quem
ele fala no discurso, e que são chamados no cap. VIII.28, ‘aqueles que amam a
Deus’”.
[72] Compare João 14:21, “Aquele que Me ama será amado por
Meu Pai e eu o amarei.”
[73] Veja Cottrell, What the Bible Says About God
the Creator – O Que a Biblia Diz Sobre Deus o Criador(Joplin,
MO: College Press, 1983), 255-259, 279-289.
[74] Veja Baugh , “The Meaning of Foreknowledge,” – “O
Significado do Pré-conhecimento”, 191-195. Ele sugere que proginosko em
Rm 8:29 pode ser traduzido: “Aqueles a quem ele amou previamente” (194).
[75] John Murray, The Epistle to the Romans – A
Epístola aos Romanos, vol. II (Grand Rapids: Eerdmans, 1965), 317.
[76] Idem, 318.
[77] Douglas J. Moo, The Epistle to the Romans – A
Epístola aos Romanos (Grand Rapids: Eerdmans, 1996), 533.
[78] William F. Arndt and F. Wilbur Gingrich, A
Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature
– Um Léxico Grego-Inglês do Novo Testamento e Outras Literaturas Cristãs
Antigas , 3a. edição, revisada e editada por Frederick William Danker
(Chicago: University of Chicago Press, 2000), 866.
[79] Erickson, 383.
[80] F. F. Bruce, The Epistle of Paul to the Romans – A
Epístola de Paulo aos Romanos (Grand Rapids: Eerdmans, 1963), 177.
[81] Baugh, “The Meaning of Foreknowledge” – “O Significado
do Pré-conhecimento”, 191.
[82] Jewett, 38, 70.
[83] Ibid., 109.
[84] Baugh, “The Meaning of Foreknowledge” – “O Significado
do Pré-conhecimento”, 191.
[85] Moo, 532.
[86] “Conhecer” envolvendo uma ou mais pessoas como seu
objeto ocorre neste sentido, pelo menos 80 vezes. Alguns exemplos são Mat
11:27, 14:30, 17:12, 26:72, 74, Lucas 7:39, 10:22, 13:25, 27; 24:16, 31, João
1:10, 26 , 31, 33, 48; 7:27-28; 14:7, 9, 17, Atos 7:18, Rm 1:21; 1 Coríntios
13:12, Hebreus 10:30, 1 João 4:2, 6.
[87] Os exemplos são João 17:3 e Filipenses 3:10, 2 Tm
1:12, Tito 1:16; 1 João 2:3, 4, 13, 14.
[88] Olson, 464 (veja 464-470).
[89] Forster e Marston, 190.
[90] Olson, 170. Veja argumentos similares em Miley,
II:261; e Hunt, 226.
[91] John MacArthur, Romans – Romanos, volume 1
(Chicago: Moody, 1991), 496.
[92] Kenneth S. Wuest, Romans in the Greek New
Testament for the English Reader – Romanos no Grego do Novo
Testamento para o Leitor Inglês (Grand Rapids: Eerdmans, 1955),
143-144.
[93] D. A. Carson, Exegetical Fallacies – Falácias
Exegéticas (Grand Rapids: Baker, 1984), 84-85.
[94] Richard Young, Intermediate New Testament
Greek: A Linguistic and Exegetical Approach – O Grego Intermediário do
Novo Testamento: Uma Abordagem Exegética e Linguística (Nashville:
Broadman & Holman, 1994), 62.
[95] Como no “pré-conhecimento afetivo” de Forlines (399)
[96] Em oposição ao uso intercambiável de “disposição
favorável ou seleção” (383) por Erickson.
[97] Hunt, 226.
[98] Picirilli, 56, 78.
[99] E. H. Johnson e H. G. Weston, An Outline of Systematic
Theology – Um Esboço de Teologia Sistemática, 2 edition – 2a. edição –
(Philadelphia: American Baptist Publication Society, 1895), 247.
[100] Como sugerido anteriormente, uma correta compreensão
da relação entre pré-conhecimento e predestinação exclui completamente o
conceito de eleição corporativa como a única ou até mesmo a principal forma de
predestinação. O virtual desemprego por Shank do pré-conhecimento como um fator
na predestinação, em seu esforço para defender a eleição corporativa, parece
estar baseado em uma confusão lamentável entre eleição baseada no
pré-conhecimento e eleição incondicional. Veja Shank, 153-155
[101] Philip Schaff, History of the Christian Church
– História da Igreja Cristã, volume III, Nicene and Post-Nicene
Christianity – Cristianismo NIceno e Pós-Niceno (Grand Rapids:
Eerdmans, 1960), 852.
[102] Veja “An Ancient Christian Sermon Commonly Known as
Second Clement – Um Antigo Sermão Cristão Geralmente Conhecido como Segunda
Clemente,” 9:9, in The Apostolic Fathers, 2nd edition – emOs
Pais Apostólicos, 2a edição, tradução. J. B. Lightfoot e J. R. Harmer,
edição e revisão Michael W. Holmes (Grand Rapids: Baker, 1989), 72: “Porque Ele
é o único que sabe tudo de antemão….” A mesma línguagem é encontrada em “O
Pastor de Hermas”, Mandato 4.3.4 (The Apostolic Fathers – Os Pais
Apostólicos, 219).
[103] “The Shepherd of Hermas – O Pastor de Hermas,”
Similitude 8.6.2 (The Apostolic Fathers – Os Pais Apostólicos, 257).
[104] Justin Martyr, “First Apology – Primeira Apologia,”
45, em The Ante-Nicene Fathers –Os Pais Anti-Nicenos ,
vol. I, The Apostolic Fathers – Os Pais Apostólicos, Justin Martyr, e
Irenaeus – Justino Mártir e Irineu, edição Alexander Roberts e James
Donaldson (New York: Charles Scribner’s Sons, 1913), 178.
[105] Justino Mártir, “Dialogue with Trypho – Diálogo com
Trifão,” 141 (The Ante-Nicene Fathers – Os Pais Anti-Nicenos, I:270).
[106] Orígenes, “Against Celsus – Contra Celso,” II.xx,
em The Ante-Nicene Fathers – Os Pais Anti-Nicenos, vol.
IV, Fathers of the Third Century – Pais do Terceiro Século, edição
Alexander Roberts e James Donaldson (New York: Charles Scribner’s Sons, 1913),
440.
[107] Orígenes, Commentary on the Epistle to the
Romans – Comentário sobre a Epístola aos Romanos , Books 1-5 – Livros de 1-5,
tradução Thomas P. Scheck, vol. 103, The Fathers of the Church – Oa
Pais da Igreja (Washington, D.C.: Catholic University of
America, 2001), 65-66.
[108] Ambrosiaster, Commentary on Paul’s Epistles –
Comentário sobre as Epístolas de Paulo, citado emAncient Christian
Commentary on Scripture – Comentário Cristão Antigo das Escrituras, New
Testament – Novo Testamento, vol. IV, Romans – Romanos, edição
Gerald Bray (Downers Grove: InterVarsity, 1998), 233.
[109] Nota do tradutor: Ambrosiaster é o nome
dado ao escritor desse comentário sobre as epístolas de São Paulo, “breve em
palavras, mas profundo no assunto” e valioso para a crítica do texto latino do
Novo Testamento. Este comentário foi erroneamente atribuído por um longo tempo
a Santo Ambrósio. Erasmo em 1527 lançou dúvidas sobre a exatidão desta
atribuição, e o autor é geralmente identificado como Ambrosiaster ou
pseudo-Ambrósio. (fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Ambrosiaster, acesso em 21/01/2010).
[110] Idem, 250.
[111] Idem, 235.
[112] Diodoro, Pauline Commentary from the Greek
Church – Comentário Paulino da Igreja Grega, in Bray, 261.
[113] Harry Buis, Historic Protestantism and
Predestination – Protestantismo Histórico e Predestinação(Philadelphia:
Presbiyterian and Reformed, 1958), 9.
[114] Pelágio, Pelagius’s Commentary on Romans –
Comentário Pelagiano sobre Romanos, em Bray, 237.
[115] Idem, 255.
[116] Schaff, History – História, III:858.
[117] J. N. D. Kelly, Early Christian Doctrines
– 2nd edition – Doutrinas Cristãs Antigas, 2a. edição (New
York: Harper and Row, 1960), 371.
[118] Teodoreto de Ciro, Interpretation of the
Letter to the Romans – Interpretação da Carta aos Romanos, em Bray,
236-237.
[119] Buis, 16, 21, 29.
[120] Williams, 839-840.
[121] Armínio, “Declaration of Sentiments – Declaração de
Sentimentos,” I.5.iv, em Writings – Escritos, I:248.
[122] Idem, I:250.
[123] Armínio, “A Friendly Discussion Between James Arminius
and Francis Junius, Concerning Predestination – Uma Discussão Amigável Entre
Tiago Armínio e Francis Junius, a respeito da Predestinação,” em Writings
– Escritos, III:66.
[124] Armínio, “An Examination of the Treatise of William
Perkins – Um Exame do Tratado de William Perkins,” em Writings –
Escritos, III:283.
[125] Idem, III:479.
[126] Armínio, “A Friendly Discussion – Uma Discursão
Amigável ,” em Writings – Escritos, III:147.
[127] Armínio, “The Apology or Defence – A Apologia ou
Defesa,” IV.i, em Writings – Escritos, I:285.
[128] Bangs, 352.
[129] Veja Buis, 89-98
[130] John Wesley, “Sermão LVIII, sobre a Predestinação”,
em The Works of John Wesley – As Obras de John Wesley,
10 volumes. (Grand Rapids: Zondervan, nd), VI :226-227, v. VI: 230.
[131] Idem, VI:227.
[132] Idem, VI:229.
[133] John Wesley, “Predestination Calmly Considered – A
Predestinação Calmamente Considerada,” 25, em Works – Obras,
X:218. Itálicos adicionados.
[134] Veja Cottrell, What the Bible Says About God
the Ruler – O Que a Bíblia Diz Sobre Deus o Soberano(Joplin, MO: College
Press, 1984), 105-111; 191-195; Cottrell, The Faith Once for Al –
A Fé de Uma Vez Por Todas, 115.
[135] Geisler, 44.
[136] Forlines, 322.
[137] John S. Feinberg, “Deus Decreta Todas as Coisas”
em Predestinação e Livre-arbítrio, edição David Basinger e Randall
Basinger (Downers Grove: InterVarsity, 1986), 21, 24.
[138] Veja Cottrell, God the Rule – Deus o Soberano,
193.
[139] Erickson, 386.
[140] Veja Cottrell, God the Ruler – Deus o Soberano,
capítulo 8, “The Will of God – A Vontade de Deus,” 299-329.
[141] Veja Cottrell, “The Nature of the Divine Sovereignty –
A Natureza da Soberania Divina,” em The Grace of God, the Will of Man –
A Graça de Deus, A Vontade do Homem, edição Clark H. Pinnock (Grand
Rapids: Zondervan, 1989), 105-106.
[142] Picirilli, 42.
[143] Veja Cottrell, God the Ruler – Deus o Soberano,
187-190.
[144] Veja explicação de Forlines do modelo da “influência e
resposta” da soberania divina, como uma alternativa para o modelo de “causa e
efeito” do Calvinismo (336-338). Veja Cottrell, God the Ruler –Deus,
o Soberano, 187-217.
[145] Cottrell, God the Ruler – Deus o Soberano,
244-261.
[146] A caricatura imperdoável de Baugh a respeito das
minhas declarações sobre o assunto, alegando que eu faço de Deus “um tirano
imprevisível”, que opera de acordo com a “excentricidade” e “capricho” (“O
Significado do Pré-conhecimento”, 197), mostra que ele deve ler o meu
tratamento completo do assunto em God the Ruler – Deus, o Soberano,
196-197.
[147] Archibald Alexander Hodge, Outlines of
Theology – Esboços de Teologia (New York: Robert Carter, 1876),
168. Veja Cottrell, “The Nature of the Divine Sovereignty – A Natureza da
Soberania Divina,” 102-103.
[148] Erickson, 378, 381.
[149] Veja Cottrell, God the Ruler – Deus, o
Soberano, 219-221; Cottrell, “The Nature of the Divine Sovereignty – A
Natureza da Soberania Divina,” 105-106.
[150] Lewis S. Chafer, Systematic Theology –
Teologia Sistemática, volume I (Dallas: Dallas Theological Seminary, 1947),
230.
[151] Louis Berkhof, Systematic Theology – Teologia
Sistemática (London: Banner of Truth Trust, 1939), 67-68.
[152] Forlines, 335.
[153] Hunt, 229; veja 143.
[154] Idem, 144.
[155] D. Fisk Harris, Calvinism Contrary to God’s
Word and Man’s Moral Nature – Calvinismo, Contrário à Palavra
de Deus e à Natureza Moral do Homem (N.p.: publicado pelo autor,
1890), 248.
[156] Idem, 291.
[157] William G. T. Shedd, Dogmatic Theology –
Teologia Dogmática, volume I (Grand Rapids: Zondervan,
1969 reprint of 1888 edition – reimpressão da edição de 1888), 396-397.
[158] August H. Strong, Systematic Theology –
Teologia Sistemática, 3 volumes em 1 (Valley Forge: Judson, 1907),
357.
[159] A. W. Pink, The Sovereignty of God – A
Soberania de Deus, edição revisada (London: Banner of Truth Trust,
1961), 74-75.
[160] Baugh, “The Meaning of Foreknowledge – O Significado
do Pré-conhecimento,” 189, 191.
[161] Herman Bavinck, The Doctrine of God – A
Doutrina de Deus, edição e tradução William Hendriksen (Grand Rapids:
Eerdmans, 1951), 377.
[162] Harris, 279.
[163] Nota do tradutor: O livre arbítrio Libertário significa
que nossas escolhas estão livres da determinação ou limitações da natureza
humana e livre de qualquer predeterminação de Deus. All “free will theists”
hold that libertarian freedom is essential for moral
responsibility, for if our choice is determined or caused by anything,
including our own desires, they reason, it cannot properly be called a free
choice. Todos os “teístas do livre arbítrio” sustentam que a liberdade
libertária é essencial para a responsabilidade moral, pois se a nossa
escolha é determinada ou causada por qualquer coisa, incluindo nossos próprios
desejos, eles argumentam, ela não pode ser propriamente chamada de livre
escolha. Libertarian freedom is, therefore, the freedom to act contrary to
one’s nature, predisposition and greatest desires. Liberdade Libertária é,
portanto, a liberdade de agir contrariamente à nossa natureza, predisposição e
maiores desejos. Responsibility, in this view, always means that one could have
done otherwise. A responsabilidade, nessa visão, significa sempre que se
poderia ter feito de maneira diferente. A visão Compatibilista – Essa visão afirma que o homem
escolhe livremente o que Deus determinou que ele irá escolher. In this way, the
idea that God is in charge, and the idea that man can be held responsible for
his actions are compatible ideas. Desta forma, a idéia de que Deus está no
comando, e a idéia de que o homem pode ser responsabilizado por seus atos são
idéias compatíveis. Free will is affected by human nature and man cannot choose
contrary to his nature and desires. O livre-arbítrio é afetado pela natureza
humana e o homem não pode escolher de forma contrária à sua natureza e seus
desejos. This view acknowledges man as a free moral agent who freely makes
choices. Esta visão reconhece o homem como um agente moral livre, que faz
escolhas livremente. But due to the effects of the fall, as contained in the
doctrine of total depravity , man’s nature is corrupted such that he cannot choose
contrary to his fallen nature — He cannot discern spiritual things or turn to
God in faith apart from divine intervention. Mas, devido aos efeitos da queda,
tal como consta na doutrina dadepravação
total, a natureza do homem está corrompida de tal forma que
ele não pode escolher de forma contrária à sua natureza caída – Ele não pode
discernir as coisas espirituais ou voltar-se para Deus em fé, a não ser
mediante a intervenção divina. O ponto de vista libertário – De acordo com o
Libertarianismo, a idéia de que Deus leva os homens a agir de uma determinada
maneira, porém ao mesmo tempo, o homem tem o livre-arbítrio quando age dessa
forma, é logicamente falsa. Free means uncaused. Livre significa não causado.
Man has free will, and his decisions are influenced, but not caused. O homem
tem livre arbítrio, e suas decisões são influenciadas, mas não são causadas.
God limits the actions of men, but not their mind or will. Deus limita as ações
dos homens, mas não a sua mente ou vontade. Man has the ability to turn to God
in Christ and sincerely ask for help, selfishly perhaps, apart from specific
(special) divine enablement. O homem tem a capacidade de voltar-se para
Deus em Cristoe sinceramente pedir socorro. According to
Arminianism, God, in his freedom, not only sets a condition on salvation and
wills only to save those who would ask Him to rescue them. De acordo com o
Arminianismo, Deus, na sua liberdade, não apenas estabelece uma condição de
salvação como também deseja apenas salvar aqueles que Lhe respondem em fé na obra
de Cristo. God, then, predestines those who He “foreknew” to salvation. Deus,
então, predestina àqueles que Ele “pré-conheceu” como crentes em Cristo à
salvação. Or, according to Open Theism, God is anxiously waiting to see what
each person will do, for he cannot know ahead of time what the choice might
be. Algumas objeções ao ponto de
vista Libertário:1) Causality —
If causes are understood as conditions prior to an effect that guarantee an
effect, and all events have causes, then it follows that all events were
preceded by conditions that guaranteed those events. 1) Causalidade – Se as causas são
entendidas como condições prévias para um efeito, às quais garantem um efeito;
e todos os eventos têm causas, segue-se que todos os eventos foram precedidos por
condições que garantem esses eventos. But this is the same as saying all events
are determined. Porém, isto é o mesmo que dizer que todos os eventos são
determinados. Since the choices of humans are events, it follows that the
choices of humans are determined. Uma vez que as escolhas dos seres humanos são
eventos, segue-se que as escolhas dos seres humanos são determinadas. 2) Responsibility — Rather than
salvage human responsibility, some maintain that libertarian freedom destroys
it. 2) Responsabilidade –
Ao invés de salvar a responsabilidade humana, alguns sustentam que a Liberdade
Libertária a destrói. If our choices have no causes, in what sense are they our
choices? Se nossas escolhas não têm causas, em que sentido são as nossas
escolhas? Is it any more agreeable to reason to hold humans responsible for
choices they didn’t cause than to hold them responsible for choices that were
caused and thus determined? É mais agradável à razão manter os seres humanos
responsáveis por escolhas que eles não causaram do que mantê-los responsáveis
pelas escolhas que foram causadas e, assim, determinadas? 3) A liberdade de Deus – Alguns têm
mantido a Liberdade Libertária sob o argumento de que todas as coisas
feitas por necessidade não são dignas de louvor ou de culpa.
But what are we to think of God’s actions? Mas o que devemos pensar das ações
de Deus? We believe that God does good, and that God cannot do evil. Nós
acreditamos que Deus é bom, e que Deus não pode fazer o mal. Does God’s moral
inability to do evil make His good actions unpraiseworthy? Será que a
incapacidade moral de Deus para fazer o mal torna as suas boas ações indignas
de louvor? If God must do good, is He then unpraiseworthy? Se Deus deve
necessariamente fazer o bem, é Ele, então, indigno de louvor? Some have said
that God must do good because God’s nature determines His choices. Alguns têm
dito que Deus tem de fazer o bem porque a natureza de Deus determina suas
escolhas. God is still free, some say, because God can act in accordance with
His choices, but God’s choices are determined by His nature. Deus ainda é
livre, alguns dizem, porque Deus pode agir de acordo com suas escolhas; porém
as escolhas de Deus são determinadas pela Sua natureza. If God’s choices are
determined, and God is worthy of praise, this is a clear case, some say, of
actions that are determined and thus necessary while also being morally
praiseworthy. Se as escolhas de Deus são determinadas, e Deus é digno de
louvor, este é um caso claro, portanto, dizem alguns, de ações que são determinadas
e necessárias, enquanto ao mesmo tempo, moralmente louváveis. Alguns dizem que
a extensão lógica da liberdade libertária é que o próprio Deus não é livre. But
God is the freest being in the universe, and can only act in
accordance with his holy nature. Mas Deus é o ser mais livre no universo, esó
pode agir em conformidade com a sua natureza santa. Therefore, true
freedom cannot be libertarian. Portanto, a verdadeira liberdade não
pode ser libertária. Uma
resposta às objeções: Essas duas
objeções (Causalidade e Responsabilidade) falham em não observar que os
incompatibilistas reconhecem que todo evento tem uma causa, bem
como, em não considerar que a causa das escolhas do seres humanos é o próprio
ser humano, ou melhor, o livre-arbítrio humano e não algo (dentro ou fora
dele) ou alguém (fora dele), senão ele mesmo! O livre-arbítrio é o que se
decide (a decisão de fazer ou não fazer) e não o resultado necessário de
uma influência ou coerção dos desejos. É a capacidade de fazer de forma
contrária ao que se confronta ou deseja. As ações humanas têm uma causa, o
próprio ser humano! Ele – o ser humano – é o único responsável por
suas ações! Ninguém mais. Assim continua válida a máxima: Todo evento
tem uma causa! A última objeção (A liberdade de Deus) erra quando compara a
liberdade humana com a Divina e quando não define corretamente os tipos de
liberdade. A partir do instante que existem duas opções reais, a liberdade
envolvida é libertária (Gn 13:10,11; Mt 7:1; Js 24:15; Dt 30:15;30:19), ou
seja, o indivíduo tem a liberdade de escolher, sem
coação. É possível classificar os vários aspectos de liberdade em dois
tipos: A liberdade moral de escolher entre os opostos (o bem e
o mal) e a liberdade temporal de escolher entre as
infinidades de opções que somos obrigados a fazer (ir ou não ao supermercado;
fazer ou não a faculdade etc.). Ambos os tipos de liberdade são reais e também
libertárias. Apesar de libertárias (tanto a humana quanto a Divina) elas estão
em “dimensões” diferentes. Deus não pode escolher (Ele não pode nem vê-lo) o
mal por que Ele é SANTO (Jó 34:10; Hab 1:13). Ele é o Ser
Santo por excelência. Ele é o padrão de santidade. Esse atributo Divino é o que
nos assegura que o mal é o mal e o bem é o bem. Sem esse atributo, quem ia nos
garantir que matar é pecado e ajudar o próximo é uma coisa boa? Ninguém! Mas
Deus é o nosso padrão de santidade. A maioria esmagadora dos teístas cristãos
creêm no Essencialismo Divino (Deus quer uma coisa por que é certa e está de
acordo com a sua natureza) e não no Voluntarismo Divino (uma coisa é certa por
que Deus quer que seja certa; por exemplo: a dupla predestinação). Daí a razão
Dele não possuir esse tipo de liberdade libertária (moral). Porém, Ele
tem o outro tipo de liberdade temporal (as infinitas escolhas
– dentro do tempo – que Ele pode fazer, ao lidar com o ser humano, assim como
os seres humanos também podem fazer) e essa também é libertária. As criaturas
devem possuir os dois tipos de liberdade para poder lidar com
o pecado. Possivelmente, esse foi o caso dos anjos e esse foi o caso do homem.
Os anjos, assim como o homem, fracassaram. Os anjos que pecaram foram
confirmados em sua impiedade (possuem liberdade apenas no sentido
compatibilista; apenas fazem o mal e não possuem liberdadetemporal, pois
estão aprisionados e em tormentos), pois as Escrituras não falam em redenção de
anjos (2ª Pe 2:4) e os que permaneceram fiéis foram confirmados em sua
santidade (1ª Tm 5:21) e estes, já possuem a liberdade similar à do próprio
Deus (são santos e possuem liberdade libertária temporal e
fazem as infinitas opções em como agradar ao Criador). Mas e quanto ao homem? A
condição é similar à dos anjos. A liberdade libertária (dois tipos) é
necessária nesse período de provação terreno. Os que
perseverarem até o fim, serão confirmados em santidade (processo iniciado já na
conversão) através do Espírito Santo e por fim na glorificação (2ª Cor 5:17; Hb
12:14; Hb 12:23; 1ª Pe 1:16); os que não se arrependerem serão confirmados na
impiedade e condenados à danação eterna (Mt 25:41). Assim, no futuro, o homem
glorificado terá o mesmo tipo de liberdade que Deus possui (libertária e temporal),
contudo, devido à sua condição de criatura, não absoluta. Portanto, se
constitui um erro grave supor que não existe verdadeira liberdade (no sentido
libertário) só por que Deus é o ser mais livre do universo. Pelo contrário, a
verdadeira liberdade deve ser libertária; liberdade no sentido
compatibilista só na condenação! (Fontes: http://www.theopedia.com/Libertarian_free_will, acesso em 21/01/2010,http://www.facebook.com/note.php?note_id=409307895616, acesso em 26/05/2010,http://www.facebook.com/note.php?note_id=236648855616, acesso em 27/12/2009).
[164] Baugh, “The Meaning of Foreknowledge – O Significado
do Pré-conhecimento,” 189, 191.
[165] Donald J. Westblade, “Divine Election in the Pauline
Literature – A Eleição Divina na Literatura Paulina,” em Still
Sovereign – Ainda Soberano, 71.
[166] Richard Rice, “Divine Foreknowledge and Free-Will
Theism – O Pré-conhecimento Divino e o Teísmo do Livre-Arbítrio,” em The
Grace of God, the Will of Man – A Graça de Deus, A Vontade do Homem, 127.
[167] Hunt, 160.
[168] Picirilli, 60.
[169] Harris, 309.
[170] R. A. Torrey, Practical and Perplexing
Questions Answered – Questões Práticas e Perplexas Respondidas (New
York: Revell, 1898), 61.
[171] Miner Raymond, Systematic Theology – Teologia
Sistemática, volume I (Cincinnati: Walden and Stowe, 1877), 502.
[172] Westblade, 71. Itálicos adicionados
[173] Aurélio Agostinho, “On Free Will – Sobre o
Livre-arbítrio,” III:8, em Augustine: Earlier Writings – Agostinho:
Escritos Anteriores, tradução John H. S. Burleigh (Philadelphia:
Westminster Press, 1953), 175.
[174] Tiago Armínio, “A Friendly Discussion – Uma Discussão
Amigável,” em Writings – Escritos, III:231.
[175] Armínio, “An Examination of the Treatise of William
Perkins – Um Exame do Tratado de William Perkins,” em Writings –
Escritos, III:402.
[176] Harris, 261.
[177] Forlines, 333.
[178] Idem, 37, 39, 63.
[179] Geisler, 107; veja 50-53.
[180] Idem, 51, 54
[181] Hunt, 145, 160, 193.
[182] Forlines, 68, 330.
[183] Como Hunt diz, “Nós somos finitos e Deus é infinito e,
portanto, não poderíamos possivelmente compreender como ele sabe o futuro”
(145).
[184] Forlines, 332-333.
[185] Kirk, 34.
[186] Idem, 37.
[187] Harris, 277, 291.
[188] Idem, 264.
[189] Olson, 181.
[190] Erickson, 383, 929.
[191] Veja Cottrell, The Faith Once for All – A Fé
de uma Vez por Todas, capítulos 19-20 (pp. 346-374.)
[192] Miley, II:249.
[193] Idem, II:250-251.
[194] Idem, II:251.
[195] Picirilli, 57.
[196] Murray, II:70.
[197] Veja Cottrell, God the Ruler – Deus O Soberano,
184-186, 226-227.
[198] Veja Shank, 125.
[199] Veja Samuel Fisk, Divine Sovereignty and Human
Freedom – Soberania Divina e Liberdade Humana(Neptune, NJ: Loizeaux
Brothers, 1973), 26-29.
[200] Veja Cottrell, Romans – Romanos, I:111-115,
268-271.
[201] Cottrell, The Faith Once for All – A Fé de uma
Vez por Todas, 353-359; Cottrell, Romans – Romanos, II:173-182.
[202] Cottrell, The Faith Once for All – A Fé de uma
Vez por Todas, 360-374.
[203] João Calvino, “A Treatise on the Eternal
Predestination of God – Um Tratado sobre a Eterna Predestinação de Deus,”
em Calvin’s Calvinism – O Calvinismo de Calvino, tradução Henry
Cole (Grand Rapids: Eerdmans, 1956), 48.
[204] G. C. Berkouwer, Divine Election – Eleição
Divina, tradução Hugo Bekker (Grand Rapids: Eerdmans, 1960), 42.
itálicos adicionados.
[205] Veja Cottrell, Commentary on Romans –
Comentário sobre Romanos, I:330-364, 468; Cottrell, The Faith Once
for All – A Fé de uma Vez por Todas, 179-190, 197-200.
[206] Veja Picirilli, 153-159.
[207] Erickson, 932-933.
[208] Fisk, 30.
[209] Picirilli, i, 35-36, 41-42, 149-151.
[210] Idem, 153-158
[211] Geisler, 56-58, 116.
[212] Forlines, 345.
[213] Olson, 72.
[214] Para uma exposição detalhada de Romanos 9-11, veja
Cottrell, Romans – Romanos, II:23-203.
[215] Picirilli, 72. Veja C.E.B. Cranfield, A
Critical and Exegetical Commentary on the Epistle to the Romans – Um Comentário
Exegético e Crítico sobre a Epístola aos Romanos, 2 volumes, “The
International Critical Commentary – O Comentário Crítico Internacional,” new
series – novas séries (Edinburgh: T. & T. Clark, 1975; correção à
impressão de 1990), 1:172, nota 1.
[216] John Piper, The Justification of God: An
Exegetical and Theological Study of Romans 9:1-23 – A Justificação de Deus: Um
Estudo Teológico e Exegético de Romanos 9:1-23, 2a edição (Grand
Rapids: Baker, 1993), 15, 71.
[217] Thomas R. Schreiner, “Does Romans 9 Teach Individual
Election unto Salvation? – Será que Romanos 9 Ensina a Eleição Individual para
Salvação?” em Still Sovereign – Ainda Soberano, 89.
[218] Picirilli, 72.
[219] Piper, 21-44.
[220] Idem, 49.
[221] Schreiner, 91.
[222] Forlines, 363.
[223] Veja Cottrell, Romans – Romanos, II:49-59.
[224] Schreiner, 90-98.
[225] Steven M. Baugh, “’God’s Purpose According to
Election’: Paul’s Argument in Romans 9 – ‘O Propósito de Deus Segundo a
Eleição’: O Argumento de Paulo em Romanos 9,” acessado no seguinte
endereço:
alliancenet.org/pub/mr/mr98/1998.06.NovDec/mr9806.smb.romans.html, página 3.
[226] Forlines, 359. Picirilli, da mesma forma, resume
estes versos assim: Deus “nunca prometeu, incondicionalmente, salvar todos os
descendentes carnais de Abraham, Isaac, ou Israel” (71).
[227] Veja Forster e Marston, 65-66.
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