Dave Hunt
1 de fevereiro de 2001
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Uma das
expressões mais comuns que escutamos em círculos cristãos, especialmente quando
se quer reassumir a confiança quando as coisas não estão dando certo, é que
“Deus esta no controle, Ele ainda está no trono.” Os cristãos se confortam com
estas palavras – mas o que elas significam? Deus não estava “no controle”
quando Satã rebelou e quando Adão e Eva desobedeceram, mas agora Ele está? Deus
estar no controle significa que todos os estupros, assassinatos, guerra e o mal
proliferado é exatamente o que Ele planejou e deseja?
Cristo nos
pede para orar, “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra
como no céu” (Mt 6.10). Por que a oração se nós já estamos no reino de
Deus com Satã preso, como João Calvino ensinou e os Reconstrucionistas alegam
hoje? Poderia um mundo de mal excessivo ser realmente o que Deus deseja?
Certamente não!
“Espere um
minuto!” alguém se opõe. “Você está sugerindo que nosso Deus onipotente é
incapaz de realizar Sua vontade sobre a terra? Que heresia esta! Paulo
claramente diz que Deus ‘faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade’
(Ef 1.11).”
Sim. Mas a
própria Bíblia contém muitos exemplos de homens desafiando a vontade de Deus e
desobedecendo-o. Deus se lamenta, “Criei filhos, e os engrandeci, mas eles se
rebelaram contra mim” (Is 1.2). Os sacrifícios que eles oferecem a Ele e suas
vidas corruptas não são obviamente de acordo com a Sua vontade. Somos informados
de que “os fariseus e os doutores da lei rejeitaram o conselho de Deus” (Lc
7.30).
A declaração
de Cristo em Mt 7.21 mostra claramente que todos nem sempre fazemos a vontade
de Deus. Isto está implícito em Is 65.12, 1Ts 5.17-19, Hb 10.36, 1Pe 2.15, 1Jo
2.17 e muitas outras passagens. De fato, Ef 1.11 não diz que tudo que acontece
é de acordo com a vontade de Deus, mas de acordo com “o conselho” de Sua
vontade. Claramente o conselho da vontade de Deus deu ao homem liberdade para
desobedecê-lo. Não há nenhuma outra explicação para o pecado.
Todavia, em
seu zelo para proteger a soberania de Deus de qualquer desafio, A. W. Pink
argumenta ardentemente, “Deus preordena tudo que acontece... Deus inicia todas
as coisas, controla todas as coisas...”[1] Edwin H. Palmer concorda:
“Deus está por trás de tudo. Ele decide e faz todas as coisas acontecerem...
Ele preordenou tudo ‘segundo o conselho de Sua vontade’ (Ef 1.11): o mover de
um dedo... o erro de um datilografista – até o pecado.”[2]
Estamos aqui
diante de uma distinção vital. Uma coisa é Deus, em Sua soberania e sem
diminuir esta soberania, dar ao homem o poder para rebelar contra Ele. Isto
abriria a porta para o pecado, sendo o homem unicamente responsável por sua
livre escolha. Outra totalmente diferente é Deus controlar tudo de tal maneira
que Ele deve efetivamente causar o pecado do homem.
É uma falácia
imaginar que, para Deus estar no controle de Seu universo, Ele precisa, por
essa razão, preordenar e iniciar tudo. Deste modo, Ele causa o pecado, depois
pune o pecador. Para justificar esta opinião, é argumentado que “Deus não tem
nenhuma obrigação de conceder Sua graça àqueles que Ele predestina para o
julgamento eterno.” De fato, obrigação não tem nenhuma relação com graça.
Na verdade
diminui a soberania de Deus sugerir que Ele não pode usar para seus propósitos
o que Ele não preordena e origina. Não há razão lógica nem bíblica por que um
Deus soberano, por Seu próprio plano soberano, não poderia conceder a criaturas
feitas à Sua imagem a liberdade de escolha moral genuína. E há razões
convincentes por que Ele faria dessa forma.
Muitas vezes
um ateísta (ou um sincero indagador que está perturbado pelo mal e o
sofrimento) lança em nossas faces, “Você alega que seu Deus é todo-poderoso.
Então por que Ele não interrompe o mal e o sofrimento? Se Ele pode e não faz,
Ele é um monstro; se Ele não pode, então Ele não é todo-poderoso!” O ateísta
pensa que nos encurralou.
A resposta
envolve certas coisas que Deus não pode fazer.
Mas Deus é infinito
em poder, então não deve haver nada que Ele não possa fazer! Sério? O próprio
fato que Ele é infinito em poder significa que Ele não pode falhar. Há muito
mais que seres finitos fazem todo o tempo que o infinito, absolutamente
soberano Deus não pode fazer por Ele ser Deus: mentir, trapacear, roubar,
pecar, se enganar, etc. De fato, muito mais que Deus não pode fazer é vital
para nós entendermos quando enfrentamos desafios de céticos.
Tragicamente,
há muitas questões sinceras que muitos cristãos não podem responder. Poucos
pais têm tirado um tempo para pensar nos muitos desafios intelectuais e
teológicos que suas crianças progressivamente enfrentam, desafios para os quais
a juventude de hoje não encontra respostas de tantos púlpitos e lições das escolas
dominicais. Como resultado, números crescentes daqueles criados em lares e
igrejas evangélicos estão abandonando a “fé” que nunca adequadamente
entenderam.
A soberania e
o poder é a panacéia? Muitos cristãos superficialmente acham que sim. Todavia
há muito para o qual a soberania e o poder são irrelevantes. Deus age não
apenas soberanamente, mas com amor, graça, misericórdia, justiça e verdade. Sua
soberania é exercitada somente em perfeita harmonia com todos os Seus outros
atributos.
Há muito que
Deus não pode fazer, não apesar do que Ele é, mas por causa de quem Ele é. Até
Agostinho, descrito como o primeiro dos assim chamados primeiros Pais da Igreja
que “ensinou a absoluta soberania de Deus,”[3] declarou, “Por
conseguinte, Ele não pode fazer algumas coisas justamente por ser onipotente.”[4]
Por causa de
Sua absoluta santidade, é impossível para Deus praticar o mal, fazer com que
outros pratiquem ou até tentar alguém ao mal: “Ninguém, sendo tentado, diga:
Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele a ninguém
tenta,” (Tg 1.13). Mas e quanto às muitas passagens na Escritura onde diz que
Deus tentou alguém ou foi tentado? Por exemplo, “Deus tentou a Abraão” (Gn
22.1). A palavra hebraica aí e por todo o Velho Testamento é nacah, que significa
testar ou provar, como num teste de pureza de um metal. Não tem nada a ver com
tentar para pecar. Deus estava testando a fé e a obediência de Abraão.
Se Deus não
pode ser tentado, por que Israel é alertado, “Não tentareis o Senhor vosso
Deus” (Dt 6.16)? Somos até informados de que em Massá, ao pedir água, “tentaram
ao Senhor, dizendo: Está o Senhor no meio de nós, ou não?” (Êx 17.7). Mais
tarde eles “tentaram a Deus nos seus corações, pedindo comida segundo o seu
apetite... dizendo: Poderá Deus porventura preparar uma mesa no deserto?...
provocaram o Deus Altíssimo” (Sl 78.18-19, 56).
Deus não
estava sendo tentado para realizar o mal, Ele estava sendo provocado, Sua
paciência estava sendo testada. Ao invés de esperar obedientemente que Ele
supra suas necessidades, Seu povo estava pedindo que Ele usasse Seu poder para
lhes dar o que queriam para satisfazer seus desejos. A “tentação” de Deus era
um desafio blasfemo forçando-o a, ou ceder ao desejo deles, ou puni-los pela
rebelião.
Quando Jesus
foi “tentado pelo Diabo” para lançar-se do pináculo do templo para provar que
os anjos Lhes sustentariam em suas mãos, Ele lembrou, “Não tentarás o Senhor
teu Deus” (Mt 4.1-11). Em outras palavras, colocar-nos deliberadamente em um lugar
onde Deus deva agir para nos proteger é tentá-lo.
Tiago então
diz, “Cada um, porém, é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria
concupiscência.” A tentação ao mal não vem de fora mas de dentro. O homem que
não poderia possivelmente ser “tentado” para ser desonesto nos negócios pode
sucumbir à tentação de cometer adultério e, assim, ser desonesto com sua
mulher. Dizem que “todo homem tem seu preço.”
Deus não
estava tentando Adão e Eva para pecar quando Ele lhes diz para não comerem de
uma árvore
Além disso, há
muitas outras coisas que Deus não pode fazer. Deus não pode negar a Si mesmo ou
se contradizer. Ele não pode mudar. Ele não pode voltar atrás
Estamos
dizendo que apesar de Sua soberania e infinito poder Deus não pode perdoar quem
Ele quer, Ele não pode simplesmente apagar o passado deles no registro
celestial? Exatamente: Ele não pode, porque Ele é também perfeitamente justo.
“Então você está sugerindo,” alguns se queixam, “que Deus quer salvar toda a
humanidade mas falta o poder para fazer isso? É uma negação da onipotência e
soberania de Deus se houver algo que Ele deseja mas não possa realizar.” De
fato, onipotência e soberania são irrelevantes em consideração ao perdão.
Cristo no
Jardim na noite anterior da cruz gritou, “Meu Pai, se é possível, passa de mim
este cálice...” (Mt 26.39). Certamente se tivesse sido possível proporcionar
salvação de outra forma, o Pai teria isentado Cristo dos excruciantes
sofrimentos físicos da cruz e a agonia espiritual infinita de sofrer a pena que
Sua perfeita justiça tinha pronunciada sobre o pecado. Mas até para o Deus
onipotente não houve outro jeito. É importante que nós claramente explicamos
esta verdade bíblica e lógica quando apresentamos o evangelho.
Suponha que um
juiz tenha diante dele um filho, uma filha ou outra pessoa amada considerada
culpada de múltiplos assassinatos pelo júri. Apesar de seu amor, o juiz deve
confirmar a pena exigida pela lei. O amor não pode anular a justiça. O único
modo que Deus poderia perdoar pecadores e continuar justo seria que Cristo
pagasse a pena pelo pecado (Rm 3.21-28).
Há duas outras
questões de vital importância em relação à salvação do homem que Deus não pode
fazer: ele não pode forçar ninguém a amá-lo; e Ele não pode forçar ninguém a
aceitar um presente. Pela própria natureza do amor e da doação, o homem deve
ter o poder de escolha. A recepção do amor de Deus e do dom da salvação através
de Jesus Cristo pode somente ser por um ato do livre-arbítrio do homem.
Alguns argumentam
que se a vontade de Deus fosse que todos os homens fossem salvos, o fato de
todos não serem salvos significaria que a vontade de Deus seria frustrada e Sua
soberania aniquilada pelos homens. É também argumentado que, se o homem pudesse
dizer sim ou não a Cristo, ele teria a palavra final em sua salvação e sua
vontade é mais forte do que a vontade de Deus: “A heresia do livre-arbítrio
destrona Deus e entroniza o homem.”[5]
Não há nada na
Bíblia ou na lógica que sugere que a soberania de Deus requer que o homem seja
impotente para fazer uma escolha real, moral ou de qualquer outra maneira.
Dar ao homem o
poder para fazer um escolha genuína, independente, não diminui o controle de
Deus sobre Seu universo. Sendo onipotente e onisciente, Deus certamente poderia
arranjar as circunstâncias para impedir que a rebelião do homem possa frustrar
Seus propósitos. De fato, Deus poderia até usar o livre-arbítrio do homem para
ajudar a cumprir Seus próprios planos e por meio disso ser ainda mais
glorificado.
O grande plano
de Deus desde a fundação do mundo para conceder ao homem o dom de Seu amor
impede qualquer faculdade para forçar esse dom sobre qualquer uma de Suas
criaturas. Tanto o amor quanto os dons de qualquer espécie devem ser recebidos.
A força perverte a transação.
O fato que
Deus não pode falhar, mentir, pecar, mudar ou negar a Si mesmo não diminui Sua
soberania em qualquer proporção. Nem é Ele menos soberano porque não pode
forçar alguém a amá-lo ou a receber o dom da vida eterna por Jesus Cristo. E do
lado humano, a limitação reversa prevalece: não há nada que alguém possa fazer
para merecer ou ganhar o amor ou um dom. Eles devem ser dados livremente do
coração de Deus sem qualquer razão que não seja o amor, a misericórdia e a
graça.
Maravilhosamente,
em Sua graça soberana, Deus assim constituiu o homem e teve a intenção que o
homem recebesse esse dom voluntariamente por um ato de sua vontade e
respondesse com amor ao amor de Deus. Alguém uma vez disse, “O livre-arbítrio
do homem é a mais maravilhosa das obras do Criador.”[6] O poder de escolha abre a
porta para algo maravilhoso além de nossa compreensão: comunhão genuína entre
Deus e o homem por toda a eternidade. Sem o livre-arbítrio o homem não poderia
receber o dom da vida eterna, por isso Deus não poderia dar este dom a ele.
Pusey aponta
que “Sem o livre-arbítrio, o homem seria inferior aos menores animais, que têm
uma espécie de liberdade limitada de escolha.... Seria auto-contraditório que o
Deus Todo-Poderoso criasse um livre agente capaz de amá-lo, sem também ser
capaz de rejeitar Seu amor.... sem o livre-arbítrio não poderíamos livremente
amar Deus. Liberdade é uma condição do amor.”[7]
É o poder de
escolha genuína do próprio coração e vontade do homem que Deus tem
soberanamente dado a ele que possibilita Deus a amar o homem e ao homem receber
esse amor e a amar Deus em resposta “porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4.19).
É impossível que o poder de escolha pudesse desafiar a soberania de Deus visto
que é a soberania de Deus que conferiu este dom ao homem e estabeleceu as
condições para amar e dar.
Sugerir que
Deus estaria faltando em “poder” (assim negando Sua soberania) se Ele
oferecesse salvação e alguns a rejeitasse é errar o alvo. Poder e amor não são
partes da mesma discussão. De fato, das muitas coisas que temos visto que Deus
não pode fazer, uma falta de “poder” não é a razão para qualquer uma delas, nem
é Sua soberania mitigada de maneira alguma por qualquer uma destas.
Assim, Deus
ter dado à humanidade o poder de escolher amá-lo ou não e receber ou rejeitar o
dom gratuito da salvação, longe de negar a soberania de Deus, admite o que a
própria soberania de Deus amorosa e maravilhosamente proporcionou. Que possamos
desejosamente responder de coração a Seu amor com nosso amor, e em gratidão por
Seu enorme dom proclamar as boas novas aos outros.
Tradução: Paulo Cesar
Antunes
[1] Pink, The
Sovereignty of God, 240.
[2] Edwin H. Palmer, The Five Points of Calvinism
(Baker Books, 1999), 25.
[3] C. Norman Sellers, Election and Perseverance
(Schoettle Publishing Co., 1987), 3.
[4] Augustine, The City of God, V. 10.
[5] W.E. Best, Free Grace Versus Free Will (Best Book Missionary Trust, 1977), 35
[6]Junius B. Reimensnyder, Doom
Eternal (N.S. Quiney, 1880), 257; citadoem Fisk, Calvinistic Paths Retraced,
223.
[7] Edward B. Pusey, What Is Of Faith As To Everlasting
Punishment? (James Parker & Co., 1881), 22-23; citado
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