Por Robert Spencer
Ao usarmos o Alcorão, os Hadith e a Sira, o que podemos finalmente saber sobre Muhammad? A certeza histórica não é fácil de determinar com um texto tão superficial como o Alcorão, um texto tão sobrecarregado com informações falsas como o Hadith e tão recente quanto a Sira. E até mesmo o Alcorão, na opinião de alguns historiadores modernos, "da forma atual que temos o Alcorão, esse livro não é obra de Muhammad ou dos redatores Uthmânicos ... mas um [recorte] abrupto das pressões sociais e culturais dos primeiros dois séculos islâmicos.[24] Embora os apologistas islâmicos geralmente afirmem com orgulho que o texto do Alcorão nunca foi alterado e não existem variantes, existem algumas indicações, mesmo na tradição islâmica, de que este não é realmente o caso. Um dos primeiros muçulmanos, Anas ibn Malik, conta que depois de uma batalha em que muitos muçulmanos foram mortos, que o Alcorão originalmente continha uma mensagem dos muçulmanos mortos para os vivos: "Então, lemos um versículo do Alcorão por muito tempo que foi removido ou esquecido. (que era): transmita ao nosso povo uma mensagem nossa, a saber, que encontramos nosso Senhor que se agradou de nós e nós ficamos satisfeitos com ele.”[25]
Enquanto isso, alguns estudiosos Ocidentais, como o pioneiro Ignaz Goldziher (1850-1921), especialista em Hadith, bem como John Wansbrough, Patricia Crone, Michael Cook, Christoph Luxenberg e outros, que fizeram um trabalho inovador na pesquisa de quais ahadith refletem o que Muhammad realmente disse e fez, e quais são lendas piedosas - pesquisa que muitas vezes se desvia agudamente da sabedoria recebida de estudiosos muçulmanos do Hadith.[26]
De um ponto de vista estritamente histórico, é impossível afirmar com certeza até mesmo que um homem chamado Muhammad realmente existiu, ou se existiu, que ele fez algo ou qualquer outra coisa que é atribuída a ele. Com toda a probabilidade ele existiu - particularmente à luz dos aspectos registrados de sua vida que são extremamente embaraçosos para os muçulmanos hoje (e, em vários graus, ao longo da história) que são confrontados com a dificuldade de enquadrá-los com as sensibilidades modernas. É difícil imaginar que um hagiógrafo devoto teria inventado o casamento de Muhammad com uma menina de nove anos, ou seu casamento com sua ex-nora. Os muçulmanos têm lutado para explicar esses e outros aspectos da vida de Muhammad por séculos; se um editor ou compilador pudesse simplesmente tê-los mandado para o esquecimento, provavelmente o teria feito. Ainda assim, alguns historiadores acreditam que o Muhammad que aparece para nós no Alcorão, Hadith e na Sira é uma figura composta, construída mais tarde para dar ao imperialismo Árabe um mito fundamental. Outros questionaram também se o Muhammad da história estava realmente conectado com Meca e Medina, ou se a história foi dada neste cenário a fim de situá-la nos centros mais importantes da Arábia.
Essas especulações históricas praticamente não tiveram nenhum efeito sobre a doutrina ou prática islâmica. Para nossos propósitos, é menos importante saber o que realmente aconteceu na vida de Muhammad do que o que os muçulmanos geralmente aceitam como o que teria acontecido, pois este último ainda constitui a base da crença, prática e das leis muçulmanas. É importante conhecer o Muhammad da história, mas talvez ainda mais importante conhecer o Muhammad que moldou e continua a moldar a vida de tantos muçulmanos em todo o mundo. A imagem popular de Muhammad, e a grande quantidade de legislação islâmica que é aceita por milhões de muçulmanos hoje como a verdadeira lei de Allah, foi elaborada a partir de suas palavras e atos descritas no Hadith que as escolas islâmicas ortodoxas de jurisprudência e clérigos consideram autênticas.
É essa imagem de Muhammad que inspira os muçulmanos em todo o mundo, para o bem ou para o mal, e essa imagem permanece verdadeira independentemente da real exatidão histórica deste material. Milhões de muçulmanos olham para o Muhammad do Alcorão, do Hadith e da Sira em busca de orientação sobre como imitar o homem que a tradição islâmica apelidou de al-insan al-kamil, ou o Homem Perfeito. Este conceito desempenhou um papel significativo no misticismo islâmico. O erudito Itzchak Weismann, ao discutir o pensamento místico de Amir 'Abd al-Qadir al-Jaza'iri (1808-1883), que operou a Jihad contra os Franceses no que se tornaria a Argélia moderna, explica que em algumas tradições místicas islâmicas, "o Homem Perfeito é o ideal da humanidade. No sentido mais estrito, apenas Muhammad encarnou perfeitamente esse estado, uma vez que é apenas nele que os nomes Divinos foram revelados em completa harmonia e perfeição."[27] Embora alguns muçulmanos de mentalidade menos mística possam achar isso um excesso de reverência, a devoção popular a Muhammad entre os muçulmanos em todo o mundo é dificilmente menos ardente.
É por isso que é ainda mais imperativo hoje que os Ocidentais se familiarizem com esta figura singular e fascinante.
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Fonte:
SPENCER, Robert. The Truth about Muhammad: Founder of the World’s Most Intolerant Religion. Washington, DC: Regnery Publishing, 2006, pp. 30-32
Tradução Walson Sales
Ore para que Deus desperte as editoras para a publicação massiva de livros importantes como esse e levante outras novas editoras e editores com o mesmo interesse.
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Notas:
[23] S. Moinul Haq and H. K. Ghazanfar, "Introduction," in Ibn Sa'd, Kitab Al-Tabaqat Al-Kabir, vol. I, S. Moinul Haq and H K. Ghazanfar, translators, Kitab Bhavan, n.d., xxi.
[24] Ibn Al-Rawandi, "Origins of Islam: A Critical Look at the Sources/' in The Quest for the Historical Muhammad, Ibn Warraq, editor, Prometheus Books, 2000, 111.
[25] Ibn Sa'd, Kitab Al-Tabaqat Al-Kabir, vol. II, 64.
[26] Leia Ignaz Goldhizer, Muslim Studies, vol. 2, George Allen & Unwin Ltd., 1971.
[27] Itzchak Weismann, "God and the Perfect Man in the Experience of 'Abd al-Qâdir al-Jaza'iri," Journal of the Muhyiddin Ibn 'Arabi Society, volume 30, Autumn 2001.
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