Arminianismo
Justo L. Gonzaléz
ARMINIANISMO. A posição de Jacob
Armínio (1560-1609) e seus seguidores – frequentemente conhecidos como
remonstrantes – quanto à graça, o livre-arbítrio, à predestinação e à
perseverança dos crentes. Armínio era um teólogo calvinista holandês que, em
todos aqueles pontos nos quais a tradição reformada diferia da católica ou da
luterana, continuou sendo calvinista. É importante recordar isso, visto que
frequentemente se diz que o arminianismo é o contrário do calvinisrno, quando
na realidade tanto Arrnínio como seus seguidores eram calvinistas em todos os
pontos, exceto nos que debatiam. Além disso, é necessário notar que o debate
envolvia também o interesse de um dos grupos em sublinhar o calvinismo estrito
a fim de salvaguardar a independência recentemente conquistada do país,
enquanto que o outro buscava posições que tornassem mais fácil para o país
comercializar com outros que não fossem estritamente calvinistas. Em parte, por
essa razão, os calvinistas estritos fundamentavam seus argumentos sobre as
Escrituras, e o princípio da justificação só pela graça, construindo sobre isso
um sistema rigidamente lógico e racional, enquanto seus opositores
desenvolveram argumentos igualmente coerentes fundamentados sobre os princípios
geralmente aceitos da religião – razão pela qual em certo modo foram
precursores do racionalismo.
Armínio envolveu-se em um debate quando resolveu refutar as opiniões daqueles que rejeitavam a doutrina calvinista estrita da predestinação. Mas então se convenceu de que eram eles que tinham razão, e se tornou o principal defensor dessa posição. Os calvinistas estritos que se opuseram a ele e que mais tarde condenaram seus ensinamentos eram supralapsarianos. Sustentavam que Deus havia decretado antes de tudo a eleição de alguns e a reprovação de outros, e depois havia decretado a queda e suas consequências, de tal modo que o decreto inicial da eleição e reprovação pudesse ser cumprido. Também sustentavam que as consequências da queda são tais que toda a natureza humana está totalmente depravada, e que o decreto da predestinação é tal que Cristo morreu unicamente pelos eleitos, e não por toda a humanidade. Em princípio, Armínio tratou de responder a essas opiniões adotando uma posição infralapsariana; mas logo se convenceu de que isso não bastava. Criticou então seus adversários argumentando, em primeiro lugar, que sua discussão dos decretos da predestinação não era suficientemente cristocêntrica, visto que o verdadeiro grande decreto da predestinação é aquele “pelo qual Cristo foi destacado por Deus para ser o salvador, a cabeça e o fundamento daqueles que herdarão a salvação”; e, em segundo lugar, que a predestinação dos fiéis por parte de Deus baseia-se em sua presciência de sua fé futura.
Visto que a doutrina da predestinação de seus opositores se fundamenta na primazia da graça, e de uma graça irresistivel, Armínio respondeu propondo uma graça “preveniente” ou “preventiva”, que Deus dá a todos, e que os capacita para aceitar a graça salvadora se assim decidirem. E, visto que a graça não é irresistivel, isso implica que é possível um crente, mesmo depois de haver recebido a graça salvadora, cair dela. Foi contra todas essas propostas dos arminianos que o Sínodo de Dordrecht, ou de Dort (1618-19) afirmou os cinco pontos principais do calvinismo estrito, a depravação total da humanidade, a eleição incondicional, a expiação limitada por parte de Cristo, a graça irresistivel, e perseverança dos fiéis.
As teorias de Armínio foram adotadas por vários teólogos de tradição reformada que não estavam dispostos a levar seu calvinismo às consequências que Dordrecht as havia levado. O mais destacado entre eles foi João Wesley (1703-91). Entre os batistas ingleses, aqueles que aceitaram o arminianismo receberam o nome de “batistas gerais”, porque insistiam que Cristo morreu por todos, enquanto que aqueles que ensinavam a expiação limitada foram chamados “batistas particulares”.
Fonte: Breve Dicionário de Teologia, p.
46, 47.
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