quinta-feira, 1 de abril de 2021

Mas a ciência não tornou impossível a crença em Deus? - [Parte 2]



Por David Gooding e John Lennox


O Mito Moderno Novamente


Foi uma das magníficas conquistas da ciência, não apenas descrever o que se passa no universo, mas também descobrir as leis invariáveis que governam seu funcionamento. É importante aqui compreender e admitir o que os cientistas afirmam sobre a natureza dessas leis. Essas leis não são simplesmente descrições do que acontece. Elas surgem de nossa percepção dos processos essenciais envolvidos. Elas nos dizem que, sendo as coisas como são, a natureza não só funciona assim, como deve funcionar e não pode funcionar de outra maneira. As leis não apenas descrevem o que aconteceu no passado: desde que não estejamos trabalhando em nível quântico, elas podem prever com sucesso o que acontecerá no futuro com tal precisão que,[36] por exemplo, a órbita da estação espacial Mir pode ser calculada com precisão e pousos em Marte são possíveis. É compreensível, portanto, que muitos cientistas estejam ressentidos com a ideia de que algum deus poderia intervir arbitrariamente e alterar, suspender ou reverter o funcionamento da natureza. Pois isso pareceria contradizer as leis imutáveis e, assim, derrubar a base da compreensão científica do universo.

Mas exatamente aqui se esconde outra falácia que C. S. Lewis ilustrou com a seguinte analogia. Se esta semana eu colocar mil libras esterlinas na gaveta da minha escrivaninha, adicionar duas mil na próxima semana e mais mil na semana seguinte, as leis imutáveis da aritmética me permitem prever que da próxima vez que eu for à minha gaveta, encontrarei quatro mil libras. Mas suponha que, quando eu abrir a gaveta da próxima vez, encontre apenas mil libras, o que devo concluir? Que as leis da aritmética foram quebradas? Certamente não! Posso concluir de forma mais racional que algum ladrão violou as leis do Estado e roubou três mil libras da minha gaveta. Uma coisa que seria ridículo alegar é que as leis da aritmética tornam impossível acreditar na existência de tal ladrão ou na possibilidade de sua intervenção. Pelo contrário, é o funcionamento normal dessas leis que expôs a existência e atividade do ladrão.

Portanto, as leis da natureza predizem o que acontecerá se Deus não intervier; embora é claro que não é um ato de roubo se o Criador intervém em sua própria criação. Argumentar que as leis da natureza tornam impossível que acreditemos na existência de Deus e na possibilidade de sua intervenção no universo é claramente um argumento falacioso. Seria como afirmar que o entendimento das leis[37] do motor de combustão interna tornaria impossível acreditar que o Sr. Ford ou um de seus mecânicos pudesse intervir e remover a cabeça do cilindro de um automóvel. Claro que eles poderiam intervir. Além disso, esta intervenção não destruiria essas leis. As mesmas leis que explicavam por que o motor funcionava com o cabeçote ligado explicariam agora por que ele não funciona com o cabeçote removido.

De passagem, devemos notar que a crença em Deus como Criador, longe de inibir a descoberta das leis da natureza, tem sido historicamente uma das principais motivações na busca por elas. Sir Alfred North Whitehead, reconhecido como um dos mais eminentes historiadores da ciência, disse: “A ciência moderna deve vir da insistência medieval na racionalidade de Deus.”[2] Vale a pena mencionar o resumo que C. S. Lewis fez da visão de Whitehead: “Homens tornaram-se científicos porque previram as Leis da Natureza; e eles previram as Leis da Natureza porque acreditavam em um Legislador.”[3] Exemplos de tais homens são abundantes: basta pensar em Newton, Kepler, Faraday e Clerk Maxwell. Todos concordariam com Einstein que a ciência sem religião é cega e a religião sem ciência é manca.

Neste ponto, os proponentes do mito podem muito bem retrucar: “Conceda, em favor do argumento, que não é anticientífico admitir a possibilidade teórica de que algum deus ou outro pode ter intervindo em nosso mundo: que evidência real existe de que algum evento sobrenatural desse tipo já aconteceu?” Os Cristãos responderão, é claro, que há evidências abundantes da concepção miraculosa, nos[38] milagres e na ressurreição de Jesus Cristo. A isso será objetado: “Que tipo de evidência é esta? E como você pode esperar que aceitemos essas evidências? Afinal, estas evidências vem do Novo Testamento, que foi escrito em uma época pré-científica, quando as pessoas não entendiam as leis da natureza e por isso mesmo estavam prontas para acreditar que um milagre havia acontecido quando não havia acontecido.” Aqui está outra falácia.


Continua...


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Fonte: 


GOODING, David; LENNOX, John. Christianity: Opium or Truth? Coleraine, N Ireland: Myrtlefield Trust, 2014


Tradução Walson Sales


Traduzindo trechos e buscando editoras interessadas nas publicações. “Examinai tudo. Retende o bem.” I TS 5:21.

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