JackCottrell
O artigo anterior explicou os “Cinco Pontos do
Calvinismo” e respondeu ao primeiro deles, a depravação total. Este último
artigo oferece respostas breves aos outros quatro pontos.
A segunda doutrina do sistema TULIP do
Calvinismo é a eleição incondicional, uma distorção da doutrina bíblica da
predestinação. Aqui estão quatro pontos em resposta. Em primeiro lugar, a predestinação é um fato.
A predestinação é simplesmente a determinação de Deus antes da criação de fazer
uma coisa específica acontecer no curso da história universal. Várias vezes a
Bíblia diz que Deus “predestina” alguma coisa, incluindo algumas pessoas para a
salvação (Rm 8.29-30; Ef 1.5, 11). Muitas vezes ela diz que Deus “elege” ou
“escolhe” pessoas para algum propósito (por exemplo, Jo 15.16; Ef 1.4; 1Pe
1.1).
Em segundo lugar, Deus predestina algumas pessoas a irem para o céu.
Alguns podem pensar que isto soa como o Calvinismo, mas há uma diferença
significativa. O Calvinismo diz que Deus não predetermina apenas o destino
final dos seus eleitos (ou seja, o céu), mas também o próprio fato de que
algumas pessoas serão“os
seus eleitos.” Em outras palavras, ele não determina apenas quais indivíduos
irão para o céu, mas também quais indivíduos totalmente depravados irão
verdadeiramente se tornar crentes e permanecer crentes para sempre. Os próprios
pecadores escolhidos não têm nenhuma influência em sua própria eleição.
Alguns não-calvinistas respondem a essa visão
negando que a predestinação para a salvação se aplica a indivíduos como tais;
eles dizem, na verdade, que ela se aplica apenas a uma classe ou grupo, sem
referência a qualquer indivíduo em particular que possa estar no grupo. Como
alguns dizem, “Deus predestina o plano, não o homem.”
De fato, a igreja do Novo Testamento como um
grupo é a “geração eleita” de Deus (1Pe 2.9; veja Cl 3.12), mas isso não
significa que a predestinação para a salvação não tem nada a ver com os
indivíduos. Essa visão é uma reação exagerada ao Calvinismo e uma distorção do
ensino bíblico. A predestinação é, de fato, individual ou pessoal.
Quando a Bíblia fala de predestinação para a
salvação, ela geralmente se refere a pessoas específicas que são predestinadas,
e não a um grupo abstrato ou a um plano impessoal. Em Rm 8.29 Paulo diz que a predestinação
é de acordo com o pré-conhecimentode
Deus: “Porque os que dantes conheceu também os predestinou.” Não faz sentido
falar de pré-conhecimento a menos que seja de indivíduos. Contudo, Paulonãodiz que somos
predestinados a nos tornarmos crentes. Ao contrário, ele diz que nós (cuja fé é
pré-conhecida) estamos predestinados “para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” Isto se refere
à ressurreição dos nossos corpos no último dia, à imagem do corpo glorioso de
Cristo (Fp 3.21; Cl 1.18), quando a família de Deus estará completa (cf. Rm
8.12-25).
Em terceiro lugar, a predestinação para a salvação é condicional,
não incondicional. Esta conclusão também vem do ensino que a predestinação de
Deus está baseada em seu pré-conhecimento, ou seja, no seu pré-conhecimento de
quem irá e quem não irá satisfazer as suas condições estabelecidas para a
salvação (Rm 8.29; 1Pe 1.1-2). Deus não predestina alguns pecadores a se
tornarem crentes; elepré-conhecequais
pecadores se tornarão crentes de sua livre escolha, e levando em conta este
pré-conhecimento ele os predestina à glória. (Veja o meu comentário de Romanos,
sobre 8.29.)
Finalmente,nem
toda predestinação ou eleição tem a ver com a salvação condicional de
indivíduos. Este é um ponto importante, porque a doutrina
calvinista da eleição incondicional está amplamente baseada em textos que se
referem a algo completamente diferente. Deus escolhe pessoas, como os
apóstolos, para papéis de
serviço(Jo 15.16). Ele escolhe grupos, tais como a nação de Israel,
também para papéis de serviço. Este é o principal ponto de Romanos 9,
frequentemente deturpado para ensinar a eleição incondicional. (Veja o meu
comentário de Romanos sobre este capítulo).
A predestinação de Ef 1.1-14 é diferente de
qualquer uma das acima. Aqui Paulo está falando da predestinação de duas
categorias diferentes da raça humana, como geralmente era distinguida nos seus
dias: os judeus (o “nós” nos versos 11-12) e os gentios (o “vós” no verso 13).
Veja Cottrell,God the Ruler(1984:306-309).
Minha resposta para a doutrina da expiação
limitada é breve. João afirma a expiação ilimitada em 1Jo 2.2, que diz que
Cristo é “a propiciação pelos nossos pecados” – os nossos pecados, dos
cristãos; “e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.” 2Pe
2.1 se refere a “falsos doutores” que estavam negando “o Senhor que os
resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição.” Estes homens realmente
se perderam (2Pe 2.12-22), mas Cristo os comprou com seu próprio sangue (veja
1Co 6.20; 1Pe 1.18-19).
Porque Jesus era tanto homem quanto Deus
infinito, o seu sofrimento na cruz também foi infinito. Ele não sofreu apenas
em seu corpo humano e finito, mas também em sua natureza divina; portanto o seu
sofrimento não tinha limite. É errado pensar que o seu sofrimento infinito
poderia ser quantificado de alguma forma e, dessa forma, destinado a apenas um
número limitado de pessoas.
A quarta doutrina TULIP é a graça
irresistível. Como vimos, a doutrina da depravação total significa que todas as
pessoas não salvas são totalmente incapazes de responder ao evangelho em fé e
arrependimento. Portanto, se alguém será salvo, o próprio Deus deve decidir
quem será e então agir diretamente sobre os corações desses escolhidos para
capacitá-los a crer. Este último é a obra irresistível do Espírito Santo da
regeneração. Como consequência, o pecador imediatamente começa a crer em Jesus
Cristo. Que a regeneração precede a fé e a concede como um dom é uma
característica do Calvinismo.
Na Bíblia, o Espírito regenera operando tanto
indiretamente quanto diretamente sobre o coração do pecador. Ele opera
indiretamente através da Palavra de Deus, influenciando os pecadores a crer e se
arrepender. Alguns que ouvem escolhem crer e se arrepender, e alguns preferem
não fazê-lo. Somente depois que alguém tenha escolhido crer e se arrepender é
que o Espírito Santo opera diretamente sobre o seu coração para efetuar a
regeneração.
Mas Jesus não diz, “Ninguém pode vir a mim, se
o Pai que me enviou o não trouxer” (Jo 6.44)? É verdade, mas ao contrário do
Calvinismo esse atrair é universal e resistível, e não seletivo e irresistível.
Todos são atraídos a Jesus pelo poder do evangelho (Rm 1.16; 10.17; 2Ts 2.14;
Hb 4.12), mas somente alguns respondem (Mt 23.37). Esse atrair é universal: “E
eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim” (Jo 12.32). Negar que
a Palavra atrai todos os pecadores é negar o próprio propósito e caráter da
palavra escrita. João diz que seus registros da vida e milagres de Jesus “foram
escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que,
crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31). Isto não pode ter sido escrito em
vão.
Mas o Novo Testamento não ensina que a fé e o
arrependimento são dons de Deus, o que implica a incapacidade do pecador de
crer e se arrepender? É verdade, At 5.31 e At 11.18 dizem que Deus concedeu
arrependimento a Israel e aos gentios, mas isso significa que ele está concedendo
a essesgrupos
(não a indivíduos) a oportunidadee
omeiopara crer e
se arrepender ao levar o evangelho até eles. Fp 1.29 e 2Tm 2.25 também se
referem a oportunidade. Algumas passagens citadas como prova de que a fé é um
dom nem ao menos estão falando da fé salvadora. Rm 12.3 significa que Deus tem
repartido (distribuído) a cada cristão um dom espiritual que é adequado à sua
própria fé. 1Co 12.9 faz referência à fé de operar milagres como um dom do
Espírito (veja 1Co 13.2), e Gl 5.22 faz referência à fidelidade na vida cristã.
Alguns erroneamente concluem que Ef 2.8 diz
que a fé é um dom: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não
vem de vós, é dom de Deus.” Isto é desmentido pelas regras da gramática grega.
A palavra grega para “fé” (pistis)
é do gênero feminino; o pronome que se refere ao dom (“isso,” touto) é neutro. Se ele
estivesse se referindo à fé, ele também seria feminino na forma. (Não há
palavra no Grego correspondente ao pronome “impessoal”). O dom é a própria
salvação.
Que a fé precede a regeneração e é um
pré-requisito a ela é especificamente afirmado em Cl 2.12: “Sepultados com ele
no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus.” Esta
ressurreição é a regeneração (veja o v. 13), e a fé é o meiopelo qual a
regeneração é recebida: “ressuscitastes pela fé.” O incrédulo espiritualmente
morto toma a sua decisão de crer de sua livre escolha, movido pelo poder do
evangelho, antes de ser “ressuscitado” na regeneração. Isto é o oposto do
Calvinismo.
A última doutrina TULIP é o dom da
perseverança, ou “uma vez salvo, sempre salvo.” A refutação desta doutrina
fecha um círculo completo em torno do assunto com o qual começamos, ou seja, se
os seres humanos têm uma vontade verdadeiramente livre. O sistema calvinista é
totalmente dependente da sua negação do livre-arbítrio, uma negação baseada em
um conceito distorcido da soberania e também na falsa doutrina da depravação
total. A ideia do “uma vez salvo, sempre salvo,” é simplesmente a etapa final e
conclusão lógica dessa negação. Se o indivíduo não é livre para aceitar a
salvação, ele não é livre para rejeitá-la uma vez que ela tenha sido recebida.
Mas se nossas vontades são verdadeiramente
livres, somos livres tanto para aceitar a salvação quanto para abandoná-la. Tornar-se
salvo é condicional; permanecer salvo é condicional. O Novo Testamento ensina
claramente a natureza condicional de permanecer salvo; veja o enfático SE em Jo
15.1-6 (v. 6), Rm 11.17-22 (v. 22), 1Co 15.1-2 e Cl 1.21-23.
Gl 5.4 afirma expressamente de certas pessoas
que “separados estais de Cristo” e “da graça tendes caído.” Este é claramente
um estado de perdição, que foi precedido por um estado de salvação. O mesmo é
verdadeiro em 2Pe 2.20-22 e Hb 6.4-8. O livro inteiro de Hebreus é uma farsa se
não for possível alguém perder a salvação.
Certamente Deus nunca irá nos lançar fora nem
permitir que nossos inimigos nos arrebate dele contra a nossa vontade (Jo
10.28-29; Rm 8.35-39). Estamos de fato “guardados na virtude de Deus,” mas
somos assim guardados “mediante a fé” (1Pe 1.5). A última é nossa contínua
responsabilidade.
Para um estudo mais aprofundado, o leitor deve
consultar a breve bibliografia que acompanhou o primeiro artigo desta série.
Tradução: Cloves Rocha dos Santos
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